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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

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Reposições #4- Alemães*

Por Eduardo Louro

 

Confesso que, ao contrário da minha filha mais velha, a Joana, que desde pequena sempre foi uma admiradora dos alemães, e com justificadíssimas razões, entre as quais a forma como souberam renascer dos imensos dramas de duas guerras mundiais consecutivas e o rigor da organização social, eu nunca fui um particular entusiasta da coisa alemã, à óbvia excepção dos seus produtos e das suas tecnologias. Aí há muito que sou o mais fanático dos alemães!

Comecei por apresentar este antagonismo emocional com a minha filha para salientar a forma como os acontecimentos pesam em função da sua proximidade com cada geração. A minha foi ainda muito marcada pelo nazismo, não tanto de forma directa mas naquilo que foi transportado para o regime em que crescemos. De modo que via aquela língua como uma coisa agressiva, quase que emitida a partir de uma boca preenchida por aquele bigodinho ridículo…Depois, confesso que no futebol, aquela coisa deles não jogarem nada mas ganharem sempre, também não contribuía nada para captar as minhas simpatias.

Enfim, mas tudo isso já ficou para trás e, agora sou, também eu, um admirador, já não só dos carros e dos equipamentos alemães, mas dos próprios alemães. E olhem que é coisa recente!

O primeiro passo foi dado através de uma estória que envolvia um alemão, um experimentado marinheiro português, uma prestimosa assistente de bordo, e a personagem principal: uma genoa. Nem vale a pena contar a estória, nem teria espaço para o fazer. Fica apenas o registo do meu primeiro momento de aproximação simpática a um alemão!

Pouco depois, dava eu próprio aqui conta de um gesto só ao alcance dos grandes cidadãos: um multimilionário alemão, Dieter Lehmkuhl de seu nome, quando o seu governo anunciava baixar os impostos, tomava a iniciativa de promover o lançamento de um imposto apenas para eles próprios, para os multimilionários. Já não era necessário mais nada para, definitivamente, me tornar num grande admirador dos alemães. Afinal isto não é possível em mais nenhuma parte do mundo!

Mas não é que na passada semana tomo conhecimento de mais um gesto nobre de uma cidadã alemã? Conta-se em poucas palavras: a senhora era gerente bancária, e geria contas de gente de baixos recursos, que muitas vezes as deixava, se bem que por pequenos montantes, a descoberto, com todas as implicações que bem conhecemos, e de gente como a do tal senhor. Então a senhora transferia destas últimas os valores necessários para que os desgraçados não fossem ainda mais desgraçados. Logo que essas contas estivessem regularizadas pelos seus titulares voltava a repor os valores nas contas mais abastadas.

Aí pensei quão injusto eu havia sido para um povo que é composto por pessoas como estas!

Mas a história não acaba aqui! Porque alguns dos ditos desgraçados, quando viram dinheiro na conta voltaram a gastá-lo, a dita senhora não conseguira repor todos os valores. Por isso, mas sem utilizar um único cêntimo em proveito próprio, agora reformada, a senhora tem de dispor da totalidade da sua reforma para ressarcir os titulares das contas mais abonadas, que não conseguira repor.

Cheguei então a pensar pedir ao tal dito senhor que lhe desse uma ajudinha, porque bem a merece!

Em Portugal temos muitas histórias parecidas… diferem é no destino dado ao dinheiro. É também essa pequena diferença que nos faz tão diferentes de um povo que merece ser admirado!

 

 

 

*Publicado no Vila Forte em Dezembro de 2009

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