A decisiva questão da confiança
É nestas alturas, quando os desafios do desenvolvimento ficam perante encruzilhadas, que mais sentimos a falta que faz a confiança no Estado.
A prospecção e a exploração de gás natural, ou de lítio, agora na ordem do dia, representam sem qualquer dúvida duas grandes oportunidades para o desenvolvimento do país. Se o gás natural é uma das principais fontes de energia limpa, com impacto importantíssimo na urgente e imperativa descarbonização, o lítio é, à luz do conhecimento actual, provavelmente o mais importante metal da economia do futuro.
Portugal dispõe da sexta maior reserva mundial de lítio. E, tudo o indica, de importantes reservas de gás natural. Ninguém achará que os deva desperdiçar, de todo. Como provavelmente ninguém achará que devam ser explorados a qualquer preço. E ninguém tem dúvidas, nem ilusões, sobre os interesses que se movimentam entre estas opções.
A falta de confiança dos cidadãos nas instituições - no Estado, que uma vez dizemos ser todos nós, mas noutra apenas nos representa - leva-nos a suspeitar que as decisões serão sempre tomadas em favor dos mais fortes desses interesses. E que todos os estudos, de impacto ambiental ou de quaisquer outros, em vez de isentos, sérios e independentes, terão apenas como objectivo almofadar essas decisões.
Pode nem sempre ser assim. Mas é assim que tendemos a ver estas coisas. Por falta de confiança. Porque desconfiamos sempre...
A confiança e a credibilidade são o verdadeiro cimento das sociedades. É nestas alturas, quando sabemos que há opções fundamentais a fazer, e oportunidades de futuro a não desperdiçar, que mais sentimos falta de um Estado em que possamos cegamente confiar. Sem qualquer tipo de reservas!