Três países em três dias*
De repente, o país eufórico, aos pulos e meio embriagado de tanto e tão propagado sucesso, foi surpreendido por uma das maiores tragédias dos últimos largos anos.
Foi como que um murro no estômago, ou um balde de água gelada em tanta euforia. O país que achava que já nada de mal aí podia vir, que agora era sempre a ganhar... No futebol, nas cantigas, no défice, nas agências de rating, nos mercados, ou em Bruxelas. O país do sucesso, na moda e a abarrotar de turistas, de repente olhou para o espelho e viu-se outro país, que já não queria reconhecer.
Viu-se o país que desertificou o seu interior. Que virou costas ao campo e fugiu para as cidades, e para o mar. Que se urbanizou e esqueceu as origens. Que se deixou seduzir pelo eucalipto. Que vê passar anos e governos que deixam tudo na mesma, quando tudo na mesma é cada vez pior. Um país que não cumpre as leis que cria. Um país que deixa morrer pessoas que não tinham que morrer. Um país sempre a apontar o dedo, mas nunca o apontando para o futuro…
E é já este país desolado e cabisbaixo que está agora frente ao espelho ainda embaciado que, incrédulo, começa a ver erguer-se lá atrás um país solidário, capaz de lhe trazer ainda, e de novo, um país com razões para acreditar que não serão as chamas a matar-lhe a esperança.
* Da minha crónica de hoje na Cister FM