O José Gomes Ferreira, para além de ser um entrevistador acutilante, conduz as entrevistas por terrenos de substância. Digamos que prefere os conteúdos técnicos aos políticos, os conteúdos objectivos aos vagos, as questões práticas às teóricas… E quando assim é o plástico fica mais à vista!
Depois da entrevista de ontem, de António José Seguro fica ainda mais plástico!
António Costa esperava por uma vaga de fundo, uma onda que o levasse, na sua crista, ao ponto mais alto do poleiro socialista. Ouviu falar na onda da Nazaré, que levaria o nome desta minha praia - será sempre a minha praia, mesmo que aquela não seja a minha onda - ao topo do mundo, e pensou que… era aquela. Que aquela onda gigante não tinha aparecido na Nazaré para Garret McNamara surfar e voltar a bater o seu recorde mundial, mas apenas para o levar ao destino que há muito o destino lhe traçara.
Foi já tarde, bem tarde, que percebeu o que se estava a passar. Aquela era uma onda demasiado grande e, como o pobre faz da esmola quando é grande, desconfiou. E não a pegou, deixou que morresse na praia... perante desespero dos socratistas.
Aquela era a sua – deles - onda, onde tudo tinham apostado, convencidos da já crónica fraca memória dos portugueses. E convencidos também que, com o sol da ambição a bater-lhe nos olhos, Costa não perceberia que aquele seria um sol de pouca dura!
Uma sucessão de erros de cálculo que acabou num triste espectáculo. Mas clarificador!
Sócrates, lá por Paris, deve ter ficado a perceber que, para apanhar a onda, terá que ser ele a trepá-la. Não tem cá tropas que lhe façam isso.
António Costa deve ter percebido que não lhe chega ter boa imprensa. Precisa de tropas - que não tem – porque com as tropas dos outros não chega lá. Saiu pela porta pequena, e com sérios riscos de até Lisboa perder.
Seguro, que não tem autoridade nenhuma para acusar quem quer que seja de falta de lealdade – porque disso pode toda a gente acusá-lo, conspirou na sombra durante todo o consolado de Sócrates mas sempre sem coragem para dar a cara, sempre escondido por trás dos arbustos -, provavelmente com mais facilidade do que alguma vez imaginara, ganhou novo fôlego. Que, já se percebeu, não lhe servirá para muito…
Quem se fica a rir é Passos Coelho, que sabe que pode dormir descansado. Assim a consciência lho permita…
Tanta agitação no Rato para nada. Só se não diz que a montanha pariu um rato para fugir ao trocadilho.
É inacreditável, mas parece que é assim: António Costa renunciou à candidatura, e reina a paz em todo o território socialista!
O PS deu mais um triste espectáculo ao país. Se já era difícil tê-los em boa conta, a partir de agora é simplesmente impossível. E, não servindo para alternativa, o PS não serve para coisa nenhuma!
Está à vista de todos que os problemas da RTP são tecnológicos. Só alguém mesmo estúpido é que não consegue perceber que a RTP precisa de um parceiro tecnológico que nem de pão para a boca. Que um plano de reestruturação da RTP obriga a um parceiro tecnológico!
E pronto: lá terá Miguel Relvas que permanecer no governo. Pelo menos até encontrar tão fundamental e tão decisivo parceiro para a RTP!
Palavras para quê? É um artista portugês. É Relvas igual a si próprio... No seu melhor!
A disputa interna no PS, e a marcação da data do congresso – antes ou depois das autárquicas é a questão - transformou-se rapidamente no tema da semana.
Sempre me pareceu óbvio que seria do interesse de Seguro marcá-lo para depois das próximas eleições de Outubro: os resultados do partido serão necessariamente bons, penalizando o partido no governo, como sempre acontece. Em Lisboa, ainda e sempre o resultado mais relevante, Seguro ganharia sempre: ganharia se Costa ganhasse, ganharia se Costa perdesse e ganharia ainda se Costa não ganhasse nem perdesse. Porque ganhando, ganharia o partido. E perdendo, mais do que perder o partido, perderia o seu rival. Se António Costa decidisse não ir a jogo, o PS ficaria sem candidato ganhador. O partido perderia provavelmente Lisboa, o que não deixaria de ser levado a débito do actual presidente da Câmara de Lisboa, por ter colocado os seus interesses acima dos do partido.
António Costa, pelo contrário – evidentemente – teria interesse em que o Congresso precedesse as eleições autárquicas. Porque Seguro não teria oportunidade de tirar partido da expectável vitória eleitoral e porque não seria ele próprio obrigado a expor-se a um resultado eleitoral, com o qual tem pessoalmente pouco a ganhar e muito a perder. Ficando ainda com grande espaço de manobra para lidar com a gestão da sua decisão sobre a recandidatura a Lisboa.
Curiosamente não é esta a perspectiva da maior parte dos comentadores encartados. Marcelo Rebelo de Sousa, que os comparava, ontem, à tv a cores (António Costa) e a preto e branco (Seguro) entende precisamente o contrário. Mas a verdade é que não explica porquê, limitando-se a concluir que, numa disputa antes das eleições, António Costa sairá derrotado, embora argumente que, "para Seguro, é ideal a eleição do líder ser antes das autárquicas, porque apanha António Costa no meio de duas corridas: PS e Lisboa”.
Não me parece que o argumento colha. Até porque, como já se percebeu, António Costa já descartou Lisboa. Utilizou-a para se esconder há dois anos atrás, permitindo que esta ” tv a preto e branco” chegasse à liderança do partido, porque o único cheiro que captava era o da areia do deserto. Descarta-a agora, que o cheiro a poder entra pelas narinas dentro!
Antes de dizer que este foi um grande jogo – talvez melhor, uma grande primeira parte – apetece-me dizer que, ao contrário dos últimos, este foi um jogo fair. Sem truques, sem quebras na iluminação, comportamento imaculado do público e dos jogadores e sem arbitragens habilidosas. Tão fair que nem o Lima festejou o seu golo, o que, mesmo como benfiquista, aplaudo. O respeito é sempre de aplaudir, e não mancha coisa nenhuma!
Pronto. Agora já posso dizer que, se não foi um super jogo, foi um grande jogo, com uma super primeira parte!
Porque a segunda parte não foi, nem tão bem jogada, nem tão intensa, nem tão espectacular. Mas foi, do lado do Benfica, a confirmação – se é que era necessária – da grande pecha da equipa. Daquilo que lhe falta para ser uma grande equipa de futebol em qualquer parte do mundo!
Não há equipa que possa controlar todo um jogo, e todos os jogos, exclusivamente a partir de um domínio avassalador, vertiginoso e mesmo frenético. É preciso saber controlar os jogos quando não é possível dominá-los!
Sempre que o Benfica pretende controlar um jogo através de mecanismos de simples controlo, abdicando dos seus princípios dominadores, as coisas não saem, nem de perto nem de longe, com a mesma eficácia. Com 2-0 ao intervalo, o Benfica surgiu na segunda parte numa atitude táctica de contenção. Na tal tentativa de controlar o jogo e de defender o resultado que, mais uma vez, lhe retirou a supremacia no jogo.
Não foi novidade, num jogo de novidades. De novidades tácticas no Benfica, da novidade de Jesus, pelo Benfica, vencer em Braga e de saudáveis novidades no ambiente da Pedreira!
Foi curiosamente com alguma novidade que o Braga chegou ao golo, na precisa altura em que o Benfica parecia conseguir controlar o jogo, mesmo sem manifestamente se superiorizar ao adversário. Só o pouco tempo que sobrava, e depois a expulsão – decisão acertada do árbitro, porque o Lima ficava isolado na cara do guarda redes do Braga - do seu defesa, já nos últimos minutos, impediram que o Braga conseguisse ameaçar seriamente a justa vitória benfiquista.
Quatro notas finais. Duas para saudar dois regressos: o regresso de Gaitan à posição 10, pelo impedimento de Cardozo, e o de Urreta Viscaya, curiosamente numa época marcada pela inflação de jogadores das alas. Outra para saudar o fim do mito dos árbitros internacionais: as melhores arbitragens não estão claramente aí. E, the last not the least, a homenagem a MIklos Feher: não teve pompa nem circunstância, mas o seu nome ouviu-se no estádio na parte final do jogo. Não sei de onde veio, se de benfiquistas, de braguistas se de ambos. Sei que, no final do jogo, quando o resultado do jogo prendia as emoções, se cantou nas bancadas “Miklos Feher…Miklos Feher …”
É sem dúvida o soundbyte da semana. Bem treinada e melhor encenada, foi a resposta ensaiada por António José Seguro perante as primeiras ofensivas dos seus adversários, pressionando a antecipação do congresso.
Não sei se Seguro merece a sorte que protege os audazes. Como há muito se sabe que audácia é coisa que lhe não sobra, sou levado a crer que não a merecerá. E, não tendo dessa sorte, provavelmente não terá doutra!
Sem sorte e sem engenho não há nada que lhe corra bem. Por mais ensaiado que seja, ou mesmo que se esforce um bocadinho. Numa semana em que o governo apostou forte, e em que foi praticamente demolidor, Seguro, sem engenho nem arte para desmontar a encenação governamental, e acossado – também por via disso – pelos seus adversários internos, refugiou-se no soundbyte. Pior forma de reagir a resultados - mais a mais resultados que o governo apregoava como feitos notáveis - que um soundbyte só um soundbyte muito teatralizado!
Para acabar de vez com a imagem e a capacidade de afirmação de António José Seguro, pior ainda que um soundbyte muito teatralizado, só um soundbyte muito teatralizado logo esvaziado. Quando logo a seguir, com toda a pressa, marcou de urgência a reunião da Comissão Política Nacional para debater a situação política interna esvaziou o seu muito teatralizado soundbyte. Pior: virou o feitiço contra o feiticeiro. E acabou de vez com a escassa margem de manobra política que lhe restava. Está agora encurralado!