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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Futebolês #57 FIM D´ANO

Por Eduardo Louro

 

O ano está a chegar ao fim! Está por um fio…

O futebol tem um calendário diferente. O ano chama-se época e o calendário não tem dias, semanas e meses: tem a sequência ordenada dos jogos, distribuída por duas voltas que quase dividem o ano ao meio. Quase, porque a primeira volta, por cá, acaba já por Janeiro dentro. Vai de Agosto a Janeiro. Não tem grande importância mas sempre atribui um título: o de campeão de Inverno!

A segunda volta prolonga-se até Maio, fechando-se a época com a final da Taça. É assim em praticamente toda a Europa: a excepção é a Rússia, pouco dada aos usos e costumes ocidentais.

Depois vêm as férias. E a agitação do defeso – um paradoxo, o defeso que supõe acalmia, interregno e pausa para limpar armas, é afinal um tempo de grande intensidade – das contratações que irão alimentar todas as aspirações da nova época. Das falhadas e das concretizadas!

De dois em dois anos Junho é mês de selecções, em campeonatos ora da Europa ora do Mundo. Julho é mês da preparação e de afinação física, técnica e táctica da equipa. E em Agosto há o reveillon: o início do novo ano, a nova época que arranca com a Supertaça, a tal que este ano tramou o Benfica.

É assim há muito tempo! Dá a ideia que o calendário civil terá sentido alguma inveja disto e, por isso, arranjou forma de encontrar alguma da graça da passagem do ano do futebol. Da passagem da época!

Arranjaram-se umas férias para o Natal, coisa a que apenas os ingleses, que nisto do futebol são os alemães da economia, souberam resistir. E introduziu-se-lhe o melhor da festa. Que não é o fogo de artifício, são mesmo as contratações. A abertura do mercado de Inverno reproduzia nesta altura do ano o maior factor de agitação do defeso de Junho e Julho.

É evidentemente um segundo mercado: uma réplica do original mas nem por isso coisa despicienda. Os jornais que o digam: chamam-lhe um figo!

E como o que vende é o Benfica … está tudo dito. Se em Junho e Julho todos os dias entram e saem dezenas de jogadores, em Dezembro e Janeiro a coisa não lhe fica muito atrás. Já perdi a conta aos jogadores que estão a caminho do Benfica, aos que estão mesmo prontos a assinar, vindos de todos os cantos do mundo. Uns mais cantos que outros: a Argentina é que é agora o canto – o canto dos cantos!

A maior estrela desta telenovela - vem não vem, por 10, por 11 ou por 12 milhões -, é um tal de Funes Mori. Argentino e craque, como não podia deixar de ser! Pela minha parte já nem aguento tanto suspense

No sentido inverso há o David Luiz. Dantes era o Luisão, mas esse já passou de moda. In mesmo é o rapaz dos caracóis: ora sai por 20 milhões ora não sai e fica à espera do Verão e de um mercado mais aquecido. E o Fábio Coentrão: é o Real Madrid, é o Manchester United, é o Barcelona…

Mas há ainda a outra parte da festa. É como que a outra face da moeda das férias de Natal: o regresso dos jogadores. Compreende-se: por lá é tempo de Verão, sol, praia, bikinis …e regressar a este frio e a esta chuva não é a melhor coisa do mundo. Daí que haja sempre uma outra telenovela. Brasileira, claro! Bom este ano até é mais paraguaia: o actor principal foi o Cardoso. Do Benfica, pois então!

Já regressou mas é como se lá estivesse. Por culpa da gripe A, que afinal anda por aí…

E agora deixem-me confessar-vos um feito: neste último Futebolês do ano consegui a proeza de não utilizar uma única palavra em futebolês. Mas, como isso vai contra os Estatutos, a época faz esse papel. De acordo?

E pronto. Apresso-me a desejar a todos um Bom Ano. Bem sei que é um desejo muito difícil de concretizar, mas se o fizer já – e daí me ter apressado – antes que passe a meia-noite, sei que pelo menos ainda não paga imposto!

O BPN

Por Eduardo Louro

   

É estranho. Muito estranho! De um momento para o outro o quarto poder resolveu que o BPN existe.

Explico melhor: o BPN está definitivamente instalado na campanha eleitoral. Não é o que possam estar a pensar: isso foi na campanha de há cinco anos atrás, nas últimas presidenciais! Nessa altura é que estava a financiar a campanha de um dos candidatos. Do que ganhou!

Esclarecido que não é por estar a financiar a campanha de ninguém – afinal enquanto lá não pusermos mais os tais 500 milhões não há dinheiro nem para mandar cantar um cego (que me perdoem os invisuais e os mais puristas, mas é uma expressão corrente do tempo em que as sensibilidades não eram tão susceptíveis ao politicamente correcto) – resta dizer que é por, finalmente, ter sido aceite como matéria de campanha.

Nem mais! O poder mediático, que tinha classificado a matéria como campanha suja, inaceitável e intolerável num estado de direito democrático, afinal já entende que é matéria definitivamente instalada na campanha eleitoral. E mais: quando há poucos dias era a honorabilidade do presidente candidato que estava a ser atacada por terroristas, agora já é matéria incómoda para o mesmo presidente candidato.

Mas então a que se deve tão surpreendente reviravolta?

É simples: é que agora foi o candidato Manuel Alegre – como não poderia deixar de ser mas, mesmo assim, com muito pouco jeito, como que também a medo – a introduzir a questão no debate de ontem. A diferença é só esta: outro qualquer candidato, daqueles que só existem para atrapalhar, não pode falar do caso BPN. Manuel Alegre, um candidato com cheiro a poder, já pode. É assim que funciona o quarto poder!

Pronto, agora que já se pode falar do BPN, por muito que incomode o presidente candidato – coisa que evidentemente incomoda tanto o poder mediático instituído – já posso dizer que acho muito estranho que Cavaco Silva remeta a explicação do famoso e super lucrativo negócio das acções da SLN (sociedade detentora do BPN) para as suas declarações de IRS. E que acho muito estranho que nenhum jornalista até hoje ache isso estranho: que nem um único se atreva a dizer-lhe que a declaração de IRS não explica nada disso, que apenas explica que pagou os impostos sobre o rendimento anormal do negócio. Mas que também acho estranho que Cavaco Silva seja tão crítico com a actual gestão do BPN – dando até o exemplo dos bancos ingleses, numa desajeitada e inaceitável tentativa de misturar alhos com bugalhos, o conhecido gesto de atirar areia para os olhos – e não tenha uma única palavra para a gestão criminosa do passado.

Acho estranho e deplorável. É que não é apenas por parecer que protege os seus compagnons de route agora trazidos à condição de prováveis criminosos. É que permitiu ao governo sair em socorro da gestão da CGD no BPN, esquecendo a responsabilidade pela desastrosa decisão da nacionalização. Que nem um euro custaria aos contribuintes, lembram-se?

 

 

PS: Já depois da publicação deste post a administração da CGD emitiu um comunicado obedecendo a uma ordem dada publicamente pelo governo (bem ouvi, esta tarde, Pedro Silva Pereira dar a ordem, em defesa da honra).

Nem o governo mandou, nem a administração da CGD entendeu necessário, emitir qualquer comunicado a explicar por que não se consegue vender o BPN. Nem a explicar por que é que pedem agora mais 500 milhões, quando a irregularidade de capital é de uma ordem 5 ou 6 vezes maior. Nem quando e como é que este pesadelo vai acabar!

É por isto que eu acho que Cavaco Silva foi um mau presidente, é um mau candidato e voltará a ser, infelizmente, um mau presidente. Porque, sucessivamente, não resolve coisa nenhuma e promove este tipo de coisas!

 

Que país é este?

Por Eduardo Louro

   

Os preparativos para o novo ano estão em ritmo acelerado. É normal, já só faltam dois dias…

A nova taxa de IVA está prontinha… o novo Código Contributivo já espreita por trás da cortina... os cortes de salários estão mais que preparados! Os aumentos de portagens, transportes, água, electricidade, telefones e sei lá mais o quê … estão aí! Já ao virar de sábado para domingo!

Faltavam as novas taxas moderadoras do Serviço Nacional de Saúde. Porque já só faltam dois dias o governo acabou de publicar as respectivas portarias: uma vergonha, conforme nos conta o Rui Rocha no Delito de Opinião!

Pois bem, enquanto isso o big brother da SIBS – não sei se já tinham percebido que o cartão multibanco é uma espécie de câmara oculta que, mesmo sem nos mandar sorrir, nos expõe por completo borrifando-se para a nossa intimidade – diz que neste Natal se gastaram mais não sei quantos milhões. Os stands de automóveis estão em rotura de stocks, as agências de viagens não têm mãos a medir para pôr esta malta a passar o ano por esse mundo fora – com os mais exóticos destinos já esgotados –, o Algarve está cheio (de portugueses, porque os outros pensam em poupar uns cêntimos) para a passagem de ano e até os saldos são um êxito que espanta os próprios relações públicas das grandes marcas.

Quem é que pode entender este país?

Assim já se entende que Sócrates possa fazer tudo o que faz e continuar a ter lata para se dizer o grande defensor do estado social. E vamos percebendo que ele possa, rapidamente e com a maior desfaçatez, despir o fato de coveiro (do estado social) para vestir o camuflado de tropa de elite que defende o estado esquizofrénico do país.

Um fraco rei faz fraca a forte gente: dizia-nos Camões! Há muito que não somos forte gente, tantos têm sido os fracos reis, mas … caramba! Se isto não é esquizofrenia o que será?

Que cenário!

Por Eduardo Louro

   

A actual situação política, económica e social do país faz convergir os portugueses na responsabilização da classe política. Na descredibilização dos partidos e do próprio sistema político. Hoje os portugueses não têm dúvidas em apontar os partidos, e em particular os partidos do sistema ou do arco do poder, como os grandes culpados da situação a que o país chegou.

Os sucessivos escândalos que envolvem a classe política – desde a óbvia corrupção, confirmada ou apenas suspeita, à cadeia de favorecimentos à volta do poder, passando pela incompetência nas decisões – mais não fazem que agravar a perspectiva que os portugueses têm dos políticos.

Isto é, nós portugueses não só responsabilizamos a classe política clássica, do governo à oposição, pelo buraco em que o país está metido como, dada a conta em que os temos, ainda lhes não reconhecemos qualquer capacidade para nos tirarem desse buraco.

E, no entanto, pelo que vamos vendo pelas sondagens, tudo indica que o comportamento dos portugueses, na hora de fazer uso do mais decisivo instrumento que a democracia lhes disponibiliza, se dispõem a entregar o seu voto como se nada disso fosse verdade. Parece que, ao contrário do que se passou há pouco mais de um ano, penalizam um pouco mais o governo, é certo. E premeiam o principal partido da oposição, contrariando o discurso generalizado, como se o nosso sistema político mais não seja mais que um circuito de vasos comunicantes. Fazem como precisamente sempre fizeram até aqui!

Entretanto, e perante o tsunami de sacrifícios exigidos sempre aos mesmos, lado a lado com os milhões que se enterram no BPN, ou com a antecipação dos milhares de milhões de dividendos para fugir aos impostos do próximo ano, alguns tentam dar umas alfinetadas. Tentam espevitar uma imensa mole humana meia anestesiada, que acusam de mansos e incapazes de vencer a inércia para se mexerem e protestar. Dar um safanão em tudo isto. Gritar bem alto e esbracejar para que eles vejam que existimos e que somos capazes de muito mais do que simplesmente aguentar com a carga que nos põem em cima.

É neste quadro que decorre a campanha para as próximas eleições presidenciais, supostamente um período de intenso debate.

E o que vemos?

Vemos a comunicação social a levar ao colo o actual Presidente da República e candidato maior do regime. Vemos os media a estabelecer as balizas do discurso da campanha exactamente à medida dos poderes presidenciais: se alguém toca num qualquer problema é logo acusado de ignorante ou mesmo de demagogo, porque bem sabe que aquilo não cabe nos poderes do presidente. Como se ao eleitorado não interesse saber o que pensa um candidato dos problemas do país. Como se as decisões do presidente, dentro da sua esfera de poderes, se não enquadrem num pensamento político, em opções ideológicas ou simplesmente em valores.

Vemos que o caso BPN, mesmo que plenamente justificado pela actualidade – início do julgamento, insucesso da operação de venda, insucesso da gestão após nacionalização, mais 500 milhões para as aflições (apenas para mais uma aflição, porque não cobre sequer um terço do valor negativo dos capitais próprios, portanto não resolve problema nenhum) – não pode ser trazido a debate. Que é jogo sujo, populismo, demagogia … É até tiro no pé!

E vemos o único candidato vindo de fora do sistema, aquele que parecia ter todas as condições (um assinalável capital de prestígio e um total descomprometimento com o sistema) para protagonizar uma candidatura de rotura e de esperança numa nova forma de fazer política e de, em última instância, fazer implodir o edifício velho e caduco que alberga este sistema político podre, doente e viciado tornar-se, num ápice, parecido com os outros. Com os mesmos tiques, praticamente o mesmo discurso, os mesmos truques…

Vemos uma esperança transformar-se numa desilusão. E a comunicação social a falar de falta de experiência política sempre à luz de um padrão que segue um guião amarrotado, bafiento e falido!

O Exemplo

Por Eduardo Louro

   

Rui Tavares é deputado no Parlamento Europeu. Foi eleito pelo Bloco de Esquerda nas últimas eleições, em Junho de 2009: precisamente o terceiro e último a ser eleito, num ambiente de suspense, surpresa e, finalmente, festa!

Pouco depois de chegar a Estrasburgo, no final do seu primeiro ano de mandato, soube-se da sua intenção de oferecer parte do seu salário de deputado europeu – um salário suficientemente generoso que, em tempo de constituição das listas para essas eleições, transforma as sedes partidárias em verdadeiros sacos de gatos assanhados – para bolsas de estudo. Não sei – nem me interessa – se essa decisão teve alguma coisa a ver com o cenário de suspense daquela noite eleitoral, ou mesmo com a surpresa desse êxito eleitoral decorrente de uma eleição à partida tida como muito pouco provável. Sei é que ainda há pessoas que têm da vida uma visão diferente daquela que faz carreira.

Soubemos agora, e apenas seis meses depois, em plena semana de Natal que, prescindindo de um quarto do seu salário, financiou quatro projectos de investigação de outros tantos jovens concidadãos. Ficamos a saber que o Rui Tavares, licenciado em História da Arte e a terminar um doutoramento em Paris (sobre a censura no tempo de Marquês de Pombal) é um político que cumpre o que promete – o que, como sabemos, devendo ser a coisa mais natural é a mais extraordinária do mundo. E que cumpre a partir do seu próprio bolso, o que é ainda mais extraordinário! Mas mais: ao que parece não pretende tirar dividendos políticos disso!

Simplesmente – ao que diz – ajuda porque quer, porque pode e porque acha que é seu dever. Diz que não quer outra leitura para além dessa. E que não está fazer nada que não lhe tenham já feito, ele próprio bolseiro da Fundação da Ciência e Tecnologia e licenciado na qualidade de ex-bolseiro da Universidade Nova!

Mas ficamos a saber mais: ficamos a saber que a ideia lançou amarras. Que outros políticos lhe seguiram as pisadas? Não! Evidentemente que não! Mas que três elementos dos Gato Fedorento se lhe associaram permitindo duplicar o valor das bolsas!

Tudo isto sem parangonas. E, sem que queira dar o exemplo, seja de facto o exemplo! Nem que seja apenas o exemplo de que “eles” não “são todos iguais”. Ou que não “querem todos o mesmo”

Futebolês #56 NATAL

Por Eduardo Louro

 

 

No futebol também há Natal. Já o inverso não é verdadeiro: No Natal (não) há futebol!

Em Portugal, ao contrário de Inglaterra, onde o dia de Natal – o chamado boxing day – assume a expressão máxima do futebol como espectáculo de família, o futebol mete mesmo férias. Logo que começa a cheirar a filhós ou a bolo-rei é vê-los a partir… Para o Brasil, para a Argentina, já é para todos os destinos da América do Sul. Nos aeroportos a azáfama é grande! Maior só mesmo no regresso, quando aos regressados se juntam mais uns quantos que, pela chamada janela de Inverno, vêm alimentar sonhos de uns e matar os de outros!

As férias tornam-se sempre num marco. Sejam elas quais forem há sempre um antes e um depois de férias. É assim na actividade escolar, é assim na actividade económica e, claro, é assim no futebol. Por isso o Natal é mesmo um marco mais importante do que o final da primeira volta, que acontece umas semanas depois. De resto, e estando cumprida a 14ª jornada da I Liga, portanto a uma desse marco que assinala exactamente o meio da prova, não se compreende muito bem que não tenha sido feito um esforço para acertar os dois calendários. Se não se faz esse esforço é mesmo para não retira ao Natal o papel principal. São os treinadores que não chegam ao Natal… São os campeões encontrados no Natal… E ninguém fala no treinador que não chega ao fim da primeira volta. Nem do campeão da primeira volta!

Este ano os treinadores resistiram bem ao Natal. Mas tudo tem uma explicação.

No Sporting, apesar da crise crónica, o Paulo Sérgio lá se foi aguentando. Dificilmente poderia ser de outra forma: já tinham pago ao Guimarães para o trazer; voltar a pagar para o mandar passar o Natal a casa era despesa a mais. Mas não foi por isso que deixaram de assinalar esta quadra: se no ano passado fora assinalada com a chegada de um novo treinador (o hoje comentador televisivo Carlos Carvalhal) este ano, na impossibilidade de repetir a cena, chega um director geral. É tudo em grande. Não fazem a coisa por menos: um director geral – José Peyroteu Couceiro – para cima de um director desportivo!

Não há Natal sem Jesus. E sem Jesus não há salvação, quem o diz é Pinto da Costa. Por isso no Benfica o treinador teria sempre de chegar ao Natal, por muito que as coisas estivessem complicadas. Como estiveram… Quem não chegou ao Natal foi a águia, a Vitória. Que é bem pior que perder um treinador, mesmo que se chame Jesus. Treinador é fácil de substituir, há logo mais de 100 a apertar o nó da gravata e a esticar o pescoço. É rei morto rei posto! Águias é que não há por aí à mão…E aqui que ninguém nos ouve, com a qualidade do futebol apresentado este ano, a melhor parte do espectáculo era mesmo, em grande parte das vezes, o voo da Vitória. Raramente televisionado, o que constituía fortíssimo atractivo à presença na Luz!

O treinador do Porto é normalmente menos vulnerável ao Natal. Quando o é é-o logo em dose dupla. Ou tripla! Para o Porto Natal joga mais com campeão. É mais dado a isso de campeão no Natal!

No FCP é assim: ou é ou não é, não há cá meias tintas. As coisas são tão bem feitas que produzem resultados imediatos. Nem sequer a curto prazo, é logo: tiro e queda! Veja-se bem: esta época à 4ª jornada já estava tudo arrumado. Nove pontos de avanço permitiram-lhe gerir as outras dez jornadas nas calmas – um penalti aqui outro acolá – e chegar ao Natal com oito. Bem dizia o Pinto da Costa que no ano passado se distraíram…

Bom Natal para todos!

 

Debates presidencias: Não há pachorra!

Por Eduardo Louro

   

 Confesso que assisti a poucos debates entre os candidatos às presidenciais. Nunca me senti decididamente motivado para isso. Nem suficientemente entusiasmado ao ponto de alterar o que quer que fosse das minhas rotinas para não perder pitada.

Parece-me que não estarei sozinho. Pelo menos estou acompanhado pelo novo candidato José Pinto Coelho: chegou hoje – precisamente um mês antes das eleições, o que mostra que nunca é tarde para apresentar uma candidatura – e diz que não perde nada por ter chegado atrasado aos debates: porque ninguém lhes liga nenhuma. Os próprios comentadores televisivos também lhes apontam falta de audiências e são unânimes a reconhecer que estão a passar ao lado dos portugueses.

Mas tenho-os acompanhado. À distância, mas sem os perder de vista: dou uma espreitadela aos debates (debates sobre os debates, mas é assim mesmo), leio o que se escreve e, claro, não perco o campeonato dos debates – quem ganha e quem perde! Um campeonato, pelo menos o que passa na televisão, também viciado, onde os árbitros são tudo menos imparciais.

Para não fugir à regra também não vi o de hoje: entre Cavaco Silva e Defensor de Moura. Mas vi o pós-debate, aquela coisa que parece copiada do futebol, do flash interview!

E, nesse flash interview, vi um Cavaco Silva extraordinariamente nervoso, a dizer coisas com pouco sentido. Percebi logo que alguma coisa tinha corrido mal. Ou talvez não, afinal o presidente candidato tem dito coisas com pouco sentido. Com pouco sentido entre si e com pouco a ver com a realidade: com o que fez, com o que não fez e com o que diz. Por exemplo, ainda hoje se soube que afinal o candidato que diz que nem vai ter outdoors para poupar nos gastos da campanha é o que, com grande diferença para o segundo (Manuel Alegre), mais dinheiro gasta.

Mas o que é poderia ter enervado tanto um Cavaco com sondagens cada vez mais favoráveis e nitidamente trazido ao colo pelos media?

Ah! Afinal foi o Defensor de Moura – que se candidatou para se pôr em bicos de pés (Cavaco dixit) – que se pôs a falar do BPN: dos amigos e das acções. Pois! Foi isso que enervou o candidato – que não é político, recorde-se – que qualquer um só consegue igualar em honestidade depois de nascer duas vezes!

É por essas e por outras que não tenho dúvidas em afirmar que, apesar de só hoje chegar a terreiro, e lá bem longe, no meio do Atlântico, o madeirense José Pinto Coelho foi o único candidato a dizer alguma coisa de jeito. Começou por dizer que, depois de 48 anos de fascismo salazarista e de 35 de fascismo jardinista, era tempo de os madeirenses terem direito à democracia. E depois comparou-se ao Andorinhas de Cristiano Ronaldo. Sabe que vai defrontar os grandes e perder por 10 ou 20 a zero, mas vai enfrentá-los. Assim é que é!

 

Aurélio Márcio (1919-2010): o fim de uma geração!

 

Por Eduardo Louro 

 

   

 

 

Partiu o último de uma geração ímpar no jornalismo português, do jornalismo desportivo e de A Bola: Aurélio Mário deixou-nos, aos 91 anos!

 

Com Vítor Santos, Carlos Pinhão, Carlos Miranda, Alfredo Farinha e Homero Serpa constituiu a geração que se seguiu aos fundadores de A Bola. A geração que deu asas à criação de Cândido de Oliveira, Ribeiro dos Reis e Afonso de Melo e que lhe acrescentou a qualidade que fez de A Bola uma referência prestigiada da História do jornalismo nacional.

 

Uma geração de jornalistas que soube, como poucos, cuidar da pátria de Pessoa. Com quem também uma geração de portugueses aprendeu a ler e a escrever. E a gostar de futebol... E tantas outras coisas!

 

Futebolês #55 RECEPÇÃO ORIENTADA

Por Eduardo Louro

 

Diz-se que a essência da técnica no futebol se encontra no passe e na recepção. Quer dizer, aquelas fintas mirabolantes e aqueles toques malabaristas, que tantas vezes tanto impressionam, são meros acessórios. Secundários, como tudo o que é acessório! O que verdadeiramente conta, o que faz realmente a diferença, é a precisão no passe. O passe para o sítio certo: nem mais, nem menos. Mas também o passe de rotura ou, como agora se gosta de dizer, fracturante: que rompa com a estrutura do adversário, que surpreenda e que desequilibre.

O passe longo, a romper e a desequilibrar, só rompe e só desequilibra se for bem feito. Se houver precisão! Porque, se não houver, é apenas uma maneira simples de perder a bola, pouco se distinguindo de um qualquer charuto. Que, em futebolês, nada tem a ver com o puro, o habano, que faz as minhas delícias, mas apenas com uma das maiores agressões de que a bola é vítima quando, em aflição, o jogador apenas a quer despachar, livrar-se dela sem qualquer sentido e para bem longe!

Depois do passe vem a recepção. Compreende-se bem: de nada vale um passe brilhante se, depois, quando a bola atinge o destinatário, este não lhe der a devida sequência. E a sequência imediata é, evidentemente, a recepção. É preciso saber receber bem a bola, e bem sabemos que receber bem é uma arte!

Mas para jogar futebol não basta a técnica. Não basta ser tecnicamente dotado para ser competente. É necessária, como em tudo, inteligência.

É verdade! Quem diria? O jogador de futebol tem que ser inteligente… Há inteligência de passe, evidentemente! Há inteligência na deslocação, no movimento para ir receber o passe. Na desmarcação, como se diz em futebolês! E há inteligência na recepção, que mais não é que definir a melhor sequência a dar à bola: um novo passe, um drible ou um remate.

É isto a recepção orientada: receber a bola sabendo já o que vai fazer com ela e, dessa forma, orientar todo o movimento para o passo seguinte.

É aqui que encontro um dos maiores encantos do jogo. Porque, sendo o futebol um jogo de dinâmica colectiva, saber antecipadamente o que fazer da bola implica saber o que vai fazer o colega que em cada momento a tem em seu poder. E o que vai fazer o outro, o próximo.

É pensamento estratégico no seu melhor. Que requer muita competência, a melhor combinação de trabalho e inteligência.

Perdoem-me a insistência, mas é isto que encontramos no actual Barcelona: não só a mais fantástica máquina de produzir um futebol fantástico, mas também uma das mais fabulosas marcas da actualidade, gerida com grande competência.

Estive lá no passado fim-de-semana, precisamente quando ficamos a saber que os exóticos organizadores do Mundial de 2022 irão pagar 170 milhões de euros para ocupar aquele espaço das camisolas que um dia, numa das mais inteligentes decisões estratégicas, foi entregue gratuitamente à Unicef. E assisti a um espectáculo bem diferente daqueles a que estou habituado a ver por cá. E não me refiro – claro – ao espectáculo de futebol propriamente dito: esse não é passível de qualquer tipo de comparação. Refiro-me a um estádio cheio que nem um ovo. Sem claques! Com muitas mulheres e crianças: um espelho de uma nova realidade de famílias mono parentais. Com muitas mães a vibrar com os seus filhos com os espectáculos de Camp Nou. Refiro-me a um ambiente único onde mais de cem mil se limitam a aplaudir os artistas: como na ópera. Ou no ténis! Não há gritos, nem berros, nem protestos. Apenas palmas que passam para o relvado a premiar cada lance, entrecortadas de quando em vez por um espaçado e uníssono Baaaaarça!   

E, no fim, aquela multidão feliz e deleitada inunda toda uma comunidade disposta a partir para uma nova semana de trabalho com a confiança e o optimismo de quem vive nos píncaros da auto-estima. Que chuta para bem longe a depressão colectiva que as nuvens carregadas da crise teimam em arrastar!

Táctica e carácter

Por Eduardo Louro

   

 

O Presidente Cavaco Silva voltou a promulgar uma lei vergonhosa – a lei do financiamento partidário – que, curiosamente e num momento como o actual, é o esplendor do regime no seu pior: esta partidocracia que federa os interesses asfixiantes do centrão, justamente o maior responsável pelo estado do país.

Choca-me que o Presidente tenha promulgado, ao contrário do que obviamente devia, uma lei inaceitável e inoportuna. Talvez não lhe tenham sido apresentadas muitas outras, tão inoportunas e tão inaceitáveis, em que o dever de veto fosse tão óbvio, e onde o país pudesse perceber para que serve de facto o Presidente. Mas o que eu não consigo mesmo perceber, nem sequer aceitar, é que, mais uma vez, ele venha dizer que promulgou mas não concorda.

Já assim fizera com a chamada lei do casamento gay. Tacticismo puro, disse-se então. A tão portuguesa esperteza de matar dois coelhos com uma paulada: não afrontaria o loby gay e a esquerda em geral e, expressando o dito sentimento da sua consciência, passaria a mão pelo pêlo ao seu eleitorado natural.

Discordo em absoluto desta tese. Para mim não mata dois coelhos nenhuns: deixa-os fugir a ambos! Por mim não permitiria sequer que a mão se aproximasse do meu pêlo. Para mim isso é uma grande falta de respeito pelo eleitorado. Para além de evidente traição, Cavaco menospreza o seu eleitorado, passando-lhe um autêntico atestado de menoridade. Porque a mensagem é esta: o voto deles está seguro. “Faça eu o que fizer eles lá estão, sempre caninamente fiéis”!

Agora voltou a fazê-lo. Só que desta vez no tabuleiro colocou outras peças. São outros interesses! Mas a mesma estratégia: promulga e não afronta os seus interesses e os dos partidos em que se apoia (sim, apoia-se também no PS e, no fim de contas, quem é que o PS no fundo apoia?), mas diz que discorda para que, mesmo na pele do mais antigo de todos os políticos no poder – está na actividade política há mais de 30 anos –, possa continuar a dizer que não é político profissional e, com toda a candura, que está acima dos partidos. Para o eleitorado não concorda com a lei. Para as máquinas partidárias concorda, aplaude e promulga. Que é afinal o que realmente conta!

Podem achar que não, mas eu acho que há aqui um problema qualquer. E antigo… E é de carácter! Que joga com outro, também bem antigo: a curtíssima memória dos portugueses!

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