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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Na forma do costume

O Benfica surgiu hoje em Rio Maior no seu jeito, com o seu futebol que não entusiasma os adeptos, nem massacra o adversário. O efeito Kokçu notou-se logo na constituição do onze inicial, com Neres a pagar a factura. Saiu da equipa, daquela que vinha sendo dada como, finalmente, o onze base de Schmidt, para lá entrar - evidentemente - João Mário. A mensagem é simples, e fácil de perceber!

Com João Mário na ala esquerda - ainda por cima onde rende menos -, e Di Maria com lugar cativo na direita, e ambos com tendência a vir para dentro, o jogo do Benfica afunilou sempre, como é habitual. Se a tarefa do Casa Pia era defender, assim, tornava-se mais fácil. Com essa tarefa facilitada, e como o Benfica resolveu dar a primeira parte de avanço, o Casa Pia teve até oportunidade de querer mais qualquer coisa do jogo.

O Benfica acumulava posse de bola e pontapés de canto. Pouco mais. O mais perto que esteve do golo foi quando João Neves cabeceou a bola para dentro da baliza, que o árbitro anulou, por fora de jogo.

O intervalo não mudou nada. O Benfica voltou com os mesmos 11 jogadores, como quem acredita que fazendo as mesmas coisas, e da mesma maneira, seja possível atingir resultados diferentes. Foi preciso mais um quarto de hora para mudar alguma coisa, com a entrada de Arthur Cabral para o lugar Marcos Leonardo (é cada vez mais difícil encontrar-lhe atributos para ponta de lança fixo: não consegue jogar de costas para a baliza, nem tem o que se chama de faro de golo) e de Neres para o  de ... Florentino. Que não foi muito apreciada pelas bancadas, maioritariamente benfiquistas, como sempre. Mas que nas circunstâncias do efeito Kokçu se compreende: Florentino tinha sido amarelado no final da primeira parte, e João Mário passaria a formar a dupla do meio campo com João Neves, para o que está mais talhado. E na verdade não correu mal.

Neres dinamizou o ataque, mas também ele vinha muito frequentemente para o meio. Uma espécie de "pecado original" da equipa. E Arthur Cabral dava o desconforto à defesa do Casa Pia que o seu compatriota nunca dera. Os cantos sucediam-se, mas agora também oportunidades claras de golo. 

O problema é que, golos - já se sabe - apenas em transição. O Casa Pia também o sabe.Tomou todos os cuidados quando subiu no terreno e tentou evitar todas as oportunidades de transição rápida ao Benfica. Não o conseguiu por duas vezes: na primeira, ainda antes das substituições, Rafa não conseguiu marcar (um toque do defesa empurrou-o para um toque a mais na bola); na segunda, Arthur Cabral fez de Rafa e marcou um grande golo. Ainda antes da entrada no último quarto de hora.

A partir daí foi controlar o jogo, e levá-lo até ao fim. No registo do costume. Que não entusiasma, mas mantém a chama acesa. 

António Silva viu o quinto amarelo, deixando-o já de fora, e arrumando com qualquer probabilidade de ficar de fora do dérbi. Nesse aspecto até poderia ter sido "encomenda". Mas não foi, foi apenas ridículo. E uma bizarria. Como bizarra foi aquela "cena" do Aursenes. É no que dá tanta mudança de posição. Já se estava a ver a guarda-redes!

Primeiro e único

O Benfica deixara demonstrado, há uma semana, na Luz, que era muito melhor que o Rangers. Melhor dito - que os jogadores do Benfica são muito melhores que os do Rangers. Poderia então ter praticamente deixado resolvido o apuramento para os quartos de final da Liga Europa mas, ter os melhores jogadores, não foi suficiente (falhou no ataque, ao falhar golos feitos, e falhou na defesa, ao oferecer os dois golos ao adversário, nas suas duas únicas oportunidades), e deixou tudo para decidir hoje, no temível e lendário Ibrox Stadium.

Cedo o Benfica voltou a mostrar que é muito melhor que o Rangers. Via-se claramente. Tão claramente quanto se via que muita coisa faltava para que essa superioridade se materializasse no jogo. E tudo o que se via que faltava, percebia-se com igual clareza, era "trabalho de casa". Era treino e preparação do jogo.

Raramente os jogadores do Benfica faziam bem duas coisas seguidas. Porque lhes faltava confiança, e porque lhes faltavam rotinas de jogo. Depois, e mais relevante ainda, era aflitivo ver como o Benfica "embarcava" no jogo que convinha à equipa escocesa. Um jogo de grande intensidade física, de duelos, "partido", de ataque e resposta. 

Com "armas" bem mais sofisticadas, o Benfica fazia a guerra do corpo a corpo. 

Foi assim toda a primeira parte em Ibrox. Numa toada de parada e resposta, num ritmo elevado, num relvado cada vez mais massacrado pela chuva, que nunca deu tréguas. Mesmo deixando-se cair no jogo do adversário, o Benfica teve mais bola,  e as duas únicas ocasiões (um frango de Trubin quase dava em golo, mas foi só isso) para marcar: uma num cruzamento de Di Maria, em que Marcos Leonardo (hoje a rifa calhou-lhe a ele)  não fez o necessário para estar no sítio certo; e outra num excelente passe de João Neves, em que Rafa e Marcos se atrapalharam um ao outro.

Com uma primeira parte altamente desgastante, temia-se que, na segunda, na mesma toada, e com o relvado cada vez mais pesado, o jogo pudesse cair para o lado britânico. Schmidt trocou Marcos, que pareceu sempre "peixe fora de água" por Tengstedt, e os primeiros minutos quiseram mostrar isso mesmo, com o Ranger a dispor de duas oportunidades - a primeira com Dessers a rematar junto ao poste direito de Trubin, batido; e logo a seguir um quase auto-golo de António Silva. 

Mas com o golo de Rafa, a meio da segunda parte, tudo mudou. Quando o Rangers queimava os últimos cartuchos - é notável que o Benfica tenha resistido fisicamente bem melhor que os escoceses -, finalmente numa transição rápida, Di Maria assistiu Rafa, ainda dentro do seu meio campo, que cavalgou para a baliza e bateu, com a classe habitual nestas circunstâncias, o guarda-redes do Rangers. O árbitro assistente assinalou fora de jogo, mas era evidente que o VAR haveria de confirmar o golo. Tanto que se tornou incompreensível o tempo que demorou.

O Benfica, melhor fisicamente, e com jogadores muito melhores, passou então a dominar o jogo. Não atingiu um nível por aí além mas, nem os tempos são para isso, nem o estado do relvado permitia muito mais. Poderia ter voltado a marcar pelo menos por mais duas vezes (no remate de Bah, com grande defesa do guarda-redes, para canto, do qual resultou um desperdício incrível de António Silva), e evitado a ansiedade que um resultado tangencial sempre provoca. E que aumentava à medida que se via Di Maria esgotado continuar em campo, com Tengstedt desviado para a ala que ele já não conseguia cobrir. E Tiago Gouveia, cheio de força - e talento - sentado no banco... Até ao minuto 90+2!

E lá vamos para os quartos de final. E lá somos a única equipa portuguesa presente na Europa. E lá fomos a primeira equipa portuguesa a ganhar na Escócia... 

 

Muitos problemas para resolver

Em noite eleitoral a Luz voltou a ficar abaixo dos 50 mil, no jogo com o Estoril. Ainda assim esteve lá gente a mais. Que não deveria ter entrado.

Com a sanção da UEFA suspensa por dois anos, os energúmenos das tochas quiseram a fazer uma demonstração de estupidez. O jogo esteve parado uns minutos, precisamente quando a equipa precisava de todos os segundos para desfazer o empate, já no fim da primeira parte. Mas nem é isto que mais choca, quem quer prejudicar o próprio clube está disposto a tudo, e nas tintas para o que prejudica a equipa. O que mais choca é que não haja no Benfica quem acabe com esta impunidade!

Rui Costa tem mais um problema para resolver. Seria bom que começasse a dar nota de que os começa a resolver.

Schmidt deu descanso a Rafa, Di Maria e João Neves. A acumulação de amarelos deu-o a Otamendi. Com quatro baixas, as novidades foram Tomás Araújo (no lugar de António Silva, que jogou no de Otamendi), Tiago Gouveia e Marcos Leonardo, o ponta de lança que desta vez saiu na rifa. E o sistema foi o 4X3X3 clássico, que com Rafa nunca se vê. 

Poderia mudar o sistema, mas não mudava o futebol tipo do Benfica. O primeiro golo - um grande golo de Kokçu, hoje liberto de fantasmas, no lugar certo, foi um verdadeiro distribuidor de jogo - chegou no segundo remate (o primeiro tinha sido do mesmo Kokçu, na cobrança de um livre) ao quarto de hora de jogo. Logo a seguir poderia chegado ao segundo, numa bela tabela entre Aursnes e Gouveia, concluída com um grande remate de João Mário e uma boa defesa de Dani Figueira. O Benfica não estabilizou à volta do golo e dessa boa jogada, e foi o Estoril a crescer, a chegar ao empate na primeira vez que chegou à baliza de Trubin e, depois, a quase fazer o que quis do jogo. 

Das bancadas começaram a chover assobios e, a seguir, as tochas. Valeu que, em cima do intervalo,  David Neres foi à linha de fundo e cruzou para o segundo poste, donde Tiago Gouveia assistiu, de cabeça, Marcos Leonardo, para o segundo. Foi quase como se não tivesse havido intervalo. Logo no arranque da segunda parte, Tiago Gouveia marcou o terceiro, e arrumou com o resultado.

Mas poderia não ter arrumado. Porque o Benfica continuou a oscilar ao longo do jogo, e o Estoril continuou a jogar à bola. Tanto que o Trubin acabou com mais defesas que o Dani Figueira. E porque o árbitro Manuel Oliveira é o "verdadeiro artista". Como agora têm de comunicar ao público as decisões tomadas através do recurso às imagens do VAR, este "artista" teve a distinta lata de não confirmar o penálti que todos tinham visto, declarando simplesmente "que o jogador 22 não cometeu falta".

E pronto... temos que continuar à espera... Que isto passe, ou que se resolvam os problemas para acabar com isto.

 

 

Esperar que passe ...

Com menos de 50 mil nas bancadas da Luz, pela primeira vez nesta época – claro que isto faz mossa -, o Benfica tentava a reconciliação com os adeptos, começar a apagar os efeitos do desastre do Dragão e, ainda, um resultado que, para além condizente com isso tudo, desse garantias para a visita a Glasgow, daqui a uma semana.

O anúncio da constituição da equipa, que se vem tornando num momento alto das bancadas da Luz, não gerou controvérsia. Os assobios foram todos para Schmidt. O onze parecia finalmente à medida de uma equipa equilibrada, mesmo com o insolúvel problema dos laterais, mas esse é crónico. Florentino e João Neves constituíam o meio campo mais reclamado pelos adeptos, os três desequilibradores Di Maria, Rafa e Neres mantinham-se, mas desta vez com um ponta de lança - Arthur Cabral. 

A equipa parecia bem montada e cedo começou a querer mostrar serviço, dentro, naturalmente, do seu registo habitual. Só que, logo aos 7 minutos, na primeira vez que chegou à área de Trubin, o Rangers marcou. Acontece muitas vezes, e mais ainda ao Benfica. O que punha em causa todo o programa da noite era o desposicionamento defensivo, a completa desorganização defensiva na abordagem ao lance. E isso, como se sabe, não é novo.

A equipa sentiu o golo – não havia como o sentir – mas foi-se gradualmente reerguendo. Sem deslumbrar, mas com a exibição a ir atingindo um mínimo de consistência, logo deu para confirmar que o Rangers é uma das mais fracas equipas em competição, comportando-se exactamente como as equipas pequenas no nosso campeonato. Depois de mais de meia hora em cima do adversário, mas com os mesmos problemas de sempre na decisão final, a que acresciam duas ou três defesas miraculosas do experiente Butland, o Benfica lá conseguiu marcar um golito e empatar. De penálti!

Não havia outra forma. Já teria havido razões para assinalar dois, antes. Por faltas sobre Di Maria e Neres. Mas só este foi assinalado, por intervenção do VAR, por corte da bola com a mão num canto de Di Maria, num lance que o árbitro deixou prosseguir, a que se seguiria um novo corte com a mão, que também deixou passar. O VAR, claro, só teve de convencer o árbitro pelo primeiro.

Com tudo isto, quando Di Maria converteu o penálti com a habitual classe (Butland foi admoestado com amarelo, por manobras de diversão), já o relógio ia no segundo dos 5 minutos de compensação. 

Inacreditavelmente, logo a seguir, na segunda vez que se acerca da área do Benfica, o Rangers volta a marcar. De novo com a defesa benfiquista aos papéis, completamente desposicionada, e sem saber o que tinha para fazer. Depois de a bola ter andado ali a saltar de um lado para o outro sem ninguém a tirar dali, acabou em Fábio Silva (lembram-se da réplica do João Félix?) que "despachou" o Bah e devolveu a bola para dentro da área, rasteira, por entre quatro ou cinco jogadores do Benfica, a marcarem-se uns aos outros, que a deixaram passar para, ao segundo poste, e a ganhar posição a Aursnes, Sterling (sim, é apenas o mesmo nome) marcar.

Bastaram poucos segundos para destruir o que demorara 40 minutos a conseguir. E a primeira parte bem se pode resumir a 45 minutos a falhar: a falhar no tempo todo no ataque, e a falhar nas únicas duas vezes em que teve de defender. A última quando tinha acabado de empatar, e em cima do apito para o intervalo. Inadmissível a este nível de profissionalismo!

Nestas circunstâncias não era de prever grande coisa para a segunda parte. Mas não foi bem assim. Sem alterações a equipa surgiu mais forte para a segunda parte, com as linhas mais subidas, a fazer funcionar a pressão alta, e a meter a equipa escocesa num colete de forças donde não a deixava sair. 

A exibição não era brilhante - brilhante, mesmo, só João Neves, mas para ele já não há adjectivos - porque falhavam aquelas pequenas coisas que só a confiança dá. O toque, a finta, o remate, tudo o que sai facilmente quando a equipa está confiante, não acontece nesta altura. O Benfica dominava por completo, sucediam-se os cantos (14) e remates (25), mas não assim tantas oportunidades de golo. E as que eram criadas eram desperdiçadas, algumas de forma gritante, como aquela de Di Maria.

O empate acabaria por chegar relativamente cedo, a meio da segunda parte. Mas ... num auto-golo. A tempo de tudo, mas também de nada. 

O Rangers, bem longe daquele Steven Gerrard aqui trouxe há três ou quatro anos, defendeu o empate com tudo o que tinha ao alcance. O Benfica procurou por todos os meios, pelo menos, ganhar o jogo. Mas não conseguiu, perdido no meio dos fantasmas que o atormentam. Golos, só de penálti. Ou então que os marquem os outros... 

Às vezes isto é como as tempestades. Só temos que esperar que passem. Mas os espaços de espera também dão para aproveitar para pensar! 

 

Assim, não!

Claro que foi "cada tiro cada melro", neste clássico do Dragão. Claro que, nas circunstâncias do jogo, em cada uma delas, os astros estiveram sempre todos alinhados para o Porto. Mas nada disso relativiza aquilo que foi a absoluta nulidade da exibição do Benfica, e a estrondosa goleada (0-5) com que saiu esta noite do Dragão.

Não sei se foi o "adeus" definitivo ao campeonato. Mas sei que, a jogar assim - nunca caiu tão baixo como hoje, mas há muito que a equipa não dá garantias - o bi-campeonato nunca passará de sonho. E, francamente, cada vez mais me convenço que, se um treinador, com os melhores jogadores não for capaz de construir a melhor equipa, alguma coisa está errada.

É que a derrota dói. E a goleada dói ainda mais. Mas a recorrente incapcidade do Benfica em se superiorizar aos principais rivais em algum dia haveria de acabar desta forma. Que tudo isto aconteça em cima do 120º aniversário do Glorioso apenas dá mais cor à dor. 

 

Dia do quatro

Quando a instalação sonora da Luz deu a conhecer o onze do Benfica para este jogo com o Portimonense, terão sido poucos, entre os quase 60 mil nas bancadas, os que ficaram desconfiados. 

Num jogo em casa, contra um dos aflitos, que se sabia vir defender com toda a gente em cima da sua baliza, jogar sem qualquer ponta de lança, não fazia sentido. Como a embirração com Roger Schmidt é já mais que muita, soava a "invenção" - "lá está ele a inventar outra vez". Ou então a embirrar connosco, quando só nós é que podemos embirrar com ele.

Eu, que não sou de embirrar, e que acho que a motivação de um treinador profissional nunca poderá ser a de embirrar com ninguém, tentei perceber o que poderia ter passado pela cabeça do treinador do Benfica. Não tendo Tengstedt - claramente o "nove" da sua confiança para jogar da forma que é a sua - terá começado a fazer contas, pensei: somou os golos dos ponta de lança disponíveis e concluiu que, todos juntos, marcam bem menos golos que Neres, João Mário, Di Maria e Rafa. 

Na minha cabeça aquilo começou a fazer sentido. E comecei a lembrar-me que venho há muito reclamando que o lugar de Kokçu é mais adiantado, na função condizente com o número 10 que Rui Costa lhe ofereceu. Que mais recuado, como tem jogado sempre, é um desperdício. Só que nessa posição joga o Rafa, e não deve haver ninguém, em perfeito estado de saúde mental, que possa achar que deva sair para jogar o internacional turco.

Portanto jogar sem ponta de lança era a fórmula de tirar o melhor de Kokçu e manter em campo quem faz golos. Correu bem. Schmidt não inventou nada, foi racional.

A primeira parte mostrou logo que a equipa jogava bem, dentro daquilo que é a ideia de jogo de Roger Schmidt. O Portimonense comportou-se como era esperado, a defender com todos em cima da área, protegida por um muro e ocupada por uma floresta de pernas. Não era fácil passar pelo muro e, depois, ainda desviar-se das pernas todas que surgiam. Mas o Benfica tentou. Por fora e por dentro. Em tabelas e diagonais. Por vezes mais pelo meio que o desejável, nem tudo era perfeito, mas a equipa nunca desistia. Nem nunca se desorganizava quando perdia a bola, não consentindo qualquer oportunidade ao Portimonense de sair lá de trás.

Não marcou, é certo. Mas criou uma mão cheia de grandes oportunidades para isso, com o guarda-redes Nakamura a defender tudo, já a ameaçar tornar-se intransponível.

Ao intervalo, o 0-0 não contava nada. O que animava as bancadas e espalhava benfiquismo era Diogo Ribeiro, e as suas duas medalhas de ouro.

Para a segunda parte nada mudou. E na verdade não havia nada que mudar, a não ser a bola entrar. Sabe-se que muitas vezes não entra, mas também se sabe que quando é bem jogada está mais perto de entrar. E que há coisas mágicas; às vezes apenas um número. O de hoje era o 4! 

As bancadas usaram o minuto 4 para aplaudir António Silva, numa comunhão de sentimento de pesar pela perda do avô. Como guardariam o 87 para João Neves, entretanto já ambos no banco, pelas mesmas razões pela perda da mãe.   

Foi em quatro minutos que o Benfica derrubou o muro, desbaratou a floresta de pernas. E Nakamura conseguiria defender tudo, menos quatro golos. E que golos!

Aos 10 minutos "o ponta de lança" Rafa, a passe de Bah, marcou o primeiro. De trivela, a enganar Nakamura. Dois minutos volvidos foi Neres, lançado por Kokçu, a fazer tudo, concluindo com um drible ao guarda-redes. E, mais dois depois, um passe de trivela de Rafa deixou a bola para mais um grande golo, de Di Maria - pois claro. Do trio de ataque faltava ele. Três golos em 4 minutos. E sem a pressão do resultado o futebol do Benfica ia-se refinando.

O número era o 4. Por isso o quarto golo - bis de Rafa, pois claro - apenas chegou à meia hora. Por isso Nakamura continuou a defender tudo. Por isso o golo foi anulado (e bem, por fora de jogo) à quinta vez que a bola entrou, num espectacular chapéu de Tiago Gouveia (que já substituíra Neres, e entrara com Florentino), que daria um golo para emoldurar. 

Os pontas de lança entraram, sim. Mas já tudo estava mais que resolvido. Primeiro Arthur Cabral e, depois, já muito em cima dos 90, como é habitual, Marcos Leonardo. E claro, não marcaram.

No fim, fica um bom jogo, a dar ânimo às hostes. Até à próxima quinta-feira ... E fica a certeza que não temos mesmo lateral esquerdo. Que já se esgotou a experiência Morato, que o Alvaro Carreras está verde, e que nos valha Bah, que assim lá permite que Aursenes resolva mais esse problema.

 

 

Não foi bonito, não

Esta tarde, em Toulouse, o Benfica escapou a uma eliminação humilhante neste "play off" de apuramento para os oitavos de final da Liga Europa, mas não escapou a mais uma exibição deprimente. Salvou-se o apuramento, mas a prestação da equipa voltou a ser medíocre.

Roger Schmidt apresentou uma equipa estranha - para não lhe chamar outra coisa - para os objectivos que certamente estabelecera para este jogo. Com uma vantagem escassa, de apenas um golo pelo 2-1 da Luz, há uma semana, o objectivo não poderia ser o que, no fim, pareceu ser único - defendê-la. Teria de ser mandar no jogo, dominá-lo, marcar e ganhar. Com a evidente diferença de qualidade para o seu adversário - sim, ganhou no último jogo do campeonato no Mónaco, mas é o 13º classificado do campeonato francês - não poderia ser outro.

Por isso é que é estranha a equipa apresentada. Na defesa a novidade foi o regresso de António Silva, depois do falecimento do avô. De resto tudo normal, até porque é cada vez mais claro que ainda não foi desta que se resolveu o problema do lateral esquerdo, lá terá de estar Morato. O que não é normal é que esteja cada vez menos adaptado.

No meio campo poderia não haver João Neves, em sofrimento pela perda da mãe, no domingo, logo após o jogo. Mas quis jogar, e jogou. E foi extraordinariamente confortado pelos adeptos. Ao seu lado João Mário, como no jogo com o Vizela. Só que este era outro jogo. Pelo que jogara no domingo passado, na frente teria de haver lugar para Neres. Rafa e Di Maria têm, como João Mário, lugar cativo. O nove voltou a ser Tengstedt, e a equipa acabava por ser de quatro jogadores para defender e seis para atacar.

Poderia parecer uma equipa para atacar, dominar o jogo e ganhá-lo. Mas era apenas uma equipa partida a meio, com tudo a cair em cima de João Neves, agarrada a todos os santinhos para defender o 0-0.. 

Enquanto, na primeira parte, o Benfica conseguiu impor a superioridade técnica dos seus jogadores, e com isso ter bola, ainda foi possível disfarçar um bocadinho que as duas metades estavam escaqueiradas. Ainda deu para três boas oportunidades de golo, desperdiçadas por Rafa, Di Maria e António Silva. Os jogadores do Toulouse encolhiam-se e só davam uns "safanões" de vez em quando. Quando o faziam, usando o poder físico, e a velocidade e explorando as faixas laterais, os problemas da equipa do Benfica ficavam à mostra.

O pior foi quando, "perdidos por um perdidos por cem", à medida que o tempo avançava pela segunda parte dentro, os "safanões" passaram a ser constantes. Aí é que já não deu para disfarçar nada. As alterações de Schmidt ao intervalo não só não mudavam nada de estrutural - Morato e Tengstedt ficaram no balneário para entrarem Alvaro Carreras e Cabral - como correram mal ao nível da prestação individual. 

Aursenes (para a saída de Neres) só entrou a 20 minutos do fim, já não havia por onde colar a equipa. E Kokçu, a 5 minutos do fim, por troca com Di Maria, já só entrou para servir de "bombeiro".

Não foi bonito, não. Foi mesmo feio de mais, e valeu Trubin e mais uns santinhos quaisquer.

 

 

Falsa revolução

Hoje a Luz encheu-se para assistir a dois jogos. Fala-se, em futebolês, de um jogo com duas partes distintas, mas o que se viu foi dois jogos. No primeiro, numa grande exibição do Benfica, que teve tudo o que lhe vem há muito faltando, os perto de 60 mil nas bancadas vibraram com o espectáculo a que assistiam, e com os 5-0 no resultado. No segundo, grande parte deles regressou aos assobios. Pela exibição, e pelo 1-1 no resultado.

Quem, sentado na seu lugar, e sem saber de mais nada do que rodeia o jogo - como tantas vezes me acontece - ao ouvir anunciar a constituição da equipa julgaria estar perante uma revolução. Admitiria que Shmidt revolucionara a equipa. Relativamente ao último jogo, na quinta-feira passada, mudou tudo. No quarteto defensivo apenas manteve Otamendi. No meio campo, apenas João Neves. E, no ataque, apenas Rafa.  

E na verdade, mesmo que pouco inspirado, e inspirador, no primeiro quarto de hora, o jogo confirmaria que se estava perante uma revolução do futebol do Benfica. João Mário assumiu o papel que o futebol lhe destinou, no meio, ao lado de João Neves, entregando a Tiago Gouveia o papel que, equivocadamente, Schmidt lhe tem atribuído. Neres ficou com o de Di Maria, e Tengstedt com o de ... sabe-se lá quem, tantas têm sido as alterações nessa posição 9. 

O Benfica pressionava alto, asfixiava o adversário, jogava com velocidade, chegava à linha de fundo  ... Jogava e marcava, com alto índice de concretização. Cinco golos - dois de Neres, um de Otamendi, Tiago Gouveia e Rafa. Ainda não se tinha visto nada disto nesta época, e já só se pensava que, a continuar assim, o resultado acabaria em qualquer coisa muito parecida com aquele 10-0 ao Nacional, de há cinco anos, acabados de fazer.

Conhecendo as circunstâncias, com Kokçu e Florentino impedidos de jogar por suspensão disciplinar, António Silva de luto por morte de um familiar, Alvaro Carreras, substituído pelo Morato no último jogo, com o Toulouse, ainda incapaz de convencer, e Di Maria e Aursnes sobrecarregados de jogos, começava a duvidar-se dos ideais revolucionários de Schmidt. Afinal o acto revolucionário do treinador não passaria de simples gestão das circunstâncias, e a revolução do futebol do Benfica não passava de uma "revolta" dos jogadores menos utilizados, conscientes que estavam obrigados a "mostrar serviço".

A segunda parte - o segundo jogo -  confirmou isso mesmo, que afinal não havia revolução nenhuma. Começou com o golo do Vizela, numa distracção de Trubin que, chutando a bola contra as costas de um adversário, a fez ressaltar para o goleador da equipa - Essende - a rematar (primeiro remate da equipa) para uma primeira defesa e marcar na recarga. Foi o primeiro sinal de que a desconcentração se voltava a instalar na equipa. 

Trubin ainda se redimiu, ao defender, a meio da segunda parte, um penálti cometido pela desconcentração - e aselhice - de Morato. Mas a equipa foi regressando ao passado. Os menos utilizados foram quebrando fisicamente; os mais utilizados foram regressando à equipa. Di Maria entrou logo ao intervalo, ficando Rafa nos balneários. Aursnes vinte minutos depois, para sair João Neves. E Marcos Leonardo dez minutos mais tarde, para jogar o último quarto de hora e ... marcar. O sexto, obra de Neres - o melhor em campo -, já perto do fim, mas ainda com pernas para correr o campo todo com a bola, passar por todos os adversários e oferecer, com alguma sorte no último ressalto, o golo ao compatriota. Os restantes, Alvaro Carreras e Rollheiser, como habitual, já só depois disto tudo. 

No fim, o 6-1 que fica como o melhor resultado da época, acaba aquém do prometido naquela grande primeira parte. Da revolução, sobra apenas "a revolta" de Neres, a deixar dito que conta. E que não faz de conta. Como Rafa conta: percebe-se que, com 5-.0, tenha sido poupado. Como se percebe a falta que faz!

Adversários difíceis

O Benfica fez mais um jogo fraquinho, esta noite, com o Toulouse, uma equipa que anda pelos últimos lugares do campeonato francês, e que se apresentou na Luz nessa condição, exactamente como fazem as equipas do campeonato português que lutam pela fuga ao últimos lugares.

Não deveria, até por isso, ser novidade para o Benfica. Não havia razão para qualquer tipo de surpresa, e a equipa deveria estar mais que preparada para enfrentar o tipo de dificuldades que na realidade a equipa francesa lhe colocou. 

O problema é que o Benfica já só sabe jogar de uma única forma, e sempre sem velocidade, sem intensidade, sem profundidade, sem linha de fundo. E assim todos os adversários são difíceis, como invariavelmente Schmidt declara.

Não. Este Toulouse não é um adversário difícil, o Benfica é que o tornou, como repetidamente vem fazendo, em mais um adversário difícil. 

Na primeira parte o Benfica criou apenas duas oportunidades para marcar. Primeiro num belo remate de Rafa, que terminou com a bola no ferro do ângulo superior direito da baliza do jovem (18 anos) guarda-redes francês, completamente batido. E, depois, praticamente no último lance, num remate de João Mário, a concluir a melhor jogada que construiu em todo o jogo. Pouco, muito pouco!

Esperava-se que tudo mudasse na segunda parte. Mas o que mudou foi que o Toulouse percebeu que o Benfica estava a jogar tão pouco que acreditou que dificilmente perderia este jogo. Era só deixar passar o tempo, que continuadamente foi queimando, e ir acumulando faltas, sempre com a complacência do árbitro. No Benfica nada mudou. 

Continuou sem agressividade, sem velocidade e a tentar entrar na área pela zona central, onde os jogadores da equipa francesa montavam uma autêntica muralha de pernas. Até que, finalmente num cruzamento para a área, e já com Neres (em vez de João Mário) e Bah (no lugar de Aursenes que, com a saída de Carreras, passou para a esquerda)  em campo, a darem um safanãozito no jogo, um jogador adversário saltou com a mão a uma bola. O penálti era claro. Tão claro quanto disparatado. Mas o árbitro não o viu. Não deve mesmo ter visto porque foram precisos três minutos para o VAR o convencer a ir verificá-lo nas imagens. 

Di Maria converteu-o em golo e, como habitualmente, pensou-se que o mais difícil estava feito. Que a partir daí tudo mudaria. Mas não, outra vez. Bastaram pouco mais de 5 minutos para os franceses empatarem, ao segundo remate que fizeram à baliza, na ressaca de uma bola que subiu até ao céu dentro da área de Trubin, com toda a defesa "a olhar para o balão". Caricato. Mas intolerável, para profissionais.

No quarto dos 7 minutos de compensação - só no penálti passaram mais de quatro, o resto ficou por conta das substituições, sem que nada sobrasse para compensar o tempo queimado pelos jogadores do Toulouse a cada reposição de bola, onde quer que fosse - surgiu o penálti salvador (numa pisadela a Marcos Leonardo que, em mais uma substituição estrondosamente assobiada, tinha entrado para o lugar de Arthur Cabral) que Di Maria voltou a converter. E que valeu a vitória. Justa - talvez a derrota do Toulouse seja mais justa que propriamente a vitória do Benfica - mas que não esconde a realidade que o Sr Schmidt teima em negar.

Pior que esta negação da realidade só as tochas que uns energúmenos voltaram a lançar lá do topo deles. Como pode haver quem queira tanto mal ao Benfica?

Utopia no charco

Pelo segundo ano consecutivo o Benfica deixou dois pontos em Guimarães. Na época passada, os primeiros. E, lembramo-nos bem, na primeira exibição falhada. Ontem, em dia de recordar Feher, vinte anos depois daquele seu último sorriso,  à 21ª jornada, o 11º, na enésima exibição falhada.

A exibição falhada de ontem não tem, no entanto, nada a ver com a do ano passado. Como a equipa vitoriana deste ano não tem nada a ver com a de então, quer no que joga, quer na classificação que ocupa. Esta equipa de Guimarães ganhou ao Sporting - igualando o que só o Benfica tinha conseguido - e deu um "banho de bola" ao Porto, que só ganhou esse jogo por milagres do Diogo Costa.

Da exibição falhada de ontem pode falar-se do estado do relvado que, transformado num autêntico pantanal - provavelmente com outro adversário o jogo não se teria realizado ou, pelo menos teria sido interrompido na primeira parte - tornou difícil jogar futebol. É certo que o estado do relvado era igual para ambas as equipas, mas mais igual para uma que para outra.

Do que não pode deixar de se falar é da opção de Roger Schmidt deixar três pontas de lança no banco, e de escolher jogar sem nenhum. Seria sempre estranho, mas ainda se poderia fazer um esforço de interpretação da ideia do treinador se o campo estivesse em bom estado, e permitisse sustentar uma estratégia de ataque móvel para um jogo de transições rápidas, como se sabe a ideia de jogo mais atractiva que Schmidt tem para apresentar. Naquelas condições do relvado isso era mais que utopia. Era cegueira!

O jogo rapidamente mostrou essa cegueira, com a ala esquerda (Morato, já nem sabe defender e João Mário já não dá para entender, e pior ainda naquelas condições do terreno) desastrada, e os jogadores a jogar como se pisassem o esplendor da relva. Como jogam sempre, os mesmos de sempre, da única forma que conhecem, mesmo se em vez de relva tivessem de jogar num charco. Já se tinha dado conta que nunca há plano B perante contrariedades próprias do jogo. Ontem ficamos a saber que nem perante a impraticabilidade do relvado.

E isso é ainda mais preocupante que os dois pontos ontem deixados em Guimarães.

Porque, nesta altura, ninguém saberá se foram dois pontos perdidos ou um ganho. Ganho pelo Trubin, e pelas substituições que aligeiraram os equívocos iniciais. Poderá sempre dizer-se que afinal o resultado foi o mesmo: que o Benfica empatou (1-1) a primeira parte, sem ponta de lança; exactamente como na segunda, já com dois. Mas, para ser verdadeiro, o golo de Rafa, para empatar a primeira parte, cinco minutos depois do penálti sofrido, aconteceu na única oportunidade de golo então construída. Já o de Cabral, que estabeleceu o empate final, foi consequência de qualquer coisa mais continuada. E, mesmo sem, à excepção da posse de bola, nunca se superiorizar claramente ao adversário - rematando bem menos e não tendo construído mais oportunidades de golo - ainda assim, foi pelo que fez na segunda parte, que o Benfica justificou o empate.

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