UM PAÍS À ESPERA
Por Eduardo Louro
Enquanto uma parte do país arde, outra se entretém com piadas e anedotas sobre Miguel Relvas e ainda outra está na praia, espera-se pela nova visita de avaliação da troika – a quinta – lá para finais de Agosto.
O governo sem saber o que fazer, nem por que ponta há-de pegar para o orçamento do próximo ano, também espera. Entretanto vai-se entretendo a criar um sistema de facturação de bicas e ao recrutamento de 10 milhões de fiscais das finanças. De borla, porque os tempos são para isso mesmo!
Com a execução orçamental a correr como se sabe e a meta do défice dos 4,5% cada vez mais longe, espera-se que a troika traga uma solução que desbloqueie o actual impasse em que nos encontramos. Disse aqui repetidamente que a troika iria abrir mão de qualquer artifício contabilístico que salvasse a face de todas as partes, porque era fundamental apresentar um caso de sucesso para a sua receita. Fossem mais receitas extraordinárias, onde já pouco mais resta que o remanescente dos fundos de pensões da banca, fosse pela afectação às receitas orçamentais do que falta das privatizações, ou pela reprogramação dos fundos europeus.
Sobra ainda a descida da taxa de juro dos empréstimos na esfera do programa, que daria uma ajuda. Essa sim, efectiva. Mas a menos provável!
Não tenho grandes dúvidas que nenhuma dessas alternativas – ou mesmo da conjugação de parte delas – dispensará mais medidas de austeridade, sob o eufemismo de execução orçamental mais apertada.
O FMI parece começar a descolar da ortodoxia dos seus parceiros de coligação e a dar sinais de que compreende melhor o país que propriamente as duas instituições europeias da troika. O que, sendo de estranhar, é ainda mais preocupante!
É preocupante que seja apenas o FMI a perceber que a austeridade está esgotada e esgotou a economia nacional. Que o modelo de asiatização do mercado de trabalho e da economia é um desastre irrecuperável, que nos afastará para sempre da economia europeia ou do que dela venha a restar.
A troika não vem apenas cá de três em três meses fazer avaliações. Está cá uma equipa em permanência que, como dizia Sophia, “vê, ouve e lê … não pode ignorar”! O elemento do FMI dessa equipa – o austríaco Albert Jaeger – dizia que, num país que integra a União Europeia há três décadas, se um empresário não consegue ser competitivo quando paga um salário de 10 euros por hora a um trabalhador qualificado (lembram-se dos 3,92 euros dos enfermeiros, e dos 500 euros mensais oferecidos a um engenheiro e a um arquitecto?), então os problemas são outros.
E são, claramente. Mas a União Europeia não acha. O governo, pelos vistos, também não. O país, esse, continua è espera que alguém repare nisso…