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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

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Futebolês #99 OFERECER O CORPO À BOLA

Por Eduardo Louro

Esta é a centésima edição do Futebolês. É o número 99, mas como o primeiro foi o número zero… Não é razão para festejar, se o fosse comemorar-se-ia hoje o número 100, que só surgirá na próxima semana. Como se faz com as passagens de década, de século e de milénio. Em 1999, com a passagem para o ano 2000, festejou-se a passagem do milénio. Em 2009, a primeira década deste século. Indevidamente, porque não houve ano zero; o primeiro ano foi o ano 1, ao contrário do que se passa aqui no Futebolês.

Talvez porque estes números mais redondos nos levam sempre a olhar para trás, hoje regresso a uma certa dimensão erótica da bola que por aqui passou, em particular no número 1 (Beijar), que foi justamente o segundo, mas também noutros dos primeiros números. É aquela ideia da bola transformada na mais apetecida das beldades, que 22 rapazes disputam até ao limite das suas forças (o futebol feminino começa a dar cabo desta narrativa idílica, mas deixem passar). Numa beldade rebelde e insinuante que tão depressa se entrega, dócil e meiga, apaixonada, como, de repente, ultrapassa todos os limites da irreverência, salta de uns braços (leia-se pés) para outros sem que ninguém a segure, ninguém a domine e ninguém lhe possa chamar sua.

Evidentemente que, num campo cheio de rapazolas na flor da idade, não faltaria quem lhe quisesse oferecer o corpo. Uma beldade destas - insinuante, rebelde, muito dada a uma certa vadiagem e pouco a fidelidades - tem muito por onde escolher. Atrevida, manda-se a eles!

E é este manda-se a eles que reverte a situação, acabando por transformar a oferta do corpo – bem diferente de venda do corpo, como se percebe, e que estabelece as fronteiras desta dimensão erótica, fechadas à pornografia – numa missão de sacrifício. Oferecer o corpo à bola não é, assim, uma simples oferta que se aceita ou rejeita. Nem junta o prazer da oferta – oferecer é normalmente um acto de prazer – aos prazeres do corpo.

Oferecer o corpo à bola é sempre um acto deliberado. O corpo entrega-se – dir-se-ia de corpo e alma - à bola, ao contrário do que acontece noutros encontros de ocasião. Que os há, e bem suspeitos!

E não pensem que tenho apenas em mente aqueles encontros de particular abuso, em que a bola ultrapassa os limites da rebeldia e do atrevimento e atinge o puro descaramento, atirando-se directamente às chamadas partes baixas dos rapazes. Não, estou também a pensar em fugazes e escondidos jogos de mãos, de carícia aqui e afago ali, sempre que a ocasião o permita.

Não tem, claro, o arrebatamento da grandeza destemida de oferecer o corpo à bola, às claras e à vista de todos. Dê no que der. Nem a exuberância de movimentos contorcionistas de uma bolada nas ditas partes baixas. Mas tem a adrenalina do flirt, a sensação única da transgressão e aquele prazer indescritível da cumplicidade escondida ou mesmo secreta. Como sempre acontece nestas circunstâncias, toda a gente está a ver. Eles é que, como os jovens de antigamente, tão enamorados quanto ingénuos, pensam que ninguém vê. Acontecem no recato e no aconchego da grande área, precisamente para onde toda a gente tem os olhos virados, tão expostos quanto num banco de jardim numa tarde de sábado cheia de sol. O Rolando, por exemplo, é um dos maiores especialistas desta marmelada. É useiro e vezeiro em passar a mão pelo pêlo da bola em plena grande área, pensando que, lá porque conta com a cumplicidade do árbitro, ninguém mais vê. Mas lá está, toda a gente vê. Menos quem deveria!

Não digo que não seja rapaz de dar o corpo à bola – embora tenha por lá colegas bem mais dados à tarefa - mas do que ele gosta mesmo é destes encontros de ocasião. Que, como se vai vendo - especialmente em ambientes a que está menos habituado, na selecção ou mesmo nos jogos europeus do seu clube – lhe começam a criar algumas dificuldades. Logo a ele que foi o primeiro a falar em dar o salto, contando até que o André Vilas Boas não perdesse o seu número de telefone.

E, já que isto foi desaguar ao novo Dragão de Ouro, cá estamos já todos à espera – 30 anos passam num instante - das suas memórias, com prefácio de Pinto da Costa. Prefácio e título: A Cadeira de Sonho!

Um verdadeiro especialista em dar o corpo à bola, este Pinto da Costa!

 

 

 

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