A memória das coisas
Não é fácil tirar as subvenções vitalícias e a decisão do Tribunal Constitucional da ordem do dia. Porque o assunto choca, e já não é de agora, e pelo impacto político na campanha eleitoral em curso.
Mas também por outras razões. Já certamente repararam na muita gente que está a chamar a atenção para o facto dos que agora contestam esta decisão do Tribunal Constitucional serem precisamente os que, antes, aplaudiam as outras. Não há, evidentemente, nenhuma contradição nisso: ninguém está obrigado a concordar sempre com as decisões do Trinunal Constitucional. Está, sim, obrigado a acatar e a cumprir essas determinações. Nada mais que isso. Tudo o que se pretender que vá para além disso não passa de uma tentativa de manipulação da opinião pública, com o objectivo de limpar a governação anterior de todas as inconstitucionalidades e demais desgraças da sua acção.
Não sobrarão grandes dúvidas que, no contexto das presidenciais, é Maria de Belém quem sai mais penalizada. Não sei se a divulgação da notícia no dia do debate geral na RTP é mais que uma coincidência. Nem se ela própria percebeu logo que era o alvo, e se por isso se refugiou no pesar pela morte de Almeida Santos para evitar a presença no debate. Sei é que, se é Maria de Belém quem mais perde, quem mais ganha é Sampaio da Nóvoa. Que, como se viu, aproveitou a oportunidade. Mesmo que mal, acabando até por chamuscar os apoios presidenciais de que tanto diz orgulhar-se.
Entre os apoiantes de Sampaio da Nóvoa, além do mais mandatária para os assuntos constituicionais, está a deputada da mil e uma causas e de opinião desenvolta, Isabel Moreira. Que foi na altura - já lá vai mais de uma ano - quem precisamente deu a cara por tão chocante coisa. Ao lado de Pedro Passos Coelho, Marques Guedes, José Lelo e Couto dos Santos, e que por isso agora está calada. Talvez os portugueses não se esqueçam...