Nunca antes
Por Eduardo Louro
Acabei de regressar do Brasil, onde voltei precisamente dez anos depois. Por mera coincidência, de novo em tempo de campanha eleitoral!
Voltei pois a encontrar um país em campanha eleitoral. Encontrei um país com algumas diferenças mas uma campanha eleitoral bem diferente.
Sempre um Brasil de dupla face – sinais de desenvolvimento próprios de uma potência mundial convivem, lado a lado, com os mais evidentes sinais de terceiro-mundismo –, mas agora um país que todo o mundo cobiça. Qual garota de Ipanema, filha adoptiva do talento de Vinícius (…olha que coisa mais linda, mais cheia de graça…) que todos querem para namoradinha!
Nunca antes o mundo olhou para o Brasil deste jeito!
Um país que todos os dias atinge novos máximos nos mais diversos índices, a fazer lembrar aquelas semanas loucas das bolsas. Batem-se sucessivos recordes e cria-se a ideia que o limite é o céu. Depois cai tudo, mas isso é outra estória! Esperemos que seja!
Foi este país que vim encontrar, mas … em campanha eleitoral.
A primeira sensação foi que não tinha chegado a sair de Portugal. Sucesso atrás de sucesso, cada indicador melhor que o outro. Os milagres do Estado Social… Estava ali tudo, não faltava nada: aquilo era o discurso que eu ainda levava nos ouvidos. E, no entanto, estava do outro lado do oceano! O país era outro mas o discurso era o mesmo. Fantástico! Nunca antes tinha visto uma coisa assim!
Depois do choque inicial comecei então a perceber as nuances do discurso. Comecei por perceber que os dados e os indicadores que sustentavam o discurso faziam sentido. São produzidos pelo INE lá do sítio – o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – variam a sério, não em cagésimos, são lidos correctamente e impressionam mesmo!
Mas era um discurso cheio de “nunca antes”. Nunca antes de Lula, claro!
Todos aqueles dados e indicadores impressionantes têm uma única referência: o Presidente Lula. O mérito por tudo o que de bom se passa hoje no país é dele. E só dele! Há já quem diga que se eliminará Pedro Álvares Cabral para entregar a Lula o mérito do descobrimento do Brasil!
É este o registo de uma campanha eleitoral onde o presidente se sobrepõe ao candidato. Destinada a assegurar uma continuidade dinástica, bem mais própria da velha linha latino-americana que das democracias modernas do mundo que hoje namora o Brasil, e onde o presidente não se comporta de forma condizente com o seu prestígio pessoal. Bem maior no exterior do que internamente!
É preocupante, e bastante questionado em sectores insuspeitos da sociedade brasileira, este envolvimento e esta personalização meio chavista da campanha. Tão mais preocupante quanto se sabe que nunca foi desmantelada a rede de corrupção com epicentro na sua Casa Civil. Que todos os dias faz prova de vida.
Parece-me que nem o Brasil nem a senhora Dilma Roussef mereciam isto. Nem, acima de tudo, Lula!