COISAS INTRAGÁVEIS VI
Por Eduardo Louro
Os hospitais têm os armazéns vazios. Tão vazios quanto os cofres de boa parte dos seus fornecedores!
Os cortes de fornecimento sucedem-se, uns atrás dos outros, e estendem-se a quase todos os hospitais. O Hospital Garcia de Orta foi pedir compressas emprestadas ao Hospital Amadora-Sintra, como uma vizinha pedia a outra um raminho de salsa ou um pacotinho de açúcar porque já tinha o tacho ao lume quando deu pela falta. Se tivesse dado, ou à segunda vez que dê pela falta, já não teria lata para pedir à vizinha e não chegaria a pôr o tacho no lume, isto se ainda tivesse gás para o acender…
Estão a morrer no nosso país mais 500 pessoas por semana. Começo a ter muita dificuldade em separar este dado daquelas dificuldades. Quero dizer, quer-me parecer que, como a vizinha naquela condição de reincidência, começa a morrer gente porque já se está a deixar de pôr o tacho ao lume!
Também as esquadras de polícia, sem carros para fazer as suas patrulhas, irremediavelmente parados por falta de manutenção – alguns mesmo parados a arder – quando não mesmo de combustível, vão bater à porta da vizinha a pedir um chaço emprestado. Se lá tiverem um que ainda ande!
Nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo umas centenas de trabalhadores estão sem trabalhar vai para um ano. Não, não estão em greve: estão lá todos os dias para trabalhar mas não têm trabalho para fazer. Há encomendas – algumas, as da Venezuela, talvez não sejam das mais fiáveis - mas há outras, incluindo para o mercado interno. Mas não há aço para arrancar com a produção. Claro que há aço, não há é dinheiro para o comprar. Nem vizinha a quem pedir uma pitadinha!
Nos Estaleiros Navais de Alfeite passa-se mais ou menos a mesma coisa: seis centenas de trabalhadores comparecem todos os dias para trabalhar, mas não há trabalho. Não há barcos para reparar!
Mas aqui há uma vizinha: a Marinha Portuguesa, que tem lá a corveta João Roby, há muito a precisar de reparação. Que o governo, numa decisão certamente difícil de tomar, acaba de autorizar. Decidir entre a pagar os salários aos trabalhadores sem fazer nada, e pagar-lhes o mesmo para reparar um barco da Marinha que precisa de ser reparado, é muito difícil …
Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo e os Estaleiros Navais de Alfeite integram-se na EMPORDEF, a holding do Estado para as indústrias de defesa que não ata nem desata.
Muitos outros exemplos se poderiam dar do deprimente estado do país. Mais deprimente só ver o governo entretido a tirar o QREN ao Álvaro para o entregar ao Vítor. E ver o Álvaro deprimido e amuado a não querer brincar mais. A ameaçar ir embora, mesmo não sendo o dono da bola!