Fez ontem precisamente quatro anos que Sócrates anunciou ao país o que, poucas horas antes, Teixeira dos Santos, num golpe de traição, cirurgicamente comunicara à Helena Garrido, do Jornal de Negócios: Portugal ia pedir ajuda externa!
Poucos então previam o que estaria para vir. Poucos achavam que o PEC IV pudesse resolver o que quer que fosse. Como os anteriores não tinham resolvido. Achava-se simplesmente que chegara ao fim o estado de negação em que o país vivia. Que aquele era um destino há muito anunciado, há muito à vista de todos… Menos dos que insistiam em negar a realidade.
Hoje sabemos muito mais do que sabíamos então. Começamos por saber pelo que passamos… E por saber que não valeu a pena. Que nada se regenerou… Que, antes, tudo se acomodou…
Basta isso para olharmos para este dia, há quatro anos, com olhos bem diferentes dos que então o vimos…
Mas hoje sabemos que o PEC IV - em que ninguém acreditava - estava negociado com as instituições europeias e era alternativa à intervenção externa. E sabemos que falhou porque o PSD entendeu que eram horas de deitar a mão ao pote. E que a ordem veio de Belém, com Cavaco - deixado á margem da negociação desse último instrumento - a optar pela vingança, fazendo da tomada de posse para o seu último e desgraçado mandato uma declaração de guerra. Não havia espaço para mais austeridade, sentenciou!
Afinal havia. E de que maneira… E não mais o incomodou!
De todas as reacções à provável candidatura de António Sampaio da Nòvoa - ou, talvez mais propriamente, ao apoio do PS a essa candiatura - a mais cáustica, mas também a mais parva, veio de Sérgio Sousa Pinto.
Um jotinha, mesmo que de barba branca, nem que pareça o Pai Natal, não deixa de ser jotinha. E um jotinha nunca consegue aceitar que alguém possa chegar a algum lado sem o cartãozinho no bolso. Ou bem mais à vista!
Andamos há não sei quanto tempo - mas muito, posso jurar - a ouvir o melhor de Sampaio da Nóvoa. Que não era Guterres, mas era até melhor. Um grande candidato, imaculado do pecado original da filiação partidária, e capaz de fazer o pleno da esquerda. E ganhador, que ganhava a toda a gente!
Bastou perceber-se que o ex-reitor se chegava à frente para deixar de ser tudo isso. Já é o folar da Páscoa de Marcelo. Já não só não une ninguém como até divide o PS... Donde chovem pedras de todos os lados...
Vá lá a gente entender isto!
Pode ser que, assim, quando a candidatura for apresentada a notícia seja que Sampaio da Nóvoa é candidato á presidência da República. E não que Sampaio da Nóvoa é o candidato do PS!
O resultado – um mentirosíssimo 3-1 – não tem nada a ver com o que se passou hoje na Luz. Esconde uma grande exibição – mais uma – mas não a apaga!
Um regalo para a vista este futebol que o Benfica joga quando se não deixa distrair. E quando o Gaitan joga, deve também acrescentar-se…
A qualidade que Gaitan acrescenta à equipa é muito superior à sua qualidade específica. Que é imensa, como toda a gente sabe. Ao nível do melhor que um jogador de futebol tem para mostrar!
Não é evidentemente por acaso que os oito pontos que o Benfica já perdeu nesta segunda volta aconteceram nos jogos em que ele não pôde dar o seu contributo à equipa. Por lesão – que o manteve afastado desde o jogo com o Marítimo, no Funchal – e no malfadado jogo de Vila do Conde pelo quinto amarelo, logo no regresso.
A qualidade do jogo do Benfica não se esgotou apenas no génio espalhado pelo relvado, nem na magia que subiu pelas bancadas. Viu-se também na reacção às nouances tácticas que o Nacional da Madeira foi trazendo ao jogo, em especial na forma – inédita – como a equipa começou a sair para o ataque, com o Júlio César a bater na frente, iludindo a estratégia de marcação que Manuel Machado tinha engendrado.
Claro que o jogo também teve o último quarto de hora. Claro que os jogadores do Benfica não resistiram à tentação de desligar do jogo. E claro que o futebol é implacável: no primeiro remate que efectuou, ia entrar-se no último quarto de hora do jogo, o Nacional marcou. E no fim, aquilo que poderia ter sido a maior goleada do campeonato, acabou num estranhíssimo 3-1.
Mas quem joga assim só pode ser campeão. Não pode ter outro destino!
Especialmente depois de devidamente avisado. A sério, em Vila do Conde. Num pequeno lembrete, nos últimos quinze minutos do jogo...
Quando - até porque as eleições estão à porta e já não há quem queira que se lixem - se pensava que o governo iria gerir com mais cuidado o seu cardápio de imbecilidades, eis que Aguiar Branco, o ministro da defesa à exacta medida do governo a que pertence, resolve brindar-nos com mais uma preciosidade. Só faltava esta: Silva Lopes teve a rara felicidade de partilhar o dia da morte com Manoel de Oliveira.
Brilhante! Só mesmo a mente brilhante digna de um ministro deste governo conseguiria tão oportuna, sensata e inteligente ideia...
Se a estupidez pagasse imposto este governo, pela sua própria mão e sem dar cabo da vida a mais ninguém, teria mesmo tirado o país da crise. A sério!
Portugal perdeu hoje dois dos seus melhores. Manoel de Oliveira morreu quando se pensava que já não morria. Silva Lopes morreu quando ainda não se pensava que pudesse morrer.
Fernando Medina substiuiu hoje António Costa na presidência da Câmara da capital. Exactamente como, há pouco menos de onze anos, Carmona Rodrigues - deixando então o governo (ministro das obras públicas) - substituira Santana Lopes. Com duas pequenas diferenças: o agora presidente estava integrado na Câmara, passa de número dois a número um. E, na altura, Santana Lopes já tinha sido indigitado primeiro-ministro. Sem nenhuma necessidade de passar por campanhas eleitorais e eleições, coisa a que António Costa não consegue escapar...
Já lá vai tempo em que parecia que até conseguiria. Que para António Costa as eleições seriam uma simples formalidade e a campanha eleitoral um agradável passeio. Nesse tempo talvez tivesse chegado a pensar manter-se na câmara até à véspera da abertura oficial da campanha... Agora não. Percebeu até que já é tarde, e que já toda a gente tinha percebido que andava simplesmente a fazer de conta. Que há muito deixara de ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa!
Deixa a "casa arrumada" e "em boas mãos" para agora se "concentrar nos portugueses" e "servir Portugal". Que bonito... Tudo tão perfeito!
O relatório da Comissão Nacional de Protecção de Dados, conhecido hoje, veio confirmar a famigerada lista VIP. E veio confirmar a sua composição: Cavaco, Passos, Portas e Núncio.
E veio ainda revelar que mais de 2300 pessoas alheias à Autoridade Tributária têm acesso livre aos dados fiscais de qualquer contribuinte. Todos, à excepção daqueles quatro nomes, vulneráveis à devassa geral!
De outra Comissão Nacional (não há só institutos e fundações, há ainda comissões), desta vez de Eleições, também não vêm boas notícias. Os votos na Madeira não batem certo, e nada pior em democracia do que dúvidas nas contagens e apuramento de resultados. Ou erros no sistema informático. Quando os resultados se afastam das sondagens alguma coisa está errada. O normal é que sejam as sondagens... Não é bom que sejam os resultados!
Nem é bom que nada disto, hoje, seja mentira. É mesmo muito mau!