Morreu o nosso NOBEL
Morreu José Saramago! Já se pode dizer bem dele...
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Morreu José Saramago! Já se pode dizer bem dele...
Magia não é algo que apenas encante crianças e que preencha os seus reinos de fantasias. Nada que se esgote num coelho tirado da cartola num qualquer palco da mais popular das feiras ou da mais elegante sala de espectáculos. Nada que se esgote na imaginação de cada um, que espera encontrar magia em cada esquina da vida para manter vivas todas as ilusões da criança que, lá bem no fundo, ninguém quer deixar de ser.
No futebol e na sua linguagem a magia em nada difere disto, ou não fosse o futebol isto mesmo, como invariavelmente dizem os artistas da bola quando pretendem explicar qualquer coisa que, ou não tem explicação ou, a tê-la, não sabem ou não querem dá-la.
Com uma diferença, é que no futebol a magia é espalhada pela relva. Espalhar magia pela relva não está ao alcance de qualquer um: apenas dos mágicos, dos grandes fantasistas. Nem está propriamente ao alcance de todos os grandes talentos. Os talentos de que foram dotados bastam para os tornar grandes artistas, grandes estrelas e mesmo foras de série, mas não são suficientes para os catapultar para o Olimpo dos mágicos.
São muitos os exemplos de grandes foras de série que não atingiram a dimensão de mágicos. Podem ser grandes patrões, grandes maestros e grandes criativos, mas não são mágicos!
Magia espalhou Di Maria esta época pelos palcos deste país, ao ponto de deixar Mourinho hipnotizado e louco por o levar para Madrid. E ao ponto de ficar ele próprio encantado com tanta ilusão… Magia a sério continua Messi a espalhar por todos os relvados do mundo. Esse sim, o maior mágico em actividade!
Em Portugal, apesar da fama de grandes criativos (e não apenas no futebol!), mágico mesmo e reconhecido como tal, só há um: Deco! Já lá vão uns anitos mas todos nos lembramos daqueles cartazes exibidos nas Antas e já no Dragão: o nosso mágico, podia ler-se por baixo daquela imagem de Deco com cartola e tudo!
Pois o nosso mágico, que o nosso país empurrou para o estrelato mundial – pela formação e desenvolvimento que lhe permitiu, pela nacionalidade que lhe emprestou, e que lhe abriu as portas das melhores equipas da Europa, pelo seu estatuto de cidadão comunitário, e as de uma das selecções mais fortes do seu tempo (quando as da selecção brasileira nunca se lhe abriram) – anunciara há poucos meses que iria abandonar a selecção nacional. O que seria natural, até pela sua idade. O que já não seria natural é que o fizesse envolto em expressões de muito pouco apreço pela nação que o acolheu e de despropositada reafirmação do seu brasileirismo. Que, não sendo natural, cheirou a provocação!
O nosso mágico passou toda a época sem jogar, entre os bancos das clínicas e o banco de suplentes. Naturalmente sem ritmo de jogo para entrar num campeonato do mundo e, dada a sua idade, sem condições para atingir os níveis de desempenho que a selecção requer e necessita. Mesmo assim o seleccionador Carlos Queirós não hesitou em convocá-lo. E não se limitou a convocá-lo, tratou de lhe dar um estatuto superior ao deixar de convocar qualquer alternativa: nem Carlos Martins, nem João Moutinho, nem Nuno Assis!
Errou Carlos Queirós, como parece continuar a errar em quase todos os capítulos desta nossa presença na África do Sul. Mas não merecia que a primeira pedra (e que pedra!) lhe fosse lançada precisamente pelo mágico. Que, não tendo arte para a transformar em flores, lenços ou simples rolos de papel colorido, ensaiou um passe de mágica pouco convincente e nada credível. Um número falhado, desastrado mesmo!
Não pôde, como muitas vezes fazem, negar as declarações proferidas. A televisão, e em directo, não permite o mesmo que os jornais! Nem que se roubem os gravadores! Retratou-se, mas ninguém o levou a sério. Afinal nem sequer pode invocar que foi a quente. A quente passou ele pelo banco, direito ao balneário. Aí teve bem tempo de refrescar tudo o que estivesse quente, antes de lhe colocarem um microfone à frente.
O que ficou claro é que, depois da mal contada história do Nani, muitas mais histórias ficam para contar. A Saltillo (México 86) e à Coreia 2002 juntar-se-á mais uma página negra: África do Sul 2010.
É pena, mas são estes os mágicos que temos!
O euro continua em perda e as dificuldades de financiamento continuam a aumentar, em especial para a Grécia, Espanha e Portugal. As notações de rating continuam em queda livre, tendo mesmo a da Grécia caído para o nível mais baixo: lixo. Espanha e Portugal pagam agora taxas de juro inimagináveis há apenas três ou quatro meses e começam a enfrentar sérias dificuldades na colocação de dívida!
Em Portugal discute-se se não seria preferível chamar já o FMI. Há os que defendem que solicitar já essa intervenção permitiria o acesso a melhores condições de financiamento – a Grécia, por essa via, tem já taxas de juro mais baixas que as de Portugal! Vêem ainda nessa intervenção a oportunidade para endurecer as medidas de austeridade e, nela, o caminho mais rápido para a consolidação orçamental e para o saneamento das finanças públicas. Os que lhe opõem não apresentam outros argumentos que não sejam os que se prendem com a imagem do país, isto é, preocupam-se apenas em proteger a imagem do fidalgo arruinado.
Desgraçadamente é isto que se discute. Uns com a obsessão da imagem, uma obsessão infelizmente profundamente enraizada na sociedade portuguesa, e responsável por tanta da nossa miséria humana (ainda esta semana era noticiado que muitos portugueses preferem começar a cortar pelos medicamentos e pela alimentação antes de abdicar de telemóveis, canais de tv por cabo e mesmo de automóveis). Outros porque preferem trocar a verdade da realidade pela de manuais desactualizados.
Por que é que a chamada pressão dos mercados, que supostamente abrandaria com o anúncio de medidas de austeridade, de medidas de excepção suficientemente capazes de impor os sacrifícios exigidos como se os mercados fossem monstros vorazes ávidos de sangue (e de suor e de lágrimas), afinal não abrandou?
Porque, logo depois do anúncio dessas medidas, os mercados concluíram que elas não só impediam o crescimento como iriam alimentar uma espiral de retracção económica de consequências ainda mais gravosas. Perceberam que elas não resolviam os problemas, que os agravavam!
Coisa que, cegos pelo medo, governantes e elites não vêem. Ou fingem não ver, por falta de coragem para enfrentar a realidade. E preferem continuar a pensar e agir exclusivamente na lógica de alimentar o tal monstro voraz – oferecer-lhe em sacrifício cada vez mais inocentes – ignorando uma realidade circular em que se é preso por ter cão e por não o ter: se não são duros nas medidas não estão a enfrentar eficazmente os problemas; mas se o são estão a liquidar a economia e, com isso, sem qualquer possibilidade de resolver os mesmíssimos problemas.
E assim lá continuamos, nós e uma Europa cada vez mais anã (já não apenas um mas dois anões), a afundar-nos cada vez mais, assobiando para o ar enquanto vamos inventando novas medidas que achamos que acalmam os mercados!
A primeira jornada acaba de terminar com a surpreendente derrota da Espanha frente à Suiça (0-1) e com um bom jogo de futebol.
Esta é uma surpresa que nem de encomenda para selecção portuguesa! Parece-me bem que, a partir de agora, o Brasil não vai querer ganhar o grupo…
Grande vitória da Suiça que, inesperadamente, abre uma enorme janela de oportunidade à nossa tão debilitada selecção!
E ao quinto dia a selecção começou a jogar!
Jogo pobre, na linha da maioria dos que o antecederam, mas ainda mais lento.
A Costa do Marfim nem parecia uma equipa africana (o dedo de Erickson): muito disciplinada e tacticamente adulta. A selecção nacional esteve bem fraquinha, a fazer corar de vergonha as estatísticas da FIFA, as tais que a colocam como a terceira melhor selecção do mundo…
Jogadores descrentes, sem confiança e, também me pareceu, sem força. Nem anímica nem física. Na primeira parte um único remate: ao poste, mas único! Na segunda só mais quatro, e apenas um enquadrado com a baliza.
A selecção não resolveu o que era complicado e complicou o que era simples, acabando com o credo na boca.
Esperemos por melhores dias!
Esperei pela primeira intervenção portuguesa no Mundial da África do Sul para trazer aqui ao Quinta Emenda uma primeira espreitadela sobre o acontecimento que está a dominar a atenção mundial e, se não a fazer esquecer a crise, a passá-la para segundo plano.
Ao contrário do que alguns possam estar a pensar Portugal estreou-se hoje. Quando amanhã a selecção nacional se estrear em Port Elizabeth – um porto inventado logo ao virar da esquina do Cabo das Tormentas, já da Boa Esperança, por Bartolomeu Dias, o Navegador, não um daqueles navegadores que amanhã carregarão com o peso de toda uma nação que continua, como sempre, à espera que sejam onze rapazes a correr atrás de uma bola a expiar-lhe os pecados e a alimentar-lhe a ilusão – já o fará depois de outra equipa portuguesa: a equipa de arbitragem de Olegário Benquerença.
A prova já vai no seu quarto dia, o que já dá para algumas notas.
A primeira para provar como o destino é muitas das vezes cruel. Um acidente roubaria a vida à bisneta de Nelson Mandela, roubando-lhe, assim e também, a oportunidade de, apesar do seu estado de saúde, presidir à inauguração oficial do Campeonato do Mundo de Futebol, a prova máxima do futebol mundial que ele, de forma decisiva, ajudara a trazer pela primeira vez para a sua África e para a sua África do Sul. E roubando ao futebol a oportunidade de ser abençoado por um dos maiores vultos da humanidade do século XX!
A segunda nota vai, como não podia deixar de ser, para as vuvuzelas. Essa praga que se assemelha a um enorme enxame em incansável, laboriosa e frenética actividade. Um ruído insuportável que a tudo se sobrepõe, alterando por completo o habitat dos estádios de futebol: não há mais cânticos, palmas ou bruás! Todos os dias se diz que a FIFA irá proibir a sua utilização mas a verdade é que, dia após dia, ali está aquele ruído monocórdico, entediante … e que faz sono!
Como os jogos, e entraria na terceira nota, não têm sido nada de por aí além, também eles suficientemente entediantes – o que leva a questionar a forma como se disputam as fases iniciais deste tipo de provas (a “poule” torna os jogos demasiado fechados, onde o medo de perder se sobrepõe à vontade de ganhar, dando em espectáculos de qualidade nada condizente com a grandeza da competição) – aquilo dá mesmo sono.
O que é mau porque, adormecendo-se, perdem-se o que têm sido as excelentes realizações televisivas – a quarta nota. As transmissões televisivas têm sido realmente de grande qualidade e, essas sim, de grande espectáculo, mesmo quando o espectáculo não ajuda…
A quinta e última nota vai para as selecções africanas. O factor continentalidade não tem funcionado e os seus resultados não têm sido famosos, quando apenas falta entrar uma em acção: precisamente a Costa do Marfim, que amanhã defronta Portugal. Esperemos que se confirme a tendência e que se mantenha solteira a vitória do Gana, a quem já ouvi chamar a Itália africana.
Mas voltemos à estreia portuguesa (e leiriense) para assinalar o excelente desempenho da equipa de Olegário Benquerença no Camarões 0 – Japão 1. O jogo, talvez o que melhor ilustre todas as anteriores notas – espectáculo fraco e sub rendimento da equipa africana, recheada de estrelas – não foi complicado e Olegário teve o enorme mérito de não o complicar ele próprio. Belo desempenho a abrir boas perspectivas para o resto da prova: mais duas ou três nomeações, de preferência para jogos de grande impacto…
O prometido é devido. Pelo menos por aqui no Quinta Emenda…
Não é que estejamos muito habituados a que se cumpram as promessas! E não é só na política, já o Carlos Tê, aqui há uns anos, punha o Rui Veloso a queixar-se disso mesmo. Lembram-se? Ela tinha-lhe prometido tirar o vestido mas … não cumpriu!
Como prometera na apresentação aqui estão disponíveis os trinta números do futebolês que haviam sido publicados no Vila Forte. Aqui ao lado, à esquerda, estão os links para alguns jornais e revistas, para alguns blogues, que não só não se calam como falam bem alto, e para o Futebolês. Basta um click e lá estão todos, seguidinhos… Para ler, ir lendo ou reler. E comentar. E sugerir!
Entretanto será esta semana retomada a publicação normal do Futebolês, aqui no Quinta Emenda. Com um número por semana: o 31 está aí por estes dias…
O direito de permanecer calado não se opõe ao direito de falar, ao direito à livre expressão. São direitos complementares que se enquadram no valor supremo da liberdade e conceitos que dão o mote, neste caso não à, mas ao Quinta Emenda.
Em jeito de complemento da apresentação do Quinta Emenda, já que ontem, por muito que possa ter passado despercebido, falei do que pomposamente chamaria enquadramento editorial, hoje falarei do que, não menos pomposamente, chamaria de enquadramento gráfico. Que tem muito a ver com o que atrás ficou escrito: com o direito à opinião e à sua livre expressão!
Para as novas gerações soará a estranho enfatizar-se uma coisa que, para elas, é básica e tão natural como o ar que respiram. É fantástico que assim seja, mas não é de mais recordar-lhes que nem sempre assim foi.
Eu, que vivi tempos em que assim não era, sou profundamente marcado por esses direitos de liberdade. E fiquei marcado por imagens, fotográficas ou apenas escritas, do meu livro de inglês do quarto ou quinto ano do liceu – confesso que já não consigo precisar –, o que, para os mais novos, corresponderia ao actual oitavo ou nono ano. Naquele tempo, e estou a falar do final dos anos sessenta, enquanto aprendíamos o b-a-ba da língua inglesa, os programas assumiam um enquadramento temático: primeiro um enquadramento marcadamente cultural e civilizacional (Shakespeare, Charles Dickens, hábitos e costumes, etc,), depois, no então sexto ano (agora décimo), a História de Inglaterra e, no sétimo e último ano do liceu, a História americana. O ensino das línguas, como de resto todo o ensino, era então substancialmente diferente do das últimas três décadas: o francês, hoje praticamente desaparecido, era obrigatório do primeiro ao quinto ano (nono), estendendo-se ao dois últimos anos do liceu apenas para os que seguiam a via – então designada de alínea, por correspondência à sua definição num qualquer decreto – de românicas. O inglês entrava apenas no então chamado segundo ciclo – do terceiro ao quinto ano. Nos sexto e sétimo estava reservado a apenas algumas das vias, das já referidas alíneas: germânicas e económicas, entre mais uma ou outra.
Voltando às imagens que acima referia, a que mais me marcou era mesmo a dos speakers`corner do Hyde Park, em Londres! Independente do romantismo que possa arrastar, a verdade é que naquela altura, pelos meus 14 anos, aquela ideia de se poder desatar a discursar, a botar opinião sobre o que quer que fosse, mesmo dizer mal do governo, fez-me perceber a importância da liberdade de expressão. Coisa que, no Portugal de então, nem pelo pensamento podia passar!
Na primeira oportunidade que tive de visitar Londres fui, primeiro e antes de tudo, direitinho a Hyde Park. E lá estavam os speakers`corner, ainda com speakers! Ainda e sempre, no meu imaginário, o mais belo local de culto da liberdade da liberdade de expressão.
Poderia ser outro o enquadramento gráfico deste nosso Quinta Emenda?
A quinta emenda à constituição dos Estado Unidos da América reconhece aos americanos um direito fundamental: o de ficarem calados! E esse não é um direito menor, não senhor! É um dos mais importantes direitos de cidadania. Que o digam os que passaram por Guantânamo, que não eram cidadãos americanos…
A mim, que felizmente não passei por lá, não me apetece ficar calado. E por isso aqui estou!
Apareci por aqui através do Vila Forte (1), um blogue onde eu andava feliz e contente quando, mesmo não sendo americano, decidiu invocar o direito que a quinta emenda lhe confere: calar-se! Como a mim não me apetecia ficar calado… aqui estou. A solo, por enquanto!
Não é fácil nem difícil manter sozinho um blogue com um mínimo de interesse. É impossível! Por isso o Quinta Emenda só pode não ter o mínimo de interesse, apesar dos meus esforços. Não me obrigo a ter coisas novas todos os dias, mas tentarei que todos os dias se note que o autor passou por aqui. Nem que seja um simples gesto de picar o ponto, como a gente vê em algum funcionalismo público. E irei dar sequência a uma rubrica que vinha mantendo no Vila Forte: o Futebolês (2).
O Quinta Emenda nasce hoje!
Porquê hoje?
Porque é o day after do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, do dia em que soubemos, pela mais alta voz regime, que o país não é sustentável? Porque é o dia de arranque do Campeonato Mundial de Futebol, o primeiro em África e o das intoleráveis vuvuzelas? Porque é um dia capicua, e eu gosto de capicuas como de pão com manteiga dos dois lados?
Por tudo isto e por nada disto. Porque hoje perdi um familiar que muito amo. Porque hoje se calou para sempre uma das vozes da minha vida…
(1) Tudo se mantém. Com uma excepção: deixei de fumar. Fiz bem!
(2) Estão publicadas 30 edições disponíveis através de link aqui ao lado disponível dentro de dias.
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