Os ministros das finanças de Passos Coelho são muito requisitados.
Primeiro foi Vítor Gaspar, que até se foi embora porque, nas sua próprias palavras escritas, tudo dava errado. Não havia uma que batesse certo...
Mas foi para o FMI!
Seguiu-se Maria Luís Albuquerque, a sua Secretária de Estado transformada em maga das finanças. E lá vai ela para a Comissão Europeia, para ser substituída por outro Secretário de Estado, o igualmente mago Carlos Moedas, num destes dias a seguir também de malas aviadas sabe-se lá para onde...
E pronto. Lá ficamos nós sem saber se Passos Coelho é muito bom a escolher ministros das finanças, ou se apenas quer que nos convençamos que é. Ou se simplesmente os ministros das finanças escolhidos por Passos Coelho fazem tão bem o seu papel que, depois, só têm que ser recompensados...
Há dias dei aqui conta da forma distorcida e precipitada, para não dizer pouco séria, como o primeiro-ministro utilizou a OPA da BRISA como manifestação de confiança dos agentes económicos. Dizia eu então que … antes pelo contrário: os accionistas maioritários da BRISA estavam apenas preocupados com uma provável OPA de terceiros perante a baixa cotação das acções da empresa.
Com esta OPA matam dois coelhos: protegem-se de uma OPA hostil e reforçam a sua própria posição accionista, quer dizer, vão eles aos saldos. Nada a dizer, pois não?
Pois! Acontece, no entanto, que, para irem aos saldos forma pedir dinheiro à Caixa Geral de Depósitos. E que o banco público, que não empresta dinheiro às empresas que dele necessitam para a sua actividade corrente, deixando-as asfixiar e morrer, secando a economia e regando o desemprego, lhes disponibilizou logo e sem reservas – provavelmente com as mesmas acções a servirem de garantia, como é sua prática – o dinheiro necessário. Quer dizer, como no passado e com os resultados conhecidos (veja-se o caso Berardo/BCP), o banco do Estado está-se nas tintas para a economia mas zela cuidadosamente pelos interesses da especulação bolsista.
Este assunto foi hoje levado ao Parlamento (discussão do orçamento rectificativo) onde alguém, a esse propósito, – confesso que nem sei quem – questionou o ministro das finanças, recomendando-lhe que, como accionista, interviesse para impedir tal decisão. A resposta do ministro das finanças – pausada, como sempre – não podia ser mais clara: “o governo não interfere nas decisões da Caixa Geral de Depósitos”.
O ministro das finanças convocou uma conferência de imprensa para as 18 horas de hoje com o anunciado objectivo de apresentar a configuração do novo imposto, do imposto extraordinário ou do que quer que lhe chamem. Sim, porque chamem-lhe o que lhe chamar, ele não é só injusto. Nem indecente. É também ilegal!
O ministro das finanças, para iludir a ilegalidade, optou por chamar-lhe sobretaxa extraordinária de IRS e, constituindo o tema central, dedicou-lhe apenas 5 dos 35 minutos da exposição com que abriu a conferência de imprensa: 1/7.
Mas não é por isso que deixa de ser ilegal!
Os restantes 6/7 da comunicação foram dedicados a pequenas histórias, com duas únicas excepções: uma para fazer passar uma mensagem publicitária – “a estratégia de consolidação orçamental passará a consistir em 2/3 da redução da despesa e 1/3 de aumento da receita” –; a outra para a anunciar o programa de privatizações e a lista de empresas a privatizar.
Mas, sobre a redução da despesa, nem uma única medida … Apenas a confissão conformista que já estamos cansados de ouvir: não produz efeitos imediatos! Precisamente por isso é que deveriam ser as primeiras a ser programadas e anunciadas, para que pudessem produzir efeitos mais cedo. Pudemos por isso perceber que bem podemos esperar sentados pelos 2/3 da consolidação orçamental!
Ao contrário, as privatizações estão já todas programadas. Por que será?
Tranquilizem-se que eu dou a resposta: é porque fica do lado em que esta gente sabe mexer. Do da receita! Como só sabem mexer deste lado não importa se, privatizar aqui e agora, quer apenas dizer entregar ao desbarato boas empresas ao capital estrangeiro. Esta já é uma medida que produz efeitos de imediato … vamos a isso!
Não fosse isto e teria sido uma grande performance do novo ministro das finanças. Na pele do tecnocrata, fora do registo político formal! Grande na forma mas pequeno (e mau) a substância!
Comecemos pela pontualidade: às 18 horas em ponto o ministro entrava na sala, numa prova de respeito pelas pessoas que ali estavam - pelos jornalistas – e por todas as que seguiam a conferência de imprensa através dos media. Às 19:30 encerrou, conforme aviso inicial.
Não estamos habituados, embora devêssemos, a este rigor!
Nem à disponibilidade para responder às perguntas dos jornalistas: sem outra condição que não fosse o tempo - cerca de uma hora. Nem à preocupação na resposta objectiva: o ministro anotava todas as questões que lhe eram colocadas, indiferente aos minutos de silêncio que isso provocava na sala. E respondeu a todas no seu tom pausado mas claro, mesmo às que toda a gente fugiria, como foi o caso de uma pergunta sobre o desvio colossal que, lembrando a silly season que está à porta, foi transformado no grande problema desta semana. Chegou a ser naif nessa resposta mas respondeu-lhe e, com essa resposta, matou à nascença qualquer tentativa de novas perguntas tolas. E até das incómodas!
Reconheço que é um estilo que conquista adeptos: é jogar para a bancada, como se diz em futebolês! Mas não é ganhador. E nós temos de ganhar, não podemos perder nem sequer empatar!
Só há uma oportunidade de deixar uma boa primeira impressão. Esta não é uma primeira grande impressão, mas venham daí mais oportunidades…
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