Futebolês #94 JOGAR PARA O RESULTADO
Por Eduardo Louro
O jogo joga-se, evidentemente. Enquanto se joga vai-se construindo o resultado do jogo e, no fim, lá estará o resultado final. Dito assim, jogar para o resultado parece não fazer muito sentido. Ou é um pleonasmo ou um absoluto non sense!
Mas, como por aqui se tem abundantemente demonstrado, o futebolês tem esta particular vocação de dar sentido ao que não parece tê-lo e de deixar claro o que parece ininteligível.
A essa coisa de o jogo se ir jogando e no final lá estar o resultado, o futebolês também dá nome: chama-lhe jogar o jogo pelo jogo. Não fosse em futebolês e aí estaria mais um non sense!
Do que ficou dito se percebe que jogar o jogo pelo jogo é uma coisa. Outra é jogar para o resultado. Jogar o jogo pelo jogo não significa desprezar o resultado porque esse, evidentemente, é sempre e incondicionalmente o mais importante do jogo. Ninguém se importa muito se a sua equipa jogou bem – embora seja naturalmente sempre preferível a jogar mal –; importa é ganhar! Daí que jogar o jogo pelo jogo seja uma expressão rara na linguagem dos adeptos e frequente na dos treinadores … Mais frequente quando perdem. Quando dizem que viemos jogar o jogo pelo jogo, sem nada a perder é porque … perderam! Se ganharam não vieram jogar o jogo pelo jogo, vieram com ambição de ganhar!
Por isso, e sem tretas, toda a gente joga para o resultado. Com as armas que cada um tem, como é natural. Uns jogam para o resultado com anti-jogo, com matreirice e a chutar a bola para onde estão virados. Outros com nota artística, como Jorge Jesus gosta de dizer.
Foi, de resto, o que fez neste jogo do Dragão com o Porto. Jogou para o resultado – e nem sempre com nota artística -, jogou claramente para o empate quando, com outra postura e nas actuais circunstâncias deveria ter jogado para ganhar.
O que o Benfica fez é aquilo que, em futebolês, uns dizem correr atrás do prejuízo e, outros, correr atrás do resultado. A perder, o Benfica tomou a iniciativa de jogo – mais uma expressão futebolesa - e correu à procura do golo. Não se julgue que esta afirmação decorre apenas da reacção aos golos marcados, naquela atitude típica de recuar a equipa depois de marcar. Se na primeira vez que chegou ao empate não houve sequer tempo para perceber a reacção táctica – o Porto regressou à vantagem dois minutos depois – já após a marcação do segundo golo se percebeu uma atitude de recuo, bem expressa com a entrada de Matic para a saída de Cardozo, num momento do jogo em que o Benfica estava claramente por cima. Competia-lhe a ambição de acentuar essa conjuntura de superioridade. Como lhe teria competido entrar de outra maneira no jogo e não ter permitido que o Porto dominasse como dominou a primeira parte. Não que tivesse entrado com medo – não se percebeu isso, como se percebeu noutras ocasiões – mas porque ficou claro que, querendo, poderia estar por cima do jogo. Poderia ter mandado claramente no jogo em vez de, simplesmente, o pretender controlar. Lá atrás!
Mas este foi um jogo bem diferente dos dos últimos anos. Bem diferente dos do ano passado, com bolas de golfe, pedras e isqueiros a voar para o relvado. Foi anunciado que estaria por lá gente da UEFA. A observar o árbitro, mas, já que lá estavam, observariam o que lhes fosse dado a observar…
Esperemos que não tenha sido por isso que este tenha sido um jogo normal, sem incidentes e bem longe do clima de terror que tem marcado os últimos jogos do Benfica no Dragão. Gostaria de acreditar que tenha sido porque as coisas mudaram mesmo, mas as declarações do treinador e dos jogadores do Porto no final do jogo não mo permitem. Até pela forma como se viu terem sido ensaiadas!
Quando o Fucile passou todo o jogo a teatralizar simulando agressões, aproveitar uma dessas ocasiões - que o árbitro, por ser já a terceira ou quarta, puniria com um amarelo – para reclamar da arbitragem e do resultado não passa de mais um dos habituais incêndios em que alicerça a sua estratégia de jogar para o resultado! Ou de construir resultados…