Na primeira privatização do resto das privatizações - ou, como diria Sérgio Godinho, neste primeiro dia do resto da sua vida - 14 aeroportos passaram do Estado grego para o capital alemão. Poderia chamar-se-lhe ironia do destino...
Mas então o que é que se passou? O que é que motiva ou justifica tantos foguetes?
Já não somos lixo?
Já temos um rating de gente grande?
Já podemos ir à vontade aos mercados, como gente séria e respeitável?
Já não corremos o risco de nos chamarem caloteiros, aí numa esquina qualquer?
Nada disso!
A Standard & Poor´s manteve a classificação de lixo, a notação BB que utiliza para investimentos de alto risco. E naturalmente pouco recomendáveis. O que a Standard & Poor´s anunciou hoje foi isso mesmo, que manteve a notação absolutamente inalterada. Mas que alterou a sua perspectiva: o outlook, como eles dizem!
Passaram de um outlook negativo para um estável. Quer dizer, antes achavam que era lixo mas ainda podia piorar; agora acham que é o mesmo lixo e que por aí se vai manter. Que daí não vamos sair…
Dirão agora os mais optimistas, aqueles que vêm sempre o copo meio cheio: “Bem, pode não ser bom, mas também já não é mau que essas agências pensem agora que, para pior, isto não vai”!
Lamento desiludi-los, mas a Standard & Poor´s também explicou por que é que fez tão significativa alteração. Por que é que hoje já pode achar que o lixo é estável quando ainda ontem achava que o lixo ainda podia piorar. Uma simples justificação: porque os ministros das finanças da União decidiram apoiar o alargamento dos prazos que Portugal e a Irlanda terão para pagar os seus resgates.
Quer dizer, à Standard & Poor´s essa coisa do "mais tempo" diz alguma coisa. Não diz grande coisa, mas…
No meio de tanta desgraça, sem nada a que se agarrar, Passos Coelho corre atrás da primeira cana de foguete que vê. E quer que festejemos com ele… Ridículo!
O inimputável é, apesar de tudo, um bocadinho mais esperto: vejam lá se o ouviram dizer alguma coisa?
Naquilo que é o jogo de palavras que marca as antevisões dos jogos, onde jogadores e treinadores dizem umas coisas – uma vezes com sentido, outras antes pelo contrário – que os media, depois, amplificam para explorar, então já sempre sem qualquer sentido, Jorge Jesus disse, numa resposta a uma alusão à possibilidade de ficar líder isolado no fim desta jornada, que o Porto é normalmente feliz em Braga. Queria ele dizer, com a sua habitual inépcia, que não contava com uma derrota do Porto em Braga.
Tivesse ele mais alguma competência para lidar com as palavras, mas também com os mind games, e não teria certamente utilizado o termo feliz. Teria usado qualquer outra expressão!
No entanto o jogo de hoje viria até a dar-lhe razão. Mas vamos por partes.
Nos últimos anos o Porto tem ganho em Braga. Hoje voltou a ganhar, mas de forma diferente!
Nos últimos anos o Porto ganhou em Braga porque foi melhor. Hoje ganhou porque teve muita sorte. E, já agora, porque um senhor chamado Carlos Xistra, que vê penaltis – logo aos pares - como aqueles de Coimbra, que há dois meses atrás fizeram com que o Benfica lá deixasse dois pontos (dos outros dois que lhe faltam beneficiou este mesmo Braga, logo na primeira jornada), não viu a mão de um defesa portista a cortar a bola dentro da sua grande área. Pelos vistos essa capacidade única de jogar impunemente a bola com a mão dentro da área não se esgotava em Rolando...
Nos últimos anos o Porto foi sempre melhor que o Braga de Domingos e de Leonardo Jardim: esse Braga abdicava de discutir esses jogos, assumia uma atitude de quase subserviência. E era aí que Jorge Jesus queria chegar quando, sem saber utilizar a ironia, se referiu à felicidade do Porto na Pedreira.
Já que o treinador do Benfica não a soube utilizar, quis o destino ser irónico. E hoje, num grande jogo de futebol, bem jogado, bem disputado e equilibrado, o Porto não foi superior ao Braga de Peseiro: foi de facto feliz. E muito: um penalti perdoado, um golo ao minuto 90, através de um remate que atinge as redes por via de um ressalto traiçoeiro num defesa do Braga e, qual cereja no topo do bolo, logo outro de seguida, já no período de compensação, na sequência de um remate de outro defesa adversário!
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