Falhado o Filho, ficou o Espírito Santo. Diz-se que o Pai já não é o que era, e que quem manda agora é o filho. Às mãos do Todo Poderoso... Que também é Jorge, mas não é Nuno. Que é Espírito Santo. Definitivamente, já não há Santíssima Trindade que valha. Nos tempos que correm, Espírito Santo, só de orelha...
Estive fora do país por uns dias, e sem condições de acompanhar o que por cá se passava. Quando regressei percebi que não perdi muito: Francisco Assis, mesmo a dizer sempre a mesma coisa, ocupa o espaço mediático com se fizesse revelações de grande novidade; os colégios privados com interesses nos contratos de associação continuam de vento em popa na sua grande marcha da manipulação - nunca tão poucos manipularam tanto(s) -, com todos os media a seus pés, e o Expresso não tem mesmo mais nada para dizer sobre os Panama papers.
Que tenha sido resolvido o conflto no porto de Lisboa é que parece que nem aconteceu...
Na noite do passado domingo, a Europa adormeceu sob a ameaça de uma noite agitada pelo pesadelo austríaco. A eleição de um Presidente da República de inspiração nazi-fascista era então o cenário mais provável.
Faltava apurar os votos por correspondência, e foram justamente esses votos que, por uma unha negra – por escassos 30 mil – acabaram por afastar, sabe-se lá até quando, essa tenebrosa nuvem negra dos céus desta Europa, há muito entretida a brincar com o fogo.
Não adianta muito tentar circunscrever o crescimento do populismo xenófobo de extrema-direita ao fenómeno austríaco. É certo que não é a primeira vez que por lá se vota desta maneira. É certo que a Áustria não expiou as penas do nazismo, sacudindo as responsabilidades históricas que na realidade teve na maior tragédia que se abateu sobre a Europa. Nunca fez mea culpa, e por isso foi lá que a larva encontrou as melhores condições de cultura. E por isso há muito que lá está bem instalada.
Não dá para tapar o sol com a peneira. Já não são assim tão remotas as hipóteses de Marine Le Pen poder chegar à presidência da França. A Hungria e a Polónia estão já nas mãos de regimes xenófobos e autoritários, numa União Europeia cujo requisito básico de entrada, era a democracia. Na Holanda, na Dinamarca e na Finlândia, é a mesma extrema-direita, racista e autoritária que avança a passos largos…
Anseiam, todos, por uma Europa afastada dos caminhos da solidariedade, da tolerância e do respeito pela diferença. Mas não são estes os outros caminhos que a Europa vem promovendo nos últimos anos?
Não têm sido essa a sinalética que Bruxelas tem vindo a espalhar por toda a Europa?
Pois é. Quem semeia ventos, colhe tempestades. E se Donald Trump vier a ser eleito nos Estados Unidos, a tempestade é perfeita!
Que a lua de mel estava a arrefecer, já se tinha percebido nos contratos de associação dos colégios privados. Não se esperava é que as 35 horas levassem já ao anúncio da data para o divórcio...
A Europa estava em suspenso - ou se calhar nem estava - com a séria possibilidade de, na Áustria, ser eleito um nazi-fascista para a presidência da República. Encerradas as urnas, ontem, o candidato da extrema-direita, Norbert Hofer, era o mais votado. Faltava contar os votos por correspondência que, contados, parece que inverteram o resultado eleitoral, com o ecologista Alexander van der Bellen a ganhar com 50,01% dos votos.
Por um voto se ganha, e por um voto se perde - costuma dizer-se. Não terá sido por números muito diferentes que a Áustria escapou às garras da extrema direita que avança pela Europa fora. Ao que parece sem grande preocupação por parte da nomenklatura europeia. Longe vão os tempos em que a União Europeia ameaçava a Áustria de Heider. Ao conviver na paz dos anjos com os governos de extrema direita do leste europeu, o fundamentalismo neo-liberal europeu tudo tolera. Talvez nem estivessem assim tão preocupados com a chegada à presidência do sucessor de Heider.
Desta vez a Áustria escapou do manhoso Hofer. Por uma unha negra. Daqui a pouco está aí a França e a ainda mais manhosa Le Pen. E será bem mais complicado...
Pronto. Vou pôr ponto final no assunto, já não há mais a acrescentar. Já nai cai gota, e já se pode dar por concluída - com sucesso - a missão do Expresso: acabar de vez com a discussão das offshores. Pronto: não se fala mais nisso. Missão cumprida, que não comprida. Foi até bastante curta!
Depois do 35, a sétima. A sétima Taça da Liga... Em nove, no pleno das sete finais.
Foi num jogo divertido, mexido, nada arrastado, que nem parecia de fim de época, que o Benfica conquistou a sétima, depois de uma semana a festejar o tri. Ou tri(nta) e cinco...
Claro que os oito golos ajudaram. Uma final com oito golos terá sempre de ser um belo jogo. E, claro, o adversário ajudou. Com uma bela prestação, disputando o jogo como se deve disputar uma final. E não mereceria certamente um resultado tão desnivelado: 6 a 2 é um resultado muito pesado para o que o Marítimo fez.
Mesmo assim, mesmo num jogo de encher o olho, com um resultado que envaidece a vaidade de ser benfiquista, não é do jogo que quero falar.
É de Gaitan, o homem do jogo, que quero falar. Do nosso Nico, de quem já morro de saudades. Que entrou e saiu do campo a chorar, também ele já com saudades do Benfica. E de nós, como nós dele. Um benfiquista, como nós. Que há seis anos, quando chegou para ocupar o lugar do seu compatriota Di Maria, não queria ter vindo. Mas veio, e depois de todos estes anos, em que cada um seria o último, com a sua saída sempre como uma espada sobre as nossas cabeças, vai mesmo embora. E vai a chorar...
Como a chorar ficamos nós, agarrados á memória da sua fantasia, do seu génio, da sua arte... Um artista completo e único, como fez questão de nos lembrar na despedida, naquele quarto golo. Que num único gesto conseguiu meter um quadro de Rembrandt, um poema Pessoa e uma sinfonia de Beethoven.
Que sejas feliz, Nico. Que o novo campeão europeu te saiba tratar como mereces!
O debate público à volta dos contratos de associação na Educação, no centro do espectro mediático vai já para umas semanas, suscita-me alguma reflexão sobre a forma como se faz informação em Portugal.
Ou, melhor dizendo, como se manipula a informação para, em vez de informar, desinformar. Para, em vez de esclarecer, em vez de contribuir para que as pessoas possam livremente formar a sua própria opinião, impingir. Impingir a ideia dominante do interesse dominante. Ou, quando isso se torna mais difícil, quiçá mais escandaloso, fazer como se fazem cogumelos: escuridão absoluta e muita porcaria para cima.
Neste debate temos visto de tudo. Temos visto escondê-lo atrás da discussão das virtudes e dos defeitos dos dois sistemas: as virtudes sempre um exclusivo do ensino privado e os defeitos invariavelmente todos no público. Temo-lo visto empurrado para o confronto com as liberdades: da liberdade de escolha e, pasme-se, até da liberdade religiosa. E temo-lo até visto encapuçado de algoz da iniciativa privada, tudo para esconder a simples realidade das coisas atrás de interesses pouco escondidos.
Numa sociedade moderna, desenvolvida, livre e democrática, estas coisas fazem-se à vista, sem truques: ao lobbying o que é lobby, aos jornalistas e aos analistas, o que é informação. Nas sociedades menos transparentes, menos democráticas e menos recomendáveis favorece-se esta confusão, fazendo dela o autêntico berço da corrupção.
Também aqui, também neste domínio, Portugal regrediu muito nos últimos anos. Com jornalistas em situação de grande precariedade profissional, na sua maioria anos a fio a recibos verdes, com vencimentos que não conseguem descolar do salário mínimo, a “informação” fica nas mãos de despudorados manipuladores, que enchem o prime time das televisões disfarçados de comentadores, que a torcem e distorcem ao sabor dos interesses que escondem. Como se escondem os gatos, sempre com o rabo de fora…
Os interesses instalados nos contratos de associação, ao cruzarem-se como se cruzam com a clientela dos partidos do arco do poder, não passam de enormes rabos de muitos gatos escondidos.
O governo da dita geringonça tirou o simplex da gaveta onde o anterior governo bota de elástico o tinha enfiado, debaixo da meia dúzia de páginas em tamanho 16, que Portas fez de areia para nos atirar aos olhos. E mostrou-nos o mundo fascinante que a modernização a sério do Estado tem para nos oferecer. Falta lá o voto electrónico, mas isso é mais complicado que pôr vacas a voar... Isso já mete muitas vacas sagradas. Que têm grande dificuldade em levantar voo.
A propósito deste texto, e deste tema, não posso deixar de dar o devido relevo ao comentário que um nosso leitor, que "habita actualmente numa zona onde estão a ocorrer coisas", e se assina por Aerdna, deixou na caixa de comentários. Sem mais, nem menos, transcrevo o seu interessante testemunho:
"Este assunto preocupa-me e muito. Vejo com alguma incredulidade que na imprensa portuguesa pouco ou nada se fala acerca disto. Fala-se do assunto no resto da Europa, mas com argumentos muito mal sustentados. Os factos de que me tenho apercebido que estão a ocorrer, são:- A pressa assumida por Barack Obama em assinar este acordo antes do fim do seu mandato (Why?), e a Merkel que pouco ou nada fala publicamente sobre o assunto, mas pressiona e muito os outros países a aceitá-lo;E o trabalho no campo que já começou para facilitar a entrada do acordo:
-A privatização de tudo e mais alguma coisa nos países em crise, que agora começa a ser aplicado ao resto da Europa. Por exemplo, no caso das águas, aqui em França, o serviço é de qualidade muito duvidosa e caríssima (por falta de concorrência, também). E os franceses comentam que estão a acabar com as fontes de forma a tornarem-nos reféns desses serviços. Este é apenas um exemplo.- A retirada dos direitos laborais conquistados no último século pelos trabalhadores do sul da Europa e que garantiam alguma segurança e dignidade. E agora começaram a retirada aos do norte, também. Etc…A França está em polvorosa e estranhamente não se fala muito disso na imprensa internacional, inclusive em Portugal. O Governo, provavelmente pressionado pela Alemanha e pelos EUA por causa do TTIP, quer passar uma nova lei de trabalho, que prejudica e muito a vida de todos. Faz dois meses que a população e os sindicatos estão em luta. Os deputados pressionados pelo eleitorado começaram a dar sinais de a querer chumbar, e o Governo empezinhado, está a recorrer a artifícios legais duvidosos para a fazer passar à força. Aqui o número 49.3 tornou-se famoso, porque é o artigo em que o Governo se está a apoiar para fazer passar este texto que dá total poder às empresas e retira praticamente todos os direitos e protecções aos trabalhadores. Parece-me que a França foi o escolhido para o primeiro esforço de implantação visível do TTIP. Se passa aqui, onde o povo é activo politicamente, o resto da Europa não tem hipótese. Saiu uma notícia a dar conta de que nas linhas de produção dos aviários estadunidenses os trabalhadores usam fralda para não abandonar o posto de trabalho, e eu já vejo os fabricantes de fraldas a esfregar as mãos de contentamento porque não tarda juntam à lista de clientes os Europeus. Triste fim, para um sonho tão lindo que um dia foi a Europa. Numa década, a sede de dinheiro, o consumo excessivo, o alheamento político da maioria da população e a falta de valores, reduziram as sociedades humanas a escravos, novamente. Recordo o tempo do Rockefeller cujo Poder teve de ser travado pela política. E parece que continuamos a não aprender nada, apesar de a história estar aí a ensinar, as consequências. Os Governos existem para equilibrar as balanças de Poder, se deixar de ter esse papel, não vale a pena continuar a existir. Deixamos de que as empresas façam o seu jogo e não pagamos impostos. Um Estado que não assegura equilíbrio social, não assegura saúde, educação e justiça, não tem razão nenhuma para existir. A luta na França, Alemanha e alguns países do norte contra o texto do TTIP está nas ruas, vamos ver se é suficiente. A imprensa precisa de liberdade, nestas alturas para expor e levantar uma discussão justa. E claramente não a tem, neste assunto nota-se muito pela ausência, a influência "dos interesses" nas redacções. Um ataque terrorista e temos dias e dias do mesmo (o Governo precisa justificar o envio de tropas), manisfestações laborais importantes com muito material exposto nas redes sociais e a imprensa quase em surdina! Ai!Ai!"