(m)A(u)GOSTO
Por Eduardo Louro
A montanha pariu um rato!
Já não surpreende, afinal este governo está a revelar-se especialista na criação de montanhas … que parem ratos. Estará – quem sabe – a dar um forte contributo para o desenvolvimento económico, em especial da indústria química. Com esta taxa de natalidade, se há actividade com boas perspectivas de crescimento, é mesmo a dos raticidas.
Anunciar o anúncio de medidas de corte de despesa e depois apenas comunicar mais do mesmo já não é problema de comunicação. É algo bem mais grave que apenas justifica a colagem do anúncio das decisões do conselho de ministros à conferência de imprensa da troika. Assim percebemos o que ontem não se percebia!
Mais uma vez o governo escondeu do país as famigeradas medidas de corte na despesa. As tais que sucessivamente reclamou no passado. As tais que são a chave de saída desta maldita situação e que garantem 2/3 da solução. Anunciou mais um brutal aumento de impostos – agravamento do IVA da electricidade do gás e da electricidade em cerca de 400% - e, de despesa, falou no congelamento das progressões das carreiras no âmbito dos ministérios da administração interna e da defesa: ou seja, dos militares e afins! Mas isso nem é corte de despesa nem novidade. É poeira!
É certo que o aumento do IVA naqueles dois bens essenciais estava previsto no memorando da troika. Mas era para o próximo ano. Ao antecipar esta medida o governo apenas fez mais do mesmo: ir ao bolso dos contribuintes. E isto não deixa de ser assim pelo simples facto de, em grande parte dos países europeus, esses bens já estarem sujeitos a tributação pela taxa máxima.
Mais uma vez o ministro das finanças, no seu tom pausado e pseudo-professoral, e agora sem direito a perguntas, fugiu da objectividade e do esclarecimento como diabo da cruz, insistindo numa linguagem opaca que apenas contribui para a confusão. Depois do desvio colossal insiste agora num desvio previsível que se cifrará em 1,1% do PIB. Se o desvio colossal, que serviu de sustentação do novo imposto, não foi explicado, também não será este, agora previsível, a sê-lo. O que é mau, porque nós sabemos que o défice do orçamento para este ano tinha sido fixado em 4,6%. E que a troika o fixou, no memorando que estamos obrigados a cumprir, em 5,9%. Isto é, 1,3% acima, qualquer coisa como os 2 mil milhões de euros que o primeiro-ministro, colossal ou não, já por várias vezes referiu.
É mais do que tempo de tornar estas coisas claras, porque com tanta poeira a ser-nos lançada para os olhos, corremos o risco de cegar de vez.
Apenas uma referência final à conferência de imprensa da troika - de que o governo aproveitou a boleia – para notar que, sobre esta questão da despesa, eles sabem mais do que nós. Para falarem como falam não têm poeira a tapar-lhes a visibilidade! E para notar que a troika transformou mesmo a redução da TSU num dogma. E no dobro (redução em 7 pontos percentuais) do que o governo vinha adiantando, o que irá provocar mais um desastre porque, com mais um aumento das taxas IVA, quem sai a ganhar é a economia paralela!