Nos 35 metros quadrados daquele rés-do-chão daquele prédio da Mouraria alojavam-se 22 pessoas. Sim, pessoas!
Se a área estivesse completamente livre, corresponderia a 1,59 metros quadrados por pessoa. Sim, por pessoa!
O resto já se sabe. Houve um incêndio, 14 pessoas, entre as quais 4 crianças, ficaram feridas. E duas morreram. Sim, 16 pessoas. As restantes seis, ou estavam na sua vez de não estar em casa; ou na camada superior da pilha de pessoas espalmadas para lá caberem, e conseguiram sair a tempo.
De pessoas que apenas se sabe donde vêm. Do sul da Àsia. E que pagam 150 euros por mês por um colchão que não pode ocupar mais 1,60 metros quadrados. Não se sabe mais nada. Não se sabe nem onde, nem no que trabalham. Sabe-se que são pessoas. E sabe-se que há pessoas que não têm vergonha de achar que não!
Enquanto assim for, enquanto houver pessoas a achar que há pessoas que o não são, isto é tudo uma enorme mentira. Do tamanho do mundo!
Há boas notícias. Más notícias. E notícias assim-assim…
E há notícias inacreditáveis, daquelas de primeiro de Abril, mesmo que dadas noutro dia qualquer. Hoje mesmo. Fresquinha, nada requentada.
Apenas requintada. Com muito requinte … nem que seja de malvadez…
Vamos a ela, à notícia inacreditável que diz que uma tabaqueira americana, proprietária de duas das principais marcas de cigarros do planeta, tem a cura que falta e que cientistas de todo o mundo procuram desenfreadamente noite e dia. Isso: tem nas mãos a vacina para a Covid 19.
E diz que está já na fase de "testes pré-clínicos", e que estará em condições de produzir até 3 milhões de vacinas por semana já no próximo mês de Junho, e que não tem quaisquer objectivos de lucro.
A notícia diz ainda que a tabaqueira usa as folhas de tabaco e a tecnologia utilizada para o seu crescimento rápido, e dá conta de uma série de vantagens associadas. À tecnologia e às plantas do tabaco. Muitas. Tantas que nem dá para enumerar…
Parecia uma notícia vinda directamente do twitter de Trump.
Fui investigar e lá encontrei o COMUNICADO da British American Tobacco, proprietária das marcas Camel e Lucky Strike, a confirmar tudo o que a notícia que corre em alguns meios de comunicação adiantava.
Pronto. Não vinha de facto do twitter de Trump. Se calhar porque ainda não teve tempo de chegar à Casa Branca. É tudo muito recente. Afinal o COMUNICADO, tem a data de 1 de Abril...
Nas poucas coisas que teve para dizer, o Presidente Marcelo disse que ... mentir, não valia. Disse que "ninguém vai mentir a ninguém" como se isso fosse uma alínea do decreto do "estado de emergência" que acabara de assinar.
Da mesma forma que há portugueses a "furar" o "estado de emergência", e vão para a praia, para as marginais ou para os copos, há gente a mentir. Por todo o lado. E ontem o primeiro-ministro mentiu. Não sei se foi a primeira vez que furou esta alínea do "estado de emergência" de Marcelo, mas mentiu.
Ao garantir que até agora não faltou nada ao Serviço Nacional de Saúde para combater a pandemia, António Costa mentiu. E soube que mentia, viu-se-lhe nos olhos que sabia que estava a mentir.
Não terá provavelmente ponderado toda a extensão da mentira. Terá intuído que a mentira teria menos danos que a verdade, mas o sentido de responsabilidade - de que tem até dado sobejas provas - obrigava-o a mais. Obrigava-o sobretudo a mais o respeito pelos milhares de profissionais que nos hospitais se debatem com carências de toda a ordem, que a todo o momento os obrigam fazer opções, muitas delas dramáticas. Que, por falta de equipamentos de protecção individual, arriscam todos os dias a sua própria saúde, e que, para não colocarem em risco a dos seus, se vêm forçados a um esgotante isolamento nas poucas horas de retemperamento de que podem dispor.
Sem dúvida, António Costa poderia e deveria ter por momentos virado as costas ao lado mais cínico da expressão política, e procurado outra saída para a pergunta que, de tão óbvia que era a resposta, nem precisava de ser feita. A que encontrou foi chocante. Não tanto por ser mentira, mas por projectar uma insensibilidade que porventura até não terá.
Solta um, passando os olhos pela revista: "Os portugueses são dos que mais mentem sobre as férias. Um estudo concluiu que 31% dos portugueses mente sobre as suas férias. No estudo começaram por perguntar aos entrevistados se tinham mentido sobre qualquer aspecto das suas férias e, logo aí, 60% respondeu que sim".
Apressa-se o outro: "E os autores do estudo acreditam nas respostas" ...
Dificilmente assistiremos a alguma coisa mais deprimente, a maior demonstração de indignidade, do que aquilo que ontem pudemos ver na entrevista da Ana Leal ao (então) Secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado.
Quem já teve Sócrates como primeiro-ministro, julgaria que já tinha expiado todos os seus pecados, e que não mereceria mais castigo. Nunca sabemos até onde nos leva esta nossa condição de portugueses no que a governantes diz respeito, mas este Sr Manuel Delgado é mau de mais para ser verdade!
Infelizmente é esta a verdade da mentira em que vivemos!
Até parecia que o calendário estava um mês adiantado. Ontem, 1 de Março, só se falou de mentiras...
Começou com as mentiras e trapalhadas de Paulo Núncio - a quem, por sentença de Cristas, o país tanto deve - no Parlamento, e acabou com as de Carlos Costa, o ainda governador do Banco de Portugal, que a reportagem da SIC mostrou ao país. Nada que não se soubesse já, dirão. Mas... assim? Com tudo documentadinho, preto no branco?
Pronto, agora que já sabemos, podemos continuar a fingir que não sabemos que o Sr Carlos Costa foi lá posto para aquilo mesmo: para (não) fazer o que (não) fez. Ele vai continuar a fingir que é o governador do Banco de Portugal, com idoneidade para dar e vender no sistema bancário. O poder político vai continuar a fingir que está a reestruturar o sistema financeiro. E os poder judicial vai fingir que não viu nem ouviu nada... Ou - sabe-se lá? - vai acrescentar o Sr Carlos Costa à lista de arguídos da Operação Marquês...
Depois de uma carreira de sucesso no pós-verdade, a mentira, ainda pela mão de Trump, alcandora-se à categoria dos factos alternativos.
Digamos que, depois de levado ao poder pelo pós-verdade, Trump vai consolidá-lo por factos alternativos. O que, convenha-se, é mais fácil, mais imediato e, provavelmente, muito mais eficaz. O pós-verdade é mais difícil de construir, obriga a tapar a verdade com a mentira. No facto alternativo basta construir a mentira ao lado. Depois é só demolir a verdade...
De repente, de um dia para o outro, o país desgraçou-se. Aquilo que era crescimento económico, diminuição do desemprego, florescimento e confiança a rodos, inverteu-se num só dia, numa só noite.
O pobre coitado do próximo governo, que como já se percebeu não tem nada a ver com isto, é que vai pagar as favas. Herdando, não o país viçoso da campanha eleitoral, a rebentar de vida por todas as costuras, mas o país desaurido e moribundo que depois do fecho das urnas se arrasta à nossa frente.
O novo governo vai receber "uma economia mais pequena, com menos pessoas, mas mais endividado do que em 2011"? A sério? Por onde é que têm andado?
Não consegue deixar de mentir... Não há nada a fazer, está-lhe na massa do sangue. Bem podia seguir o conselho de Mira Amaral, e mandar erguer uma estátua a António Costa, na S. Caetano. E, para que o Ângelo Correia não pare de rir a bandeiras despregadas, ir a Fátima acender uma velinha. E mandar benzer o crucifixo...
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