FUTEBOLÊS#118 DO NADA
Por Eduardo Louro
Do nada não pode sair se não nada! Tirar alguma coisa do nada é uma impossibilidade óbvia. Pois, mas em futebolês não é bem assim: há muita coisa que vem do nada! Até golos, imagine-se. É verdade, há golos que vêm do nada!
Umas vezes porque vêm mesmo do nada, outras porque, não vindo do nada, vindo de alguma coisa, há quem não a veja. Por incapacidade de ver ou por má-fé!
O Porto ganhou o jogo desta noite do Porto na Madeira, no campo do Nacional, com o melhor exemplo do que é um golo vindo do nada. Repare-se: a meio da primeira parte um jogador do Nacional, sem qualquer pressão, na faixa direita do campo, com todo o tempo do mundo e com todos os colegas a posicionarem-se para o início de mais uma jogada ofensiva, resolve chutar a bola com força contra um jogador adversário. Podia ressaltar para qualquer lado; o mais natural seria ressaltar para fora do campo, pela linha lateral ou pela final. Mas não, a bola ressaltou para a frente da sua baliza e, perante a surpresa do seu guarda-redes, direitinha ao novo avançado austríaco do Porto, que já ia a correr para o seu meio campo e só teve de se virar e empurrá-la para a baliza. Não conheço melhor exemplo de um golo vindo do nada!
Porque também se diz que uma equipa ganha com um golo vindo do nada quando, por exemplo, está sujeita a enorme pressão do adversário e, num golpe de sorte qualquer, consegue aproximar-se da grande área adversária e fazer golo. Pois bem, foi o que aconteceu no segundo golo do Porto, já no período de compensação.
Quer dizer, uma equipa que não joga nada – e não sou eu a dizê-lo, ouvi esta semana um dos paineleiros oficiais da agremiação portista gritar bem alto: “o meu Porto não joga naaaadaaa” – mantém-se à frente do campeonato com golos vindos do nada. E de fora de jogo!
Não deixa de ser interessante perceber como é que estas vozes oficiais de Pinto da Costa conseguirão articular esta constatação – “o meu Porto não joga nada” – com o mérito, que têm por inquestionável, da liderança. E até da eventual conquista do campeonato. Já avisaram, de resto, que se o campeão vier a ser a equipa que mais e melhor joga, corresponderá à maior das injustiças!
A equipa não joga nada – como eles dizem e todos nós constatamos – mas merece liderar o campeonato. E merecem ser campeões!
Pensam que há aqui algum problema de consistência? Que falta coerência? Que a bota não joga com a perdigota?
Nada disso. Isto é apenas para que se possa dizer que é um campeão vindo do nada, que têm por mais simpático do que, por exemplo, um campeão da fruta. Ou um campeão das viagens ao Brasil. Ou o campeão da Olivedesportos. Ou o campeão da Sport TV. Ou o campeão do guarda Abel. Ou o campeão do Martins dos Santos, do Calheiros, do Pratas, do Duarte, do Proença, do Xistra...