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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Aldrabices de valor acrescentado

Por Eduardo Louro

 

Todos os dias tropeçamos em pequenas habilidades que têm por único fim apanharem-nos os poucos euros que vamos conseguindo manter nos bolsos. Depois dos impostos, da gasolina, do supermercado, das prestações da casa, do carro e de sabe-se lá mais o quê. Dos parquímetros e dos arrumadores que nos obrigam a pagar o estacionamento em dobro. Depois de termos conseguido segurar os últimos euros à custa de tantos e tantos cortes e de mais uns furos no cinto, ainda surge um autêntico exército de chicos espertos a magicar todas as formas  de os conseguir sacar. São autênticos ímanes apontados aos nossos bolsos!

Umas vezes de forma legal, muitas de forma ilegal, mas sempre de forma ilegítima!

À frente deste exército encontramos invariavelmente o mundo das telecomunicações. As novas tecnologias transformaram-nos em comunicadependentes e, como em todas as dependências, lá estamos nós disponíveis para alimentar mais uma vaga de traficantes que rapidamente ocupa os mais diversos pontos na cadeia de distribuição.

Se nos distraímos lá estão uns tipos a dizerem-nos que ganhamos isto e aquilo e, de repente, só damos com uns euros a voar nas asas de uns ora atrevidos ora incautos sms. Tudo legal! Tão legal que até as operadoras, invariavelmente os maiores chicos espertos, lhe dão cobertura…

O que todavia mais me impressiona é a generalização e a utilização indiscriminada das ditas chamadas de valor acrescentado. Que sejam utilizadas pelos chicos espertos, enfim: o que é que podemos fazer? 

Mas não, são utilizadas por toda a gente. Por gente absolutamente insuspeita e pela mais respeitáveis instituições. Evidentemente com a bênção de todas as altíssimas entidades reguladoras e de supervisão que, supostamente, velam por nós - pobres cidadãos e indefesos consumidores.

São as televisões, que descobriram o filão e já não há concurso que não seja decidido sem as tais dos 60 cêntimos, mais IVA. Do mais simples e insignificante concurso ao próprio concurso das cantigas da Eurovisão e das estações associadas.  Do maior português ao ídolo do momento. Às 7 maravilhas! Elegem-se assim as 7 maravilhas de tudo e mais umas botas

As sondagens são já substituídas pelas consultas de opinião, sobre o que quer que seja, a troco de uma chamada com aquele mágico custo. Por dá cá aquela palha qualquer estação de televisão quer saber a nossa opinião. Que nós damos pelos módicos 60 cêntimos, mais IVA.

Mas também simples sorteios travestidos jogos de apostas!

É durante a transmissão de uma corrida de touros que se sorteiam bilhetes mediante a resposta a uma pergunta de algibeira, do tipo das dos tipos que nos enganam com os sms. Ou durante a transmissão de um jogo de futebol, onde se sorteiam bilhetes, bolas ou camisolas …

Pelos vistos nada disto é ilegal. Mas é ilegítimo e deveria sê-lo!

Estes sorteios são um negócio. Um negócio obscuro, sem transparência e sem risco. Vezes há em que, apesar de tudo, ainda há alguma transparência: é quando informam que oferecem uma camisola a cada 500 chamadas. Aí dá para ver o chico-espertismo e para fazer as contas à aldrabice!

As consultas de opinião são outra aldrabice. Perigosa e perversa!

Acha que isto ou que aquilo?

Parece-me normal que qualquer pessoa se interrogue: por que carga de água terei de pagar para dar uma opinião … que me estão a pedir? Não faz sentido, e como acho que as pessoas não são estúpidas, tenho que concluir que só vai gastar o dinheirinho quem tiver alguma coisa a ganhar com isso.

Por exemplo, ainda ontem uma estação de televisão questionava se Carlos Queiroz se deveria ou não demitir. Quem é que, no meio de todo este imbróglio em que ele está envolvido, teria interesse no sentido da resposta?

A resposta parece-me fácil e, já agora, o resultado foi esmagador: mais de 70% achava que não se deveria demitir!

Com tantas altas autoridades não haverá uma só que seja que perceba que isto assim não vale? Ou que não devia valer!

Estórias de encantar

Por Eduardo Louro

 

 

Há coisas fantásticas: aos 3 minutos Cardoso marca. O Benfica pressiona como ainda se não tinha visto. Pelo estádio começam a passar novas sensações arrancadas à memória de há um ano atrás, na mesma terceira jornada e como o mesmo Vitória de Setúbal. Sonha-se com a goleada, lembram-se os 8-1!

Já não há fantasmas. Respira-se fundo: Roberto não está lá. Finalmente Jesus colocara ponto final na teimosia. No entanto ele está no banco! Por que carga de água?

Não interessa… no pasa nada!

De repente, um disparate: Maxi Pereira e Júlio César, o guarda-redes substituto a quem se pedia o exorcismo de todos os demónios deste arranque de época, provam que eles existem e estão lá. Penalti, expulsão e, de repente, vinte minutos depois, lá estava ele de novo: o Roberto de todos os pesadelos!

Bola a 11 metros, ali à frente do mais odiado de todos os jogadores em campo – Hugo Leal, um velho traidor

São 40 mil almas no estádio e mais uns milhões á frente do ecrã à espera do milagre. À espera que o guarda-redes que não defende uma bola tivesse alma para defender o penalti…

Todos partilhavam dessa secreta esperança. Cenário mais adverso nem em pesadelos: o Setúbal estabelecia o empate (1-1) e tinha 70 minutos de jogo pela frente com mais um jogador e … com Roberto na baliza.

Não podia ser. Já bastavam os dois jogos anteriores!

Não estaria tudo isto combinado? Não seria esta a forma magistral de Jesus resolver de vez o problema Roberto? Claro, só assim se percebia que fosse ele a estar no banco e não o Moreira!

Combinado? Não podia ser! Então o Maxi e o Júlio César iam numa dessas?

Não. Combinado não era seguramente! Mas era o que estava escrito nas estrelas. Só podia…

Nisto, o Hugo Leal parte para a bola, debaixo de um ruído gigante onde uma chuva de apupos disfarçava uma gigantesca onda de preces. Na baliza está agora um Roberto de calção azul e camisa branca, com um ar estranhamente tranquilo. Ninguém ali reconhece o Roberto dos frangos, o Roberto em pânico todo de amarelo vestido.

Voa para a bola e defende-a. Não a segura. Ela fica ali à frente e, quando os aplausos hesitam, presos na angústia de que alguém acabaria por a empurrar para a baliza, o Roberto volta a voar. Voa que nem a águia Vitória e enrola-se nela, não mais a largando…

Jogar-se-iam mais 70 minutos. Roberto só voltaria a fazer uma defesa no último …

estórias assim! Nunca uma travessia do deserto foi tão curta: apenas 22 minutos!

Futebolês #39 Jogar sem bola

Por Eduardo Louro

   

Jogar sem bola é uma das maiores preciosidades do futebolês. Como é que de um jogo em que a bola é a figura central, como já aqui vimos a propósito de beijos, de bolas paradas ou mesmo de segundas bolas, pode nascer a sua mais absurda negação?

Como é que é possível jogar sem bola um jogo que só se joga com bola?

Em futebolês tudo é possível. E tudo se explica, como temos visto!

Naturalmente que, num jogo com uma única bola para 22 tipos, falta bola e sobram jogadores. No final de um jogo, ao cabo dos 90 minutos, que em Portugal, falando de tempo útil de jogo, se transformam em cerca de metade, teríamos uma média de 2 minutos de bola para cada jogador. Pois é, um jogador quando entre em campo leva uma perspectiva de passar pouco mais de 2 minutos com a bola e os restantes 88 a vê-la passar.

Já começamos todos a perceber a importância de jogar sem bola. É que se não soubessem ocupar todo esse tempo imenso os jogadores seriam os tipos mais frustrados do mundo. E não consta que assim seja!

É à forma de ocupar todo esse tempo que se entregam as maiores especulações filosóficas dos mais variados gurus da bola. É delas que nascem as mais impressionantes teorias de ocupação de espaços e os mais arrojados desenhos de pressing.

Mas, para além deste eminente conceito de futebolês, há muito jogo sem bola à volta do futebol. Sem bola, sem balizas e mesmo sem campo! Chamam-lhe, ainda em futebolês, o jogo fora das quatro linhas! Que nada tem a ver com o jogo jogado

É o jogo de bastidores, o jogo de influências, o jogo psicológico… São os mind games que aqui trouxemos há duas semanas! Que, umas vezes legítima outras ilegitimamente, influenciam desempenhos e determinam resultados.

Não é por acaso que os dois grandes rivais do futebol indígena – Benfica e Porto, à revelia da teimosia dos sportinguistas (que aproveito para saudar pela fantástica “remontada” de ontem, a beneficiar de um frango mas com um terceiro golo de imenso mérito) que insistem em ver no Benfica o seu principal rival – têm desempenhos em perfeita simetria. Dificilmente estarão ambos bem, ao ponto de raramente serem primeiro e segundo.

Aí estão os resultados da última liga: a um Benfica demolidor e campeão opôs-se um Porto em queda livre que não passou do terceiro lugar, fora da Champions, onde, com todo o mérito e brilhantismo, está agora o Braga. E aí está a nova liga, acabada de começar: a um Porto dominador e já na liderança contrapõe-se um Benfica com duas derrotas nos dois jogos, tantas quantas averbara em toda a época passada, às voltas com os seus fantasmas renascidos de um Roberto sem asas para voos de águia.

Mais influente que qualquer jogo de bastidores – jogo onde o Porto por norma, e de há muito a esta parte, se superioriza – é a posição relativa de cada um. A posição dominante de um fragiliza, ela própria, o outro (e aqui há um certo paralelismo com a vivência da rivalidade no Sporting: na paz dos anjos se está atrás do Porto, mas no maior dos dramas se o fosso é para o Benfica)! Daí que, como aqui tenho feito notar, Jorge Jesus tenha cometido o maior dos erros ao desvalorizar a supertaça. A vantagem pendia toda para o lado do Benfica: pela embalagem trazida da época anterior, porque mantinha a estrutura e o treinador, porque era o campeão. E porque do outro lado estava um Porto titubeante, com um novo treinador que era ainda um treinador novo. E inexperiente. Um Porto com a máquina entorpecida, se não já enferrujada.

Porto e Benfica dispõem de dois suplementos decisivos, mobilizados em absoluta sintonia com o desempenho das suas equipas: no Benfica é a mola imparável da sua massa adepta, que faz acordar o gigante e tremer de medo os rivais; no Porto é a máquina de ganhar, a mesma que manobra como ninguém as incidências, as contingências e os bastidores do jogo, e que quando arranca, livre e desimpedida, é extraordinariamente difícil de parar.

Com aquele erro decisivo Jorge Jesus permitiu que se desse à chave da máquina de ganhar do Porto. E que fosse posta em funcionamento!

Ao invés, no Benfica transformou oportunidades em ameaças, com fantasmas a surgirem de todos os lados: Ramires, Di Maria e, claro, Roberto. Pior, começa a surgir o mais perigoso de todos os fantasmas: o da autoridade do próprio Jesus! Mais que pela responsabilidade na contratação do guarda-redes – facilmente perdoável e esquecida no meio da enorme margem de crédito forjada nas conquistas da época passada –, pela insistência, contra todas as evidências de incompetência e de um pânico generalizado e espalhado por toda a equipa, em mantê-lo na baliza. Um erro de consequências imprevisíveis, a começar pelas dificuldades criadas ao seu substituto. E ao substituto do seu substituto, se a lei de Murphy, que aqui trago tantas vezes, insistir em confirmar-se!

E claro, no meio de tudo isto, em vez de da tal mola humana que leva a equipa ao colo (ou no andor, como os rivais gostam de provocar), a nação benfiquista está perdida e dividida entre os que defendem que benfiquistas são os que, em nome da tranquilidade da equipa, calam a sua voz crítica e os que, pelo contrário, acham que, ficando calados, como fizeram em tempos não muito longínquos, estão a ser cúmplices de uma tragédia.

É assim que, enquanto a uns até fica mal chorar os penalties que vão ficando por marcar, outros vão vendo penalties e livres caídos do céu resultarem em golos e vitórias incontestados. Ou a máquina de ganhar a funcionar a todo o vapor…

Duas gerações

Por Eduardo Louro

 

 

A edição da passada segunda-feira do Diário Económico apresentava um curioso frente a frente entre dois economistas nacionais de grande relevo de gerações bem diferentes: Silva Lopes, de 78 anos e bem conhecido de todos nós e Ricardo Reis, de 32, ainda desconhecido da generalidade dos portugueses, mas já uma estrela do universo dos economistas, professor e investigador na Universidade de Columbia, e muito activo (directa e indirectamente) no planeta da economia na blogosfera.

O resultado foi uma peça interessante, de quatro páginas cuja leitura recomendo, e que aqui trago exclusivamente por uma declaração de Silva Lopes trazida para o cabeçalho da terceira dessas quatro páginas: “No meu primeiro emprego éramos dez a fazer o trabalho de três”!

É aqui que está, a meu ver, a face mais visível do choque de gerações. E não só de gerações tão distantes como estas duas, claramente de relação avô/neto. Mesmo entre gerações mais próximas!

Provavelmente será por pudor que Silva Lopes situa aquela relação no seu primeiro emprego. Porque eu acho que poderia claramente substituir a expressão “no meu primeiro emprego” por “em toda a minha vida”. Também provavelmente não errarei se disser que esse primeiro emprego foi no Banco de Portugal, onde aquele coeficiente se tem mantido ao longo dos tempos, contra ventos e marés, transformado, tal como o Ministério das Finanças, no autêntico porto seguro de gerações e gerações de quadros, em particular de economistas, para quem a competitividade é um conceito muito recente.

A violência deste choque de gerações não se fica pelas portas outrora abertas a esses desmandos e agora fechadas a sete chaves. Projecta-se ainda pelas pensões de reforma – generosas e frequentemente múltiplas, como bem sabemos – com que a geração de Silva Lopes e outras muito mais recentes hoje se locupletam.

É que, no tempo em que trabalhavam, ainda eram três a trabalhar para dez…. Agora são os mesmos dez a receber sem nenhum a trabalhar para eles!

O drama deste violento confronto de gerações é que para esses ainda vai havendo o que para os novos nunca chega. E, quando a curto prazo deixar de haver, já tiveram oportunidade de acumular o suficiente para o prazo que lhes restar.

 

Portugal a caminho do Terceiro Mundo?

Por Eduardo Louro

 

O director do SOL – José António Saraiva (JAS) – na sua coluna de opinião política que, de alguma forma, se tornou ao longo de quase trinta anos já num clássico – era a Política à Portuguesa no Expresso, durante mais de vinte anos, e é, agora no SOL nos últimos quatro anos, a Política a Sério – veio esta última semana sentenciar o terceiro-mundismo de Portugal.

Para ele é uma evidência: “Portugal está a caminho do Terceiro Mundo”. Uma evidência que nem sequer nos pode espantar: “assim como há países do Terceiro Mundo que registam taxas altíssimas de crescimento e se preparam para aceder ao Segundo ou mesmo ao Primeiro Mundo, outros sofrerão evolução oposta”. Porque, sustenta ainda, “ a roda do mundo é como os alcatrazes” – quis seguramente dizer alcatruzes –: “se uns sobem, outros têm de descer”.

Creio que já muita gente estará habituada – eu, pelo menos, estou – a algumas excentricidades (chamemos-lhe assim) do José António Saraiva. Umas com alguma graça, outras com algum arrojo e, outras ainda, sem pés nem cabeça.

Lembro-me de uma, aqui há alguns anos, ainda no seu tempo do Expresso, em que desenvolvia uma teoria que mostrava a importância de se fixar a capital em Castelo Branco. Ou de uma outra, mais recente e já no SOL, de um projecto para a Baixa ribeirinha de Lisboa que passava, entre outras coisas, por criar uma zona coberta em toda aquela área. Fiquei com a ideia que seria uma espécie de Piazza del Duomo, em Milão, mas em grande!

Lembrei-me destas duas, onde se consegue encontrar um cruzamento entre algum arrojo e alguma graça, para evidenciar a clara bipolaridade de dois estados de alma: um, de um passado recente, virado para um empreendedorismo de grandiosidade e outro, actual, marcado pela mais profunda e deprimente das decadências.

Evidentemente que todos sentimos uma tremenda degradação da nossa vida colectiva. Que todos nós sentimos que o mais importante capital social – não no sentido tecnocrático do termo, mas no sentido de instrumento de intervenção e de promoção de desenvolvimento colectivo – a esperança e a confiança (a mesma a que o primeiro-ministro, subvertendo realidades, desesperadamente apela), bateram no fundo. Que se percebe que a economia não irá crescer a níveis capazes de enfrentar o problema do desemprego nos anos mais próximos. Que se percebe que não irá ser possível manter regalias sociais dadas por adquiridas. Que percebemos a degradação das instituições e, pior do que isso, dos valores. Que, por via de tudo isto, todos os dias nos cruzamos com atitudes terceiro-mundistas. Na rua, na estrada, nos serviços públicos… Mas também que o simples facto de as identificarmos como tal as transformam na excepção. Nunca na regra!

Evidentemente que não faz qualquer sentido afirmar-se que Portugal está em viagem para o Terceiro Mundo. Se o não faz utilizando o sentido figurado é de todo inaceitável, e mesmo grosseiro, pretender enquadrar essa afirmação num suposto contexto de rigor e credibilidade.

Ao recorrer á tal teoria dos alcatruzes – “se uns países sobem outros têm de descer” – uma figura com a responsabilidade intelectual do JAS – director de um jornal, o director de maior longevidade no mais influente jornal do país, actor da cena política e mediática, escritor e professor universitário de ciência política -, está a pretender fundamentar a sua afirmação num fenómeno determinístico que tem tanto de incontestável como de charlatanice intelectual.

Porque o mundo não é uma roda e será tanto mais perfeito, equilibrado e seguro quantos mais forem os países a abandonar o subdesenvolvimento e a atingir os patamares do desenvolvimento. Que são medidos de forma objectiva através de factores de diferenciação de desenvolvimento que, na sua maioria, não têm regresso.

Há coisas sem pés nem cabeça. E esta é, em toda a sua extensão - até com aquela ideia da passagem do terceiro para o segundo mundo (classificação mais que ultrapassada e já desaparecida) e deste para o primeiro - uma delas. Se é, como parece, um problema de agenda política, seria recomendável, apesar de estarmos em Agosto, em que nada se passa e tudo se desculpa, um pouco de mais cuidado. Agora desta forma… Francamente, assim até parece, lembrando-nos da saga de Scarlet O`Hara, que tudo o Freeport levou!

Futebolês #38 Mister

Por Eduardo Louro

  

 É mais um anglicismo! Daqueles que pouco dão nas vistas mas que não deixam de o ser. Não se trata, como toda a gente sabe, de um complemento de identificação. Até porque esse é universalmente apresentado pela abreviatura mr, comum ao mister e ao monsieur, para cobrir toda a cultura  europeia dominante dos séculos XIX e XX.

O mister é o treinador, admito que por força da ascendência inglesa no futebol. Com a influência do Brasil o treinador também já é professor.

Em Portugal, com o peso dos jogadores brasileiros – maioritários nas duas ligas profissionais – o treinador já é professor para mais jogadores do que mister.

É também a variante dos títulos a chegar ao futebol português. Se em toda a Europa um advogado ou um economista (ou um engenheiro ou um arquitecto) é Mr (mister ou monsieur) e em Portugal é doutor (ou engenheiro ou arquitecto) porque é que um treinador há-de ser mister?

Enquanto os treinadores foram feitos a partir do futebol, especialmente antigos jogadores, ou mesmo antigos jogadores frustrados, mister ia bem com a coisa. Que muda quando os treinadores começam a sair das academias: primeiro do ISEF, depois Faculdade de Motricidade Humana e posteriormente das inúmeras escolas de desporto espalhadas pelos Institutos Politécnicos. Aí surgem os professores. Mas também a guerra entre velhos e novos, entre misteres e professores!   

No primeiro plano do futebol nacional os misteres ganham aos professores. Se bem que em problemas estejam todos muito equilibrados.

No Benfica, Jesus é claramente um mister. Não um gentleman, mas um mister à antiga. Um clássico! E em dificuldades!

As coisas este ano parecem não estar a correr bem. Muito por culpa própria… E não vale a pena falar de arbitragens, e de penaltis por assinalar porque, quando as coisas correm como devem correr, como foi o caso na última época, não é preciso fazer essas contas. Na época passada também ficaram penaltis por assinalar, e não era por isso que o Benfica deixava de ganhar. E de golear!

No Braga, Domingos Paciência é também um mister. Que continua a dar cartas – acaba de deixar o poderoso Sevilha com o credo na boca – e a afirmar-se como um grande treinador, por muito que em certas circunstâncias se distraia. Pode ser que, agora que lá pelo Dragão anda um tipo novo e com alguns anos pela frente, passe a andar menos distraído. Só lhe fará bem!

O jovem que está à frente do Porto não é professor, excepto para os muitos brasileiros que lá estão, porque não teve tempo de ir à escola. Parece que aos quinze anos já andaria a aprender estatística mas por conta própria. Como autodidacta! Mas também não é um mister. Se calhar é simplesmente o André!

Para o caso pouco importa. É um treinador à Porto e o resto não interessa nada! É do Porto desde pequenino, fala e provoca à Pinto da Costa, tem estrelinha e todos os méritos normalmente atribuídos aos treinadores do Dragão, em particular as simpatias das arbitragens. Quando os jogos estão complicados arranja-se sempre um penalti para os desbloquear. Daqueles que, depois, se diz que levantam polémica. Mas pouca, passa logo! E não é só por cá, ainda ontem na Bélgica foi assim! E, claro, quando há daqueles que toda a gente vê dentro da sua área, o árbitro, sempre simpático, é o único que não vê.

Com um treinador destes pouco importa se é mister ou professor!

Novo e mister – o que parecia começar a ser uma raridade – é também Paulo Sérgio, treinador do Sporting. Também ele a braços com sérios problemas – agravados com a derrota de ontem, que afasta a equipa da Europa mesmo antes de lá entrar – entre eles alguns no aparelho auditivo. Aqueles assobios vão deixar mossas. Ai vão…vão!

Mas também no aparelho respiratório, tão entalado está entre o Costinha e o Maniche!

Professor, sem sombra de dúvidas, é Carlos Queiroz, o ainda seleccionador nacional. Ou melhor, o suspenso seleccionador nacional. Uma suspensão de um mês ontem confirmada pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), depois de anunciada na véspera, ainda antes da reunião do Conselho de Disciplina da FPF que tomou a decisão! Uma suspensão por causa de uns palavrões impróprios para um professor. E que vão muito para além do vernáculo que Pinto da Costa (olha quem!) declara socialmente aceitável.

Como é a própria FPF a impedir o seleccionador de dirigir a selecção nos dois primeiros jogos de apuramento para o próximo campeonato da Europa – o que é inédito e verdadeiramente surrealista – pode concluir-se que entende que Queiroz não faz falta nenhuma.

Há muito boa gente a pensar o mesmo! Mas então por que o contratou? E por que o contratou por tanto dinheiro? E por tanto tempo?

E, com mais um processo disciplinar – agora pela cabeça do polvo – que condições restam ao professor para continuar mister da selecção nacional?

E à direcção da FPF, onde segundo o professor, está mesmo a cabeça do polvo?

Aproveitem todos para ir embora. Depressa!

No melhor dos mundos

Por Eduardo Louro

 

 

Afinal não é tudo mau!

Um dia destes – cinzento, bem escuro e mesmo meio frio – acaba por ser diferente e quebrar o ritmo normal das férias. De tal forma que até dá para substituir um mergulho na praia por um mergulho no Quinta Emenda, também ele um pouco abandonado pelas férias…

A verdade é que um dia como este de hoje não é mais do que um pequeno intervalo nas férias. Não para compromissos publicitários mas apenas uma pequena pausa. Não para fazer um xixi, mas apenas dar uma olhada à volta e reparar que tudo continua de férias. Que está tudo bem, tudo certo no seu lugar!

E dá para perceber que, mesmo em férias, continuamos bem governados e no melhor dos mundos. Mesmo nos indicadores próprios desta época do ano só temos boas notícias.

Agora que os incêndios, pelos vistos pelas mesmas razões que eu, também estão a fazer uma pausa, é o balanço da área ardida que passa para a ordem do dia. Mais de 70 mil hectares, diz-se!

É muito? É uma catástrofe?

Não, diz-nos o ministro da administração interna. É menos que 2003 e 2005, enfatiza!

Espantoso! Afinal não há qualquer problema com os incêndios, todas a políticas que desembocam na prevenção – ordenamento territorial, demográfica, florestal, etc. – é tudo do mais acertado possível. O desempenho dos serviços de Protecção Civil é excelente. Tudo perfeito, porque a área ardida neste ano é inferior à ardida em 2003 ou em 2005.

Mas, e Lapalisse não diria melhor, então é superior à de todos os outros anos. Quer dizer, percebemos que a ideia é simples: está tudo bem quando comparado com o pior possível!

Confesso que não me parece que o balanço dos incêndios se deva fazer exclusivamente à custa de um resultado, no caso a área ardida. Todos percebemos que um hectare de mato numa área não qualificada nada tem a ver com o mesmo hectare numa área protegida ou de floresta. Os milhares de hectares ardidos no Parque Nacional do Gerês são um resultado diferente dos mesmíssimos milhares noutro lado.

Tudo isto para dizer que fazer um balanço exclusivamente a partir da área ardida já me parecia uma leviandade. Agora fazê-lo por comparação com os piores resultados …

Claro que não acho que o papel do governo seja o de enfatizar a desgraça. Concordo que deva puxar a nossa auto estima colectiva para cima, impedir um clima generalizado de descrença e de incapacidade e que tudo faça para mobilizar a nação. Mas não é a inverter sistematicamente a realidade que isso se consegue.

As empresas recorrem ao benchmarking (identificação das melhores práticas para comparação do seu desempenho) para se desenvolverem e atingirem o sucesso. O governo faz o inverso: busca as piores práticas para comparar o seu desempenho!

Está a fazê-lo sistematicamente. O que é muito grave: um destes dias procura, procura … e já não encontra nada que se compare! Então deixaremos de viver no melhor dos mundos…

 

 

Futebolês#37 Mind games

Por Eduardo Louro

   

 

O futebolês não se fica apenas pelo português e afins. Também, como não poderia deixar de ser nos tempos que correm, se aventura pelos anglicismos. Não tanto como o seu parente economês – verdadeiramente imbatível – mas não deixa os seus créditos por mãos alheias!

O que são então os mind games?

Para os mais familiarizados com a língua de Shakespeare são isso mesmo: os jogos mentais, as jogadas psicológicas. Para os outros são aquelas tiradas provocatórias, atiradas com a precisão de um míssil, com o objectivo de destabilizar o adversário.

Temos uma Universidade em Portugal – fundada por José Maria Pedroto no Porto – e um catedrático apontado como o maior especialista mundial – José Mourinho, of course – mas não temos muita gente especialmente dotada. Não faz mind games quem quer. Não é para todos!

Alguns bem se esforçam mas, o melhor que conseguem são umas tiradas infelizes. Outros, no entanto, fazem mind games mesmo sem querer: qualquer palavra é um míssil de longo alcance.

É à medida que a competição aquece que os mind games começam a ganhar vida.

Com a primeira competição da época – a supertaça, disputada no passado sábado, ganha (e bem) pelo FCP, e que, também numa espécie de mind game, alguns tentam misturar na contabilidade dos títulos, somando alhos (campeonatos) com bugalhos (supertaças), não fosse o Porto a capital dos mind games – não se viu grande coisa.

Ou melhor, viu-se a confirmação de que não faz game minds quem quer. Apenas quem pode! E viu-se que Jorge Jesus não pode. Se aquela do “é muito difícil alguma equipa ganhar ao actual Benfica” foi o seu mind game, foi muito fraquinho. Pior, é daquelas em que o tiro sai facilmente pela culatra.

“Um treinador pode saber muito de futebol, mas se souber só de futebol pouco sabe de futebol” – este é um princípio enunciado pelo Prof. Manuel Sérgio, o nosso académico e filósofo do futebol. Este é o grande drama de Jesus: esquecer-se que o futebol não se limita à recepção, ao passe, à desmarcação, à ocupação de espaços… Há ainda muito mais, há alma, há determinação, há espírito de conquista. Há a atitude … Como se viu naquele jogo da supertaça!

Quem tem em mãos a mais cara equipa do futebol nacional, quem, mesmo assim, continua a pedir mais e mais jogadores, e quem tem que assumir responsabilidades adequadas ao esforço que a SAD está a desenvolver para devolver ao Benfica o prestígio do passado, não pode estabelecer prioridades que subvertam esse objectivo. Não pode dizer que a supertaça não é prioridade, que a prioridade é o campeonato. Não! Para o Benfica e para os benfiquistas ganhar ao FCP é sempre prioritário. Tal e qual como do outro lado: para o FCP é sempre prioritário ganhar ao Benfica, e essa é uma prioridade que toda a gente percebe!

Ganhar esta supertaça era absolutamente prioritário para o Benfica. Jorge Jesus tinha de perceber isto, tinha de mostrar que o percebera e de mostrar inequívoca competência para o fazer. Não tanto pelo título em si, mas por ser uma prova onde o domínio do adversário é avassalador e, fundamentalmente, para deixar clara uma marca de superioridade, numa altura em que o adversário passava por grandes necessidades de afirmação: treinador novo, pré-época instável, desequilíbrios defensivos, uma certa orfandade de liderança em campo …

Jorge Jesus falhou e assim perdeu o Benfica a oportunidade de romper com o status quo. E tudo ficou como dantes: um Porto à Porto, um Benfica … à Benfica das últimas décadas (subalterno, tolhido, sem chama nem alma, que corre menos, que luta menos, que acredita menos, que provoca menos e que é menos esperto que o Porto) e até um árbitro à árbitro (com dois penáltis por assinalar a favor do Benfica e, depois, uma compensação deplorável no aspecto disciplinar).

O campeonato começa já este fim-de-semana. A Jesus coloca-se, agora sim, um grande desafio: o difícil não é chegar ao topo, é manter-se lá! Soube lidar com as circunstâncias que lhe moldavam o lado pessoal: revisão do contrato numa mistura de rentabilização de méritos próprios com outros mind games. Falta ver se saberá lidar com as que lhe moldam a aptidão para o sucesso.

É simples: este é um campeonato decisivo, aquele que poderá inverter um ciclo. O bicampeonato é fundamental para o Benfica – transformará o título da época passada no início de um novo ciclo. Sem confirmação nesta época o último título não passará de um mero acidente no percurso da hegemonia portista. É precisamente por isso que, ao invés, é fundamental para o Porto não perder este campeonato para o Benfica. O FCP sabe bem que é muito diferente perder dois ou três títulos para o Sporting e para o Boavista ou perdê-los para o Benfica.

É tudo isto que o treinador do Benfica tem que perceber rapidamente. E deixar os benfiquistas perceberem que ele já percebeu. Com ou sem mind games! E, de preferência, sem hipotecar o sucesso a invenções e teimosias estéreis. Como a do Roberto que, como toda a gente percebe, está a condicionar toda a equipa.

 

Guerra Civil

Por Eduardo Louro

 

 

Quando meio país está a banhos e a outra metade a arder, os agentes de topo da nossa Justiça resolveram brindar-nos com um sem número de preciosidades. Provavelmente dispostos a mostrarem-nos que aquela história das férias judiciais não passa de um treta, e que mesmo quando todo o país está em férias eles aí estão, sempre no activo. Mais activos do que nunca!

Pena é que gente tão dinâmica, pró activa e qualificada tenha canalizado toda a sua energia para uma guerra civil que o país bem dispensava. Se tivessem colocado toda essa vasta gama de recursos consistentemente ao serviço dos superiores valores da Justiça, e em particular dos da investigação, não teríamos tantos e tantos casos que nos envergonham. Aos nosso olhos e aos do mundo… Sim, porque Maddie e Freeport, entre outros, levaram a nossa vergonha para além fronteiras. Envergonham-nos por essa Europa e por esse mundo fora!

O Procurador Geral da República (PGR) é o superior hierárquico dos procuradores do Ministério Público. Está no topo de uma hierarquia que ele próprio designa de “simulacro de hierarquia”, naquela sua célebre alusão à Rainha de Inglaterra.

Porquê? Porque a hierarquia está nessa aberração sindical. Quem manda no Ministério Público é o respectivo Sindicato. Que desrespeita, desautoriza, desafia e mina o PGR.

O principal responsável pelo que se passa no Ministério Público é o PGR. Uma responsabilidade formal mas que não se efectiva a partir de uma autoridade exercida.  

Porquê? Por falta de poderes, conforme reclamava o PGR?

Não sei nem faço a mínima ideia se ao PGR faltam poderes. Mas parece-me que lhe falta coragem para utilizar os que tem. Para que quer mais poderes se não tem coragem para usar os que tem?

Esta guerra entre o Ministério Público (MP) e o PGR não é a dimensão pública de divergências ocasionais. Não é uma discussão pontual. É uma guerra civil entre um MP entrincheirado num inaceitável sindicato (para quando um sindicato dos deputados? E dos ministros?) e um PGR refém da falta de coragem política há muito instalada no país, que se verga a todos os corporativismos que lhe surjam pela frente.

Esta é uma guerra que, como os incêndios que foi deixando para segundo plano, vai destruindo o país consumindo-lhe as últimas réstias de esperança. Esta é uma guerra que permite notícias como esta do Expresso desta semana: Cândida Almeida negociou com os procuradores que queriam ouvir o primeiro-ministro – eles não levariam por diante essa ideia e, em troca, poderiam juntar as tais listas de perguntas por fazer ao despacho de arquivamento.

E nisto não se sabe para que serve o ministro da Justiça. Melhor, sabe-se que não serve para nada! É que, com tudo isto, o processo Freeport retirou ao governo toda e qualquer capacidade de intervenção na Justiça. Que continua a alimentar o lume brando em que o vai continuando a fritar. Irremediavelmente!

 

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