No melhor dos mundos
Por Eduardo Louro
Afinal não é tudo mau!
Um dia destes – cinzento, bem escuro e mesmo meio frio – acaba por ser diferente e quebrar o ritmo normal das férias. De tal forma que até dá para substituir um mergulho na praia por um mergulho no Quinta Emenda, também ele um pouco abandonado pelas férias…
A verdade é que um dia como este de hoje não é mais do que um pequeno intervalo nas férias. Não para compromissos publicitários mas apenas uma pequena pausa. Não para fazer um xixi, mas apenas dar uma olhada à volta e reparar que tudo continua de férias. Que está tudo bem, tudo certo no seu lugar!
E dá para perceber que, mesmo em férias, continuamos bem governados e no melhor dos mundos. Mesmo nos indicadores próprios desta época do ano só temos boas notícias.
Agora que os incêndios, pelos vistos pelas mesmas razões que eu, também estão a fazer uma pausa, é o balanço da área ardida que passa para a ordem do dia. Mais de 70 mil hectares, diz-se!
É muito? É uma catástrofe?
Não, diz-nos o ministro da administração interna. É menos que 2003 e 2005, enfatiza!
Espantoso! Afinal não há qualquer problema com os incêndios, todas a políticas que desembocam na prevenção – ordenamento territorial, demográfica, florestal, etc. – é tudo do mais acertado possível. O desempenho dos serviços de Protecção Civil é excelente. Tudo perfeito, porque a área ardida neste ano é inferior à ardida em 2003 ou em 2005.
Mas, e Lapalisse não diria melhor, então é superior à de todos os outros anos. Quer dizer, percebemos que a ideia é simples: está tudo bem quando comparado com o pior possível!
Confesso que não me parece que o balanço dos incêndios se deva fazer exclusivamente à custa de um resultado, no caso a área ardida. Todos percebemos que um hectare de mato numa área não qualificada nada tem a ver com o mesmo hectare numa área protegida ou de floresta. Os milhares de hectares ardidos no Parque Nacional do Gerês são um resultado diferente dos mesmíssimos milhares noutro lado.
Tudo isto para dizer que fazer um balanço exclusivamente a partir da área ardida já me parecia uma leviandade. Agora fazê-lo por comparação com os piores resultados …
Claro que não acho que o papel do governo seja o de enfatizar a desgraça. Concordo que deva puxar a nossa auto estima colectiva para cima, impedir um clima generalizado de descrença e de incapacidade e que tudo faça para mobilizar a nação. Mas não é a inverter sistematicamente a realidade que isso se consegue.
As empresas recorrem ao benchmarking (identificação das melhores práticas para comparação do seu desempenho) para se desenvolverem e atingirem o sucesso. O governo faz o inverso: busca as piores práticas para comparar o seu desempenho!
Está a fazê-lo sistematicamente. O que é muito grave: um destes dias procura, procura … e já não encontra nada que se compare! Então deixaremos de viver no melhor dos mundos…