Contingências
O Benfica perdeu o jogo que não podia perder. Este era um jogo que valia muito mais que qualquer outro alguma vez disputado pelo Benfica. O Benfica não perdeu apenas um jogo, nem perdeu apenas um campeonato. Perdeu o penta, não sendo provável que venha tão cedo a ter nova oportunidade de igualar esse feito único do futebol nacional. E, porque no futebol as coisas decidem-se dentro do campo, perdeu a oportunidade de derrotar uma estratégia de desespero, verdadeiramente inqualificável, de que sairá certamente com muito a perder.
Sem Jonas, de novo de fora, mas com a Luz cheia que nem um ovo - 64 mil - e ao som do "eu amo o Benfica", a equipa entrou bem no jogo. Não se pode dizer que tenha subjugado o adversário, nem sequer que se tenha exibido a alto nível, nada que se pareça com o que, por exemplo, fez contra o Soporting ou, há dois anos atrás, na última derrota na Luz até hoje, com o Porto, então de Peseiro. Mas esteve sempre bem por cima, praticou o melhor futebol que se viu sobre a relva, e criou duas oportunidades de golo.
Sobressaíam alguns jogadores, e eram todos do Benfica: Fejsa, ao seu nível, mas especialmente Zivkovic, Cervi e Rafa. Esperou-se meia hora para ver a primeira verdadeira iniciativa atacante do Porto, e o primeiro remate a sério surgiu já à beira do intervalo. Mesmo sem atingir a baliza, porque na verdade os portistas não tiveram único remate enquadrado.
Na segunda parte tudo foi diferente. O Benfica perdeu o controlo do jogo, e em vez de tentar recuperá-lo, deixou-se ir, deixou-se tomar pelo andamento do jogo, decididamente lançado nas bases que mais interessavam ao Porto. As decisões de Rui Vitória mostraram isso mesmo, mostraram que o Benfica tinha embarcado sem destino e deixava-se ir com a maré.
Se, tirar Rafa do jogo, foi uma má ideia, e, mais tarde, meter lá Samaris foi péssima, a entrada de Seferovic já nem ideia era. Era uma simples crença num milagre. Só que os deuses do futebol também são castigadores, e entregaram o milagre a Sérgio Conceição, acabando o Benfica por morrer com os ferros com que quis matar.
Ah... E o árbitro? Há sempre o árbitro, não há?
Soares Dias foi o que é sempre: um árbitro habilidoso, que insistem em considerar o melhor que por cá há. Para além das habituais habilidades também os habituais erros grosseiros: aos 69 minutos, Sérgio Oliveira agarrou Rafa pelo pescoço, que saía em contra-ataque, em clara falta para amarelo. Que seria o segundo, tinha visto o primeiro na primeira parte, quando havia feito o mesmo, só que então Rafa seguia isolado, pelo que deveria ter sido vermelho. E, logo depois do golo de Herrera, houve mesmo penalti de Ricardo Pereira sobre Zivkovic.
Mas isto são contigências. Como contingencial é praticamente tudo no futebol!