Não sei se, por esta altura, há benfiquistas muito felizes. Não serei um deles, mas tenho de confessar que compenso muita da tristeza, e até da angústia que me invade, com a enorme onda de solidariedade que, mais que simplesmente notar-se, se sente na equipa.
Aquilo a que assistimos, e pudemos voltar hoje a ver na Suíça, no jogo com o Athletic de Bilbau, é a extraordinária solidariedade de todos jogadores com um colega que invariavelmente os visita em cada Verão, com quem partilham todos os anos os meses de Julho e Agosto. Não querem mais bulling, como aqui lhe chamei, sobre o pobre do Jara e, num gesto de solidariedade nunca visto, decidiram ser onze Jaras em campo!
Claro que, se como já lá diz o Jorge Jesus só trabalho não basta, é também preciso qualidade, também para tamanha campanha de solidariedade só os jogadores não bastam, é também precisa a administração. E é também preciso o próprio treinador!
E a grande verdade é que não fugiram, não viraram a cara à missão… Foram também de uma solidariedade fantástica e trataram de arranjar mais e mais jogadores, cada um pior que o outro e todos ainda piores que o próprio Jara…
Digam lá se não é bonito?
Confesso-me tocado, bem lá no fundo do meu coração benfiquista. Com este tão bonito e tocante acto de solidariedade, e com os apelos que os comentadores da BTV - sim, encurtou o nome, já não é Benfica, é apenas B - lançam ao meu melhor espírito de compreensão, e com as explicações que encontram para tudo isto, já me sinto outro. Qual angústia, qual carapuça...
Os prejuízos foram além das piores expectativas: perto de 4 mil milhões de euros! O BES não pára de perder valor no mercado, com as acções a cairem todos os dias num buraco onde se não encontra o fundo… Contagia toda a Bolsa, enterra toda a banca e enterra a PT, e contagia os juros da dívida pública …
Já se percebe que, com os mercados a reagirem desta maneira, não aparecerão investidores privados para o aumento de capital do banco. Resta o recurso ao fundo de capitalização, agora inequívoco, sem qualquer dúvida. Mais uma machadada no Banco de Portugal… Que, como temos visto, já disse de tudo. Tudo sempre de imediato desmentido pela obstinada realidade!
Havia almofadas – não há! Havia investidores – não há!
Bem pode agora inibir administradores e impedir direitos de voto… Chegou tarde, chega sempre tarde!
Temos a noção que é o sector exportador que tem vindo a segurar a economia nacional nos últimos anos. O mercado interno, se não morreu, não anda muito longe disso…
Contam-nos maravilhas desse sector. É sucesso em cima de sucesso, êxitos atrás de êxitos… A coisa só fica mais estranha quando as exportações caem, e nos vêm dizer que foi assim porque uma parte da refinaria de Sines teve que parar para manutenção. Fica tão mais estranho quanto, por enquanto, ainda não foi descoberto petróleo em Portugal. Nem aqui em Alcobaça, onde há tanto tempo andam à procura dele…
Sabemos que as exportações portuguesas estão extraordinariamente dependentes dos combustíveis e do sector automóvel. Deste, sabemos que é Auto Europa, o resto são aquelas fábricas que todos os dias vão fechando ou encerrando turnos, como ainda agora voltou a suceder na PSA de Mangualde, lançando novas centenas de trabalhadores no desemprego. E da Auto Europa sabe-se como é: sempre de coração nas mãos à espera de um novo modelo. E da boa vontade dos alemães…
Mas pronto, essa é a nossa sina. Valha-nos que operamos autênticos milagres nos sectores tradicionais, em especial nos têxteis e ainda mais em especial no calçado. Que mudou por completo de paradigma, passando da tradicional mão-de-obra intensiva e da vergonha da exploração de mão-de-obra infantil para unidades de alta tecnologia e, antes e depois de tudo, de design e marca. De alto valor acrescentado, levando o calçado português ao topo dos mercados, em pé de igualdade com o italiano…
É isto que nos contam, não é?
Já estive bem por dentro da indústria, em empresas nacionais e internacionais. Estou afastado desta actividade há mais de vinte anos, mas confesso que me faz alguma confusão articular todo este sucesso da indústria nacional do calçado com o preço médio unitário de exportação, e mesmo com a sua evolução. O preço médio do par de calçado exportado foi de 23,12 euros em 2013, pouco mais de 3% acima dos 22,29 do ano anterior...
Tenho alguma dificuldade em associar a estes preços um grande impacto de factores de prestígio, como marca e design. E ainda mais em descortinar ali uma grande expressão de criação de valor… Posso estar enganado, mas parece-me que se andam a contar demasiadas histórias acerca das exportações.
Não se pode negar o sucesso de marcas como Luís Onofre, ou mesmo Fly London ou Pablo Fuster, por exemplo. Mas muito menos se pode afirmar que são o padrão das nossas exportações!
Dantes era a almofada. O BES tinha almofada financeira para tudo... Eram mais de dois mil milhões de euros!
Gente supostamente responsável - como o governador do Banco de Portugal, e o próprio Presidente da República - mas também os papagaios todos que por aí andam disfarçados de jornalistas económicos, garantiam urbi et orbi que o Banco tinha almofada financeira para a exposição ao GES.
Ainda na semana passada, na excursão da CPLP a Dili em homenagem a Obiang, o Presidente da República garantia que os portugueses podem confiar no BES "dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo na situação mais adversa"...
Afinal não há almofada, nem folgas. Os prejuízos chegam aos três mil milhões de euros, e por isso a apresentação das contas do primeiro semestre tem vindo a ser adiada... E precisa mesmo de novo aumento de capital. Haja interessados, porque, se não, lá vai agora o fundo de capitalização... Os tais 6 mil mulhões que, diz-se, ainda estarão guardados. E a custar muito dinheiro em juros, os tais que apertam com o défice. Que, no entanto, para os nossos jornais económicos, os mesmos da almofada, apenas aumenta pelos salários!
E assim foi. Ou quase, já que o lituano Navardauskas consegui adiantar-se um bocadinho - sete segundos apenas - ao pelotão e ganhar, deixando os especialistas do sprint, onde voltava a faltar Kittel, mas também Greipel, a discutir o segundo lugar. Até se chegar ao contra-relógio onde, como se esperava, Tony Martin voltou a não ter rival. Ganhou categoricamente, com Nibali - que, sem qualquer pressão e totalmente à vontade na classificação, não terá naturalmente sentido necessidade de dar o seu melhor - a fazer o quarto tempo, com mais 1´e 58"!
Na disputa pelo segundo lugar Péraud, sétimo no contra-relógio com mais 2´e 27" que Martin, levou a melhor sobre Thibaut Pinot. Que ficou com o último lugar de um pódio com dois franceses, que há muitos, muitos anos se não via.
Quem voltou a ficar fora do pódio, naquela que terá certamente sido a sua última oportunidade, foi o espanhol Alejandro Valverde, atirado nos Pirinéus do segundo para o quarto lugar mas, ainda assim, com apenas quinze segundos para recuperar. Voltou a falhar, e os quinze segundos que tinha para o segundo lugar de Pinot, transformaram-se em 2´e 3" para o mesmo segundo lugar depois de Péraud.
Com tudo decidido correu-se ontem a etapa do champagne, com Kittel finalmente de regresso às vitórias, repetindo com o Arco do Triunfo à vista o mais apetitoso dos sprints vitoriosos. Foi por pouco, menos de meia roda sobre Kristoff, mas o suficiente para, depois daquelas três vitórias nas quatro primeiras etapas, e de mais de duas semanas como que desaparecido em combate, igualar as quatro de Nibali.
Este foi o Tour das quedas. Não sei se teve mais quedas que os anteriores, mas teve mais quedas com mais consequências. Só candidatos foram dois - e que dois: Froome e Contador. Mas também e ainda o papa-etapas Cavendish, o melhor sprinter mundial dos últimos anos!
Mas foi, acima de tudo, o Tour de Nibali. Ganhou com uma autoridade raramente vista, só ao alcance dos grandes campeões. Ganhou quatro etapas, e sempre as de maior grau de dificuldade. Nunca se deixou atacar. Para nunca ter de se defender, foi sempre ele a atacar. Impressionante!
Percebeu-se que se preparou para ganhar este Tour, e ganhou com mérito indiscutível, deixando a ideia bem clara que ganharia mesmo com Froome e Contador. Nunca ninguém o poderá provar, evidentemente. Deu para perceber, nas 10 etapas que Contador disputou, que o espanhol não estaria à sua altura. Froome ficou de fora logo na terceira etapa, mas mesmo aí já Nibali tinha ganho, na segunda. A verdade é que a superioridade que Nibali evidenciou deixa definitivamente uma pedra sobre este tipo de especulações!
Integra hoje o restrito grupo de seis corredores que ganharam as três grandes competições dociclismo mundial: Vuelta, Giro e Tour. E isso diz tudo!
A merecerem também referência neste Tour: desde logo os dois franceses do pódio, com Pinot ainda a ganhar o prémio da juventude. Também Tony Martin, um grande corredor. E mais dois jóvens de grande potencial - o francês Bardet, que o contra-relógio atirou para o sexto lugar, e o polaco Mayka, o rei dos trepadores.
Pela negativa referiria Joaquim Rodriguez, que se expôs e perdeu sempre. Mas também Peter Sagan, de quem muito se esperava em função da sua participação na edição anterior. Ganhou - e cedo, ficou bem cedo definida a camisola verde - a classificação por pontos, mas sem ganhar uma única etapa. E perdeu todos os sprints que disputou. Na mesma linha, se bem que num registo completamente diferente, Kwiatowski. O jovem polaco foi uma desilusão completa. Falhou naquela aqui tão referida etapa épica do Tony Martin, depois aproveitou uma boleia numa fuga bem sucedida na primeira etapa dos Pirinéus, e regressou ao top ten, para se afundar logo de seguida nos confins da classificação. E Richie Porte, que depois de no ano passado ter até deixado a ideia de poder contestar a liderança de Froome, este ano, com o líder a ficar logo de fora, falhou em toda a linha. E sempre!
Não há muito a dizer sobre os portugueses. Rui Costa teve de abandonar ainda antes dos Pirinéus. O Tiago Machado chegou a ser terceiro, por um único dia, o também dia único em que Nibali não teve a amarela vestida. Ironicamente teve na queda o seu dia de glória. O Sérgio Paulinho fez o seu papel, mas ficou também aquém do que parece que poderia ter feito, especialmente depois do abandono de Contador. É de resto o desempenho de muitos dos seus colegas de equipa, depois de libertos pela ausência do líder, que deixa a ideia de que também ele poderia ter tido o seu momento de glória.
Nelson Oliveira, também ele acidentado, e José Mendes reservaram para o contra-relógio as suas melhores prestações, ficando ambos nos vinte primeiros, com tempos que até tinham dado jeito, por exemplo, a Valverde.
Faz hoje precisamente 100 anos que teve início a Primeira Guerra Mundial. Que mudou o mapa do mundo, que matou mais de 9 milhões de pessoas e deixou outros 20 milhões de extropiados, numa carnificina nunca vista... Que devastou cidades, regiões e países e marcou a queda de quatro grandes impérios - alemão, austro-húngaro, turco e russo. Que resultou num genocídio, na Arménia. Que desembocou na revolução russa, em Lenine e na União Soviética. E em Estalinie. E, pelo Tratado de Versalhes que supostamente a enterraria, em Hitler... No nazismo, no fascismo, na guerra civil de Espanha, na Segunda Guerra Mundial... No holocausto e na guerra no médio oriente...
Hoje, neste mesmo dia, olhamos à volta e temos dificuldade em fugir destas recordações. E desta meada que nos faz crer que nunca acabou. Teve apenas intervalos, alguns bem curtos...
A economia, pelos fluxos financeiros que gera e enquanto actividade humana, não está desligada de regras de comportamento e, como tal, de considerações morais.
Os impactos da queda do Grupo Espirito Santo (GES), suas ramificações e ligações ao Banco Espirito Santo (BES), estão ainda por avaliar, nomeadamente para a economia de particulares e de empresas que neles confiaram. Mas este caso vem renovar o sentimento que se tem do poder financeiro dominado por alguma banca incompetente na gestão, cega na ambição e mesmo fraudulenta e criminosa como no caso BPN.
Nesta convivência vale tudo: irregularidades, ocultação de rendimentos ao fisco, falsificação de contas, paraísos fiscais, cumplicidades com o poder político, ou seja: promiscuidades fortalecidas pela sistemática impunidade. Fica abalada a credibilidade do sistema bancário nas praças financeiras internacionais, mas também fica o descrédito moral e a humilhação do governo português na aceitação da integração da corrupta e tirânica Guiné-Equatorial na CPLP, a troco da entrada de capital daquele país no Banif. Os cheques petrolíferos falam mais alto e negócios são negócios...
Estes, entre muitos outros, são os ingredientes da desesperança dos portugueses obrigados a pagar a incúria e vilania das elites, considerando como elite a minoria que tem a má reputação associada ao privilégio injusto e injustificado de alguns, e não – adopto aqui o conceito - “ aquilo que há de melhor numa sociedade ou grupo, partindo de uma posição de privilégio (por berço, educação, fortuna ou qualquer outra razão), usa essa vantagem para ser um referente dos melhores valores que uma sociedade justa reconhece como tal”.
A actual crise e a intervenção externa nas nossas contas ajudaram a desnudar estas elites nas suas piores referências, e esse é um aspecto positivo, caso se aprenda a lição e as entidades reguladores, fiscalizadoras e judiciais não sejam passivas e cúmplices. Mas a esperança na depuração destes sistemas é reduzida, porque os monstros renascem rapidamente das cinzas como Fênix.
Algumas destas elites destronadas no processo revolucionário após 1974, despojadas de património e emigradas, renasceram e voltaram com a fúria acrescida de domínio do poder e o desígnio do seu insubstituível lugar na sociedade, usando o “bem” nas virtudes dialogais e a “banalidade do mal” nas acções. Como quis dizer Hannah Arendt: a monstruosidade não está na pessoa, mas no sistema e há sistemas que banalizam o mal. O perigo e o mal maior estão na violência sistemática que é exercida por pessoas banais, ou como diz Miguel Real, “…homens bons, no governo, na direcção de grandes empresas, de grandes instituições, praticando o mal com o à-vontade próprio de quem está praticando o bem”, ” …homens situados em centros de poder, humilhando outros, extorquindo-lhes direitos – o mal”.
Tem havido a obsessão que todo o mal da crise reside na despesa do Estado: com funcionários públicos, pensionistas, prestações sociais com desempregados, saúde, e não na dívida privada, e esta revela-se muito mais perigosa e tóxica. A dívida privada é responsabilidade dos privilegiados que dominam a banca, as PPP e sectores estratégicos e monopolistas, por onde passam ex-ministros e ex-secretários de estado a fim de receberam a compensação dos favores prestados quando foram governo.
Esta teia de cumplicidades e interesses gera uma nebulosidade e uma vivência em sombra, onde as supervisões têm dificuldade de encontrar luz, e as recomendações da troika passam ao lado. Assim, é mais fácil para qualquer governo impor a austeridade opressiva sobre os indefesos excluídos destas elites, culpando-os da vida acima das possibilidades, actuando sobre eles como a necessidade legítima de fazer o mal para atingir o bem, salvaguardando o poder senhorial. Escravizando os infiéis ou extinguindo os hereges como na Santa Inquisição - interpretando na esteira da teoria do mal em S. Tomás de Aquino.
Com Ricardo Salgado a contas com a justiça iremos assistir a uma cruzada dirigida por destacados gabinetes de advogados que pretendem provar o equívoco que a opinião pública tem do mal.
Afastada destas elites menores, a figura maior, que justamente mereceu lugar no Panteão Nacional, Sophia de Mello Breyner Andresen, em entrevista, manifestou o seu maior desejo para o presente século: “Gostaria que se realizasse a justiça social, a diminuição das diferenças entre ricos e pobres. Mais justiça para os pobres menos ambições para os ricos. O resto é-me indiferente”.
Sophia, tem o mérito de ficar para eternidade pelas boas razões e o seu desejo deve ser lembrado como luta de todos os tempos e sociedades. A luta de muitos e bons portugueses é o enorme amor a uma pátria que se deixa governar por tão má gente.
Já se tinha percebido que Jorge Jesus tinha uma certa propensão para o sadismo. Às vezes também é masoquista, mas não é isso que agora importa... Mas hoje deu à Luz o seu lado mais sádico, e o mínimo que se pode dizer é que ... não havia necessidade...
Já se sabe que, apesar de o ter contratado, gosta tanto do Jara como gostava dantes do Manuel Machado, ou agora do Marco Silva. Mas... pô-lo a jogar todos os jogos, de todas as pré-épocas, ainda vá que não vá. Agora... pô-lo ainda a marcar penaltis?
Era mesmo preciso fazer-lhe isso tudo antes de o voltar a mandar embora? Francamente... isso é bulling!
Valha que o argentino já topou tudo... E não faz a coisa por menos: se o Jesus insiste em gozar com ele e o põe a jogar, faz-se expulsar de imediato. Se, para o castigar ainda mais, o manda apontar o penalti decisivo, mesmo no fim do jogo, passa a bola ao guarda-redes adversário. Bem feito!
Os ministros das finanças de Passos Coelho são muito requisitados.
Primeiro foi Vítor Gaspar, que até se foi embora porque, nas sua próprias palavras escritas, tudo dava errado. Não havia uma que batesse certo...
Mas foi para o FMI!
Seguiu-se Maria Luís Albuquerque, a sua Secretária de Estado transformada em maga das finanças. E lá vai ela para a Comissão Europeia, para ser substituída por outro Secretário de Estado, o igualmente mago Carlos Moedas, num destes dias a seguir também de malas aviadas sabe-se lá para onde...
E pronto. Lá ficamos nós sem saber se Passos Coelho é muito bom a escolher ministros das finanças, ou se apenas quer que nos convençamos que é. Ou se simplesmente os ministros das finanças escolhidos por Passos Coelho fazem tão bem o seu papel que, depois, só têm que ser recompensados...