A expressão máxima do futebol numa final do campeonato do mundo
Depois de, ontem, a Croácia ter conquistado o terceiro lugar frente à surpreendente selecção de Marrocos, num jogo típico dessa disputa, hoje foi o dia da final. Inédita, num jogo épico que foi futebol na sua expressão máxima.
Uma final de duas por três. Em que houve duas sem três e, às três, foi de vez.
França e Argentina procuravam o seu terceiro título mundial. Os sul americanos à terceira, depois de duas finais perdidas (1990 e 2014) após o último título, em 1986. O de Maradona,de quem deveria também ter sido o de 90, em Itália.
Hoje, por duas vezes, a Argentina teve a mão na Taça dourada, e por duas vezes a França lha retirou. À terceira, foi de vez, e não a largou mais.
O jogo começou dentro das expectativas, com os franceses expectantes, dentro do seu registo calculista, e os argentinos com mais iniciativa. A Argentina dava mais nas vistas com o seu futebol sólido, mas também mais entusiasmante, com Messi, Enzo Fernandez e Mac Allister (sim, é escocês de origem) a mexerem os cordelinhos, e Di Maria a partir a loiça toda. Do lado francês não se via Mbappé, nem Grizmann. Via-se Dembelé, mas no pior.
Estava o jogo nisto, com Di Maria - precisamente - a dar cabo da cabeça a Koundé e a Dembelé quando, depois de levar mais um nó do ainda mágico argentino, o extremo do Barcelona cometeu infantilmente um penálti. Messi bateu naturalmente Lloris e, na altura, pensou-se que, com a primeira parte a meio, isso era o que melhor podia acontecer ao jogo.
A França teria que abandonar a sua convencionada - e convencida - atitude expectante e começar a jogar a bola. E, com aqueles jogadores todos de enorme qualidade, era o que todos queríamos ver.
Pura ilusão. O que aconteceu foi exactamente o contrário, e foi a Argentina que, em vantagem, partiu para o domínio do jogo, e para o seu melhor período em toda a partida. E pouco mais de 10 minutos depois, numa saída rápida de compêndio, com tudo bem feito e ao primeiro toque, do primeiro passe de Messi à assistência de Mac Allister e ao remate final de Di Maria, chegou ao 2-0. E tudo parecia resolvido.
Deschamps mexeu de imediato na equipa, sem esperar sequer pelo intervalo, tirando Giroud e Dembelé. Mas o jogo não mudava de sentido. À entrada do segundo quarto de hora da segunda parte Scaloni trocou o desiquilibrador mor, Di Maria, então já esgotado, por Acuña, convencido que o jogo estava ganho e que bastaria controlá-lo.
Tinha as duas mãos na Taça do Campeonato do Mundo!
Tudo parecia dar-lhe razão, até porque os franceses nem sequer um remate à baliza tinham feito. O primeiro só surgiu aos 70 minutos, de Mbappé, e totalmente desenquadrado da baliza de Emiliano Martinez, apenas mais um espectador da final, quando Deschamps tirava do campo Grizmann, trocando o organizador e pensador de jogo por mais uma "moto" - Coman, o ala do Bayern.
Mas nada mudava. Até que, às duas por três, já o ponteiro ia nos 80 minutos, Otamendi teve um dos seus deslizes. Não tem muitos, mas como já cá anda há muitos anos, às vezes até parece. Deixou a bola bater, e acabou antecipado por Kolo Muani - a primeira das "motos" a entrar -, com o polaco Szymon Marciniako a assinalar penálti.
Mbappé converteu o penálti e nem deu tempo para imaginar o que aí vinha porque, no minuto seguinte, ao terceiro remate do jogo, num golo de efeito estético digno de uma final de um campeonato do mundo, empatou o jogo.
Pensou-se então que a germanização da França, que Pétain não conseguira há 80 anos sob Vichy, era agora consumada pelo futebol. E que Gary Lineker teria que alterar o seu axioma para ... "e no fim ganha a França"!
Dificilmente a Argentina resistiria a um golpe destes. Oitenta minutos por cima do jogo para, em dois minutos, ver desaparecer uma vantagem de dois golos. À França só podia sobrar motivação para o vitorioso ataque final a um título que há bem pouco parecia completamente irrecuperável.
Nos quase 20 minutos que o jogo ainda durou nem a Argentina afundou, nem a França avassalou. E o jogo foi para prolongamento, acrescentando mais trinta e tal minutos aos 105 que já tinha tido. E a Argentina volta pôr a mão na Taça, com novo golo de Messi, logo no arranque da segunda parte do prolongamento. Para ter que a tirar de novo, a dois minutos do fim, com novo penálti convertido por Mbappé, com a notável marca de três golos na final do campeonato do mundo - provavelmente a melhor de todas as finais - e sagrar-se melhor marcador, com 8 golos, mais um que Messi.
Chegou então a vez de Emiliano Martinez se tornar no melhor guarda-redes do mundial. Primeiro com uma defesa notável, a negar o golo a Kolo Muani, no último minuto do prolongamento - ainda assim, antes da última oportunidade da Argentina, desperdiçada por Lautaro Martínez - e, depois, no desempate nos penáltis, ao defender o remate de Coman, o segundo da série, que lançaria os franceses para novo falhanço (Tchouaméni rematou ao lado).
Pela terceira vez os argentinos tinham a mão na taça. Às três foi de vez, e os argentinos nem precisaram do quinto penálti para segurar definitivamente o terceiro título mundial. Este de Messi (melhor jogador), de Martinez (melhor guarda-redes) e de Enzo Fernandez (melhor jovem)!
Dois dos campeões do mundo são do Benfica, tantos quanto o Atlético de Madrid. Nenhum outro clube tem mais!