"Uma equipa joga aquilo que a outra deixa"
Há um velho jargão do futebol que diz que uma "equipa joga aquilo que a outra deixa". Esta quarta final que o Benfica hoje disputou em Braga ilustra na perfeição esta dialéctica, muitas vezes difícil de perceber.
Na primeira parte o Benfica fez um jogo fraquinho. Jogou aquilo que o adversário deixou, e a verdade é que o Braga não o deixou jogar mais, pressionando alto e lutando pela bola com mais vontade, com os seus jogadores a anteciparem-se sempre aos do Benfica.
Mais que fazer uma grande exibição, mais que exercer um claro domínio sobre o adversário, o Braga dominou o jogo não deixando o Benfica o jogar. Porque na verdade os protocandidatos ao título não criaram uma única oportunidade de golo. O que marcaram foi de penalti, claramente o mais oferecido dos três que o jogo teve. Fransérgio veio por ali fora - e não o deviam ter deixado vir, estenderam-lhe a passadeira - à espera do menor pretexto para o penalti. Foi o Rúben Dias que resolveu oferecer-lhe esse pretexto, quando só tinha que aguentar ao lado dele e fazer-lhe guarda de honra até à linha final.
Mas - lá está - o Braga jogou assim porque também o Benfica deixou que jogasse assim. A perder ao intervalo, o Benfica não poderia deixar que o Braga continuasse a jogar assim na segunda parte. Teria que obrigar o adversário a deixá-lo jogar o seu futebol.
E assim fez. Fosse porque o Braga já não pudesse, fosse porque não lhe permitiu mais que pudesse, o Benfica entrou para a segunda parte a dizer: "pronto, acabou-se. Agora mandamos nós"!
Pegou no jogo, foi para cima do adversário, e as oportunidades de golo começaram a surgir. Foram onze oportunidades claras de golo, nas estatísticas finais do jogo, e o guarda-redes do Braga acabou com uma grande exibição.
Nunca mais o jogo teve nada a ver com o da primeira parte, e à medida que os minutos passavam e que a equipa bracarense ia caindo - lá está a dialéctica, outra vez - a exibição do Benfica atingia o brilhantismo.
"Uma equipa joga aquilo que a outra deixa"? Sim, mas também aquilo que sabe. E este Benfica sabe jogar muito, e foi a jogar muito que foi destroçando o adversário, limitando-lhe a ambição ao anseio pelo apito final do árbitro.
A reviravolta no resultado começou com dois penaltis, incontestados e incontestáveis. Coisa nunca vista antes, dois penaltis a favor do Benfica... Tão estranho que não se estranha que os comunicadores do costume tenham algo a comunicar.
E assim, mais uma vez de forma categórica, o Benfica passou, com distinção e nova goleada, mais uma final. Faltam agora três!
P.S. Não sei se fui apenas eu a reparar na azia dos senhores da Sport TV. Se calhar, fui!