O futebol tem, como se sabe, muito de religião. São muitos os pontos de contacto entre a religião e o futebol, muito para além do factor alienante que é frequentemente invocado! Estranhamente o futebolês não recorre muito a esses pontos de contacto: ao contrário do que poderia parecer esta crença não tem nada a ver com a fé religiosa ou com a crendice básica que tantas e tantas vezes sustenta as religiões. E a ignorância!
A crença, em futebolês, corresponde a um estado de espírito colectivo que se traduz num forte acreditar. Em acreditar em si, nos seus pares e nos seus líderes! Nada que seja exclusivo do futebol: é antes um dos alicerces de qualquer teoria de motivação. É qualquer coisa de fundamental sempre que se trate de gerir recursos humanos. E, como sabemos, tudo o que seja desporto colectivo de alto rendimento transformou-se no mais exigente laboratório de manipulação de variáveis de comportamentos físico e emocional de pessoas com vista à optimização de desempenhos.
Manuel Sérgio, o professor que tenho por grande filósofo do futebol, e que frequentemente aqui cito, usa esta expressão emblemática: “uma grande equipa vive de uma grande crença”!
É de facto assim: uma grande equipa de futebol é constituída, indubitavelmente, por grandes jogadores, por jogadores de grande capacidade técnica em boa condição física. Mas se lhes faltar a crença – uma grande capacidade psicológica capaz de os fazer ultrapassar os obstáculos, as dificuldades e as contrariedades – falta-lhe aquele plus, aquela mola que é capaz de transformar o azar em sorte, a tristeza em alegria e, no que finalmente mais importa, de virar a derrota para a vitória.
Incutir essa crença na equipa é seguramente a mais exigente das tarefas do líder, do treinador. Não havendo quem a não saiba cumprir de todo, raros, raríssimos, são os que permanentemente a conseguem desempenhar. Qualquer treinador consegue num determinado período, nem que seja num único jogo, transportar para a equipa toda a carga motivacional que a faça transcender-se. De forma idêntica qualquer jogador consegue reagir positivamente a esses estímulos. Já é bem mais difícil encontrar um treinador que consiga manter os índices psicológicos da equipa no topo, se não na totalidade, na maior parte e nos mais decisivos momentos da época. Precisamente porque essa é a sua mais exigente competência, porque é a cereja no topo do bolo, porque só resulta depois de exercidas todas as restantes competências: táctica, técnica, planeamento, comportamento e comunicação.
Exigem-se hoje muito mais qualificações aos treinadores. Percebe-se que hoje, como também diz o Prof. Manuel Sérgio,” um treinador que saiba muito de futebol, se só sabe de futebol, nem de futebol sabe”!
Esta equipa do Porto está realmente uma grande equipa porque vive de uma grande crença. De uma grande crença incutida por um treinador que, mesmo muito novo, sabe muito de futebol. Mas que não sabe só de futebol!
Por isso vai igualar o recorde do Benfica e ganhar o campeonato sem derrotas – arrisco mesmo que com apenas dois empates. Por isso chegou à Luz com dois golos de desvantagem e, acreditando, em 12 minutos em que tudo saiu bem, eliminou o Benfica. Por isso ainda agora frente aos espanhóis do Villareal – uma equipa de topo do futebol espanhol – depois de uma primeira parte (recorde-se igualmente a primeira parte do jogo da Luz) em que o adversário lhe foi claramente superior (com muitas ocasiões e com o único golo), acabou por marcar 5 golos, arrumar a questão do apuramento para a final, e atingir o terceiro jogo consecutivo na Europa com chapa 5. E por isso ninguém se lembra nem discute que, por exemplo, o decisivo segundo golo na Luz foi irregular (fora de jogo) e que o terceiro resultou da sorte de um desvio da bola num adversário. Ou que o decisivo primeiro dos 5 golos aos espanhóis surgiu logo no início da segunda parte, mas, mesmo assim, já depois de o adversário ter falhado a oportunidade de fazer o dois a zero, e através de um penalti inexistente! E que logo a seguir veio o 2-1, que levou os espanhóis a partir para a frente com pouca cabeça…
Não importa se até o beijo tem hora marcada. É o casamento do século – mesmo que este seja ainda é uma criança – e o resto é conversa!
E às portas do Palácio de Buckingham o povo pediu “só mais um”. Quebrou-se a tradição e lá de cima, da varanda, soltou-se o segundo beijo. Nem num muito british casamento real a tradição já é o que era!
Em gestão ou em pleno exercício legítimo do poder, este governo não muda na sua imensa capacidade para manter, imperturbavelmente, um discurso de costas viradas para a realidade e para o mais elementar bom senso. É o rumo de Sócrates: há muito traçado e do qual ninguém se afasta um milímetro que seja!
Hoje, enquanto Sócrates continuava a sua nobre tarefa de sacralização do PEC 4 – já a antecipar um dos seus cavalos de batalha da campanha, agora na variante da sua comparação com o que será o produto final da troika, e a adornar a sua tese conspirativa (tirou da cartola que o PSD tinha outras maneiras de provocar eleições, sem prejudicar o país) – o seu ministro mais que tudo, Silva Pereira, falava-nos de Teixeira dos Santos. Para dizer que o ministro menos que tudo está integralmente dedicado às negociações com a troika!
Isso mesmo: o ministro que Sócrates publicamente indicou como o interlocutor do governo junto da troika, o chefe mor do governo nestas negociações - na primeira afronta pública de Sócrates ao seu ministro das finanças (a segunda seria o seu afastamento das listas) - estava agora a dizer, com a maior e habitual desfaçatez, que ninguém sabe do ministro das finanças porque ele está fechado com a troika e sem tempo de sequer aparecer!
Vale a pena citá-lo: «O ministro das Finanças está integralmente dedicado, trabalhando desde muito cedo até muito tarde, para que este processo tenha um desenlace compatível com aquele que melhor serve os interesses do país», E vale a pena ainda referir que, quando os jornalistas lhe perguntaram pelo ministro das finanças, achou a pergunta “extraordinária”. Despropositada, acrescento eu! Extraordinária é no entanto a sua resposta, e volto a citá-lo: «Os portugueses sabem perfeitamente o que está a fazer o ministro das Finanças. Está a negociar o processo de ajuda externa; está a trabalhar intensamente no Ministério das Finanças com a troika europeia para defender Portugal neste processo de negociação internacional».
É fantástico! Teixeira dos Santos agora até passa por escriturário - vá lá, contabilista - de Pedro Silva Pereira!
Tão fantástico quanto o impagável (bom, com mais uma PPP talvez se consiga pagar! Lá bem mais para a frente!) ministro das Obras Públicas, António Mendonça, vir também hoje garantir que aguarda o visto do Tribunal de Contas para o TGV!
O Bloco de Esquerda surgiu e consolidou-se no nosso espectro partidário porque soube conquistar o seu próprio espaço e porque soube aproveitar as oportunidades que se lhe foram deparando. Chegou ao parlamento por força da aritmética – a soma dos votos antes dispersos pelos vários partidos que lhe deram origem -, e foi crescendo por ter sabido conquistar um espaço da esquerda que estava por preencher.
E cresceu até chegar onde chegou nas eleições de Setembro 2009. Fez-se grande ao ponto de discutir o último lugar no pódio do campeonato dos partidos. E aí as coisas começaram a correr menos bem: são muitos os exemplos das coisas que nasceram para ser pequenas e que se descaracterizam quando crescem para além daquilo para que nasceram. Umas vezes porque não sabem crescer e outras porque não o merecem!
Esta era a fatalidade do Bloco de Esquerda: ocupando um espaço da esquerda muito centrado no protesto e sustentado por um discurso mais aberto e arejado, capaz de fazer moda, estava condenado a crescer. A personagem de José Sócrates fez o resto, deu-lhe o plus! E o Bloco foi, por força desse crescimento, obrigado a sair da sua zona de conforto: o espaço de protesto. E aí estatelou-se ao comprido!
A moção de censura – mais a forma que a substância – foi a primeira grande escorregadela. A encenação com o Partido Comunista também não ajudou nada. Mas a queda, decisiva e irreversível, surge quando, colado ao PCP, se coloca de fora do quadro de diálogo com a troika que está a tomar conta do país. Diz aí o último adeus a umas centenas de milhares de votos, porque perde a confiança de uma franja de eleitorado que não entende que se voltem as costas às instituições de que o país, quer se queira quer não, depende. E com quem é indispensável dialogar, independentemente da margem de negociação.
O resto está a cargo de José Sócrates. O que é justo, parece-me: se foi esse personagem a dar-lhe o tal plus, é justo que seja ele a tirar-lho! É que desta vez o personagem vai desencadear o fenómeno de voto útil: como o meu clube, aqui há uns anos, se uniu para correr de lá com aquele tipo que toda a gente sabe, agora o país vai unir-se para correr com Sócrates. E, ao contrário do que ouço a todos analistas, - que garantem uma grande transferência de votos do Bloco para o PS – eu acho que a grande maioria dos votos irá fugir directamente para o PSD. Votos decisivos, nas circunstâncias que vamos conhecendo, para garantir a vitória de Passos Coelho.
É claro que, depois, toda a gente irá dizer que esses são os votos do Fernando Nobre. Olhem que não… olhem que não!
Pela primeira vez – e aproveitando uma Assembleia da República demissionária – o presidente Cavaco Silva, provavelmente animado por este súbito impulso de unidade, chamou os ex-presidentes (curiosamente estão vivos todos os ex-presidentes eleitos e já não estão entre nós os dois que exerceram a função por nomeação) do pós 25 de Abril para, com ele, cumprirem as comemorações oficiais. E o resultado foi um discurso oficial de apelo à convergência dos partidos, em especial dos do chamado arco do poder.
É um discurso que, percebendo-se, não deixa de soar a estranho. O que é curioso é que se perceba e se estranhe precisamente pela mesma razão!
Não me parece que se deva perceber este discurso à luz da actual crise política, económica, financeira, social e ética. Apelar à união de todos em período de crise é um lugar-comum, não traz nada de novo. Não é normal, nem sequer em meu entender razoável, que em período pré-eleitoral, e em ambiente de campanha eleitoral, se venha falar de convergência entre os partidos. Pelo contrário, em democracia o normal é, em períodos destes, salientar as diferenças e puxar pelo que distingue as diferentes opções.
Por isso acho que se poderá perceber facilmente que marcar eleições e, ao mesmo tempo, pedir a unidade dos partidos, não bate certo. Não joga a bota com a perdigota! Marcar eleições antecipadas quer dizer que é tempo de se ir à procura de novas soluções, de alternativas. Ao invés, se a ideia for procurar soluções consensuais e promover a convergências e a unidade, o que há a fazer é criar plataformas de entendimento nesse sentido. Nunca antecipar eleições!
Então porquê este anacronismo? Porque já toda a gente percebeu que as eleições não vão dar em nada. Que a solução não está ali! Que as eleições, em vez de clarificarem a situação política, tornam-na ainda mais complicada.
E, portanto, se as eleições não vão resolver o que se supunha resolverem, há que voltar à outra fórmula: procurar criar plataformas de entendimento. O que em campanha eleitoral não é fácil. Entra então aí a outra parte do discurso: aquela que, reconhecendo o bizarro que é pedir união, pede contenção no discurso de campanha. Para que da campanha não saiam minadas e envenenadas as hipóteses de entendimentos pós-eleitorais.
Quer isto dizer que foi errada a decisão de antecipar eleições? Vista daqui e de agora a resposta é clara: foi! Mas vista de então e de lá não foi um erro. Foi azar!
Visto assim o título poderá até parecer necrológico. Mas não é!
É mesmo para assinalar os seus 37 anos: uma idade madura! Para trás ficaram tempos de irreverência, tempos de sonhos e de promessas. Como as pessoas, chegado aos 37 anos, o 25 de Abril não fez tudo o que prometeu, não fez um percurso limpo e direitinho, aqui e ali perdeu-se. Desiludiu alguns e frustrou expectativas, mas sabemos como é difícil agradar a todos… Ainda na semana passada vimos alguém que reivindica a sua paternidade – já lhe ficou bem, não é agora o caso – dar conta do seu desencanto, ao ponto de confessar o seu arrependimento por essa autoproclamada paternidade. Renegá-lo - terá sido?
Aquele não é o título de um epitáfio. Ao longo destes 37 anos muitos têm sido os que o têm dado por morto. Podem alguns jurar que morreu, podem mesmo garantir que confirmaram a sua morte. Mas não! É pura ilusão, no caso e mais propriamente, pura desilusão. Porque há muitos 25 de Abril: arriscaria mesmo a dizer que há um 25 de Abril para cada um de nós. Cada um dos que tivemos a felicidade e o privilégio de o viver criou o seu próprio 25 de Abril, concebeu-o e desenhou-o à sua medida, à medida do seu próprio romantismo, da sua própria imaginação, da sua ideologia e dos seus valores.
Renova-se a cada dia 25 deste mês de Abril porque é nosso. Mantém-se vivo nas nossas memórias e manter-se-á sempre vivo se não deixarmos que desapareça das memórias que temos a responsabilidade de alimentar. Temos a responsabilidade de o manter vivo pelo menos uma vez por ano, pelo menos neste dia. Mesmo que a Assembleia da República, que mesmo demitida acaba por reunir para coisas e com fins que poucos entendem, entenda não abrir portas para lhe cantar os parabéns!
O défice de 2010 não pára! Já vai em 9,1%! Era 6,8, lembram-se?
Estatísticas, meras estatísticas que nada põem em causa, diz o governo através do agora seu novo homem forte: Vieira da Silva, ministro da Economia. A culpa é do Eurostat, que voltou a alterar as regras…
Ouvimos esta explicação e vem-nos logo á cabeça que não engoliram aquela do fundo de pensões da PT: caramba, lá nos obrigaram a puxar o gato cá para fora! Não. Nada disso, ainda não chegaram lá: era apenas qualquer coisa que faltava de umas PPP!
Pronto, já sabemos: daqui a uma ou duas semanas ainda há-de chegar essa! O Eurostat há-de voltar a alterar as regras e o défice passar para lá dos 11%. O que é que havemos de fazer? Como o Eurostat não tem mais nada que fazer entretém-se a alterar as regras de apuramento dos défices… Cada semana arranja uma nova!
Esqueletos no armário? Não … Isso é conversa de maldizentes…
E depois vou ouvindo que estes tipos estão a subir nas sondagens... Que sobem a um ritmo maior que o défice!
Ora aqui está uma das mais clássicas expressões do futebolês: duas partes distintas! Se tivesse que caracterizar esta expressão não teria dúvida nenhuma em pôr-lhe um bigode, uma camisa aberta com os pelos do peito ao léu, um cigarro na mão e um palito no canto da boca. Nem mais: uma das expressões mais populares do futebolês! E uma das mais abrangentes, particularmente do gosto de alguns treinadores.
O jogo tem duas partes, de 45 minutos cada uma, unidas por um intervalo que era de 10 minutos que, por culpa das televisões, já vai no quarto de hora. São portanto tão distintas como qualquer coisa que se distingue de qualquer outra coisa. E tão indistintas quanto acontecerem no mesmo local, nas mesmas condições e terem a mesma duração.
Observadas com mais atenção conseguimos encontrar-lhe algumas diferenças imperceptíveis a olho nu. Por exemplo: a segunda parte é normalmente um bocadinho maior, por culpa de uma coisa chamada período de compensação. O internacional extra-time que os árbitros decidem para compensar algum do tempo perdido – sempre demasiado e exagerado para quem está a ganhar e sempre de menos para quem precisaria de estar a ganhar – e que, por força das substituições, é normalmente maior na segunda parte. E também se consegue perceber que, na segunda parte, as equipas estão a jogar para o lado contrário. Mas, por mais que procuremos, não conseguimos encontrar-lhe mais diferenças. Mais nada as distingue!
Não são, na realidade, as duas partes que são distintas. O jogo é que é distinto: a atitude das equipas, as circunstâncias de jogo, a matriz táctica, a velocidade - e mais um sem número de variáveis que fazem de um jogo tão simples como o futebol um espectáculo apaixonante – é que podem fazer alterar por completo a rota traçada para o jogo. Umas vezes por estratégia assumida por um dos treinadores. Ou até por ambos! Outras por imponderáveis próprios do jogo e outras ainda por imponderáveis da simples condição humana.
Na noite da passada quarta-feira tivemos oportunidade de assistir a dois jogos com duas partes distintas. São de resto esses dois jogos, e as circunstâncias de terem decorrido à mesma hora e de ambos, tão flagrantemente, ilustrarem as duas partes distintas, que me empurraram hoje para o assunto.
A final da Taça do Rei de Espanha reeditou o duelo entre o melhor futebol do mundo (de todos os tempos, na minha opinião) – o Barcelona – e o melhor treinador do mundo à frente de um conjunto de jogadores do melhor que há - o Real Madrid. O segundo – depois do empate do passado sábado, em Madrid – de uma série de quatro que em pouco mais de duas semanas. Com uma primeira parte onde Mourinho bloqueou o Barcelona, impedindo-o não só de apresentar o seu fabuloso tic-tac como, pasme-se, de efectuar um único remate. E onde apenas o Real foi capaz de criar ocasiões de golo. A segunda foi completamente distinta: o Real Madrid já não conseguiu impedir o jogo do Barcelona, e o melhor futebol do mundo impôs-se à táctica do melhor treinador do mundo, esmagando o Real naquilo que era já outro jogo. As ocasiões de golo sucederam-se ao mesmo ritmo que se sucediam as grandes defesas de Casillas. Por isso não houve golos mas prolongamento, e mais uma parte distinta que permitiu o golo de Cristiano Ronaldo e o primeiro título de Mourinho em Madrid.
Também o Benfica-Porto teve duas partes distintas. Na primeira viu-se um Benfica atípico, mesmo contra-natura, a segurar a bola num jogo sem ritmo, a atingir 61% de posse de bola. Uma completa anormalidade perante um Porto com cultura de posse de bola, que assenta toda a sua estratégia de jogo num triângulo feito de posse, desmarcação e passe. E um Porto surpreendentemente resignado!
A segunda parte, como se sabe, foi completamente distinta! Ao ponto de inverter por completo a estatística, que fixaria, no final do jogo, a posse de bola em 50% para cada lado. É certo que o Benfica teve a infelicidade de encarar o jogo – e o que falta da época – sem os seus dois alas. Que sustentam toda a estratégia de jogo da equipa, que agitam o agitado jogo da equipa e que desequilibram os adversários. É certo que a arbitragem acertou sempre nos foras de jogo do Benfica e, na única vez em que foi chamada a acertar num único do Porto, errou. E influenciou directamente o resultado. É certo que o árbitro teve mão leve a puxar pelo primeiro cartão amarelo e nunca teve mão para o segundo que se justificou, e em mais que uma ocasião, para dois jogadores portistas. Tudo isto é já normal como, ainda no domingo, no jogo com Sporting no Dragão, se pôde ver. Mas é também verdade que foi já sem grande surpresa que o Porto fez o primeiro golo. E é certo que a equipa tinha de saber que, marcando primeiro, o Porto cresceria emocionalmente e ameaçaria tornar-se imparável. È certo que a equipa teria de estar preparada para reagir essa eventualidade. Mas não estava e em apenas dez minutos conseguiu a proeza de sofrer mais dois golos que a afastaram de uma final que todos davam por certa. E de, uma vez mais – mas agora em plena semana santa – atirar Jesus para a cruz!
Duas partes distintas! Mas haverá alguma coisa mais distinta que estas duas épocas do Benfica de Jesus?
Teixeira dos Santos, o ministro das finanças, ficará na História como o ministro da banca rota, ficará para sempre ligado à imagem do desgoverno, dos PEC`s - uns atrás dos outros sem que nada resolvam –, dos erros trágicos nas contas públicas que não param de corrigir défices em alta - 2008, 2009 e 2010 - e da falta de credibilidade do país. Quando olharmos para este que é um dos períodos mais negros da História de Portugal veremos sempre dois rostos: José Sócrates e Fernando Teixeira dos Santos!
Este é o resultado da capitulação do Teixeira dos Santos perante a estratégia suicida de Sócrates. Teixeira dos Santos, por razões que a razão desconhece, depressa deixou de ser um técnico respeitado e altamente prestigiado e de inquestionável competência, para se transformar num capacho político. No capacho de Sócrates! Depressa deixou de ser o ministro que carregava o governo às costas, que lhe dava substancia e credibilidade, para passar a ser um irresponsável e desacreditado funcionário de Sócrates. Quem o conhecia nem queria acreditar!
Ficou agora fora das listas do PS. Mas pior que ficar de fora é a forma como ficou: sozinho e abandonado como qualquer descartável. Como um cão abandonado pelo próprio dono, um dono a quem se havia dedicado com toda a fidelidade!
Adivinhara aqui este desfecho no próprio dia do debate parlamentar do PEC, quando ficou só, e já abandonado, a representar o governo no parlamento, enquanto Francisco Assis era aplaudido de pé e em êxtase. Mas também já o adivinhara quando o PS criou a doutrina – a primeira das muitas que se têm sucedido para intoxicar a opinião pública – de que o problema do PEC não passara de um erro de comunicação. Quando António Costa o exibiu – a lembrar o actual momento pascal – como o pior e o mais inábil mensageiro político do hemisfério norte. Disse eu então que Teixeira dos Santos merecia aquela sua condição de cordeiro pascal pronto para o sacrifício. Reafirmo-o agora, quando se sabe que o último e decisivo pontapé de Sócrates aconteceu precisamente quando o ministro das finanças, que há muito sabia que já devia ter pedido ajuda externa, teve que mandar uma resposta por escrito para o Jornal de Negócios a anunciá-la!
Teixeira dos Santos vendeu a alma ao diabo (nunca a expressão terá feito tanto sentido, Sócrates é mesmo o diabo)! Só o diabo nos quer comprar a alma, mais ninguém ousa fazer uma proposta dessas… A alma não é para ser vendida! E são negócios do diabo os negócios com o diabo...