O aparelho
De repente - já lá vão uns meses, é certo, mas foi de repente, logo que se começaram a perfilar para disputar a sucessão -, Santana Lopes e Rui Rio passaram de ferozes críticos a fervorosos apoiantes de Passos Coelho.
Quem os ouve agora nem percebe por que se estão a candidatar para o substituir. Se, como dizem, Passos Coelho fez tudo tão bem, por que é que não continua?
No entanto, como ainda ontem, no debate na TVI, fizeram ambos gala de nos voltar a lembrar, com citações e recortes de jornais, que qualquer deles andou a desancar em Passos Coelho durante todo o consulado da sua liderança. Não lhe pouparam nenhuma!
É curioso que Santana Lopes - que, como se sabe, é tipo de grande à vontade e de pequena vergonha, coisa a que vulgarmente chamamos lata -, quando o seu adversário concluiu (das poucas vezes em que o deixou concluir o que quer que fosse) um rol de recortes de jornais com provas das acusações que fizera ao ainda líder do partido, lhe tenha perguntado quando é que isso ocorrera. E que tenha ficado sem resposta, metendo a viola no saco, quando Rui Rio, voltando aos recortes, enunciou 2009, 2010, 2011, 2013, 2015...
Não sabemos, se calhar nunca saberemos se, quando durante todos estes anos criticaram tão asperamente Passos Coelho, como agora fazem questão de lembrar um ao outro, qualquer deles, ou ambos, estavam em frontal oposição às suas opções políticas ou simplesmente a colocar-se no sítio que consideravam certo para lhe disputar o lugar. O que sabemos é que as coisas lhes saíram furadas. Passos auto-destruiu-se, mas o seu poder no partido, que tanto trabalho lhe dera a construir, manteve-se intacto. É ele que continua a dominar o aparelho de um partido que cada vez mais se parece com os clubes de futebol, até nas lógicas de poder.
É por isso que Santana Lopes e Rui Rio, nas tintas para a honestidade intelectual, estão hoje tão de acordo na exaltação de Passos Coelho. E é também por isso que, ganhe qual deles ganhar, será sempre um líder de curto prazo. Que fará as malas lá para finais de Outubro do próximo ano.