COISAS INTRAGÁVEIS VII
Por Eduardo Louro
Álvaro Santos Pereira - o ainda ministro da economia mas já ex-superministro da economia – está na berlinda de onde apenas sairá, já se percebeu, quando regressar a Vancouver.
E aqui abro um parêntesis para uma notícia que, a exemplo da que circulou ontem por todo o lado com a sua demissão, não é notícia. Mas que será quando o for! Regressar ao local de onde veio quando se deixa de ser ministro não é comum neste país. Em Portugal, quando se deixa de ser ministro, vai-se para um banco ou para uma das grandes empresas das que vivem directa ou indirectamente à conta do Estado. E por isso é notícia. Há-de ser, não tenho dúvidas!
Um a zero, para o Álvaro!
Quando o governo foi apresentado, como por aqui já referi várias vezes, a opinião pública reagiu de uma maneira geral favoravelmente. O ponto era que havia muita gente vinda de fora da política. Gente nova e sem experiência política não era tido como negativo, antes pelo contrário! Álvaro Santos Pereira – com um super ministério – e Vítor Gaspar – por força da força das Finanças, muito maior dadas as circunstâncias - eram as estrelas.
O ministro da economia, é certo, teve as suas gafes. Faltou-lhe o que sobra aos políticos: matreirice e capacidade de comunicação. E nunca lhe conseguiu vestir a pele o que o diminuiu perante os seus pares e, especialmente, perante o implacável poder dos media. Foi aos poucos sendo trucidado, autêntica vítima de bulling!
O ministro das finanças, ao invés, vestiu o fato de político, que lhe assentou como se há muito lhe tivesse sido moldado. Feito à medida! Rapidamente aprendeu os truques da matreirice e da manipulação, que passou a manejar como um mestre. Nem a sua desajeitada forma de comunicação constitui óbice. Antes pelo contrário, fez dessa ameaça uma oportunidade, transformando aquela forma pausada e martelada de comunicar num must.
E a sua popularidade subiu em flecha. Todos os inquéritos de opinião o colocam no topo das preferências dos portugueses, ao contrário do que seria natural nestas circunstâncias. O ministro que é a cara primeira da austeridade, e de mais austeridade, dos impostos insuportáveis, dos cortes nos serviços públicos e do orçamento que não se cumpre, está em alta na opinião dos portugueses. Surreal!
De super ministro, Álvaro Santos Pereira passou a subministro, processo que culminou com a recente transferência da responsabilidade de execução do QREN para Vítor Gaspar entretanto, mais que super ministro, o verdadeiro primeiro-ministro. E, de facto, o grande responsável pelo processo de achincalhamento em curso (PRAC), que passa já as fronteiras da dignidade, de Álvaro Santos Pereira. Consta que logo nos primeiros meses do governo, perante uma exposição do ministro da economia em conselho de ministros, Vítor Gaspar terá secamente cortado: “não há dinheiro”. Tendo Álvaro Santos Pereira retomado a sua exposição, dinamitou: “qual das três palavras não percebeu”?
Claro que se percebe que fazer de Álvaro Santos Pereira o bobo da corte dá muito jeito ao novo primeiro-ministro em funções. Claro que retirar-lhe o QREN, com o que minimamente poderia intervir na economia, poderá dar um jeitão quando a execução orçamental começa a rebentar por todos os lados, a começar pela receita.
E assim se enterra o Álvaro e se põe o Vítor no pedestal. A quem tudo se perdoa. Imaginem o que se não teria dito se, entre outras preciosidades naquela visita a Manteigas, este título do DN de domingo, tivesse sido atribuído ao Álvaro? Mas, como foi o Vítor, no pasa nada…
Já agora, francamente: se tivesse que comprar um carro usado a um deles, a quem compraria o leitor o carro?
Arrisco: dois a zero para o Álvaro!