Aqui há gato *
O debate público à volta dos contratos de associação na Educação, no centro do espectro mediático vai já para umas semanas, suscita-me alguma reflexão sobre a forma como se faz informação em Portugal.
Ou, melhor dizendo, como se manipula a informação para, em vez de informar, desinformar. Para, em vez de esclarecer, em vez de contribuir para que as pessoas possam livremente formar a sua própria opinião, impingir. Impingir a ideia dominante do interesse dominante. Ou, quando isso se torna mais difícil, quiçá mais escandaloso, fazer como se fazem cogumelos: escuridão absoluta e muita porcaria para cima.
Neste debate temos visto de tudo. Temos visto escondê-lo atrás da discussão das virtudes e dos defeitos dos dois sistemas: as virtudes sempre um exclusivo do ensino privado e os defeitos invariavelmente todos no público. Temo-lo visto empurrado para o confronto com as liberdades: da liberdade de escolha e, pasme-se, até da liberdade religiosa. E temo-lo até visto encapuçado de algoz da iniciativa privada, tudo para esconder a simples realidade das coisas atrás de interesses pouco escondidos.
Numa sociedade moderna, desenvolvida, livre e democrática, estas coisas fazem-se à vista, sem truques: ao lobbying o que é lobby, aos jornalistas e aos analistas, o que é informação. Nas sociedades menos transparentes, menos democráticas e menos recomendáveis favorece-se esta confusão, fazendo dela o autêntico berço da corrupção.
Também aqui, também neste domínio, Portugal regrediu muito nos últimos anos. Com jornalistas em situação de grande precariedade profissional, na sua maioria anos a fio a recibos verdes, com vencimentos que não conseguem descolar do salário mínimo, a “informação” fica nas mãos de despudorados manipuladores, que enchem o prime time das televisões disfarçados de comentadores, que a torcem e distorcem ao sabor dos interesses que escondem. Como se escondem os gatos, sempre com o rabo de fora…
Os interesses instalados nos contratos de associação, ao cruzarem-se como se cruzam com a clientela dos partidos do arco do poder, não passam de enormes rabos de muitos gatos escondidos.
* Da minha crónica de hoje na Cister FM