Toda a gente sabe o que é um pé grande. Ou pequeno. Ou elegante, como o da Cinderela. Mas, pé alto, só no futebolês!
O que é então um pé alto?
Não! Não é um pé enfiado nestes sapatos de senhora que se usam agora. Tão altos que temos dificuldade em perceber como é que aquilo não se desmancha tudo e vem cá parar abaixo com, pelo menos, uns entorses dos valentes. Nem sequer é o pé do Sarckosy, apostado em trepar os oito centímetros que separam o seu mísero metro e sessenta e oito do imponente metro e setenta e seis da Carla Bruni. Nem o pé alto do copo do vinho, da taça de champanhe ou do candeeiro.
Pé alto é tão simplesmente quando os jogadores disputam a bola, nas alturas, com os pés. Os inventores do futebol acharam que, sendo jogado com os pés, também podia ser jogado com a cabeça. Mas que, cada macaco no seu galho: à cabeça o que é da cabeça; aos pés o que é dos pés! Nas alturas a bola disputa-se com o peito e com a cabeça. No chão com os pés. Fora disto nada mais é permitido!
Atenção que falamos de disputa da bola, não de jogar a bola. Quando se trata de apenas jogar a bola, sem ter de a disputar directamente com ninguém, cada um joga-a como quer. Melhor, como pode! Se a tanto ajudar o engenho e a arte, pode fazer-se um remate a um metro e oitenta do solo com os pés, num espectacular pontapé de bicicleta, como com a cabeça a um palmo da relva num voo picado arrepiante.
O pé alto é pois uma infracção às leis do jogo penalizada, nos termos das mesmas, com livre indirecto. Sem a chamada punição disciplinar, que já tem lugar se o pé, para além de alto, também for em riste. O pé em riste é um pé alto mas em atrevido, direitinho às pernas – e às vezes mais do que isso – do adversário.
O problema deste pé alto é que, frequentemente, são dois. Na maioria das vezes, quando um jogador levanta o pé para disputar a bola, o adversário faz exactamente o mesmo.
Quem é que o árbitro deve punir? O que o faz em primeiro lugar... Quem é que pune? O jogador do nosso clube, invariavelmente!
Ainda na última jornada do campeonato vimos isso. Isso e muito mais!
O Aimar e um adversário (do Olhanense) disputam uma bola no ar com os pés. Pé alto, de ambos, e livre indirecto. Contra o Benfica, naturalmente, porque quem levantou o pé em primeiro lugar foi o jogador do Olhanense, que não é o meu clube. O meu é o Benfica, via-se logo quem teria de ser o penalizado com o livre indirecto…
O pior foi quando, sem pé em riste nenhum e sem obviamente ter sido o primeiro a levantar o pé ao alto, aparece na mão do árbitro não o cartão amarelo do pé em riste mas o vermelho de uma agressão. De uma das mais estranhas agressões que terão acontecido no futebol. Logo à partida um jogador como Pablo Aimar a agredir um adversário é coisa estranha, de verdadeira ficção. Não cabe na cabeça de ninguém!
Bom, não é bem assim, até porque esta estranha agressão, que teve a particularidade de não ter sido sentida pelo suposto agredido – que se confessou surpreendido com a decisão do árbitro (“foi o que o árbitro entendeu” – foram as suas palavras) –, apenas foi vista por portistas e sportinguistas (e braguistas, que também os há e reclamam voz). Para os sportinguistas - que nestas coisas não gostam de deixar os seus créditos por mãos alheias - foi mesmo uma agressão brutal, que bem poderia ter incapacitado para sempre o jogador do olhanense, pondo mesmo em risco uma das suas principais funções do homem… Que dizer do que a fotografia abaixo documenta, exactamente no mesmo jogo, e que passou em claro? Ao árbitro, aos sportinguistas, às televisões, a toda a gente ...
Quem também não fez a coisa por menos foi a comissão disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que decidiu punir Aimar com dois jogos de suspensão. E que jogos: Braga e Sporting! Quando, em todas as expulsões ocorridas por cartão vermelho directo durante os cerca de 200 jogos do campeonato, a sanção se ficou sempre pelo único jogo de suspensão.
Quer dizer, os senhores que compõem este órgão disciplinar da FPF, não acham apenas que se tratou de uma agressão. Acham que foi a mais violenta agressão que aconteceu em Portugal durante toda esta época!
No debate quinzenal desta manhã na Assembleia da República, aquela senhora deputada dos Verdes muito quezilenta, refilona e estridente – Heloísa Apolónia de seu nome – às tantas, disse ao primeiro-ministro que ele estava a ficar socrático.
Estamos todos – ou quase – habituados às tiradas desta senhora deputada, sucessivamente eleita às cavalitas do PCP naquela velha coligação de que nunca se percebeu outro objectivo que não fosse o de esconder a foice e o martelo no boletim de voto. Algumas até poderão ter alguma graça – facilmente abafada pela estridência – mas raramente têm conteúdo sustentável. Esta de hoje, porém, deixou-me a pensar…
A razão que a senhora deputada invocava para referir essa linha de tendência tinha a ver com a fuga às questões, com a arte de Sócrates falar sobre o que lhe apetecia deixando sem resposta as perguntas incómodas. Não acompanhei o debate se não exactamente no momento desta tirada, pelo que não faço ideia se a senhora tinha ou não razão para concluir daquela forma.
O que me deixou a pensar, e a dar razão à senhora, não tinha pois nada a ver com o que se tivesse ou não passado no debate. Nem o ponto de contacto entre ambos que aquela tirada me sugeria podia ser a tal habilidade para deixar as perguntas sem resposta. Tem a ver com o optimismo que agora se apoderou do primeiro-ministro!
De repente Passos Coelho virou optimista. O que não é uma má notícia, antes pelo contrário. Já ninguém suportava aquele ar de quem só tinha más notícias para dar, ainda por cima sempre com um certo teor punitivo. Mas pretender fazer crer que as previsões do Banco de Portugal ontem publicadas – que chocam frontal e violentamente com a sua declaração de luz ao fundo do túnel lá para o último trimestre do ano – faz lembrar Sócrates. Lá isso faz!
E, pegar no anúncio da OPA da BRISA para, em vez de perceber ali uma manobra preventiva face à baixa cotação das acções, ver lá sinais de confiança dos investidores, faz lembrar Sócrates. Sinal de confiança dos investidores seria a Bolsa a subir para cotações no mínimo próximas dos valores das empresas cotadas. Se assim fosse, se houvesse confiança dos investidores mesmo a sério, os accionistas da BRISA não precisariam de apresentar esta OPA.
O governo vai aprovar hoje em conselho de ministros o orçamento rectificativo que, como infirmou o primeiro-ministro na entrevista de ontem à TVI – apresentada, tratada e comentada como entrevista ao primeiro-ministro quando, na realidade, foi uma entrevista ao chefe do governo e ao chefe do PSD, com o congresso em fundo – não trará novas medidas de austeridade. Mas, como também disse que não podia “jurar que não sejam precisas mais medidas”, e porque se mantém o inatingível défice de 4,5%, podemos ficar todos à espera de novos orçamentos rectificativos, lá mais para a frente, com medidas de austeridade cada vez mais insondáveis.
Nunca um governo apresentou um orçamento rectificativo ainda no primeiro trimestre, o que quer dizer, com todas as letras, que nunca um governo revelou tanta incompetência na preparação de um orçamento. O que não será exactamente abonatório para o propalado ministro da competência, Vítor Gaspar. Mas há gente a quem tudo se perdoa…
O Benfica perdeu com o Chelsea, o tal adversário escolhido pelo Jorge Jesus. Podia muito bem não ter perdido, mas perdeu! Com queixas da arbitragem - mais uma vez e a provar que não é só por cá, embora cá seja mais frequente e mais grosseiramente (não se pode dizer muito mais porque eles já ameaçam com greve) - que não viu que, às vezes, os jogadores de Abramovich jogavam a bola com a mão, uma delas bem dentro da área. Com queixas da sorte e com queixas (e saudades) do Ramires, o melhor jogador da equipa do magnata russo, que para lá vimos partir, juntamente com David Luiz (que saudades também, agora que não há Garay), a troco de uns (poucos) milhões. E com queixas do Di Mateo, que é italiano. E, de uma forma geral, de todos os jogadores do Chelsea, que não aceitavam os esquemas tácticos do André Vilas Boas mas que, pelos vistos, aceitam bem a táctica de retranca italiana deste anterior adjunto.
O Benfica, sem atingir o brilhantismo, jogou bem, e Gaitan, em particular - isto, quando é para inglês ver, é mesmo outra coisa - jogou mesmo muito bem. Que jogue assim também no que resta do campeonato nacional, para que, quando no final da época partir para Inglaterra, não deixe cá dívidas.
Podia o Benfica ter ganho, mas não ganhou, o que já se vem tornando hábito. Porque, pela primeira vez em muitos jogos, não marcou na Luz: mais um recorde, pela negativa, destes últimos tempos. A eliminatória está no mau caminho, apesar do Jorge Jesus achar que não. Na próxima quarta-feira há mais, em Londres. Mas a coisa está mal encaminhada!
Antes disso há sábado. Sábado, na Luz, com o novo líder do campeonato. É a prova dos nove!
As rendas da EDP não podem ser mexidas, como toda a gente já sabe. Explicam-nos que é o preço a pagar pelo grande negócio da privatização: os chineses só deram tanto dinheiro porque elas lá estavam. Os tipos compraram a EDP e as rendas que os consumidores estão obrigados a pagar-lhe… Pague um e leve dois!
Ora aí está: o Braga já está isolado no comando do campeonato! E, apesar do calendário difícil, no caminho que o pode levar, pela primeira vez, ao título campeão nacional.
Com o Porto a continuar sem jogar nada, e comandado por um adjunto bloqueado e obcecado, e com o Benfica irregular e distraído - e com desgaste da Champions mal planeado – o Braga tem tudo para ganhar o campeonato. É, nesta altura da época, a equipa mais forte, mais competitiva, com mais ideias e com melhor futebol. E, porque afastada muito cedo da Taça de Portugal e da Liga Europa – mal, em ambas as circunstâncias – é, a par do Porto em idênticas condições, uma equipa sujeita a menor desgaste físico e mental.
Tem a simpatia da imprensa e, tanto quanto se tem visto, a dos árbitros. Que normalmente não erram nos seus jogos ou, se erram, fazem-no em seu favor como, por exemplo, no conturbado jogo da primeira volta com o Benfica ou, recentemente, no jogo com a União de Leiria.
No jogo de hoje, que lhe abriu a mais apetecida porta do campeonato, o Braga entrou como deve entrar qualquer equipa com ambição: com uma pressão imensa em todos os espaços do campo e com uma intensidade de jogo verdadeiramente guerreira, sem deixar espaço nem tempo para a Académica respirar. Chegou ao intervalo a ganhar por dois a zero, com o segundo golo a surgir na melhor altura, em cima do apito para o final da primeira parte.
Regressou ao balneário como quem se retira para os aposentos. A segunda parte seria passada no conforto do cadeirão, à espera do adversário para depois sair rapidamente, apanhando-o em contra pé. É assim que joga e é assim que constrói os seus resultados!
Desta vez não resultou, a Académica até fez o papel que lhe estava reservado. Mas fez mais: fez um grande golo – pelo benfiquista David Simão (ontem fora Melgarejo) - e construiu oportunidades suficientes para empatar o jogo (até para ganhar). E de repente o cadeirão ficou muito desconfortável, e o Braga sofreu!
Nos últimos dez minutos não houve jogo. Apenas anti-jogo, sem quebras de energia - é curioso, e por isso de assinalar, que nunca mais houve problemas com a instalação eléctrica daquele estádio - é certo, mas com tudo o que lhe pertence!
As últimas imagens são as que ficam! Por essas não daria muito pelo novo líder da classificação. Não seriam essas que me levariam a correr para a Bwin a apostar no Braga. Mas as da primeira parte também lá estão. Não mentem e contam muito!
O futebolês acaba de enriquecer com mais um léxico: bloqueio. Este é pois bem fresquinho!
Curioso é que este novo nado tenha o pai que tem: nada mais nada menos que o trapalhão treinador do Porto. Como me parece que o adjunto mais adjunto do futebol nacional não tem capacidade natural para tamanha criação, desconfio que este não tenha sido um golpe de génio – que não tem – mas antes o resultado de uma sessão de formação acelerada e mal amanhada, tipo novas oportunidades, ministrada pelo chefe máximo.
Quis a criatura, cuja única especialidade é encontrar culpas alheias e desculpas próprias para o insucesso, matriz de uma casa pouco habituada a ele, encontrar nessa sua invenção a justificação para uma derrota que podia e devia ter sido bem mais expressiva. Mas quis mais – e é duvidando dessa sua capacidade de ver mais além que me parece que a lição tenha sido encomendada – quis, fundamentalmente, intervir no desenrolar do que resta do campeonato através do lançamento de um pseudo-anátema sobre um determinado tipo de lance, de forma a condicionar os árbitros. Nesse tipo de lance como, de uma maneira geral, nas arbitragens que tão bem sabe condicionar e manipular.
Vem nessa linha a reclamação – essa sim já a cargo do boss – de um fora de jogo a Hulk. Que nem existiu nem sequer o jogador estava isolado na cara do guarda-redes em condições de fazer golo, como quis fazer crer.
Bom. Mas isso já não é bloqueio. É querer bloquear os outros!
Quem for leitor habitual do futebolês, e ainda esteja nesta altura a ler esta 120ª edição (já sabem, este tem o número 119 mas o primeiro teve o número 0), estranhará que a prosa já vá aqui sem que tenha sequer sido dado um cheirinho que fosse de uma definição de bloqueio.
A verdade é que eu não sei dá-la. Eu não sei definir o este bloqueio do Vítor Pereira! Porque, bloqueios, tem ele muitos: os mais comuns dão-se na altura das substituições, e são já famosos. Simplesmente porque este, que ele deu à Luz – em sentido literal – não existe. É, mais do que uma invenção, uma desculpa de … mau perdedor. E, como já ficou dito, uma estratégia manhosa!
Confesso que cheguei a admitir que esta estratégia manhosa pudesse vir a transformar-se numa espécie de tiro a sair pela culatra. Ao chamar a atenção dos árbitros para as movimentações dos jogadores do Benfica na área adversária nas bolas paradas, eu tive a ingenuidade de pensar que, com a atenção bem centrada nesses lances, os árbitros passassem a ver todos os agarrões, puxões e empurrões com que os avançados do Benfica são sistematicamente brindados. Pura ingenuidade minha, como confirmaria logo na primeira oportunidade: o jogo de ontem em Olhão!
Afinal o árbitro, apesar da atenção que certamente colocou nesses lances, não viu nada de anormal. Nem os empurrões e puxões a Cardozo e a Javi Garcia. Mas viu, num lance que Aimar e um jogador do Olhanense disputaram – ambos - de pé alto, uma agressão do benfiquista a justificar a expulsão… O mesmo árbitro que já tinha visto razão para expulsar o Cardozo no jogo com o Sporting: é só por isso, porque já o fizera antes, que não posso concluir que tenha já sido o resultado da estratégia de bloqueio lançada na passada terça-feira e desenvolvida ao longo de toda a semana.
A verdade é que esta do bloqueio é apenas uma nuance - e por acaso a mais recente – de uma estratégia mais abrangente e bem mais antiga. E que resulta sempre!
O Benfica não ficou com o caminho para o título bloqueado em Olhão – já se tinham visto bloqueios em Guimarães, Coimbra e na Luz, com aquele golo em fora de jogo - pela manobra da expulsão de Aimar. Já antes havia sinais de algum bloqueamento, mas ela impediu qualquer jeito de ultrapassar os bloqueios da equipa.
E começam a não ficar muitas dúvidas sobre a frequência com a equipa bloqueia nas alturas cruciais.
A época competitiva é longa e exigente? É, mas onde é que está surpresa?
Há algumas disciplinas que fazem parte integrante da gestão de uma equipa de futebol de alta competição: planeamento, gestão da condição física da equipa, distribuição de cargas, curvas de rendimento individual e colectivo, gestão dos índices de motivação, gestão psicológica e mental, etc. Quanto mais competente e criterioso for o uso destas disciplinas menos serão os bloqueios, sejam eles quais forem.
Não sei porquê, mas vem-me frequentemente à cabeça uma famosa frase do Prof. Manuel Sérgio, por sinal dado como assessor de Jorge Jesus. Já a aqui trouxe pelo menos uma vez: “um treinador que saiba muito de futebol, se só sabe de futebol, nem de futebol sabe”!
PS: Não fiz qualquer referência à foto do cabeçalho. Os mais velhos lembrar-se-ão certamente. Para os outros: são imagens de uma célebre Supertaça (Coimbra, 1995) com o Benfica, e eram bloqueios frequentes na década de 90. O árbitro bloqueado é José Pratas!
A notícia anda por aí: Vítor Gaspar quer nomear Teixeira dos Santos, o seu antecessor, para a administração da PT em representação da Caixa Geral de Depósitos!
E é fantástica! Ou Vítor Gaspar não está bom da cabeça, coisa que nem é de todo de descartar, ou acha que o seu antecessor não tem nada a ver com a situação em que encontrou o país, o que, por si só, faria de Teixeira dos Santos um dos maiores farsantes da nossa História.
Ao que se diz, o resto do governo, com Paulo Portas à cabeça, não está pelos ajustes e parece que está disposto a medir forças com o grande Vítor Gaspar. Nada que tenha impedido já responsáveis do PSD de dizer que esse é um assunto da CGD e da PT, o que já é um sinal.
Só fica um bocadinho mais difícil de entender como é que o governo, e os partidos que o suportam, podem continuar a acusar o governo anterior de conduzir o país à banca rota. Mas, se esta gente extraordinária é capaz de tudo, também é bem capaz de ultrapassar esta pequena dificuldade!