Excessivo*
Não se tem falado de outra coisa que de salário mínimo e da redução da TSU.
Há muito que o aumento do salário mínimo é um drama, em Portugal. Não se vêem grandes preocupações com o facto de praticamente 1/4 da população que trabalha estar abrangida pelo salário mínimo. Não se vê muita gente incomodada com um salário mínimo que é um terço do de alguns dos nossos parceiros europeus, e que raia o limiar da pobreza.
Quando se fala em aumentá-lo é que surgem as preocupações. Aí é que não falta gente seriamente preocupada. E não falta gente a reclamar medidas de compensação.
Até aqui não havia grande problema: reduzia-se a famosa TSU aos empregadores e não se falava mais nisso. Tem sido de tal forma assim que ao governo – e ao Presidente da República, acabou agora por se saber – não se levantaram quaisquer dúvidas que continuaria a ser assim.
Mas não foi. Uma improvável conjugação de linhas vermelhas da esquerda com interesses tácticos do PSD acabou com esta solução mágica.
Muito se discutiu sobre a intransigência do PSD, ao arrepio dos seus princípios e da sua prática recente. Indiferente à pressão – houve até cartas de figuras proeminentes do partido e dos patrões - Passos Coelho manteve a sua posição contranatura. Tão evidentemente contranatura, que logo se começou a suspeitar que, o que o movia não era a oposição à TSU, mas ao próprio aumento do salário mínimo nacional.
No debate parlamentar Passos Coelho desfez por completo as suspeitas, dizendo com todas as letras que, na verdade, era ao aumento do salário mínimo que se opunha. Porque, justificou, era “excessivo”!
Um aumento de 27 euros num salário, que é uma retribuição de trabalho, e não um subsídio social, que está ao nível do limiar da pobreza, é “excessivo”?
Num país decente, um partido cujo líder dissesse uma coisa destas, não ganharia eleições enquanto houvesse uma pessoa a lembrar-se disto!
* Da minha crónica na Rádio Cister