Tempestades*
Na noite do passado domingo, a Europa adormeceu sob a ameaça de uma noite agitada pelo pesadelo austríaco. A eleição de um Presidente da República de inspiração nazi-fascista era então o cenário mais provável.
Faltava apurar os votos por correspondência, e foram justamente esses votos que, por uma unha negra – por escassos 30 mil – acabaram por afastar, sabe-se lá até quando, essa tenebrosa nuvem negra dos céus desta Europa, há muito entretida a brincar com o fogo.
Não adianta muito tentar circunscrever o crescimento do populismo xenófobo de extrema-direita ao fenómeno austríaco. É certo que não é a primeira vez que por lá se vota desta maneira. É certo que a Áustria não expiou as penas do nazismo, sacudindo as responsabilidades históricas que na realidade teve na maior tragédia que se abateu sobre a Europa. Nunca fez mea culpa, e por isso foi lá que a larva encontrou as melhores condições de cultura. E por isso há muito que lá está bem instalada.
Não dá para tapar o sol com a peneira. Já não são assim tão remotas as hipóteses de Marine Le Pen poder chegar à presidência da França. A Hungria e a Polónia estão já nas mãos de regimes xenófobos e autoritários, numa União Europeia cujo requisito básico de entrada, era a democracia. Na Holanda, na Dinamarca e na Finlândia, é a mesma extrema-direita, racista e autoritária que avança a passos largos…
Anseiam, todos, por uma Europa afastada dos caminhos da solidariedade, da tolerância e do respeito pela diferença. Mas não são estes os outros caminhos que a Europa vem promovendo nos últimos anos?
Não têm sido essa a sinalética que Bruxelas tem vindo a espalhar por toda a Europa?
Pois é. Quem semeia ventos, colhe tempestades. E se Donald Trump vier a ser eleito nos Estados Unidos, a tempestade é perfeita!
* Da minha crónica de hoje na Cister FM