Surpresa
Arranca hoje o julgamento da Operação Fizz, que envolve o ex-vice presidente angolano e "ex-patrão" da Sonagol, Manuel Vicente. Que está provocar um terramoto nas relações entre Portugal e Angola e, por causa disso, um forte mau estar entre o poder político e o judicial em Portugal.
As razões que assistem às partes são conhecidas. O poder político em Portugal quer naturalmente evitar clivagens com o poder político em Angola, porque são muitos e fortes os interesses económicos envolvidos. Angola argumenta com o acordo judiciário assinado entre os dois Estados no âmbito da CPLP, e a Justiça Portuguesa com a desconfiança na Justiça angolana: teme que, com a trasferência do processo de Manuel Vicente para Angola, se não faça justiça.
Trata-se de um processo de corrupção envolvendo um cidadão estrangeiro, por acaso figura de topo do regime do seu país. E vem-me à memória outro caso de corrupção envolvendo cidadãos nacionais, por acaso também do topo do regime, e estrangeiros. Teve a ver com umas compras de uns submarinos. No estrangeiro foram identificados, julgados e condenados os corruptores. Em Portugal, a Justiça portuguesa não encontrou corrompidos. Arquivou tudo. Como arquivou tudo o que tinha a ver com umas fraudes com uns fundos comunitários, provadas e reclamadas pela União Europeia, que também tinham a ver com figuras gradas do regime.
Há aqui certamente alguns problemas de legitimidade. Mas há, acima de tudo, surpresa. E grande!
Surpreende que a Justiça Portuguesa não desconfie de si própria...