Ainda sintomático
Regresso ao sintomático, ao tema dos vídeos de António Costa: o actual primeiro-ministro, como afinal grande parte de nós, não acredita na isenção da comunicação social.
É impressionante o número de opinadores e comentadores instalados no espaço mediático, disfarçados de tudo. De economistas, de politólogos, de sociólogos e, pior que tudo, de ... jornalistas. Quase sempre, e de forma esmagadoramente maioritária, de direita...
Paciência. É a vida... São opções editoriais... São interesses do negócio... Uns gostam, outros não. Mas são comentários e são opiniões. Cada um dá as suas, aqueles vendem-nas... Quem não gosta pode sempre tentar desviar-se, olhar para outro lado... Mesmo que saiba que há sempre uma grande parte que não está em condições de fazer o mesmo.
Outra coisa é o jornalismo. E se poderemos reconhecer legitimidade ao negócio dos media para escolher o alinhamento dos opinadores e comentadores, já temos de considerar absolutamente ilegítimo que desvirtuem o jornalismo. Na sua essência: na ética, na independência e no rigor. No seu profissionalismo.
É aqui que está o verdadeiro problema. Por razões económicas, provavelmente até mais fortes que as ideológicas, o negócio da comunicação social está a acabar com o jornalismo. Sério, responsável e independente.
O jornalismo é caro. Exige profissionais de qualidade e multidisciplinares. E meios, e tempo. Nos espaços de informação, da responsabilidade de jornalistas, exige-se uma abordagem isenta, que explique o que está a acontecer e as consequências do que está a acontecer. E não uma versão convenientemente embalada nas redes sociais e nos gabinetes de comunicação pronta a consumir como instrumento de propaganda. Que é fácil, é barata e ... até acaba por dar milhões...
Qualquer jornalista sabe, ou tem obrigação de saber, que isto não é nem jornalismo nem honesto. Mas tem necessidades mais básicas para satisfazer. E pelo salário hoje tudo se faz. Até pelo que se não recebe, como acontece em tantos e tantos casos. Cada vez mais. Tanto mais que muitos acabam, depois, por ir também vender opiniões afirmadamente disfarçados de jornalistas.