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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

"No More Minister"

Por Eduardo Louro

 

 "Varoufakis demitiu-se", era a surpreendente notícia desta manhã. "Mo More Minister", escreveu no twitter...

A notícia não era: "Depois da vitória no referendo, Tsipras demitiu Varoufakis". E no entanto foi isso que, evidentemente, aconteceu. Depois de surpreender com o anúncio do referendo, Tsipras não perdeu tempo para voltar a surpreender.

Com uma vitória estrondosa no bolso, com redobrada legitimação de poder e sem oposição, Tsipras voltou a mostrar que é um político sagaz, e pouco diferente dos outros, que usam gravata. Porventura mais esperto, e provavelmente mais desconcertante!

Mais que a trivial ascensão e queda

Por Eduardo Louro

 

 

Schauble quis fazer da Grécia um exemplo, o caso prático da lição que a Alemanha quis dar à Europa e ao mundo. Por isso, como um cão raivoso, pegou e não largou mais… Não há limites para a humilhação…

Não há volta a dar. Tem sido assim, e assim vai continuar a ser até à exaustão, dê ela no que der. É nesse quadro que ocorre o sacrifício de Varoufakis. A sua cabeça foi exigida e Tsipras não resistiu... E substituiu-o por um discreto número dois do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, Euclid Tsakalotos, justamente o oposto do seu ministro das finanças. Mais ao jeito de formalismos e convenções!

A opinião publicada está a fazer passar a ideia de um Varoufakis negligente, até irresponsável e mesmo incompetente. De visão simplista e de propostas estapafúrdias... A imprensa transmite agora uma imagem de Varoufakis que não cola na outra, no seu currículo e na sua história, que transmitia há apenas dois meses atrás. O que há pouco era frescura, agora é negligência e até insolência... O que há dias era inteligência, hoje é vazio de ideias... O que ontem era óbvio, hoje é simplista...

E é demasiado limitativa e simplista a tentação de resumir tudo isto a um simples fenómeno de ascensão e queda da pop star em que Varoufakis foi transformado… E se deixou transformar!

 

Vistas curtas

Por Eduardo Louro

 

 

Esta Europa de Schauble que entende que os gregos votaram mal, já não pretende apenas sujeitar a Grécia à lei do mais forte, impondo-lhe a capitulação total. Quer mais, quer sujeitá-la à mais completa humilhação, para que fique a lição. Para que ninguém mais na Europa ouse votar mal. Para que não passe mais pela cabeça de um único europeu a ideia de votar fora da box, um simples passo para que ninguém mais ouse sequer questionar o poder desta direita de vistas curtas que manda na Europa.

Que é a mesma que, em violação dos mais velhos, sagrados e elementares princípios da União, acolhe um país com um governo como o húngaro. E a mesma que foi meter o bedelho na Ucrânia, e destruir o equilíbrio democrático baseado na alternância pacífica das duas grandes linhas de força da realidade social do país. Com as consequências que já se conhecem, e com as que ainda estão para vir…

O ministro das finanças, Varousakis, escrevia ontem no New York Times, em jeito de grito de desespero que seja ouvido pelo mundo fora, que o governo grego tem como única opção “… apresentar honestamente os factos da economia social grega, apresentar as nossas propostas para que a Grécia volte a crescer, explicando os motivos pelos quais elas são do interesse da Europa, e revelar as linhas vermelhas que a lógica e o dever nos impedem de ultrapassar”. E que a grande diferença entre este governo grego e o anterior está na determinação para “combater interesses, para dar um novo impulso à Grécia e conquistar a confiança dos nossos parceiros” sem “ser tratados como uma colónia da dívida que deve sofrer aquilo que for necessário”.

Nesta sua nova cruzada, esta direita europeia de vistas curtas nega a este governo grego tempo – pouco, seis meses apenas – para implementar as reformas que está determinado a fazer para atacar os interesses instalados que há muito bloqueiam a sociedade grega. E que os governos que o antecederam – esses sim, bons, responsáveis e bem escolhidos, pelo que se percebe das palavras de Schauble – deixaram intocáveis, enquanto aplicavam as suas receitas. Que em vez de resolverem, agravaram. Que já levaram ao perdão metade de dívida… Mas que em nome de um radicalismo que cega quer perpetuar, indiferente às consequências. Sem preocupação com o que vem a seguir. Seja Aurora Dourada na Grécia, ou Frente Nacional em França!

 

 

Novidades*

Convidada: Clarisse Louro

 

De repente, dois homens ainda jovens e bem parecidos, de ar desempoeirado e sem gravata, irromperam por esta Europa fora. Contra todos os cânones da eurocracia de Bruxelas, foi vê-los em contra mão por Londres, Paris, Bruxelas, Berlim, Viena...

Não deixam ninguém indiferente, despertam ódios e paixões, mas acima de tudo surpresa e admiração. E inspiram medo, muito medo em muita gente. Mas também esperança, muita esperança em muita gente… É sempre assim quando alguém ousa dizer o contrário do que está estabelecido!

A novidade nem está tanto no que dizem. Desde logo porque eles próprios já o dizem há muito tempo, na Grécia e por onde têm passado. Como muitos outros, em muitos outros sítios. A novidade está na voz que agora lhe foi dada pelo povo grego, na legitimidade democrática que conquistaram.

A novidade não está em dizer que a austeridade falhou e que a estratégia está errada. Já há muito que isso é dito, e começa até a ser já consensual, mesmo que os que cegamente a defendem não o queiram admitir. A novidade está nos radicais, que não são uns, mas justamente os outros. A novidade está nas alternativas que afinal há, e se dizia não haver. Mas, acima de tudo, a novidade está em perceber que é possível um certo pensamento político chegar ao poder. Que há ideias e formas de acção política que já não cabem numa pequena caixinha com o rótulo de protesto. Que é possível saltar de um gueto estigmatizado para um projecto de poder. A novidade está no que possa ser uma onda que atravesse a Europa e arrase o velho, caduco e corrompido paradigma com que se tem feito política no sul da Europa. A novidade está na mensagem clara que é possível acabar com as velhas e esgotadas famílias políticas. Que é possível romper com os centrões dos interesses que se têm perpetuado no poder, prometendo sistematicamente na oposição o que sempre negam no governo. Acusando sempre o outro pelo passado que depois repetem.

É justamente isto que inspira medo a muita gente. Mal disfarçado aqui ao lado, em Espanha, e mais escondido atrás das mais patéticas afirmações, aqui entre nós.

Alexis Tsipras e Varoufakis não são apenas as duas novas estrelas da Europa, e muito menos figuras maiores do conto para crianças que Passos Coelho pretendeu prefaciar. Poderão ser uma lufada de ar fresco numa Europa esgotada e empenhada em despenhar-se no abismo para que corre em passo acelerado.

Não é certo, longe disso, que as coisas corram bem. É muita coisa a ter que correr bem. É necessário chegar a acordo com a Europa, sem troika. Que não seja um acordo a qualquer preço, que seja fiável e que não ponha em causa os compromissos eleitorais que lhes legitimam o poder. E sabe-se que não é fácil, que os campos estão hoje bem extremados, que há um enorme oceano a separar o radicalismo e a ortodoxia alemã das pretensões gregas. Mesmo que o surpreendente e recente apoio austríaco possa ser bom agoiro…

Mas é também necessário – e não menos difícil – que aquilo que depende apenas dos gregos corra bem. Que o combate às oligarquias, aos grupos de interesse, e à evasão fiscal, essas sim – e não os cortes cegos da receita alemã – as reformas estruturais que estão por fazer na Grécia, seja determinado e bem sucedido. E que deixe de fugir dinheiro dos bancos gregos… Se é que ainda por lá ficou algum!

 

* Publicado hoje no Diário de Leiria

Passo seguinte: negociação e semântica!

Por Eduardo Louro

 

 

O governo, e a opinião publicada que o sustenta, estão seriamente empenhados no falhanço do processo grego. Passos Coelho deu o mote, com a já famosa história para crianças, e a máquina não parou mais. E no entanto o interesse nacional aconselharia, se não um apoio entusiástico à causa grega, que isso seria pedir muito a um governo que tem a história – para crianças e adultos – que este tem, pelo menos que se mantivesse quedo e mudo. Na expectativa. Porque o país não tem nada a perder, ou melhor, o que tem a perder é imensamente menos do que o que tem a ganhar!

Mas, porque as eleições estão aí, o governo, e os poucos – estou em crer – que o apoiam, sobrepõem os seus interesses eleitorais particulares aos interesses do país, importa-lhes que a Europa bloqueie as pretensões do governo grego, obrigando-o a reconhecer a sua incapacidade e a capitular. Demitindo-se ou, e isso seria melhor ainda, traindo e negando as suas promessas e o seu eleitorado.

O que nesta altura ao governo de Passos e Portas mais importa é que não se confirme que há, e sempre houve, alternativas ao modelo que a Alemanha impôs, e que tão entusiasticamente abraçou. O que o governo não quer é pôr agora em causa a teoria da inevitabilidade em que fez assentar a sua governação. É justamente isso que sustenta a sua solidariedade com Merkel, que também tem na mesma TINA (there is no alternative) o seu ponto de não retorno.  

E no entanto o bloqueamento a que ontem se chegou, quando o périplo grego chocou de frente com Berlim, não é mais que aparente. Nem é a derrota da Grécia, como o governo de Passos e a sua gente pretenderiam, nem é a apregoada saída épica do governo grego que, entre a espada e a parede, teria heroicamente preferido a espada.

Creio que está agora oficialmente aberto o espaço de negociação. Ninguém poderia admitir que a Alemanha reconhecesse humildemente que falhara, que tudo o que impusera estava errado, e que bastaria aparecerem uns tipos desempoeirados e desengravatados para desdizer tudo o que disse. Também me parece que ninguém acreditaria que uns tipos tão desempoeirados não tivessem expressões mais suaves na gaveta para ir gradualmente substituindo as mais radicais. Como hair cut, por exemplo!

Varoufakis, o ministro das finanças grego, já pelo menos por duas vezes recorreu, em jeito de desculpa, aos erros de tradução. É aí, não em erros de tradução mas na semântica, que as coisas se vão passar a jogar. Deixará de se falar em perdão da dívida, ou hair cut, para se falar, por exemplo, em empréstimos perpétuos. As reformas que, como se sabe, para os alemães – e para o governo português, sempre em sintonia – querem dizer cortes de salários e de despesa social, substituirão a austeridade. E quererão dizer, para o governo grego, ataque às oligarquias, aos grupos de interesses organizados, à corrupção e à evasão fiscal (onde, por exemplo, seria bonito ver o governo português disponibilizar-se para dar uma ajuda).

A Grécia é um pequeno país, mas é um país muito importante. Para a Europa e para o Mundo. Por isso o BCE fechou, com estrondo, de um lado e abriu do outro. E assim irá continuar a ser nos próximos dias, até que todo o pó assente, e a dignidade regresse á Grécia. E à Europa!

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