Dia de Angola
Hoje é dia de eleições em Angola. Só por isso já seria um dia histórico, não há eleições em Angola todos os anos. Nem todas as décadas... É mesmo coisa rara.
Aconteça o que acontecer nas eleições e nos seus resultados, hoje é um dia de mudança. Mesmo que, como tudo indica, ganhe o candidato do regime, o poder continue nas mãos do MPLA, e Eduardo dos Santos continue com os cordelinhos do poder, hoje muita coisa mudará.
Mesmo que escolhido pelo presidente que há quase 40 anos - a História tem destas ironias: um jovem que chegou ao poder como solução transitória, até que as grandes figuras do MPLA se entendessem na sucessão de Agostinho Neto, acaba por se tornar no mais estruturado e mais duradouro caso de poder - João Lourenço não é Eduardo dos Santos. E tem ao lado - há até quem diga à frente - uma mulher que é simplesmente uma das mais bem preparadas personalidades angolanas. A experiência política, diplomática e e executiva de Ana Lourenço fazem dela muito mais que a primeira dama que Angola nunca teve. E podem fazer dela um verdadeiro agente de mudança, que vá muito para além do simples mudar, para que tudo fique na mesma.
A crise que se agravou nos últimos três anos, depois da queda dos preços do petróleo, deixou a economia e as finanças angolanas, e em particular o sistema financeiro, em muito mau estado. É muito provável que o país tenha de recorrer a ajuda internacional, através do FMI, e sabe-se o que esse tipo de intervenções traz agarrado.
Não será nesta altura muito provável que os angolanos suportem os sacrifícios que lhes vão ser exigidos se não perceberem que o regime esteja a mudar. E isso será tão mais improvável quanto mais apertada for a vitória do candidato do MPLA... Num quadro de eleições livres e justas, como evidentemente se deseja. De outra forma, as dificuldades serão ainda maiores.
Por isso, hoje é um dia histórico para Angola.