Coisas de um país assim
Um miúdo de 12 anos - não interessa quem - é chamado a depôr em Tribunal num processo que envolve os pais - não interessa quem - com a natural garantia de que tudo o diga lá fica, e de lá não sai. Na sala de audiências, para além do rapaz, apenas três pessoas: o juiz - ou a juíza, não interessa quem - um representante do Ministério Público e outro do Instituto de Medicina Legal. No dia seguinte, tudo o que o que disse estava escarrapachado nas capas das revistas cor de rosa. Em discurso directo!
Uma menina de ano e meio é resgatada das águas sem vida. A irmã, de três - ou quatro, não interessa - continua por resgatar, depois de três dias de buscas. A mãe, que as deitou ao mar, foi recolhida, levada ao hospital, e depois detida, num cenário arrepiante e num enredo da mais alta miséria humana.
Em 2011, logo que chegou ao governo, Assunção Cristas nomeia um seu colega de partido - John Antunes - por acaso ligado à sua candidatura às legislativas, por Leiria, para a presidência da Parque Expo, com a missão de a liquidar até ao fim de 2013. Em 2016 a missão está por cumprir. A empresa continua de vento em popa a sorver dinheiros públicos, em contratos assinados por ajuste directo. Ainda agora mais dois contratos milionários de acessoria jurídica com gente ilustre do partido que Cristas vai liderar.
O governador do Banco de Portugal, que tem impedido a divulgação de um relatório da Boston Counsulting Group que o responsabiliza por erros graves na condução do processo BES, contratou um secretário de estado do governo que em fim de mandato o reconduziu, para vender o Novo Banco. Para o que acaba de contratar um agonizante banco alemão, juntando - tudo ao molho e fé em Deus - Deutsche Bank, BNP Paribas, TC Capital, o escritório de Vieira de Almeida (sempre em todas) e o próprio ex-secretário de estado, Sérgio Monteiro. Que agora está proibido de contactar com José Veiga, a quem o Banco de portugal proibiu a venda do Banco Internacional de Cabo Verde (Novo Banco), depois do governo a que Sérgio Monteiro pertencia ter mudado a legislação para que o Novo Banco lho pudesse vender.
Começa a ser difícil acreditar num país assim...