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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

UM DIA ESPECIAL

Por Eduardo Louro

 

Com a troika por aí sem que se ouça falar nela – compreende-se, como as coisas estão recomenda-se algum recato -, com os números do desemprego na sua marcha imparável – 15,7%, sem abrandar o passo porque é preciso não deixar fugir mais a Grécia (23,1%) e a Espanha (25,1) –, com o primeiro-ministro e o ministro das finanças desaparecidos, o ministro Relvas em Timor, empenhado na refinaria da língua portuguesa, e o governo entregue a António Borges, não admira que seja o futebol a dominar a actualidade.

É verdade que não é preciso muito para que isso aconteça. Nem sequer que falte tanta coisa de um lado e sobre outra tanta do outro!

Como seja o caso de Portugal ter, pela primeira vez, todos os clubes apurados para as fases de grupos das competições europeias. Todinhos, seis: três na Champions e outros tantos na Liga Europa!

Como se isso não bastasse, hoje é o último dia para fazer negócios. Mesmo que, pelo que se vai percebendo, o mercado esteja flat, não faltará matéria para transformar este último dia de Agosto no mais quente deste Verão, num palpitante dia D.

Mesmo assim, muitas das Bolsas mundiais não desdenhariam o volume de transacções que o mercado da bola poderá atingir hoje!

Muitos serão os jogadores que hoje partirão. Mais serão as cabeças que ficarão perdidas no vazio durante umas boas semanas: as de todos aqueles que ficam às voltas com os milhões que sonharam durante três meses. Não é Hulk?

 

O "ACONTECIMENTO MUNDIAL" DO DIA

Por Eduardo Louro

 

Não admira que Real Madrid e Barcelona consigam transformar um simples jogo de futebol num acontecimento mundial!

Chegam e partem árabes e russos, a despejar milhões por todos os cantos. A Espanha afunda-se na sua e nossa crise mas, indiferentes a tudo isso, estes dois colossos tomam conta do mundo!

Ainda se não tinham atingido os 30 minutos deste acontecimento e os nossos olhos viam um Barcelona à beira do KO e um Real Madrid a mandar a crise para as ortigas, disposto à vingança final: ganhava por dois a zero, Valdez tinha evitado outros três golos e Adriano – já com a cabeça em água e a jogar no lugar de Dani Alves – tinha evitado outro, derrubando Ronaldo, que seguia isolado para o golo. Expulso, o Barça ficava com 10. À meia hora, naquele filme de imensa superioridade madrilista, e com mais um em campo, a coisa só podia acabar mal para os blau grana

Esquecemo-nos que quem joga com Messi nunca joga em inferioridade numérica, como já nos tínhamos esquecido que quem tem jogadores como aqueles que jogam de branco nunca pode estar em crise. Que quem tem Messi, e Iniesta, e Xavi, e Pedro ... nunca cai sem se levantar!

Ao minuto 45 Messi avivou-nos a memória: livre à entrada da área, barreira bem colocada, mas a bola saída dos seus pés resolve ir dar uma curva e aproveitar para entrar na baliza de Casillas. Sem qualquer hipótese…

Nos dois minutos de compensação dados pelo árbitro foi ainda Cristiano Ronaldo – que fizera no seu golo, o segundo, aquilo com que eu sonhava todas as noites quando jogava à bola (bem, na verdade, no meu sonho, o meu remate era imediato, sem deixar a bola cair depois daquele calcanhar) – a querer lembrar a Messi que também lá estava, como se ele não o soubesse bem. Um remate fabuloso, com a bola a bater nos painéis publicitários e a regressar ao campo, dando a ideia de ter sido devolvida pelo poste direito. E Di Maria, também próximo do golo.

A segunda parte veio quando já toda a gente pelo mundo fora percebera que nem havia crise nenhuma no Real Madrid nem o Barcelona estava de joelhos, quanto mais prostrado no chão. E se não começou tão intensa como a primeira, acabou por não lhe ficar atrás à medida que o tempo corria: sempre espectacular.

Até com inversão de papéis. À entrada do segundo quarto de hora, o Barcelona, joga à Real Madrid, - Mascherano, cá de trás, como Pepe e Sérgio Ramos haviam feito nos golos de Higuain e Ronaldo, isola Pedro – e quase empata. Defendeu Casillas!

Poucos minutos depois é o Real que joga à Barcelona: Khedira faz de Messi (ou de Iniesta, ou de Pedro…) e vai por ali fora e área dentro. É Valdez que salva mais uma vez o terceiro!

E os últimos dez minutos foram de cortar a respiração, com oportunidades sucessivas numa e noutra baliza.

A supertaça ficou em Madrid (pelo golo fora marcado a mais), mas isso, lá como cá, como o próprio Mourinho fez questão de salientar, é o que menos interessa. O que conta é que foi o acontecimento mundial do dia!

BRAGA DE CHAMPIONS

Por Eduardo Louro

 

Não sendo muito frequente também não é raro que equipas portuguesas, de selecção ou de clubes, se superiorizem, no chamado jogo jogado, às italianas. O que é raro é que se superiorizem no resultado!

Também é raro que, quando as coisas têm que se decidir nos penaltis, as equipas portuguesas sejam bem sucedidas. A excepção – a selecção nacional quando o adversário é a inglesa – é mesmo excepção, que apenas serve para confirmar a regra.

Pois, no play off de acesso à fase de grupos da Champions, o Braga conseguiu tudo o que é raro o futebol português conseguir: foi muito superior aos italianos da Udinesse – superior em Braga e muito superior em Udine – e, não conseguindo materializar essa superioridade em golos ao longo de 210 minutos nos dois jogos, confirmou-a no desempate através dos penaltis.

E no entanto o Braga teve tudo em seu desfavor. Desde logo o adversário jogava com o seu tipo de jogo preferido. E, dada a dialéctica de um jogo de futebol, as duas equipas dificilmente podem jogar o mesmo tipo de jogo. Depois, a Udinesse esteve sempre à frente, no marcador e na eliminatória, o que os empurrou sempre para a sua zona de desconforto: a obrigação de assumir o jogo.

Mérito de toda a estrutura bracarense. Muito mérito dos jogadores, em especial para o guarda redes Beto que, numa eliminatória em que a equipa foi tão superior, porque as equipas italianas são mesmo assim, foi ele que teve que fazer a diferença. E nem sequer entra em conta o penalti que defendeu e que ditou o sucesso porque, aí, maior que o seu mérito foi o demérito do jogador brasileiro que ainda não percebeu que não é Panenka quem quer...

Neste jogo fez poucas defesas, mas todas decisivas e de altíssima exigência. E muito mérito de José Peseiro, um homem que há muito conheço de outras lides – raramente a expressão vem tão a propósito – e um treinador que há uma década considero do melhor que há em Portugal, e cujo regresso se saúda. Competente no discurso, excelente na condução da equipa e soberbo nas substituições!

 

O EMPREGO DA PRIMA VERA

Por Eduardo Louro

 

São muitas as formas que um anúncio de recrutamento – oferta de emprego – pode assumir. Mais ou menos apelativo, mais fechado ou mais aberto nas condições de acesso, com mais ou menos exigências…

Há mesmo ofertas de emprego desenhadas à medida: os requisitos são tão fechados, tão ajustados, que se percebe de imediato que já há galo para aquele poleiro.

O que ainda se não tinha visto era uma oferta de emprego tão específica … tão específica … que já inclui o nome a pessoa a recrutar. Disto é que ainda se não tinha visto. Mas viu-se hoje e, pasme-se, publicado pelo IEFP!

Poderia fazer parte do perfil requerido. Por exemplo: licenciatura em educação de infância, 24 anos de idade, olhos azuis – que deve sempre dar mais jeito para os miúdos – cabelos louros, porque assim é que deve ser – olhos azuis/cabelos louros –, e de nome Vera – porque os miúdos já estão habituados ao nome – e apelido Pereira, que é para facilitar o processo de aprendizagem da botânica. Mas não. O anúncio exigia conhecimentos profissionais inerentes à profissão – nada mais claro nem menos lapalissiano – e nos outros conhecimentos requeridos é que surgia o nome: Vera Pereira!

Valham-nos os estímulos. E as medidas de estímulo…

O TRAULITEIRO

Por Eduardo Louro

 

A vitória expressiva do Benfica, numa exibição cheia de bons momentos colectivos mas principalmente individuais – Sálvio, Rodrigo, Aimar (mesmo no pouco tempo que jogou) e Melgarejo, a confirmar que é um muito bom jogador – não é o que mais me impressionou no jogo de ontem em Setúbal. O que mais me impressionou foi o jogo falado!

E não é pelo discurso (pós jogo) de Jorge Jesus que, atabalhoado e pouco inteligente como de costume, não merece grandes reparos. Ao contrário do da véspera do jogo, onde o catedrático deu uma aula de professor primário. Dos antigos, que induziam aquelas respostas em coro…

É pelo discurso do treinador do Vitória de Setúbal, José Mota, que teve o desplante de justificar a exibição e o resultado do Benfica com a arbitragem, arrastando consigo o presidente do clube. Para ele tudo se resolveu em três minutos, quando o árbitro expulsou o seu jogador, validou o primeiro golo do Benfica em fora de jogo e não expulsou o Luisão. No lance do primeiro golo do Benfica é discutível, à luz das imagens televisivas, se Melgarejo está ou não em posição regular. À vista desarmada é impossível a alguém de boa-fé garantir o que quer que seja. Mais grave é no entanto que tenha metido no mesmo saco a entrada violenta do Amoreirinha - daquelas de evidente maldade, com enorme probabilidade de lesionar gravemente o Melgarejo, cuja sanção não podia deixar de ser, em Portugal como em qualquer outra parte do mundo, o cartão vermelho – e uma falta por trás de Luisão, em disputa de bola, sancionada, como deveria ser mas como nem sempre é, com amarelo.

É tanto mais grave quanto seja ele o treinador mais marcado por um histórico de actos de violência praticados por jogadores das equipas que treina. E quanto se lhe tenha juntado o jogador que mais histórias de violência regista no futebol nacional (sim, muito acima do Bruno Alves) e o de maior cadastro de cartões vermelhos: Amoreirinha, precisamente.

Há jogadores carroceiros. José Mota é mais que um treinador carroceiro. Depois destas declarações é claro que é um treinador que, em vez de ensinar os jogadores a jogar à bola, ensina-os a partir pernas!

Um trauliteiro. Mas não é de Miranda!

TEMA DA SEMANA #5 - RTP

Por Eduardo Louro

 

António Borges, o chefe de vendas que Passos Coelho contratou para vender Portugal, e que vai assumindo sem qualquer constrangimento o papel de maior odioso de todos os agentes políticos do poder, lançou o tema da semana.

Quando se pensava que na agenda política sobressairiam os dados económicos do primeiro semestre divulgados pelo INE - que não só comprovam a falência total do programa da troika e da acção deste governo que, nascido da esperança, acaba por confirmar a de todo improvável proeza de ser ainda pior que o anterior – e a confirmação final do adeus ao cumprimento do défice, por alma de quem se enterrou a economia portuguesa e se destruiu a classe média, eis que surge a privatização da RTP a dominar as primeiras páginas e a tomar conta dos comentários nas televisões.

Quando o tal senhor, que não sendo ministro mas que é o executivo mor do governo, revelou aquilo a que chamou solução atraente – eu diria mais, é uma solução muito mais que atraente: é um negócio sem risco para o investidor, como foi o da EDP e como são todos os que este senhor engendrar, porque ele não existe para outra coisa – pensei que aquilo não passaria de uma brincadeira para que se não falasse daqueles resultados. Pensei que o governo tinha todo o interesse em tapar aqueles resultados e entreter a opinião pública com outras coisas, até porque a troika chega já amanhã e haverá de servir de amortecedor.

Em alternativa poderia ser que se tratasse de um balão de ensaio: um tipo que não tem nada a perder – creio que na consideração e no respeito dos portugueses já perdeu tudo o que tinha para perder – lança o barro à parede e logo se vê como corre. Porque, evidentemente, ninguém acredita que uma coisa destas fosse lançada por António Borges sem que estivesse cozinhada no governo!

Sou a favor da privatização da RTP, como já aqui manifestei em várias ocasiões. Que não a favor da erradicação do serviço público de rádio e televisão – que poderia ser incluído nos contratos de concessão de licenças - como igualmente aqui tenha defendido. Não é que seja, em tese, contra a existência de rádio e televisão públicas. Antes pelo contrário! Sou é contra uma estação pública de rádio e televisão em Portugal, neste país concreto governado por esta gente concreta. Que a usa para nela interferir e para nela despudoradamente acoitar clientelas à custa do nosso dinheiro!

Por isso apoiei a intenção de privatizar a RTP, logo que Passos Coelho a anunciou na campanha eleitoral. Ora, privatizar não é nada disto. Depois de comissões e mais comissões a estudar o assunto, de milhões e milhões gastos em consultores, e de um ano de voltas e reviravoltas no processo, vêm dizer-nos que há uma solução atraente: entregar a exploração da RTP a privados (e vamos a ver quem são - já todos desconfiamos!) continuando nós a pagar!

Esta gente anda mesmo a brincar connosco!

NOTAS E VISTAS DO CAMPO (VII) - AFECTOS

Convidado: Luís Fialho de Almeida


Depois de alguns meses de ausência volto ao meu registo de observador do espaço rural.

Como uma criança que precisa de toda a atenção, as plantas, em cada ciclo vegetativo, precisam de particular atenção entre o despertar, no fim do Inverno, e a maturidade dos frutos, no Verão. Chegada a colheita é tempo de avaliação, pelo que será esta a nota dominante da minha vista do campo. Depois de várias décadas de aproximação ao sector agrícola, nos últimos dois anos, dediquei-me quase em exclusividade à actividade, procurando preservar e manter viável algo que tem origens em património familiar associado a histórias e afectos.

Os meus povoamentos frutícolas, diversificados na espécie e na idade, procuram sobreviver com a disponibilidade de recursos, acompanhamento técnico e laboratorial do estado nutritivo ao nível do solo, da água e das folhas. Ao longo de um ciclo cultural há dezenas de contactos com cada planta, para observação e intervenção preocupada, para que haja, igualmente, momentos de contemplação afectuosa e agradecida.

Mas, para além dos afectos, há o pragmatismo económico traduzido em rentabilidade, e é aqui que tudo se modifica. Alguns agrupamentos de produtores e empresas do sector só agora procederam ao pagamento das produções colhidas em 2011, junto dos seus associados e fornecedores, mas a preços próximos ou abaixo do real custo de produção. Entretanto, as grandes superfícies comerciais - detentoras do monopólio de 85 a 90% da distribuição agroalimentar - permitem-se ficar com a maior fatia dos lucros da cadeia de valor, lucros que sustentam ostensivas operações de marketing e engrossam a riqueza dos seus administradores. No princípio desta cadeia, estão os produtores que não tem mais ninguém atrás de si para quem remeter os custos desses devaneios publicitários e da generosidade farisaica, quando se oferecem às IPSS os produtos dos Mega Pic-Nic, nem dos prejuízos resultantes das baixas produções associadas a imponderáveis climatéricos adversos, ocorrências para as quais os seguros agrícolas são pouco abrangentes nos riscos e insuportáveis nos custos. Contrariamente à fileira agroalimentar, na fileira dos combustíveis a produção impõe os preços, os distribuidores asseguram as respectivas margens de lucro, como sempre e, finalmente, o consumidor tudo suporta.

À produção competitiva exige-se elevada produtividade, qualidade, segurança alimentar e preservação ambiental, respeitando os encargos laborais e sociais, mas nada a protege da concorrência dos produtos de outras origens, designadamente de países com sistemas de produção que são atentados à humanidade, conseguindo, por isso, custos de produção significativamente inferiores.

Assim, os meus pomares estão agora para adopção, nomeadamente as minhas pereiras sexagenárias – crescemos juntos – sobreviveram ao tempo da ditadura do estado, pacientemente foram modificadas no porte e fisionomia, nas técnicas de cultivo e os seus frutos viajaram para o mercado interno, para o Brasil e Inglaterra. Mas os desafios actuais obrigam a alterar a nossa relação, pelo que iniciei um processo de aceitação de candidatos à sua adopção, esperando encontrar alguém capaz de lhes assegurar a vida para além da voracidade dos mercados, da cegueira neoliberal, da dívida soberana e, particularmente, da ganância dos vampiros que chupam o sangue fresco da manada – (Zeca Afonso). Estes retiram para si o maior lucro da fileira agroalimentar, tornando-se os mais ricos do país, com a indiferença de políticos medíocres que permitem a convivência de plantas respeitáveis, condenadas a morrer dignamente de pé, com os “Relvas” – relvas infestantes, quais doutores por certidão administrativa, que parasitam a paciência e o trabalho do cidadão comum, resignado com a companhia da televisão de entretenimento e a cerveja.

Análise mais especializada do capitalismo, do liberalismo e da globalização de mercados, encontrará nestes modelos muitos defeitos, mas no passado, do feudalismo à actualidade, outros modelos não tiveram sucesso. A ineficácia dos modelos estará, eventualmente, mais no mau uso que os diversos actores fazem dos mesmos, e a sociedade nunca foi de anjos. A crise é, também, uma oportunidade para destapar fraudes e corrigir excessos, desde que sejamos vigilantes e intervenientes como é próprio da democracia, até por princípios cívicos e éticos.

Deste modo, fica aqui a minha denúncia e o testemunho que a agricultura de afectos fica remetida para as varandas, quintais e hortas urbanas. Para alguns, poderá ser ainda um ginásio e uma terapia, para outros, uma tentativa de sobrevivência insistindo em aproveitar terrenos ao dispor, constatando, por vezes, que a galinha de campo ou o porco lhes ficam ao preço do lavagante. 

NEIL AMSTRONG

Por Eduardo Louro

 

Dois dias depois do assassínio de Lance, morreu o terceiro mais dos mais famosos Amstrongs: Neil. Que ganhou o direito à fama precisamente dois antes de morrer o mais famoso deles: Louis (1971)!

Transportou a humanidade para a Lua, cumprindo um velho sonho a bordo da Apolo 11, na companhia de Buzz Aldrin e Michael Collins. Foi o primeiro a pisar solo lunar e também o primeiro dos três a partir!

“Um pequeno passo para o Homem, um salto gigantesco para a Humanidade” foi a expressão que então usou. Mesmo que, quarenta anos depois, para a Humanidade pouco mais tenha sobrado que aquele pequeno passo, a frase ficou mítica.

Mas os mitos são isso mesmo!

 

VOLTA A PORTUGAL (IV)

Por Eduardo Louro

 

David Blanco será o vencedor da Volta a Portugal, pela quinta vez. Feito único na História, e previsível!

Depois da Serra da Estrela, com os dez primeiros separados por pouco mais de um minuto, e com David Blanco e Hugo Sabido, os dois primeiros, separados por oito segundos – ditados pela bonificação de 10 segundos do espanhol mais português do pelotão pela sua vitória na etapa de ontem - seria o contra-relógio de hoje a fazer a diferença. E fez: os dez primeiros são os mesmos que já o eram, mas o décimo ficou já a bem mais de 3 minutos do primeiro. E Davido Blanco, que foi hoje o quarto em Leiria – ganhou o espanhol Alejandro Marque, do Tavira que, perdendo o azarado Ricardo Mestre, vencedor do ano passado e dado como o mais forte adversário para Blanco, obteve a sua primeira vitória nesta Volta – ganhou 14 segundos a Sabido, ficando agora com 22 de vantagem.

Também o pódio ficou definido e como estava, com Rui Sousa a conseguir defender o terceiro lugar que trazia da Serra, onde já garantira a título de melhor trepador. Bem como o Prémio da Juventude, confirmado hoje pelo espanhol David de la Cruz.

Para definir na etapa de consagração de amanhã ficou a camisola dos pontos, que de Sérgio Ribeiro roubara ontem ao sul-africano Van Rensbur (segundo no contra-relógio) para lha devolver hoje.

E pronto. Cai amanhã o pano sobre esta 74ª Volta a Portugal: uma volta a Portugal de D. Afonso Henriques, que não chegou a ser rei de Portugal e dos Algarves, que assim explica porque é que há uma Volta ao Algarve e uma Volta ao Alentejo: porque a Volta a Portugal não chega lá!

Uma última nota marginal mas que me impressiona particularmente e que, de alguma forma, dá conta de um Portugal que é muito diferente do de há alguns anos. Refiro-me à facilidade de expressão dos ciclistas portugueses, na generalidade!

Nas sucessivas entrevistas exprimem-se com grande à vontade, num português escorreito e, com grande lucidez, dizem coisas. Não falam, não soltam banalidades e lugares comuns: dizem! Pronunciam-se sobre fisiologia, sobre os incidentes da corrida, sobre os aspectos técnicos, tudo com a propósito. Tudo com boa fluência, sem pontapés na gramática e com um vocabulário digno!

Como é diferente do futebol… Os jogadores de futebol, que ganham milhões, deveriam pôr os olhos (e os ouvidos) nestes atletas!

Finalmente, e porque vem a propósito – também a carapuça serve aos jogadores de futebol -, quero salientar o esforço dos ciclistas espanhóis em expressarem-se em português. É corrente, e praticamente geral, nos ciclistas que integram equipas portuguesas, mas mesmo nos que representam formações espanholas. Notável!

Mais notável só a parolice dos entrevistadores da televisão portuguesa, que os entrevistam em portunhol. Mais caricato que às perguntas em portunhol eles responderem em português, é - como ainda hoje se verificou na transmissão em directo do contra-relógio – o pivô da emissão, no caso o simpático João Pedro Mendonça, proceder à dobragem. Por cima, traduzir para português a pergunta em portunhol e a resposta do ciclista espanhol ... em português. Com sotaque espanhol, mas em português puro e claro!

Enfim: às vezes parece que há uns portugueses que querem andar para a frente enquanto outros insistem em não sair do mesmo sítio. O grave é que estes sejam os que têm mais responsabilidades!

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