O PSD ainda não percebeu que o André Ventura tem a boca aberta para o engolir.
Por isso continua, cantando e rindo, sem causas próprias, nem nada para propor ao país, afastado de toda a gente de valor que ainda tinha - a oportunidade desperdiçada de aproveitar a qualidade e o valor de Jorge Moreira da Silva é verdadeiramente chocante -, e a ressuscitar "velhas glórias" do passado, que são só velhas e passado, agarrado à bóia que viu na velha "AD ", hoje uma marca sem "produto".
Sem olhar para a "boca aberta" de Ventura, e sem nada perceber do discurso de Pedro Nuno Santos, o PSD vai alegremente cavando a sua própria sepultura!
Passos recomenda uma aliança dom o Chega, Montenegro finge que não ouve e põe-se a recriar uma história de 40 anos, sobre a qual não diz nada. Põe os outros a falar.
A recriação da AD é tudo pelo que o CDS suspirava. E "chega" a Montenegro, que anda à procura do PPM como de gambozinos, e de independentes como de tesouro escondido. Mas nem tudo é em vão, o CDS não tem votos, mas tem quadros. Que não dão votos, mas podem servir de independentes. E há o método que o Sr Victor Joseph Auguste D’Hondt criou há mais de século e meio...
O IL põe-se de fora, mas lá dentro anda tudo à bofetada. Uns porque não querem ficar de fora. Outros porque só querem estar dentro das listas. Mas lá em cima.
Os jornais exultam, e dão sondagens que mais não são que lenha para a fogueira que arde no IL.
Faltava o PCP juntar-se à festa. Como não sabe onde ir buscar votos diz-se que "pisca o olho" ao eleitorado do Chega. Boa parte dele de lá saído, como se tem visto por aquele Alentejo fora.
Isto anda bonito, anda. E a procissão ainda só vai no adro ...
O congresso do PSD deste fim de semana foi mais parecido com um comício do que com um congresso. Lá apareceu Cavaco, a dar perceber que Montenegro o preferiu a Passos. E como se percebe...
Saiu à pressa, porque a mulher já o esperava para jantar. E Cavaco não é de deixar a mulher à espera, nem de deixar o jantar arrefecer. Passos poderia não ter tanta pressa.
Montenegro lá espalhou promessas. Prometeu tudo. Não a todos, mas aos que se contam em votos. Aumenta pensões, claro. A mínima promete chegar aos 820 euros. E há-de até igualar o salário mínimo. É mesmo assim, iguala a retribuição a quem trabalha a uma pensão a quem não contribuiu. E claro, vai pagar tudo aos professores. Os tais seis anos, seis meses e 23 dias. É tudo para pagar, votem lá...
Nem assim convenceu os companheiros de congresso. Há deles, e parece que não são poucos, que acham nem assim lá "chega". É preciso “uma base comum que possa dar o tal élan que permita acrescentar ao que o nosso líder tem feito” - disse Nuno Morais Sarmento, um deles.
Pois é. O problema é essa "base comum". O IL já deu "tampa". Há o CDS, e o PPM. Mas isso é na História.
Olha-se à volta ... e não "chega" para "base comum". Então há que contar com os eleitores do PS que se assustam com Pedro Nuno Santos. Ora aí está, como dizia o Ricardo Araújo Pereira, o congresso do PSD elegeu o líder do PS. Os socialistas já não têm que se dar a essa maçada, Montenegro resolve tudo. E até isso.
Em "comício", Montenegro resolve tudo. Tem outro problema: percebe pouco do que se passa à volta. Ainda não percebeu por que é que Francisco Assis foi o primeiro protagonista da candidatura do "radical" Pedro Nuno. Nem por que é se lhe juntou Álvaro Beleza.
Pois é. Sem Chega, não chega mesmo. E o diabo - afinal ele havia de chegar - é que nos Açores as coisas não correram nada bem, mesmo que disso não desse o Congresso notícia. Nem o próprio José Manuel Bolieiro, agora às voltas com o Presidente Marcelo para lhe dar uma segunda oportunidade, e não dissolver a Assembleia Regional.
O diabo é mesmo assim. Aparece donde menos se espera, e até se disfarça de ironia.
Anteontem a TVI/CNNP concedeu a Luís Montenegro o mesmo espaço que, na semana passada, tinha oferecido a António Costa. No mesmo espaço, na Biblioteca do ("meu") ISEG, e no mesmo formato.
Montenegro nem esteve mal, e o produto televisivo que daí resultou até foi bem menos enfadonho do que o do primeiro-ministro. Jornalistas e comentadores - mais ou menos afectos à sua área política, e mais ou menos ligados ao espaço da sua entourage - elogiaram o seu desempenho televisivo. Tinha sido pouco menos que brilhante, com um se não: o timing. Dizia, boa parte deles, que tinha sido a única coisa a correr menos bem. Que, sendo o Orçamento apresentado no dia seguinte, ele deveria ter adiado a entrevista para depois. Para, então, conhecido o Orçamento, abrilhantar o seu desempenho com críticas objectivas. Que, certamente, com a sua argúcia e o seu estruturado pensamento político, teria então oportunidade de ganhar de goleada a Costa.
Não sei se se prestaram a esse papel por ingenuidade, se por excesso de voluntarismo ou se por incompetência. Talvez por de tudo isso um pouco. Ou muito, mesmo.
É que, do Orçamento, ontem apresentado a tempo e horas, como há muito não se via, já se sabia o suficiente para concluir que não serve para mais nada do que para comer o espaço político deste PSD, de Montenegro. Que, em vez de lhe dar gás, lhe retira oxigénio. Tanto que, do Orçamento, Montenegro só conseguiu falar de "pipis" e "betinhos"!
O IL não quis participar da maioria que haverá de suportar o governo de Miguel Albuquerque na Madeira. Não era problema, ainda havia o PAN. E anunciou-se o acordo com quem nunca se concorda...
Pior. Com parte dele. Pior ainda - com a parte que o não pode assinar.
É a Lei de Murphy também aplicada à política. E a Miguel Albuquerque. E, porque para isso se pôs a jeito, a Luís Montenegro.
Está mesmo a correr mal. Primeiro, Miguel Albuquerque anunciou que não governaria se não obtivesse a maioria absoluta nas eleições. Depois, já não era nada disso que tinha dito, mas apenas que só governaria em maioria. E que essa já estava garantida. De tal forma que apresentaria o governo até ao fim da semana.
Bom ... querem ver que o Chega - com quem nada de nada ... porque não fazia falta - ainda vai afinal fazer falta?
Há gente a quem nunca bastam os problemas que já têm. Têm sempre que arranjar mais. Não estarão todos no PSD, mas há por lá gente dessa que chega...
PS e PSD dividiram o poder ao longo dos últimos (quase) 50 anos, naquilo que se poderá chamar de alternância preguiçosa. Nunca precisaram de fazer grande coisa para recuperar o poder perdido. Ele vinha-lhes sempre cair no colo!
Cada um fazia os seus disparates, à vez. Quando o "pagode" se cansava dos abusos e disparates de um, partia para o outro, já esquecido e perdoado. Assim se foi fazendo a democracia portuguesa, assim foi estagnando o país, alimentado a fundos europeus, e assim se foi afunilando o regime, transformado numa panela de pressão sem válvulas de escape.
PS e PSD deveriam, há muito, ter percebido para onde estavam a levar o regime e o país. Mas não, não perceberam, e agiram sempre como sempre, distribuindo poder e "tachos" pela clientela que alimentam, para que dela se alimentem, engrossada a cada fornada de "jotinhas" famintos e sequiosos. Está-lhes na massa do sangue. Está-lhes na génese.
O PSD sentiu-o - com o surgimento da IL, do lado de dentro do regime, e do Chega, do lado de fora, como abcesso - mas não o percebeu, achando que o desaparecimento do CDS não era problema seu. O PS, pelo contrário, não só não sentiu nada disso, como até se iludiu com a vantagem que daí retirava.
Por isso, o PS apenas continuou a fazer o que lhe está na massa do sangue. E chegou a este ponto, acabando por estourar uma maioria absoluta em menos de um ano. E por isso o PSD acha que voltou a chegar-lhe a vez. Sem voltar a precisar de fazer nada. Sem sequer ter a casa arrumada, e menos ainda quem seja capaz de a arrumar.
Por isso ... Cavaco. Quem melhor que Cavaco para fingir que está tudo na mesma?
Passos Coelho e Marcelo voltaram a cruzar-se. E quando se cruzam, o sebastianismo agita-se.
Aqui há uns meses - em Outubro, se não estou em erro - tinham-se encontrado numa homenagem a Agustina Bessa-Luís, e o Presidente não quis perder a oportunidade: “o país pode e deve esperar muito do seu contributo no futuro”. Voltaram a encontrar-se no início da semana, no Grémio Literário, na comemoração do décimo aniversário de uma desconhecida organização, a que chamam Senado, mas que não tem senadores. Tem jovens, cerca de 200, de vários partidos e sensibilidades de direita.
Desta vez Passos falou, e foi quanto bastou para o Presidente exaltar os seus princípios, valores e apreciações ... e o seu futuro. Outra vez. Só que, desta, para Marcelo o futuro é agora. Tão agora que mandou fixar a data: "fixem esta data - 27 de Fevereiro". A data em que Passos anunciou o futuro na forma de "horizonte político".
Marcelo não tem ilusões. Conhece bem o estado a que o PSD chegou. E, lá no fundo, acredita que só o criador pode parar a criatura!
Bem pode Luís Montenegro experimentar os mais arrojados exercícios de contorcionismo para se desviar das perguntas sobre coligações com o Chega, como o RAP ainda ontem mostrou no seu "Isto é gozar com quem trabalha". Bem pode meter os pés pelas mãos com respostas que não respondem. Bem pode jogar com palavras para encontrar respostas claras sem a clareza do "sim" ou do "não"...
Bem pode fazer estes números todos ...se, depois, recorre ao mesmo discurso do Chega. Sem tirar, nem pôr!
Dá para perceber que a estratégia de Montenegro é não ir dizendo o que faz, para ir dizendo o que o Chega diz. É o mesmo contorcionismo de palavras, mas com a vantagem de ir habituando as pessoas. Quando se olhar para o PSD "feito num 8" já ninguém fica surpreendido!
Montenegro é, evidentemente, dessa gente de elevada estatura, digna de ser levada a sério. Daquela a que aqui chamamos gente extraordinária.
Talvez não tenha suscitado tanto interesse como era habitual, mas este quadragésimo Congresso do PSD, não deixou de ocupar o lugar central no espaço mediático deste fim-de-semana. Claro que as directas, ao retirarem aos últimos congressos a suspense da eleição do líder e os jogos de bastidores que lhe abrilhantavam o cartaz, roubaram-lhe a carga maior do espectáculo. Mesmo assim ainda se pode continuar a dizer desta o que se diz da outra - "não há festa como esta".
Montenegro disse e desdisse-se. Disse - esforçou-se por isso - que trazia uma agenda social, que iria combater os baixos salários dos portugueses, desdizendo que "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer" pelo seu executivo de referência, do excelso Passos Coelho, o seu ponto no palco da liderança parlamentar do governo que foi para além da troika. Deu "um chega para lá" ao seu antigo companheiro das lides passistas, dizendo-se "nada de políticas xenófobas", e que nunca encabeçaria um Governo que as tolerasse, mas contradizendo-se nos acordos que se farão “quando e se necessários”. Quer dizer, quando e se precisar do Chega para ser poder, bem longe do claro “não” de Jorge Moreira da Silva na disputa das directas.
O resto foi construir e transmitir a ideia de um partido unido à sua volta, para a qual chamou os possíveis adversários que contam, depois de dar os "rioístas" por mortos, o "rioísmo" por enterrado e o "passismo" por ressuscitado. E foi mesmo desta celebração pascal que se fez a festa maior no defunto Pavilhão Rosa Mota, reencarnado Super Bock Arena. Como foi bonito e enternecedor ver aqueles abraços esfuziantes e aqueles sorrisos abertos, de felicidade de orelha a orelha, em velhos rostos sisudos, como se o país tivesse acabado de renascer das trevas. E toda aquela gente saída do inferno a acabar de entrar no eterno paraíso celestial!
Lamenta-se o país e o PSD do fraco entusiasmo que as eleições internas do partido no passado fim-de-semana suscitaram. No país e no PSD.
E, claro, lamenta-se a fraca participação eleitoral dos militantes. A vitória eleitoral de Luís Montenegro, tendo sido expressiva, com mais de 70%, e com mais 11.972 votos que Jorge Moreira da Silva, resultou da votação de apenas cerca de 17 mil militantes.
Vem agora a saber-se que, mesmo nesse número de votantes, muitos são eleitores fantasmas. Que votaram em Luís Montenegro!
Conta o "Observador" que em Castelo de Paiva, onde Jorge Moreira da Silva não tinha qualquer delegado na mesa, com 108 militantes, votaram 105. Todos em Luís Montenegro; zero - nenhum - em Jorge Moreira da Silva. Até aqui tudo bem - haveria apenas 3 militantes que não tinham votado, e os que votaram podiam todos ter votado no candidato vencedor. Só que o jornal garante que falou com dezenas de militantes e que muitos lhe confirmaram que não tinham ido votar: uns por estarem fora nesse sábado; outros porque estavam com covid.
Em Vimioso, no concelho de Bragança, conta o "Público", houve pessoas que pretenderam votar sem apresentar o respectivo cartão de cidadão. Aí, já com a candidatura de Jorge Moreira da Silva representada na mesa, essas pessoas foram barradas, vindo a apurar-se que os nomes por que se identificavam correspondiam a emigrantes, ausentes da terra.
Pode lamentar-se o desinteresse por estas eleições no PSD. Mas, mais - muito mias - que a fraca participação eleitoral dos militantes do PSD, há que lamentar estes exemplos de batota e caciquismo. Bem nos lembramos do tempo em que os mortos votavam ...
Pelo pouco que foi dado a perceber nesta disputa eleitoral, havia alguma diferença de ideias entre os dois candidatos que disputaram a liderança do PSD. A grande diferença, essa, e que Jorge Moreira da Silva não quis explorar, era mesmo de pessoas. De perfil, de carácter e de comportamento, que estas notícias apenas confirmam e reforçam.
Luís Montenegro bem pode anunciar-se candidato a primeiro-ministro. Pode ser, basta que dure quatro anos, e chegue às próximas eleições legislativas. Mas ninguém acredita muito que seja uma pessoa destas a levar o PSD de volta ao governo. É que não há só fantasmas nos eleitores!
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