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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

O novelo da novela

Marcelo defende que foi neutral perante contacto do seu filho sobre caso  das gémeas

O caso do tratamento das gémeas brasileiras condensa num único volume tudo o que é o funcionamento da sociedade portuguesa.

Na verdade em Portugal a "cunha" é uma instituição, a subserviência é uma forma de vida, o poder não precisa de ser exercido, basta ser exibido, e a política é um "salve-se quem puder" à custa dos jogos de palavras e de descaramento.

Ontem, o Presidente Marcelo - a última das personagens da cena política nacional que se imaginaria apanhado nestes enredos - deixando-nos a ideia, de que já desconfiávamos, que em televisão o humor é mais temível que o jornalismo de investigação (Marcelo "falou" logo no dia a seguir a Ricardo Araújo Pereira ter "pegado no assunto" para dizer o que sempre recusou à TVI/CNN), confirmou-nos tudo isso.  

Incluindo o desfaçatez de que ninguém o julgava capaz. De princípio a fim. Abriu a querer convencer-nos que o filho dele - ou de alguém - começa a falar com pai, seja do que for,  por "mail". Como se, mesmo que por absurdo, isso tivesse acontecido, não conhecêssemos todos o Marcelo para saber que seria ele próprio a pegar de imediato no telefone a perguntar-lhe o que era aquilo. E fechou a querer convencer-nos que, ao remeter aquele processo - já depois de ter circulado por todas as entidades competentes, e ter sido dado por encerrado em resposta do Hospital de Santa Maria - para o Gabinete de o Primeiro Ministro, simplesmente fez o que faz com todos os milhares de pedidos que diariamente lhe chegam de todo o país.

Pelo que já se conhece, incluindo o que mesmo ainda se não conhecendo já é por demais conhecido, não fossem esses exageros de desfaçatez, e seria fácil concluir que Marcelo fora apenas vítima da utilização do seu nome. Assim, com tantos exageros, fica apenas mais fácil concluir que Marcelo mexeu em tudo com o cuidado de não deixar impressões digitais. Mas deixando-se enrolar num grande novelo.

 

 

 

 

Talento à solta

Um resultado tão desnivelado ao intervalo? Jogo na Bósnia é histórico para  Portugal :: zerozero.pt

Garantido o apuramento na sexta-feira, hoje, na Bósnia, a selecção portuguesa de futebol assegurou o primeiro lugar na classificação do grupo de apuramento para o Euro 2024, na Alemanha, com uma goleada (5-0) a confirmar a inédita sequência de oito vitórias consecutivas.

Diz-se, em futebolês, que uma equipa joga o que a outra deixa. Se assim é, na primeira parte - período em que se construiu o resultado - a Bósnia deixou muito; e Portugal jogou muito. Tanto que foi um regalo para a vista. Tanto que até fez esquecer as muitas coisas que tanto fazem para afastar o público do futebol da selecção nacional. 

Sim, a selecção tem, e tem tido, público. Mas é o seu público. Não é exactamente o mesmo!

Nesta primeira parte, com quatro mudanças (com as entradas de Gonçalo Inácio, Danilo, Octávio e João Félix, e as saídas de António Silva, Palhinha, Bernardo Silva e Gonçalo Ramos) na equipa, relativamente ao último jogo, com a Eslováquia, a selecção aproveitou o que a Bósnia deixou jogar para soltar o talento que lá tem dentro, tantas vezes reprimido. E dar espectáculo. Talvez tenha sido a fanfarronice dos bósnios antes do jogo - que nem é novidade, já no passado tinha sido assim, e Dzeko é até repetente - a explicar o que se passou na primeira parte. À meia hora já contavam com quatro. Ao intervalo já eram cinco, sem os bósnios terem sequer oportunidade de cheirarem a bola.

A segunda parte acabou por ser uma mera formalidade. O seleccionador bósnio, com a humildade que não tivera antes, reforçou o sector defensivo, com a única preocupação de não sofrer mais golos. E passou a deixar jogar menos, quem já não precisava de jogar mais, mas apenas de cumprir o tempo de jogo.

Foi isso a segunda parte. A formalidade para o jogo ficar completo. E altura para Roberto Martinez voltar a testar os três centrais. Ah! E para estrear na selecção um menino de 19 aninhos, acabados de cumprir. 

Foi a primeira vez do talento de João Neves. E a primeira vez é sempre a primeira vez!

Apuramento para o Euro 2024

A selecção nacional de futebol garantiu hoje a presença na fase final do Campeonato da Europa de 2024, na Alemanha. A notícia não é o apuramento. A selecção portuguesa é já um cliente habitual das fases finais das maiores competições de futebol, e leva já 13 apuramentos consecutivos, entre mundiais e europeus. A notícia é tê-lo conseguido a três jornadas do fim, com o pleno (sete) de vitórias.

Nunca tinha conseguido um apuramento tão tranquilo, e bem nos lembramos como tantas vezes só foi atingido em última instância. Nos chamados "play offs", como no último Mundial. 

O "feito" é naturalmente consequência da valia dos jogadores portugueses. São poucas as selecções com tanto talento disponível, mesmo faltando-lhe ainda o de mais alguns indisponíveis, pelas razões conhecidas. Mas também de um grupo de apuramento sem grandes dificuldades, mesmo o mais fácil dos últimos largos anos. Basta recordar que a Eslováquia, o adversário desta noite, no Dragão, é claramente o mais forte. E que disputa agora o apuramento com o Luxemburgo, a quem a selecção nacional marcou 15 golos no duplo confronto. Nos cinco jogos com os restantes adversários, o Luxemburgo sofreu dois golos. E a Eslováquia, um!

O outro "feito" que a selecção procurava era o apuramento sem golos sofridos. Não o conseguiu porque sofreu hoje dois golos, os primeiros, numa vitória tangencial por 3-2. Como tangencial tinha sido o 1-0 da vitória em Bratislava. Igual ao de Helsínquia.

O resultado de hoje tem mais de mentira do que de verdade.

A selecção jogou, criou e rematou para marcar muito mais que três golos. Para além de uma bola (Gonçalo Ramos) no poste, de meia dúzia de grandes defesas de Dúbravka, o guarda-redes do Newcastle, houve ainda uma série de oportunidades claras de golo desperdiçadas. 

Teve períodos do jogo brilhantes, e exibições individuais ao nível da sua qualidade e talento, num 4x4x2 inédito na era Roberto Martinez. Cristiano Ronaldo (dois golos, os últimos dois, o primeiro dos quais de penálti) - já se sabe - tem lugar cativo durante 90 minutos. Mas é assim ... E Rafael Leão, o primeiro a ser substituído (por João Félix, renascido em Barcelona), pareceu sempre pouco ligado com a equipa. Os restantes estiveram a bom nível ... até poderem. Até o desgaste físico - agravado pelas condições do campo, dada a chuva forte que caiu durante todo o jogo - e a reacção dos jogadores eslovacos, fisicamente mais fortes, lho permitirem.

O que tem de verdade são os dois golos marcados pela Eslováquia em quatro remates. E o susto que chegou a provocar. Com os golos, o primeiro a reduzir o curtíssimo 2-0 da primeira parte para 2-1, e o segundo a praticamente anular a rápida reacção portuguesa com o terceiro, três minutos depois. E a quebra do meio campo português na segunda parte, quando o Palhinha deixou de ser suficiente para sozinho o segurar, e os eslovacos passaram a ganhar os duelos e as segundas bolas que antes perdiam. Com Roberto Martinez simplesmente a assistir ...

E, espera-se, a aprender alguma coisa com o que via. O talento, sozinho, ganha os jogos com estes adversários. Para outros é preciso muito mais. É preciso ordem e rigor. Sem cedências ...

 

Portugal - um país divorciado os portugueses?

10 de Junho assinalado nos Açores com poucos convidados e sem condecorações  — dnoticias.pt

Os números da economia portuguesa têm sido amplamente destacados. Tanto pelo governo, que pretende encontrar neles a legitimidade que a governação lhe rouba, como pela generalidade da opinião publicada.

Em 2022 o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 6,7%, o maior crescimento anual deste século. E o crescimento homólogo de 2,5% no primeiro trimestre deste ano surpreendeu toda a gente, do governo à Comissão Europeia, e ao Fundo Monetário Internacional levando-os, todos, a rever em alta as suas previsões. Quase triplicaram, e já se aponta agora para um crescimento 2,6%, no final do ano.

O défice orçamental, mais que a dívida, - o "alfa e o ómega" da política económica do governo - também têm tido um comportamento elogiado, e elogioso. E no final do ano só não teremos superavit orçamental porque António Costa irá ter de "despejar" dinheiro sobre os problemas que ele próprio criou, para limitar os danos políticos de uma governação errática e desastrada.

É do senso comum que os portugueses não sentem nada destas melhorias no seu dia a dia. Que, pelo contrário, vivem cada vez com mais dificuldades. O próprio Ministro da Economia, António Costa Silva, diz que “a melhoria significativa da economia […] ainda não chegou ao bolso dos portugueses”. O problema desta declaração está na utilização do advérbio de tempo. "Ainda" não chegou, e dificilmente chegará!

Na realidade o crescimento de 2022 - o tal maior deste século - decorre da quebra provocada pela pandemia. Em  2020, no primeiro ano da pandemia, o PIB nacional teve uma quebra de 8,7%, e foi dos que mais caiu na Europa. E o fascinante crescimento deste ano está apenas alavancado no turismo.

Os "números dizem" que o PIB está a crescer pelo crescimento das exportações, e que o consumo privado, e o investimento, estão a cair. Os menos atentos poderão ser levados a pensar que não é bom que o consumo e o investimento caiam, mas que é muito bom que as exportações cresçam. Seria assim se as exportações não fossem pouco mais que o turismo.

Na realidade é este o modelo de "desenvolvimento" da economia portuguesa, onde a produção industrial - com a maior quebra da União Europeia - foi substituída pelo crescimento exponencial da actividade económica relacionada com o turismo. De baixo valor acrescentado, de baixos salários, e de trabalho precário. 

O resto, já se sabe. São salários baixos, cada vez mais baixos e cada vez com menos peso no PIB, e preços altos. Pela inflação natural, pela especulativa, e pela que resulta da procura induzida, especialmente na habitação, pelo turismo. 

Daí a ilusão do advérbio de tempo na declaração de António Costa e Silva.

Há perto de 10 anos, Luís Montenegro, então líder parlamentar de Passos Coelho, ficou famoso pelo "país está melhor, os portugueses é que não". Hoje, é o Ministro da Economia a dizer que a melhoria da economia não está a chegar aos portugueses. É este o drama de Portugal - um país que parece divorciado dos portugueses!

E tudo isto já sem falar na desigualdade (brutal, escandalosa, e inadmissível no domínio fiscal) com que trata os residentes estrangeiros e os nacionais!

Vem aí o 10 de Junho. Sabe-se que as comemorações só dão em festa e condecorações, mal amanhadas, tantas delas. Mas não ficaria nada mal darem também em reflexão...

Então ... boas férias

Se, em ambos os jogos de ontem, as coisas só se resolveram no desempate por penáltis, nos hoje tudo se decidiu nos 90 minutos, sem sequer necessidade de prolongamento.

No França - Inglaterra, um grande, grande jogo de futebol, porque Harry Kane falhou o penálti. Que foi o segundo a favor dos ingleses - assinalado porque, naquela que foi uma das piores arbitragem deste mundial, houve mais dois por assinalar, e ainda outro a favor dos franceses -, e restabeleceria a igualdade a dois golos, se tivesse sido convertido. Não foi assim, e a França acabou por ganhar um jogo em que não foi superior, e prosseguir a caminho para a revalidação do título mundial. 

No jogo de Portugal porque Marrocos marcou um golo e não sofreu nenhum. Ainda ninguém lhe conseguiu marcar um golo, e percebeu-se que também não seria hoje a selecção portuguesa a consegui-lo.

A equipa marroquina não fez nada que não se esperasse. E nem o facto de vir de um jogo com prolongamento, nem de ter perdido para este jogo dois dos defesas titulares, alteraram o que quer que fosse. Por isso a selecção portuguesa não teve motivos para qualquer surpresa, e teria que saber o que tinha a fazer.

Não sabia, e esse é o problema. Que não é de agora, mas de sempre. Não tendo feito o trabalho de casa, começou por copiar o que a Espanha tinha feito. Se não tinha resultado para a Espanha, que até o faz melhor, era garantido que não resultaria!

Entusiasmei-me, como creio que toda a gente, com aquela exibição e aquela goleada do jogo com a Suíça. Mas comecei por dizer que os problemas da selecção não se esgotavam nos de Ronaldo. Que, antes, depois e durante, havia os que vinham da ideia de jogo do seleccionador.

Nesse jogo - aparentemente com o problema Ronaldo mitigado - o primeiro golo surgiu, mais que na primeira oportunidade, na primeira chegada à baliza. O adversário precisou de procurar o resultado e abriu espaços. Com espaço os jogadores portugueses jogam como na rua. É o tal futebol de rua, que não precisa de treinador. 

No futebol de alta competição, e num campeonato do mundo, isso não existe. Aconteceu com a Suíça, e sabe-se lá se não poderia até ter voltado a acontecer hoje com Marrocos se, no arranque do jogo, aos 4 minutos, Bounou, a abrir logo com uma enorme defesa, não tivesse negado o golo a João Félix. Mas isso era se os milagres não habitassem também território de Alá!

Não falta à selecção portuguesa apenas ritmo, ideias de jogo trabalhadas e consolidadas, e mentalidade para enfrentar a adversidade. Falta tudo de que se faz uma equipa. Falta liderança. E falta estratégia. Para cada jogo, mas mais ainda para todo o edifício da selecção nacional, uma teia de interesses sempre em conflito com o objectivo desportivo. Que deveria ser o seu único e inegociável interesse.

Por isso esta eliminação aos pés de Marrocos só surpreende, e choca, porque se seguiu àquele jogo com a Suíça. Se olharmos bem para os outros três jogos - Gana, Uruguai e Coreia -, ou até mais para trás, nas derrotas, quando bastava o empate, com a Sérvia, para a fase se apuramento, ou com a Espanha, no afastamento da Liga das Nações, não há muito por onde surpreender.

E basta olharmos para três dados estatísticos do jogo para ser maior o choque pela exibição que pelo resultado: com 73% de posse bola, a selecção portuguesa rematou 12 vezes, apenas em 3 delas acertou na baliza; com apenas 27% de bola, os marroquinos remataram 9 vezes - pouco menos - e as mesmas 3 na baliza. O guarda-redes Bounou defendeu os três que lhe apareceram pela baliza, com três grandes defesas. O Diogo Costa sofreu o golo  logo no primeiro remate. 

Numa falha grave, a segunda, depois da do jogo com o Gana, porventura a deixar a nu a "verdura" escondida. Faltou-lhe determinação na saída ao cruzamento, mas acima de tudo avaliou mal toda a situação. Optou por tentar agarrar a bola com as duas mãos, em vez de a interceptar a punho e, o avançado marroquino En - Nesyri - a saltar sem oposição de Rúben Dias, que terá entendido que a sua intervenção na disputa da bola iria obstaculizar a acção do Diogo Costa, em condições de chegar primeiro à bola - chegou com a cabeça bem primeiro, e bem mais alto, que o guarda-redes com as mãos. 

Mas apenas mais um incidente de jogo. Que pouca importância tem no meio de tudo o que envolve esta participação portuguesa. Do contrato com o seleccionador, que é uma empresa, lá por coisas de impostos, onde a FPF, que até tem "utilidade pública", se mete; às novelas da entourage de Cristiano Ronaldo. Da estrutura de comunicação da FPF, do que brifa e não brifa ao treinador, ou do que deixa ou não dizer; aos jogadores que não regressam todos a Lisboa, porque por lá ficam uns tantos de férias...

  

"É o futebol"

A selecção nacional de futebol voltou a falhar. Voltava a bastar-lhe um empate, em casa. Mas voltou a perder!

Chegou a este último jogo de apuramento para a fase final da Liga das Nações com dois registos históricos - um favorável, e outro desfavorável. A favor, quando o empate bastava, a história de empates nos largos últimos anos com a Espanha. Contra, a história das derrotas, nas duas últimas vezes, nas mesmíssimas circunstâncias - com a França, para esta mesma competição; e com a Sérvia, na fase de apuramento para o mundial que aí vem.  

Repetiu-se o fado, sempre mais virado para o lado desgraçado da história.

De Fernando Santos, e de Cristiano Ronaldo, até porque já nem se sabe bem onde começa um e acaba o outro, nem vale a pena dizer nada. Sem condição física nem psicológica, sem treinos nem jogos, e à beira dos 38 anos, ambos entendem que pode jogar dois jogos inteirinhos em 3 dias. E fica tudo dito, até porque Fernando Santos diz que tudo "é futebol". Em Praga, Cristiano Ronaldo não jogara nada, mas ... "é o futebol". Hoje, falhou desastradamente três ou quatro oportunidades de golo. Que  "normalmente não falha", no dizer de Fernando Santos. E que também isso é "o futebol".

Fale-se então de Luís Henrique, o seleccionador espanhol. Que escalou uma equipa de segunda linha, retirando-lhe sete dos titulares no último jogo, no sábado, com a Suíça, para entreter o jogo. Que teria de ganhar, em Braga, para seguir para a final a quatro a disputar no próximo ano.

Manteve o jogo entretido e entretendo-se com a bola. Ao intervalo fez entrar Busquets, para o entreter melhor. E um quarto de hora depois lançou os putos maravilha que lá tinha sentadinhos no banco. Quatro, ao todo: os consagrados Pedri e Gavi, e os debutantes Yeremi Pino e Nico Williams. E todos com menos de 20 anos!

E foi o bom e o bonito. Acabaram com a brincadeira, passaram a asfixiar e, com requintes de malvadez, marcaram o golo a dois minutos dos 90.

E foi isto. E isto é que é futebol: enquanto o seleccionador espanhol substituía os piores pelos melhores para a estocada final, o de cá fazia exactamente o contrário. O resto é um equipamento horrível e mais uma braçadeira de capitão para o chão!

Não correu bem. Mas também teve tudo para correr mal!

Há precisamente uma semana dizia aqui que aquela exibição com a Suíça não prometia grandes cometimentos. Que simplesmente tinha corrido bem. E que com aqueles jogadores, quando corre bem...

E, não. Não voltou a correr bem. Na passada quinta-feira, com a Chéquia (2-0), como agora se diz, ainda se salvou o resultado. Hoje, em Geneve, na Suíça, já nem para salvar o resultado deu. O golo de Seferovic, logo aos 50 segundos do jogo, desta vez valeu. E valeu tanto que, para além de ter valido o resultado, e ditado a derrota da selecção que lhe complica as contas do apuramento para a fase final da Liga das Nações, deixou logo o jogo no tabuleiro que os suíços desejavam. E que já tinham procurado no jogo do passado domingo.

Quando uma equipa tem processos assimilados, podem trocar-se três ou quatro jogadores - sete, como hoje fez Fernando Santos, já pode ser mais complicado - sem que o colectivo se ressinta. Até porque qualidade não falta a praticamente todos. Se não há processo, como claramente a selecção não tem, tudo fica a depender da inspiração dos jogadores, e das suas decisões em campo.

Foram muitas as mudanças que Fernando Santos fez na equipa que hoje iniciou o jogo. Em todas elas, os que hoje entraram hoje de início, são de qualidade inferior aos que ficaram de fora. Mas, mais que isso, flagrante é a entrada de Rafael Leão. Não é que "o melhor jogador da série A italiana" não seja jogador para a selecção. O futebol que joga é que não é futebol para a selecção. Para esta equipa, e para estes jogadores. Ao colocá-lo na equipa inicial Fernando Santos deixou aquela ideia que, para quem não sabe para onde vai, todos os caminhos servem.

Na segunda parte, corrigido esse equívoco com a entrada de Diogo Jota,  e Gonçalo Guedes, e depois Bernardo Silva (Mateus Nunes e Ricardo Horta já entraram tarde de mais), a qualidade do jogo português melhorou um bocadinho. Não muito, mas chegou para surgirem finalmente oportunidades suficientes para que o resultado fosse outro. Como bem mereciam os portugueses presentes no estádio, em aparente maioria, que se não cansaram de puxar pela equipa. 

 

 

 

 

Correu bem

 O primeiro quarto de hora do jogo de hoje com a Suíça, depois de mais uma exibição menos que sofrível na passada quinta-feira com a Espanha, onde se salvou o empate (1-1) - os onzes das duas equipas nesse jogo, com o português com jogadores mais valiosos na maioria das posições, seja qual fôr o critério, tornou ainda mais inaceitável a diferença da qualidade do futebol entre as duas equipas - e onde os jogadores ouviram olés, apontava para mais um jogo deprimente da selecção portuguesa.

Eram 11 jogadores em campo, mas nada que tivesse alguma coisa a ver com uma equipa, e o descalabro ficou à vista quando a selecção suíça marcou, logo aos 4 minutos. Valeu o VAR, que descortinou uma mão de um atacante suíço, antes de a bola sobrar para Seferovic a rematar para dentro da baliza, de novo defendida por Rui Patrício. Só que o jogo - "o futebol é isto", diz-se em futebolês - tem mistérios insondáveis, e tudo mudou quando, aos 15 minutos, na primeira vez que os jogadores (ainda não eram uma equipa) portugueses chegaram perto da área adversária, surge uma falta. Do livre, cobrado evidentemente por Cristiano Ronaldo - de novo titular depois de ter entrado a partir do banco no jogo de Sevilha, a bola desviou num defesa adversário e dificultou a defesa do guarda-redes, que a soltou para a frente, surgindo William para a meter dentro da baliza.

E tudo mudou nesse momento. Começou por emergir precisamente William, cuja presença na equipa, e talvez até na convocatória, pareceu estranha a muita gente, onde me incluo. Era mais uma das estranhas opções de Fernando Santos, mais uma das suas teimosias. Mas a verdade é que foi mesmo ele que agarrou a equipa. Agarrou-a pelo golo, e arrastou-a para um vendaval de futebol. Tudo o que de bom a selecção fez naqueles minutos seguintes passou pelos seus pés.

Claro que a reacção da equipa helvética ao golo, com o domínio do primeiro quarto de hora na cabeça, e o sentimento de injustiçada, ajudou. Procurou retomar esse domínio, veio para a frente, e deixou espaços que William facilmente descobriu para lançar jogo, e a equipa passou a funcionar. E, de repente, a jogar do melhor futebol que se tem visto selecção, e que há muito se não via. Um autêntico vendaval de futebol, à medida da qualidade dos jogadores, finalmente confortáveis no jogo.

Ao intervalo o marcador estava em 3-0, com mais dois golos de Cristiano Ronaldo, em menos de cinco minutos. Mas bem podia ter ficado no dobro, pelo menos, depois daquela meia hora de luxo. 

Na segunda parte, mesmo que compreensivelmente jogada a ritmo mais baixo, a selecção manteve o nível exibicional bem alto. Só deu mais um golo - aquele golo fantástico de João Cancelo, numa grande exibição, a melhor entre tantos outros bons desempenhos individuais - mas o resultado bem poderia ter ficado nos oito ou nove. O resultado, e aquele primeiro quarto de hora, são as melhores recordações que a selecção suíça levou esta noite de Alvalade. Seferovic leva ainda na memória uma grande assobiadela, mas isso é outra coisa...

A exibição da selecção foi muito boa em 5/6 do jogo. Mas não dá para embandeirar em arco, nem para esperar grandes cometimentos a partir daqui, e em especial para o Mundial, lá para o final do ano. Aconteceu, é certo. Mas não garante qualquer ponto de viragem na selecção. A ideia que fica é que ... correu bem. Só isso. Com estes jogadores, quando tudo corre bem, pode sempre acontecer um jogo destes. Consistência, estratégia de jogo, coragem e a força mental colectiva são condições necessárias para fazer de grandes jogadores uma grande equipa. Às vezes basta que tudo corra bem, mas isso é só às vezes.

Uf... estamos no Mundial

Não fizeram a vontade a Cristiano Ronaldo. A música não foi interrompida para que o hino fosse cantado à capela, e ficou chateado. Visivelmente chateado, mas não amuou. Se amuou, passou-lhe logo que o árbitro apitou.

Não que tivesse desatado a jogar. A primeira vez que tocou na bola foi aos 14 minutos, logo na primeira oportunidade de golo do jogo. Isto porque, ao contrário do que se esperaria, a equipa da Macedónia mandou claramente no jogo nos primeiros 15 a 20 minutos, ocupando bem todos os espaços, ganhando todas as bolas divididas e obrigando até os jogadores portugueses a serem eles a correr atrás da bola. Ao contrário de tudo aquilo que se estava à espera.

Os macedónios conquistaram até os primeiros cantos. Dois, de enfiada. De canto, o primeiro da selecção portuguesa, surgia a segunda oportunidade de golo, num remate de cabeça de Diogo Jota, cima para baixo, como deve ser. A bola saiu poucos centímetros por cima da barra, com o guarda-redes macedónio completamente batido. Começou aí a mudar o jogo, e  passou mesmo a mudar pouco depois, à meia hora, com o golo de Bruno Fernandes, até aí pouco menos que desastrado, como que a confirmar que a selecção não é mesmo a sua praia. Pode não ser, por culpa própria ou alheia, mas acabou por se tornar no "homem do jogo". Não porque tivesse finalmente conseguido uma exibição à altura do seu estatuto, mas porque marcou os dois golos do jogo - bons, ambos, mas de grande qualidade técnica o segundo. 

E quem marca os golos tem que ser o "homem do jogo"!

Sem fazer um grande jogo, e mesmo sem qualquer brilhantismo, a selecção nacional foi sempre melhor. Nunca deixou que nos passasse pela cabeça  a ideia que a presença no campeonato do Mundo no Catar pudesse estar em causa, e justificou por completo a vitória. Mesmo que todos os planos para o jogo tenham saído furados.

A equipa esperaria certamente um jogo diferente. À luz do que a Macedónia fizera contra a Itália, na meia-final do play-off, esperar-se-ia um autocarro à frente da baliza, e um jogo com muita bola, na procura constante de espaço, e de uma brecha para o remate. E, encontrado o espaço, e aberta uma brecha, encontrar pela frente um guarda-redes inspirado, a defender tudo, ou perto. 

Não foi nada disso. Faltou espaço, é certo, quando a equipa esteve em ataque continuado. No pouco tempo em que teve oportunidade de jogar dessa forma. Mas nunca a selecção da Macedónia apresentou o autocarro, nem metade dos remates que os italianos tinham feito, o guarda-redes fez apenas uma defesa, e os dois golos, em três remates enquadrados com a baliza, resultaram de transições rápidas. O primeiro a partir uma recuperação de bola do Bruno Fernandes, na intercepção de um passe de risco do Ristovski (que jogou no Sporting), e o segundo em puro contra-ataque.

E ainda bem que não foi nada disso. Que tudo correu bem, e que acabou bem. Nem tudo está bem quando acaba bem, e na verdade a selecção, tendo sido mais equipa, nem esteve assim tão melhor do que tinha estado no falhado apuramento directo. E está muito longe de poder alimentar a ilusão do seleccionador de ser campeão do mundo. Jogadores não faltam, alguns até sobram - e outro, garante, joga quando quiser, ele é que manda - mas falta muito futebol.

Mas a verdade é que, de pé frio, o homem não tem nada!

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