"INSTAURAR A DEMOCRACIA, RESTAURAR A MONARQUIA"
Por Eduardo Louro
Assinala-se hoje mais um aniversário do regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, data que, mais que o agora descartado 5 de Outubro, vem nos últimos tempos sendo aproveitada para iniciativas – se não cada vez mais convincentes, cada vez mais convencidas – de exaltação monárquica.
Os ventos correm-lhe, de resto, de feição: uma democracia cada vez menos democrática, cada vez mais degradada, a gravíssima crise social que o país atravessa, a crise institucional, a crise de valores, de ética e de moral e, the last but not the least, um presidente que caiu no fundo… Tudo a convergir num ciclone que empurra como nunca as ideias monárquicas!
Dentro dessa linha surge hoje o manifesto “Instaurar a Democracia, Restaurar a Monarquia” subscrito por 18 ilustres monárquicos, entre os quais gente que me merece o maior respeito e admiração como, por exemplo, Gonçalo Ribeiro Teles - o primeiro subscritor - ou Miguel Esteves Cardoso. Ali dão conta do “preocupante enfraquecer das estruturas democráticas”, da “visível delapidação dos valores morais na política”, do “estado caótico da nossa justiça”, e da “ameaça de perda de soberania”, tudo problemas que a simples entrega da chefia do Estado a um rei resolveria. Um rei que, no seu entendimento, tem uma legitimidade inquestionável: a legitimidade de quem é “eleito pela história”!
Os monárquicos entendem que nós não temos que eleger qualquer chefe de Estado. Isso cabe à história!
A mim custa-me ver pessoas que admiro e respeito defender este tipo de coisas. Mas parece-me que seria bem mais compreensivo se visse que o seu putativo rei, o tal eleito pela história, era uma personalidade de uma dimensão superior, um personagem de uma craveira única, de uma dimensão humana e intelectual verdadeiramente digna da missão histórica que o trouxe ao mundo. Mas, dizem eles, esta missão caberia a D. Duarte de Bragança, “único e legítimo pretendente ao trono português”…
É por isso que, mesmo com chefes de Estado que não mereçam o meu voto – como já tantas vezes aconteceu -, mesmo sendo o mais crítico dos críticos do actual Presidente da República, prefiro sempre um chefe de Estado eleito por mim e pelos meus concidadãos a um determinado por uma consanguinidade qualquer. Ou eleito pela história, como eles dizem!