Repor, o mesmo que recuperar...*
Sempre nos fez muita confusão esta coisa dos preços dos combustíveis. Sempre suspeitamos de coisas estranhas: de cartelização de preços, de falta de transparência. De nos estarem constantemente a ir ao bolso...
Claro que, depois, haveria sempre de surgir qualquer coisa que nos tranquilizasse. Isto não é uma república das bananas nas mãos dos senhores das petrolíferas. Primeiro, e a bem da transparência, vieram uns painéis nas auto estradas com os preços afixados. Eram todos iguaizinhos, mas isso é concorrência. Da melhor... Depois vinha sempre um senhor explicar o pricing da coisa, que dava sempre as contas por certas. Por acaso era um senhor da respectiva associação empresarial, mas isso decorria certamente da complexidade do tema, que obrigava a recorrer a um verdadeiro especialista na coisa. E para explicar a coisa nada melhor que o dono da coisa.
Mesmo assim, depois de tantas vezes explicado que as petrolíferas não tinham nada a ver com os escandalosos preços que víamos estampados nas bombas de gasolina, ninguém percebia como é esses preços não caíam mais que uns meros 10% quando o preço do barril de petróleo caiu dos 130 para os 25 dólares. Há uns dias atrás, um senhor que também sabe muito de petróleo - e não só, até porque é um engenheiro economista -, Mira Amaral, explicava que as petrolíferas estavam a aproveitar os preços do petróleo para repôr margens. Decifrada a linguagem, percebemos que não andavamos muito enganados quando desconfiavamos que eles estavam a ir com toda a força aos nossos bolsos para encherem pornograficamente os deles.
Ontem soubemos que em 2015 a Galp aumentou os lucros em 71,5%, de 373 para 639 milhões de euros. Ora aí está, concluirá apressadamente o leitor. Enganou-se, não é nada disso: este crescimento de lucros só foi possível - para além dos enormíssimos méritos dos seus gestores, que por isso irão moderadamente receber os mais que justíssimos prémios - graças ao aumento da produção de petróleo e gás natural no Brasil (mérito, muito mérito outra vez para os gestores, que conseguem que corra bem onde tudo corre mal). E claro, mas em muito menor expressão, pela "recuperação das margens de refinação europeias", que Mira Amaral já avisara. Repôr, dizia este. Recuperar, dia a administração da Galp. Nós, sempre distraídos, é que nunca tivemos oportunidade de perceber onde tinham perdido o que agora repuseram. Ou recuperaram...
Se calhar perderam-no num dos muitos aumentos dos impostos a que todos os governos têm lançado mão... Como agora, mais uma vez. Dizem-me aqui que não, que o presidente da Galp já veio dizer que ninguém pode contar com isso. Que impostos, são impostos. Têm mesmo de ser repercutidos no consumidor...
* Eu sei que o título é malandro