Uma história fantástica
O Leicester acaba de se sagrar campeão inglês. O Leicester é um clube pequeno de uma pequena cidade inglesa, que na época passada escapou à tangente da descida de divisão.
No início desta época começou a surgir à frente dos Arsenal, dos Liverpool, dos Chelsea, dos Manhester United, dos Manchester City... Ninguém ligou muito, são comuns alguns fogachos do tipo. São os chamados primeiros milhos, que são para os pardais. Só que os meses foram passando, a equipa não desarmava e, surpresa das surpresas, de lá brotavam três ou quatro dos melhores jogadores da Liga inglesa, a de maior visibilidade mundial, porventura a de maior densidade de súper-estrelas por metro quadrado de relvado. E quando deram por isso o mundo inteiro era fox, tudo era Leicester. Até a Rainha. Até os príncipes...
Entre quaisquer David e Golias, somos invariavelmente pelos David. Quando o David enfrenta não um, mas mais de uma mão cheia deles, somos ainda mais. Deixamos todos de ser do United, do Liverpool, do Arsenal ou do Chelsea e passamos todos a ser Leicester.
Para que toda esta história seja ainda mais fantástica só faltava a fantástica história do seu treinador. Claudio Ranieri é um sexagenário treinador italiano a quem a sorte da vida nunca virou costas. Ou terá virado mesmo, provavelmente da forma mais inclemente que tem de virar as costas. Passou a vida de fracasso em fracasso, sempre com uma nova oportunidade depois de cada desaire. Numa sucessão rara de invejáveis oportunidades passou pelos maiores clubes italianos, por Espanha, por Inglaterra e por França. Sempre com os melhores jogadores à sua diposição.
Quando Abramovich comprou o Chelsea, e enceheu a equipa de craques, foi nele que pensou para chegar ao sucesso. Falhou... e seguiu-se-lhe Mourinho, com o êxito que se conhece. Um outro miionário russo quis fazer o mesmo com o Mónaco. Lembrou-se também de Ranieri. Voltou a falhar...
Fernando Santos deixou o comando da selecção grega, sempre presente nas fases finais das grandes competições, e até campeã europeia. Em 2004, por cá, como nos lembramos todos. Pois... lá chegou nova oportunidade para o italiano. E, pela primeira vez nas últimas décadas, a Grécia falhou um apuramento. E logo no mais fácil e aberto de todos, como era o do europeu que aí vem. Até com as Ilhas Faroe conseguiu perder... Novo fracasso, agora com mais estrondo ainda. Nada que impedisse um modesto clube inglês, acabadinho de se livrar da descida de divisão, de o contratar. Pedia-lhe pouca coisa: que aguentasse a equipa no principal escalão do futebol inglês.
Foi campeão. Pela primeira vez, aos 64 anos. Com jogadores que ninguém conhecia, e que hoje são titulares da selecção inglesa. E estão nas listas de compras dos Golias todos, com preços com zeros que nunca mais acabam...
E o Tom Hanks ganhou uma fortuna. Apostou 100 libras no Leicester... Há histórias fantásticas, não há?