Está a acabar... Mais umas horas e, entre rolhas a saltar, foguetes a ribombar, luzes a voar e copos a tilintar, vai-se desta para melhor. Já toda a gente anda farta dele, mas é sempre assim: os últimos dias já quase não contam para mais nada que não seja para contar os que ainda faltam. Tudo se adia, tudo se empurra para o ano novo, engrossando-lhe as responsabilidades. Porque, ano novo, vida nova... mesmo que a vida seja a mesma de sempre.
Queremos acreditar que naquelas doze passas cabe toda uma vida nova. Que naqueles abraços se abraçam todos os sonhos que se renovam na magia de cada meia noite de 31 de Dezembro...
Perante um problema de capitalização do Novo Banco, o Banco de Portugal decidiu-se pelas regras que o novo ano vai trazer para esta coisa já corriqueira de acudir aos bancos. As novas regras que aí vêm passam genericamente do bail out (basicamente são os contribuintes a pagar) para o bail in (a factura é basicamente apresentada aos accionistas), e foi isso que o Banco de Portugal - apoiado no BCE - fez, ao capitalizar o Novo Banco em 2 mil milhões de euros com a transferência das obrigações seniores para o BES, banco mau.
Visto assim parece fácil. Parece até que é uma decisão que só peca tardia. Que, se calhar, devia ter sido tomada logo na altura da resolução. Não foi porque, disse-se na altura, era prejudicial ao país: afastava os investidores.
Pois... Mas agora não é assim tão fácil! Não é, porque o Banco de Portugal não tratou por igual aquilo que é igual: as obrigações séniores são todas iguais, não mudam em função das mãos em que se encontram. O Banco de Portugal apenas deitou mão às obrigações seniores detidas por investidores institucionais - que já não se receia afastar - deixando de fora as dos particulares. Provavelmente porque, em boa parte, se trata dos chamados lesados do BES, acabados de calar justamente com esses títulos...
É mais uma demonstração de como o Banco de Portugal continua a correr atrás dos problemas. Sem conseguir agarrar nenhum, deixando-os fugir todos... E na maior parte das vezes empurrando-os ele próprio, como volta a acontecer agora com a litigância que para aí vem.
Decididamente Rui Vitória não se consegue livrar do fantasma de Jesus. Não lhe faltava mais nada: agora ainda tinha de lhe sair na rifa o Manuel Machado, a quem o outro, entre cretinos e vinténs, já tinha dado a volta.
Agora é que não há volta a dar: tem mesmo que ligar ao seu antecessor e perguntar-lhe com quantos dedos é que a coisa se resolve.
Paulo Portas tomou mais uma decisãoirrevogável: vai abandonar a liderança do CDS e até abandonar a vida política. Sabe-se como Portas é inabalável nas suas decisões, irrevogáveis ou não. Entrou na política partidária activa exactamente logo depois de ter anunciado a sua inabalável decisão de nunca entrar na política. Abandonou decisivamente a liderança do partido para, logo depois, regressar. Demitiu-se irrevogavelmente do governo para, horas depois, revogar a decisão. E subir ao último degrau da escada da governação.
Mais que mais uma dessas decisões a que Portas habituou o país, este é mais um resultado da ruptura que os resultados das eleições de 4 de Outubro provocaram no regime. Só é pena que Portas tenha anunciado esta definitiva decisão apenas depois de se ter assegurado que o caminho estava aberto e desimpedido para a sua corte: os mesmos, chamem-se Nuno Melo ou Cristas, que lhe cederão a cadeira logo que, no mesmo trilho de sempre, lhe apeteça regressar. Depois das poucas pessoas respeitáveis que lá restavam, das poucas com pensamento próprio, terem abandonado o partido...
Como era previsível, rapidamente Pinto da Costa tratou de bater os 400 milhões do Benfica. Fosse lá como fosse, nesse mundo virtual haveria sempre de encontrar um saco mais largo onde pudesse meter tudo o que lhe permitiisse ir mais além: 458 milhões, e o número é que interessa!
Com mais este coelho tirado da cartola, Pinto da Costa põe Vieira em sentido e Bruno de Carvalho com a cabeça à roda. Vai precisar de muita imaginação... Mas é justamente isso que menos lhe falta!
A expectativa é grande, porque é dele o mundo virtual. Daí que até a publicidade estática e o naming do pavilhão possam entrar nas contas...
Ia já alta a noite de domingo quando, de repente, o primeiro-ministro nos entrou casa dentro. Não eram horas para boas notícias, as boas notícias têm outras horas. E para a mensagem de Natal era cedo, e tarde, ainda pela hora.
Disse logo ao que vinha, mesmo que começando por simplesmente dizer que o Banif tinha sido vendido. Sabia-se que as propostas de compra tinham sido entregues, como teriam de ter sido, até sexta-feira. Tão rapidamente notícias da venda, não podiam ser boas …
António Costa não disse muito, e pode até dizer-se que nem precisava. Lembramo-nos logo que a meados de Outubro, no meio das reuniões com a coligação PaF, numa entrevista TVI, tinha dito que em “cada nova reunião deixavam cair uma nova surpresa desagradável”. Questionado se vinha aí algo de “grande gravidade económica”, António Costa respondeu que sim. E disse ainda que havia “um limite para a capacidade do Governo omitir e esconder ao país dados sobre a situação efectiva e real em que nos encontramos.” E lembramo-nos também que, logo no dia seguinte, Assunção Cristas foi à mesma TVI chamar tudo a António Costa, acusando-o de “falta de seriedade e honestidade intelectual” e desafiando-o a concretizar, mas isso só nos ajuda a lembrar que o anterior primeiro-ministro garantia que os dinheiros públicos não só não estavam em risco como ainda estava a render bons juros.
O primeiro-ministro não precisou mesmo de nos dizer mais nada para rapidamente ficarmos a saber que a incompetência e a irresponsabilidade de banqueiros e políticos nos iria custar mais três mil milhões de euros. Que cada família portuguesa vai ser chamada a mandar mais mil euros para este poço sem fundo em que se tornou a banca portuguesa.
E é aqui, neste poço sem fundo, que, a meu ver, vamos encontrar os maiores motivos para a acusação ao anterior governo.
Há evidentemente razões de sobra para acusar o governo anterior de irresponsabilidade e incompetência no estouro do Banif, que nem sequer tem nada a ver com o que se passou no BES: não houve manipulação de informação, nem suspeitas de práticas criminosas. Os auditores avisaram a tempo e a própria Comissão Europeia deu prazos para ser encontrada a solução. O governo sabia que, não fazendo nada, como não fez, se iria chegar exactamente aqui.
Mas é na forma como este governo conseguiu passar estes decisivos quatro anos e meio, exclusivamente preocupado em cortar, privatizar e cobrar impostos, e sem tocar em nenhum dos grandes problemas do país, que reside a fatia maior da sua irresponsabilidade e incompetência. Entre eles ressaltam a reforma do Estado e a do sistema financeiro. Devolveu inclusivamente metade dos 12 mil milhões de euros do fundo de resgate lhe reservara, fazendo de Portugal o único país da Comunidade que não resolveu os problemas do seu sistema financeiro. E dos portugueses os mártires da banca.
É hoje notícia, no dia em que será aprovado o orçamento rectificativo que vai acomodar a factura, que o Ministério Público está a analisar a situação do Banif. Que não recebeu qualquer participação, mas que está a analisar "os elementos que têm vindo a público relacionados com a situação do Banif".
Gostaríamos que sim. E que chegasse a conclusões. E que tivesse mão pesada...
Mas sabemos que, mesmo com pessoas como Horta Osório chocadas a clamar por responsabilização, não será assim. E que nem sequer nunca saberemos quem ficou com o dinheiro, quem da gestão aprovou o quê, quem da supervisão negligenciou... Nunca saberemos quem, um a um, aproveitou daquilo que nos é agora exigido que paguemos.
Sabemos é que aquele senhor que se está a despedir de Belém, e a distribuir comendas à pressa, aproveitou justamente esta altura para, depois de Rocha Vieira, condecorar Alberto João Jardim.
Em Espanha, o PP de Rajoy, dos negócios e das negociatas, ganhou as eleições. Não se sabe de que lhe serve, mas para já serviu para fazer de conta que ganhou alguma coisa. Não se sabe bem o quê.
Nada que se não tivesse passado com os seus amigos cá deste lado. Passos Coelho, que não teve uma palavra para dizer aos portugueses sobre o Banif que nos deixou, já correu a dizer que espera bem que os espanhóis deixem governar quem ganhou as eleições. Sobre o Banif é que... nada. Empurrou para a frente a atabalhoada Maria Luís e escondeu-se atrás dela.
A TVI, há precisamente uma semana, com uma notícia falsa, apressou o afundanço do Banif. E com isso deixou-o mais enfraquecido e mais vulnerável no processo de venda que estava em curso e sob forte pressão de calendário. Não se sabe que proveito disso terá tirado o Santander, mas sabe-se que o banco espanhol ficou com o lombo limpinho do Banif, com activos acima da dezena milhar de milhões de euros, por uns meros 150 milhões. Do resto, de tudo o resto, mandaram-nos a factura. E sabe-se que a TVI é detida pela espanhola PRISA que, por sua vez, é participada pelo Santander.
Se calhar estas coisas não têm nada a ver umas com as outras... E de Espanha só vêm mesmo bons ventos!