O presidente acabou de falar com os partidos. E ouviu toda a oposição dizer-lhe que mais impostos é que não! Do partido do governo deve ter ouvido o contrário: impostos é que é!
O Sr Angel Gurria já deve ter tomado o avião de volta. Já cá não está, já fez o seu número!
O Benfica já está a jogar. É aí que grande parte dos portugueses têm a sua atenção concentrada.Tudo em ordem, portanto.
O governo já nos pode vir mostrar o tamanho do dedo que nos vai meter naquele sítio que todos sabem!
Pois bem. Aí vêm elas!
Ah! O Sr Angel Urria, o secretário-geral da OCDE veio cá dizer que nós, todos os que achamos que isto não vai lá com impostos, que o que é preciso é gastar menos, somos todos burros. Que não é nada disso: isto vai lá é com mais impostos!
Houve logo muita gente que achou que a visita do Sr Urria tinha sido encomendado pelo governo. Era a resposta às consultas do PR!
Até pode ser que sim. Mas convém recordar que esta gente da OCDE, do FMI e de outros que tais só vê mesmo aumento de impostos. Desconfio que seja porque de cortes na despesa estejam eles fartos! É que uma coisa são promessas (vamos cortar, prometemos que vamos mesmo!) e outra são os impostos, logo a cair.
Mas isso mata a economia! E o que é que isso os preocupa?
Há nove anos também tivemos orçamento. Cheirava muito a queijo mas tinha vida. Havia vida para além do orçamento e nem se ouvia falar de défice, quanto mais de vida para além dele. Também não se falava de dívida e, de mercados, só fosse do peixe, do Bulhão ou da Ribeira!
E no entanto, de repente, quando ninguém esperava, chegou o pântano! O pantanal veio por aí fora, mais rápido e surpreendente que um tsunami, e transformou tudo num imenso e pelos vistos insuportável lamaçal!
O governo fugiu, e o país, nas palavras de alguém que também haveria de fugir pouco depois, viria a ficar de tanga!
Hoje, nove anos passados, o país secou, secou e … de pântano transformou-se num inferno. A arder por todo o lado. Insuportável!
Ontem terá sido o dia D. Um vento mais forte de um quadrante qualquer fez alastrar as chamas a uma velocidade maior que a do tsunami. E o governo volta a fugir!
Vai fugir como fugiu o de Guterres mas até a tanga já nos leva. Agora deixa-nos nos nus e descompostos! Espero que fiquemos também envergonhados!
É hoje claro que para o primeiro-ministro aquilo não passou de baile. Não era para levar a sério, era para continuar a fazer de conta. O seu parceiro de tango é que, como agora se vê, parece que levou aquilo um pouco mais a sério!
Entretanto o primeiro-ministro lá ia deixando correr o marfim. Num país virtual, ora tecnológico ora de novas oportunidades, em second life.
Percebia-se que o par dançava cada vez mais afastado, num tango já sem ponta de sensualidade. Nem um ligeiro encosto, um leve sarrafar!
Até que chegamos à beirinha do orçamento. O Presidente da República quer um orçamento negociado entre os dois para garantir a sua vidinha sem chatices: é música para os ouvidos de Sócrates! Que, porém, nada faz para se aproximar do par, que até parece cheirar mal dos sovacos, a precisar de patcholi.
Passa a dançar a solo, substituindo a música: agora é o Estado Social, tocado até à exaustão. Até o disco ficar riscado!
Claro que sabíamos no que ia dar a conversa do Estado Social. Simples: aumentar impostos mas nunca cortar na despesa! Subliminar: não reduzimos a despesa do Estado para não pôr em causa o Estado Social e para combater o défice temos que aumentar impostos. Outra vez!
Já ninguém se lembra que há quatro meses se havia acordado aumentos de impostos mas também redução de despesa! E que todos garantiam a pés juntos que não haveria mais aumentos de impostos!
E pronto! O ministro das finanças, como se acabasse de ser apanhado por uma enorme surpresa, a mesma surpresa do disparo do défice nos últimos dias do ano passado, lança o grito de desespero: digam-me como é que eu consigo reduzir o défice em 4,5 mil milhões sem aumentar impostos?
Logo a seguir é Pedro Silva Pereira: se não aprovam o nosso orçamento com os impostos que quisermos vamos embora. Já hoje, e desde Nova Iorque, é o primeiro-ministro que o confirma.
Está visto: esta gente, para reduzir o défice, só conhece um instrumento e uma única maneira de lhe mexer: aumentar impostos, ir-nos ao bolso!
Eu, por mim deixava-os ir embora. De vez e para bem longe. Pena que não fiquem a arder nas chamas do inferno que aqui criaram!
O futebolês é muito virado para as coisas da cultura. Tem a leitura, como já vimos , mas tem também um conceito mais vasto: a cultura de jogo!
Como qualquer cultura, ou se tem ou não se tem. Aqui a diferença está na adjectivação: no futebolês, aocontrário da linguagem comum, quem tem cultura de jogo não é necessariamente culto!
Um jogador – e esta é outra particularidade, apenas ao jogador é atribuída essa cultura, ninguém mais no mundo da bola é digno dessa bênção – com cultura de jogo é aquele que dispõe de um conjunto de condições que lhe permitem interpretar o jogo e tomar as melhores decisões em função da leitura que fez. O que equivale a dizer que o futebolês coloca as coisas nos seus devidos lugares: a cultura vem da leitura!
Sem saber ler o jogo não há cultura de jogo. Sem ler o jogo nada feito: não há interpretação que valha nem decisões que resultem.
Um jogador com cultura de jogo é naturalmente um jogador completo – ele junta às suas funções de jogador ainda as de treinador dentro do campo, a de um treinador ali à mão dos colegas. É a extensão da liderança do treinador. Ele percebe quando o jogo deve ser acelerado ou quando se impõe baixar-lhe o ritmo.
É deste tipo de jogadores que sai o patrão da equipa e, muitas vezes, futuros bons treinadores.
Outra coisa bem diferente de cultura de jogo é a cultura desportiva. E essa não abunda por aí!
Enquanto que a cultura de jogo se manifesta exclusivamente no rectângulo de jogo a cultura desportiva vive fora do terreno de jogo. Embora acabe sempre por ter repercussões lá dentro!
A cultura desportiva não obriga a ter grandes conhecimentos sobre desporto. Ter cultura desportiva não significa ser nenhuma enciclopédia desportiva, nem sequer ter os conhecimentos do Luís de Freitas Lobo.
A cultura desportiva traduz-se exuberantemente na expressão inglesa que toda a gente usa e a que alguns chamam treta: fair play!
O fair play não se esgota na sua utilização em campo, no tal sítio onde ás vezes é mesmo uma treta. Não se limita ao cavalheirismo exigido aos jogadores em campo. Extravasa o campo de jogo e é mesmo tão mais importante quanto mais afastado desse recinto.
Não será falta de cultura desportiva vir criticar o presidente da comissão de arbitragem por se ter prestado a esclarecer os lances da arbitragem do Guimarães-Benfica?
Creio que sim. Quando o dirigente máximo da arbitragem, onde sempre vimos imperar um corporativismo especializado em atirar areia para os olhos, vem explicar esses lances de forma clara, como, afinal, toda gente tivera oportunidade de ver, está a contribuir para o fair play. Está não só a contribuir para um aumento da cultura desportiva mas, e muito mais importante, está a dizer aos senhores árbitros que têm de ter atenção, porque toda a gente está a ver. Daí que os mínimos aceitáveis em cultura desportiva, mesmo um dez nas novas oportunidades, obrigue a aplaudir a iniciativa de Vítor Pereira.
Mas não foi o que fizeram o presidente do Guimarães e o treinador do Porto. No primeiro não se pode falar de falta de cultura desportiva porque, pelo que se viu e ouviu, é falta de cultura. Ponto!
Já no treinador do Porto é clara falta de cultura desportiva, de fair play e até de elegância! Deve ser daqueles ares. Quando até podia ser magnânimo e, do alto da sua cadeira, a de sonho, e dos seus nove pontos de avanço (!), aplaudir a atitude do sr Vítor Pereira. Mesmo que não fosse por nobre cultura desportiva, bastaria que fosse por mero reconhecimento. Por ele não ter esmiuçado nenhum dos muitos erros que têm favorecido o Porto ao longo destas primeiras cinco jornadas que, somados com os outros, dão nos tais inacreditáveis nove pontos.
É mesmo daqueles ares! Também o recém-chegado João Moutinho, interrogado pelas facilidades no jogo da Madeira, com o Nacional, respondeu que eram eles que tornavam os jogos fáceis. Fantástico! Quando acabávamos de assistir a um jogo que julgávamos facilitado logo aos 20 minutos com um auto-golo e, logo no minuto seguinte, voltamos a julgar facilitado pelo árbitro quando não assinalou a mão de Rolando e o respectivo penalti que poderia voltar a deixar o jogo empatado! Claro que nos lembramos logo da maneira como tinham sido tornados fáceis três dos restantes quatro jogos. Porque o do Dragão com o Braga foi bem difícil. Mas também, apesar de o não ter visto, mas pelo que li e ouvi e pela minha cultura desportiva, bem jogado e bem ganho!
Acabei de regressar do Brasil, onde voltei precisamente dez anos depois. Por mera coincidência, de novo em tempo de campanha eleitoral!
Voltei pois a encontrar um país em campanha eleitoral. Encontrei um país com algumas diferenças mas uma campanha eleitoral bem diferente.
Sempre um Brasil de dupla face – sinais de desenvolvimento próprios de uma potência mundial convivem, lado a lado, com os mais evidentes sinais de terceiro-mundismo –, mas agora um país que todo o mundo cobiça. Qual garota de Ipanema, filha adoptiva do talento de Vinícius (…olha que coisa mais linda, mais cheia de graça…) que todos querem para namoradinha!
Nunca antes o mundo olhou para o Brasil deste jeito!
Um país que todos os dias atinge novos máximos nos mais diversos índices, a fazer lembrar aquelas semanas loucas das bolsas. Batem-se sucessivos recordes e cria-se a ideia que o limite é o céu. Depois cai tudo, mas isso é outra estória! Esperemos que seja!
Foi este país que vim encontrar, mas … em campanha eleitoral.
A primeira sensação foi que não tinha chegado a sair de Portugal. Sucesso atrás de sucesso, cada indicador melhor que o outro. Os milagres do Estado Social… Estava ali tudo, não faltava nada: aquilo era o discurso que eu ainda levava nos ouvidos. E, no entanto, estava do outro lado do oceano! O país era outro mas o discurso era o mesmo. Fantástico! Nunca antes tinha visto uma coisa assim!
Depois do choque inicial comecei então a perceber as nuances do discurso. Comecei por perceber que os dados e os indicadores que sustentavam o discurso faziam sentido. São produzidos pelo INE lá do sítio – o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – variam a sério, não em cagésimos, são lidos correctamente e impressionam mesmo!
Mas era um discurso cheio de “nunca antes”. Nunca antes de Lula, claro!
Todos aqueles dados e indicadores impressionantes têm uma única referência: o Presidente Lula. O mérito por tudo o que de bom se passa hoje no país é dele. E só dele! Há já quem diga que se eliminará Pedro Álvares Cabral para entregar a Lula o mérito do descobrimento do Brasil!
É este o registo de uma campanha eleitoral onde o presidente se sobrepõe ao candidato. Destinada a assegurar uma continuidade dinástica, bem mais própria da velha linha latino-americana que das democracias modernas do mundo que hoje namora o Brasil, e onde o presidente não se comporta de forma condizente com o seu prestígio pessoal. Bem maior no exterior do que internamente!
É preocupante, e bastante questionado em sectores insuspeitos da sociedade brasileira, este envolvimento e esta personalização meio chavista da campanha. Tão mais preocupante quanto se sabe que nunca foi desmantelada a rede de corrupção com epicentro na sua Casa Civil. Que todos os dias faz prova de vida.
Parece-me que nem o Brasil nem a senhora Dilma Roussef mereciam isto. Nem, acima de tudo, Lula!
Encerrada que está a disparatada, absurda e achincalhante trapalhada em que o Sr Gilberto Madaíl meteu o nome de Portugal, do futebol português e até de Mourinho (se bem que aí a música seja outra e haja muito por contar) aí está uma nova trapalhada: Paulo Bento!
Quero desde já dizer que nada tenho contra o treinador Paulo Bento. Tenho, no entanto, tudo contra mais esta trapalhada, na sequência directa da trapalhada anterior: ninguém percebe por que é que o Sr Madaíl não tratou discretamente do disparate Mourinho – podia ter almoçado, comido umas tapas ou apenas tomado um chá sem o anunciar aos sete ventos, preservando, como o mais elementar bom senso aconselharia, uma reserva que só faria sentido quebrar em função do sucesso (de todo improvável) de tão disparatada iniciativa – como ninguém poderá perceber a sucessiva exposição do nome de Paulo Bento e os sucessivos avisos (que mais pareciam ameaças) do anúncio de um futuro contacto. Alguém entende que se avise, dias a fio, que se vai efectuar um contacto?
É para mim claro que é trapalhada atrás de trapalhada. Outra coisa seria difícil de esperar nesta altura do Sr Madaíl.
Trapalhadas à parte, em que Paulo Bento não tem qualquer responsabilidade, convém tentar perceber se esta opção, que parece estar a gerar unanimidade no meio mediático e desportivo, encaixa na actual realidade da selecção nacional.
Vítor Serpa, no Editorial de domingo de A Bola, apontava alguns traços do perfil do novo seleccionador: “mais forte do ponto de vista psicológico do que táctico, mais alegre do que triste, mais extrovertido do que intimista, mais amigável que conflituoso, mais comunicativo do que embezerrado, com mais amigos que inimigos”.
Eu acrescentaria: experiente, com forte capacidade mobilizadora, fortemente de empático, de discurso fácil, simples e directo, de espírito aberto, liberto de dogmas tácticos e … com tranquilidade!
Parece-me que, à excepção da famosa tranquilidade – imagem exclusiva de um discurso amplificado pelos Gato Fedorento e não exactamente uma imagem de marca – não encontramos aqui muitos pontos de contacto com o perfil de Paulo Bento. O que não faz dele um mau treinador nem sequer impede que seja seleccionador nacional! Apenas não encaixa na actual selecção nacional: uma equipa sobre brasas, sem margem de erro, descrente, sem chama e sem público!
Pode ser que corra bem, mas é daquelas soluções que, com toda a tranquilidade, tem tudo para não dar certo. Gostaria de estar redondamente enganado!
A formação e a qualificação profissional mantêm-se na primeira linha dos desafios que se colocam à economia portuguesa e à nossa sociedade em geral. A par do investimento em I&D, o investimento na qualificação profissional dos portugueses continua a justificar prioridade máxima no quadro da economia nacional.
Não é novidade que os nossos deficits de produtividade e de competitividade resultam, para além de alguns factores de rigidez que se chocam com os novos conceitos de mobilidade e flexibilidade, da insuficiente qualificação dos nossos recursos humanos. Consequência, em primeira análise, do sistema de educação mas também de hesitações e equívocos no paradigma da formação profissional.
A Educação tem sido e continua a ser o grande problema do país. Falamos de analfabetismo, do abandono escolar precoce e do insucesso académico onde, com políticas vocacionadas exclusivamente para maquilhar esses índices, ainda apresentamos taxas que nos envergonham. Mas falamos, também, das muitas licenciaturas, mestrados e doutoramentos substancialmente desfasados das necessidades requeridas para a sustentação da modernização e da competitividade do país.
A formação profissional tem, em Portugal, uma história muito paralela à do processo de integração europeia. Com uma umbilical ligação a fundos comunitários.
Por razões conhecidas (a revolução industrial que não passou por aqui, o condicionamento industrial do Estado Novo, etc.) a economia portuguesa, fiel a um modelo de mão-de-obra barata e, qual ciclo vicioso, de baixa qualificação, tem-se mantido afastada das economias desenvolvidas. Por esta e outras razões (igualmente históricas, políticas, culturais e sociais) o capital humano – conceito praticamente desconhecido até há bem pouco tempo – não figurava no topo das preocupações de empresários e gestores.
Sem tradições de preocupação com a valorização dos seus recursos humanos não admira que equívocos, hesitações e mesmo negligência tenham ensombrado a história da formação profissional em Portugal.
Algo mudou entretanto. É hoje notório que, apesar de todas as dificuldades, se começa a olhar para o factor humano como o mais importante dos recursos. E a apostar na sua valorização como factor de sucesso do negócio, da empresa e do país.
A valorização dos seus recursos humanos, como factor crítico de sucesso, mas também de dignificação do trabalho e de coesão e desenvolvimento social, constitui-se, cada vez mais, como uma variável fundamental da estratégia de desenvolvimento do país. Deve constituir uma missão que a todos envolva. Empresários, porque reforçam os seus activos. E trabalhadores, porque valorizam o seu único activo.
Com iniciativa própria, numa cultura de exigência, rigor e qualidade. Sob pena de continuarmos a desperdiçar recursos, focados em rácios de fachada em vez de resultados.
O futebolês é uma linguagem com virtudes inimagináveis. Entre elas uma capacidade extraordinária de adaptação aos mais rebuscados conceitos e uma enorme facilidade de transmitir as mais subliminares mensagens. O falso ponta de lança tem um pouco de tudo isso!
Há o ponta de lança – o matador–, que já por aqui passou, mas também o falso ponta de lança. Que, ao contrário do falso médico (ou de qualquer outro falsificador), não anda por aí a armar-se no que não é. O falso ponta de lança não é aquele tipo que chega ao aeroporto todos os Verões (e todos os Janeiros, também Verão lá na terra deles) a proclamar aos setes ventos que faz muitos golos, que remata bem com os dois pés e que é muito bom de cabeça mas que, depois … nada. Nem um só desses atributos! Esse, embora pudesse parecer, não é o falso ponta de lança. Esse é o barrete!
O falso ponta de lança não é um impostor. Fazem dele um impostor, não o é ele próprio. É o treinador que cria esse embuste!
Ou porque não tem mesmo um ponta de lança na equipa – às vezes só tem um ou outro desses barretes – e, já diz o povo, quem não tem cão caça com gato; ou porque, mesmo tendo-o, não o utiliza porque tem medinho do adversário. Não é capaz de o enfrentar cara a cara. De disputar o jogo pelo jogo, olhos nos olhos com o adversário. Arma a equipa em bases ultra defensivas e, não lhe sobrando ninguém para servir o ponta de lança – ou assistir, como vimos na assistência –, opta por destinar as tarefas atacantes a um só jogador, normalmente franzino e rápido e de boa relação com a bola.
Aí está o falso ponta de lança!
Que nem sequer é bem uma falsidade. Comparada com as falsidades que por aí andam…
São as falsas partidas do Benfica e da selecção, a colocarem em sérios riscos os respectivos objectivos logo de início. São as falsas soluções e até mesmo os verdadeiros problemas confundidos com falsas questões!
Na selecção, como de resto se esperaria, tudo se resolveu com o despedimento de Queiroz. É falso que Madaíl tivesse algo a ver com o problema, ou mesmo que não seja ele o próprio problema. Basta olhar para a desorientação e o desespero verdadeiramente humilhante da tão disparatada quanto ridícula ideia de ir suplicar a José Mourinho (e ao Real Madrid) que venha treinar a selecção nos dois próximos jogos. Nunca visto!
No Benfica as coisas estão a correr como a partir de certa altura (o tema tem aqui sido abordado desde a 36ª edição) era previsível que corressem.
É visível que não há só falsos pontas de lança. Também há falsos resultados, falseados por arbitragens que, muitas vezes, custam a perceber como meramente infelizes. Objectivamente o Benfica vem sendo duplamente prejudicado: penalizado por decisões erradas nos seus próprios jogos e por decisões erradas que têm beneficiado os seus adversários directos. E os órgãos sociais do Benfica reagiram. Com razão. Mas mal, a meu ver! Mal porque dispararam em todas as direcções, e muito mal quando apelam à desmobilização da sua massa associativa – a sua maior força. Uma força capaz de levar a equipa ao colo – joga praticamente em casa em 27 ou 28 dos 30 jogos do campeonato – como ainda há pouco se via. Apelar aos adeptos para não comparecerem nos campos dos adversários é deitar fora uma das principais vantagens comparativas. Mas é também um espinho na relação de boa vizinhança com a grande maioria dos concorrentes: os pequenos clubes que vêm na visita do Benfica o seu euromilhões!
Não é assim que se mobilizam as tropas!
Ah! E Olegário Benquerença?
Bom, não está em causa a sua seriedade, para mim absolutamente intocável. Mas começa a ser demasiado evidente que não é feliz nos jogos com o Benfica. E como faz infelizes todos os benfiquistas (menos um, que eu conheço e ele também)!
Tudo começou aqui há uns anos, na Luz, com aquele remate do Petit que o Vítor Baía defendeu para além de uma linha que, mais que uma linha de golo, é uma linha que separa benfiquistas e anti benfiquistas. A partir daí é uma história de jogos complicados que, à luz dos dois últimos – o do Dragão do final da época passada e agora este de Guimarães – o melhor mesmo é pôr-lhe ponto final. E que a recente homenagem da A. F. Porto (já quase ninguém se lembrava da sua histórica e tumultuosa relação com a arbitragem) em nada ajudou. É que não é a mesma coisa da homenagem da A.F. Leiria, em que com muito gosto (a convite do tal benfiquista único que acima referi) participei, na véspera da partida para a África do Sul!
E domingo há derbi. Que parece estar já a aquecer, depois de uma longa semana europeia em que apenas o Braga deu passo em falso!
Há muitos anos que em Portugal se discute a legislação laboral. É invariavelmente apresentada como factor de bloqueio do país. Bloqueia o investimento e bloqueia o desenvolvimento e, assim, hipoteca o crescimento e o futuro!
Até há alguns anos atrás esta era uma discussão fundamentalmente ideológica. Entre esquerda e direita, entre patronato e sindicatos. E se o normal era a tradição continuar a ser o que era – “patrões” e direita a reclamarem liberalização e sindicatos e esquerda a defenderem a manutenção da rigidez da legislação laboral – a verdade é que, em diversas ocasiões, foi possível ouvir mesmo alguns empresários de sucesso dizer que a questão laboral era um mito e que, para eles, não representava qualquer dificuldade.
Esta dialéctica foi resistindo na sociedade portuguesa e na concertação social que tem presidido à sucessiva evolução da legislação até ao recente Código de Trabalho.
Hoje, se considerarmos que as ideologias não evoluem e não se adaptam às novas realidades, a discussão não pode ser ideológica. Vivemos num mundo globalizado, num mercado aberto e concorrencial onde Portugal tem uma das legislações mais rígidas. As empresas têm que ser competitivas e, para isso, é fundamental a competitividade do factor trabalho.
E a nossa rigidez laboral não contribui para melhorar essa competitividade. Não contribui directamente, enquanto mecanismo estrangulador da flexibilidade, de reajustamentos operacionais nas empresas mas, fundamentalmente, não contribui enquanto mecanismo estruturante de mentalidades, das novas mentalidades perante as novas realidades do mundo em que vivemos.
O cidadão é levado a pensar que o seu posto de trabalho está legalmente protegido, independentemente do seu desempenho. Mas não é levado a pensar que o seu posto de trabalho só estará verdadeiramente protegido enquanto a sua empresa for competitiva. Que quando deixar de o ser tem que fechar e, fechando, adeus posto de trabalho. Não há legislação que lhe valha. A rigidez laboral não traz mais do que uma segurança aparente e enganadora.
Poderá ainda argumentar-se que a flexibilidade laboral desprotege os mais fracos na relação de trabalho, deixando-os à mercê do livre arbítrio do empregador. Porventura algumas vezes assim poderá suceder, mas nada que um poder minimamente regulador e eficaz não pudesse resolver. Acresce que, com o desenvolvimento da qualidade de gestão, hoje praticamente todas as empresas reconhecem nos seus recursos humanos o seu principal activo. Alguém acredita que as empresas não pretendem preservar os seus principais activos?
O que está em causa são pois os “maus” trabalhadores. E, para estes, a única forma de os proteger é tentar transformá-los em bons trabalhadores. Responsáveis, interessados e produtivos. Formá-los e reciclá-los.
Não há economias com pleno emprego. A capacidade de emprego das economias é mais ou menos limitada. O desemprego é uma variável macroeconómica incontornável. Grave, para uma sociedade, é quando o desemprego é preenchido por pessoas que foram objecto de grande investimento em educação e formação. É quando esse investimento não tem retorno. É quando o investimento não é estimulado e se não cria mais emprego.
Um mercado de trabalho marcado pela rigidez é um mercado fechado, que deixa de fora muita gente capaz e onde os mais jovens sentem enormes dificuldades para entrar. Preserva, até ao limite da capacidade de resistência de muitas empresas, o emprego dos seus mas perpetua o desemprego dos outros. Permite a ilusão de um emprego garantido e impede ou, pelo menos, limita a preocupação dos trabalhadores com a sua própria formação, o seu próprio desenvolvimento e a sua própria produtividade.
A competitividade das empresas interessa aos seus accionistas, aos seus trabalhadores e a toda a sociedade. É pois algo de convergente e não tão dialéctico quanto fomos admitindo no passado.
A flexibilidade laboral não desata todos os nós que estrangulam a nossa economia mas contribuirá fortemente, através da valorização e responsabilização dos cidadãos, para transformar, dinamizar e enriquecer a nossa sociedade. E, pasme-se, para a tornar mais justa!
Os nossos governos, e em particular o último, fizeram uma grande aposta na internacionalização das empresas nacionais, com diversos programas e milhões de euros envolvidos nessa estratégia.
Sempre tive algumas dúvidas sobre tal estratégia. Acho indiscutíveis as vantagens para a economia portuguesa do investimento das empresas nacionais no estrangeiro quando focado numa estratégia de afirmação dos seus produtos nos mercados internacionais. Por isso entendo que serão de apoiar os investimentos em distribuição e marketing, aqueles que permitam acompanhar de mais perto o cliente e o seu produto. E acho discutíveis as vantagens para a economia nacional de todos os outros tipos de investimento no exterior que não se relacionem directamente com a criação de valor no país.
Por isso, apoiar a internacionalização das empresas “tout court”, apenas para colocar uma bandeirinha pelo mundo fora, sem entender o que corresponde ao interesse da economia nacional ou apenas ao interesse particular (de empresas ou de grupos), no actual contexto, é muito questionável.
Chegou-me na semana passada às mãos um estudo publicado em Setembro, da autoria de três professores do meu ISEG – Miguel Fonseca, António Mendonça e José Passos –, que conclui que “o investimento directo português no estrangeiro tem impacto negativo nas exportações”. Este estudo analisou e correlacionou exportações e investimento em 18 países entre 1996 e 2007 e conclui que apenas em Angola (16%) e em Espanha (apenas 1%) se verificou crescimento nas exportações. Em todos os restantes 16 as exportações caíram.
Estas conclusões, e realçando que as duas excepções vêm de países especiais – parece claro e inequívoco que Angola e Espanha constituem, para Portugal, mercados externos com especificidades próprias – vêm confirmar o erro daquela estratégia.
Quando precisamos de aumentar consolidadamente as nossas exportações desenvolvem-se políticas e incentivam-se estratégias com o efeito contrário. Não temos dimensão económica nem empresarial para gerar empresas multinacionais (condições desse tipo tivemo-las mas já lá vão mais de cinco séculos), pelo que dar incentivos à internacionalização das empresas sem cuidar de assegurar que contribuem para gerar exportações, é cortar o crescimento da economia nacional. A crise também se faz destas coisas!
Confesso que, ao contrário da minha filha mais velha, a Joana, que desde pequena sempre foi uma admiradora dos alemães, e com justificadíssimas razões, entre as quais a forma como souberam renascer dos imensos dramas de duas guerras mundiais consecutivas e o rigor da organização social, eu nunca fui um particular entusiasta da coisa alemã, à óbvia excepção dos seus produtos e das suas tecnologias. Aí há muito que sou o mais fanático dos alemães!
Comecei por apresentar este antagonismo emocional com a minha filha para salientar a forma como os acontecimentos pesam em função da sua proximidade com cada geração. A minha foi ainda muito marcada pelo nazismo, não tanto de forma directa mas naquilo que foi transportado para o regime em que crescemos. De modo que via aquela língua como uma coisa agressiva, quase que emitida a partir de uma boca preenchida por aquele bigodinho ridículo…Depois, confesso que no futebol, aquela coisa deles não jogarem nada mas ganharem sempre, também não contribuía nada para captar as minhas simpatias.
Enfim, mas tudo isso já ficou para trás e, agora sou, também eu, um admirador, já não só dos carros e dos equipamentos alemães, mas dos próprios alemães. E olhem que é coisa recente!
O primeiro passo foi dado através de uma estória que envolvia um alemão, um experimentado marinheiro português, uma prestimosa assistente de bordo, e a personagem principal: uma genoa. Nem vale a pena contar a estória, nem teria espaço para o fazer. Fica apenas o registo do meu primeiro momento de aproximação simpática a um alemão!
Pouco depois, dava eu próprio aqui conta de um gesto só ao alcance dos grandes cidadãos: um multimilionário alemão, Dieter Lehmkuhl de seu nome, quando o seu governo anunciava baixar os impostos, tomava a iniciativa de promover o lançamento de um imposto apenas para eles próprios, para os multimilionários. Já não era necessário mais nada para, definitivamente, me tornar num grande admirador dos alemães. Afinal isto não é possível em mais nenhuma parte do mundo!
Mas não é que na passada semana tomo conhecimento de mais um gesto nobre de uma cidadã alemã? Conta-se em poucas palavras: a senhora era gerente bancária, e geria contas de gente de baixos recursos, que muitas vezes as deixava, se bem que por pequenos montantes, a descoberto, com todas as implicações que bem conhecemos, e de gente como a do tal senhor. Então a senhora transferia destas últimas os valores necessários para que os desgraçados não fossem ainda mais desgraçados. Logo que essas contas estivessem regularizadas pelos seus titulares voltava a repor os valores nas contas mais abastadas.
Aí pensei quão injusto eu havia sido para um povo que é composto por pessoas como estas!
Mas a história não acaba aqui! Porque alguns dos ditos desgraçados, quando viram dinheiro na conta voltaram a gastá-lo, a dita senhora não conseguira repor todos os valores. Por isso, mas sem utilizar um único cêntimo em proveito próprio, agora reformada, a senhora tem de dispor da totalidade da sua reforma para ressarcir os titulares das contas mais abonadas, que não conseguira repor.
Cheguei então a pensar pedir ao tal dito senhor que lhe desse uma ajudinha, porque bem a merece!
Em Portugal temos muitas histórias parecidas… diferem é no destino dado ao dinheiro. É também essa pequena diferença que nos faz tão diferentes de um povo que merece ser admirado!