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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

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Futebolês #39 Jogar sem bola

Por Eduardo Louro

   

Jogar sem bola é uma das maiores preciosidades do futebolês. Como é que de um jogo em que a bola é a figura central, como já aqui vimos a propósito de beijos, de bolas paradas ou mesmo de segundas bolas, pode nascer a sua mais absurda negação?

Como é que é possível jogar sem bola um jogo que só se joga com bola?

Em futebolês tudo é possível. E tudo se explica, como temos visto!

Naturalmente que, num jogo com uma única bola para 22 tipos, falta bola e sobram jogadores. No final de um jogo, ao cabo dos 90 minutos, que em Portugal, falando de tempo útil de jogo, se transformam em cerca de metade, teríamos uma média de 2 minutos de bola para cada jogador. Pois é, um jogador quando entre em campo leva uma perspectiva de passar pouco mais de 2 minutos com a bola e os restantes 88 a vê-la passar.

Já começamos todos a perceber a importância de jogar sem bola. É que se não soubessem ocupar todo esse tempo imenso os jogadores seriam os tipos mais frustrados do mundo. E não consta que assim seja!

É à forma de ocupar todo esse tempo que se entregam as maiores especulações filosóficas dos mais variados gurus da bola. É delas que nascem as mais impressionantes teorias de ocupação de espaços e os mais arrojados desenhos de pressing.

Mas, para além deste eminente conceito de futebolês, há muito jogo sem bola à volta do futebol. Sem bola, sem balizas e mesmo sem campo! Chamam-lhe, ainda em futebolês, o jogo fora das quatro linhas! Que nada tem a ver com o jogo jogado

É o jogo de bastidores, o jogo de influências, o jogo psicológico… São os mind games que aqui trouxemos há duas semanas! Que, umas vezes legítima outras ilegitimamente, influenciam desempenhos e determinam resultados.

Não é por acaso que os dois grandes rivais do futebol indígena – Benfica e Porto, à revelia da teimosia dos sportinguistas (que aproveito para saudar pela fantástica “remontada” de ontem, a beneficiar de um frango mas com um terceiro golo de imenso mérito) que insistem em ver no Benfica o seu principal rival – têm desempenhos em perfeita simetria. Dificilmente estarão ambos bem, ao ponto de raramente serem primeiro e segundo.

Aí estão os resultados da última liga: a um Benfica demolidor e campeão opôs-se um Porto em queda livre que não passou do terceiro lugar, fora da Champions, onde, com todo o mérito e brilhantismo, está agora o Braga. E aí está a nova liga, acabada de começar: a um Porto dominador e já na liderança contrapõe-se um Benfica com duas derrotas nos dois jogos, tantas quantas averbara em toda a época passada, às voltas com os seus fantasmas renascidos de um Roberto sem asas para voos de águia.

Mais influente que qualquer jogo de bastidores – jogo onde o Porto por norma, e de há muito a esta parte, se superioriza – é a posição relativa de cada um. A posição dominante de um fragiliza, ela própria, o outro (e aqui há um certo paralelismo com a vivência da rivalidade no Sporting: na paz dos anjos se está atrás do Porto, mas no maior dos dramas se o fosso é para o Benfica)! Daí que, como aqui tenho feito notar, Jorge Jesus tenha cometido o maior dos erros ao desvalorizar a supertaça. A vantagem pendia toda para o lado do Benfica: pela embalagem trazida da época anterior, porque mantinha a estrutura e o treinador, porque era o campeão. E porque do outro lado estava um Porto titubeante, com um novo treinador que era ainda um treinador novo. E inexperiente. Um Porto com a máquina entorpecida, se não já enferrujada.

Porto e Benfica dispõem de dois suplementos decisivos, mobilizados em absoluta sintonia com o desempenho das suas equipas: no Benfica é a mola imparável da sua massa adepta, que faz acordar o gigante e tremer de medo os rivais; no Porto é a máquina de ganhar, a mesma que manobra como ninguém as incidências, as contingências e os bastidores do jogo, e que quando arranca, livre e desimpedida, é extraordinariamente difícil de parar.

Com aquele erro decisivo Jorge Jesus permitiu que se desse à chave da máquina de ganhar do Porto. E que fosse posta em funcionamento!

Ao invés, no Benfica transformou oportunidades em ameaças, com fantasmas a surgirem de todos os lados: Ramires, Di Maria e, claro, Roberto. Pior, começa a surgir o mais perigoso de todos os fantasmas: o da autoridade do próprio Jesus! Mais que pela responsabilidade na contratação do guarda-redes – facilmente perdoável e esquecida no meio da enorme margem de crédito forjada nas conquistas da época passada –, pela insistência, contra todas as evidências de incompetência e de um pânico generalizado e espalhado por toda a equipa, em mantê-lo na baliza. Um erro de consequências imprevisíveis, a começar pelas dificuldades criadas ao seu substituto. E ao substituto do seu substituto, se a lei de Murphy, que aqui trago tantas vezes, insistir em confirmar-se!

E claro, no meio de tudo isto, em vez de da tal mola humana que leva a equipa ao colo (ou no andor, como os rivais gostam de provocar), a nação benfiquista está perdida e dividida entre os que defendem que benfiquistas são os que, em nome da tranquilidade da equipa, calam a sua voz crítica e os que, pelo contrário, acham que, ficando calados, como fizeram em tempos não muito longínquos, estão a ser cúmplices de uma tragédia.

É assim que, enquanto a uns até fica mal chorar os penalties que vão ficando por marcar, outros vão vendo penalties e livres caídos do céu resultarem em golos e vitórias incontestados. Ou a máquina de ganhar a funcionar a todo o vapor…

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