CORTE HISTÓRICO NA DESPESA
Por Eduardo Louro
Estava anunciado para hoje o anúncio do corte histórico na despesa. Um corte nunca visto em Portugal, o maior dos últimos 50 anos!
A forma como isto veio sendo anunciado só encontra paralelo na promoção dos espectáculos de circo que vemos pelas nossas cidades, vilas e aldeias ao longo do Verão. Com uma diferença significativa: é que o circo, seja onde for, nunca deixará de ser o maior espectáculo do mundo!
A montanha voltou a parir ratos. Mais uma vez não se viram cortes, mas mais aumentos de impostos. Para ouvir falar de uma única medida de cortes na despesa teremos, uma vez mais, de esperar. Por agora pelo próximo orçamento de Estado!
Por enquanto uma coisa tem sido certa; de cada vez que fala em corte de despesa o governo descobre e anuncia mais impostos!
Depois de tantos e tantos fiascos à volta destes anúncios de cortes na despesa é difícil de entender como é que o governo insiste nesta estratégia circense. Ou talvez não!
Vamos lá a ver. Não há dúvida nenhuma que o governo não consegue dar corpo às expectativas que criou, ainda na oposição e depois, já no poder, sobre o corte na despesa. Por impreparação, sem dúvida, - porque não fez o trabalho de casa durante todo o tempo de oposição – mas também por falta de seriedade e objectividade política. Que, sendo habitual em toda a classe política, não é negligenciável para quem também reclamava um capital de seriedade e de rigor de que o país precisa como de pão para a boca. Porque se enganou, porque não foi sério, por incapacidade ou por todas estas razões, Pedro Passos Coelho e os seus ministros não sabem o que fazer com a despesa.
Por uma razão muito simples: é que a despesa é fixa e estrutural. Há evidentemente muito desperdício, que todos facilmente identificamos, mas que não é fácil de combater fora de um contexto de reformas estruturais, que exigem verdadeiras roturas (com interesses instalados, com lógicas de poder e redes de influências) mas também determinação e saber!
Por isso o governo continua a anunciar colossais cortes na despesa sem apresentar, credível e qualificadamente, uma única. Mas joga com palavras e conceitos que lhe permitam continuar a alimentar este espectáculo de circo, voltando a anunciar cortes que já vêm do governo anterior, prolongando congelamentos salariais e cortes de reformas que, sendo mais do mesmo, provocam, evidentemente, efeitos de redução de custos …para o futuro. Mas a tal gordura do Estado que Passos Coelho sabia tão bem cortar, essa é que não!
Este governo está, de resto, a ficar demasiado parecido com o anterior. O anterior andava de PEC em PEC falhando sucessivamente os respectivos objectivos; este está na mesma, apenas não lhes dá nomes, não lhes chama PEC´s porque já há memorando da troika. Diz que quer ir para além do memorando, para além das exigências da troika, mas apenas corre (com mais impostos) atrás de novos e sucessivos buracos, que ora chegam da Madeira, ora do afundamento da actividade económica. Ou dos erros de avaliação dos aumentos de muitos impostos!
O anterior governo abandonou completamente a realidade e passou a viver num mundo muito próprio, que mais ninguém conseguia ver. Este também já está lá próximo. Porque não pode distorcer assim tanto a realidade actual distorce o futuro, projectando o paraíso para 2014 e 2015, quando todos vemos que este presente não sustenta esse futuro. Que nada está nas nossas mãos, que nem sequer dependemos de nós próprios e do que consigamos fazer. Que o futuro nos foge que nem areia entre as mãos!