Bruxelas não vai aplicar sanções por violação da meta do défice de 2015: Espanha oblige. O tal que Passos Coelho diz que é de 3%, porque varreu o Banif para baixo do tapete. O tal, que com o BES, deixaram que nos rebentassem nas mãos para não perturbarem a famosa saída limpa...
Acho que já se percebe por que é que Passos e Maria Luís, e com eles o resto da corte, vibram mais com esta notícia que o próprio governo. E por que é que escreveram e telefonaram...
Entretanto, e como não dá ponto sem nó, a Comissão Europeia aperta o défice para este ano. Para 2,3%, com mais 700 milhões de austeridade. E lá volta o tal plano B.
António Costa chuta para canto: Qual plano B qual carapuça, o défice que tem no orçamento é já inferior - 2,2%. Pois, o problema é executá-lo. Mas isso só se vê lá mais para a frente... Embora se note já.
A decisão do governo de baixar, por via dos impostos, o preço do gasóleo para as transportadoras nos postos de abastecimento fronteiriços - deixando desde já o anúncio que a ideia será aplicá-la à totalidade do território no espaço de um ano - poderá até ter alguma racionalidade orçamental, no plano da receita fiscal. Não tem é nenhuma racionalidade económica... E é, politicamente, um monstro.
Sustenta-se no medo. E o medo não é apenas mau conselheiro: é o epicentro da implosão do poder!
Um golpe desferido por quem não admite que o Brasil deixe de ser um dos países mais desiguais do mundo. Um golpe com apoios externos, como a revelação de Temer como informador da CIA permite concluir. Um golpe que traz de volta o Brasil tenebroso, obscuro e racista, dos coronéis e dos jagunços, que conhecemos do passado, e bem vivo no impressionante desfile de ignorantes e labregos a que assitimos na Câmara dos deputados há duas ou três semanas.
Com a agitação desportiva do fim de semana até me esqueci de dizer que o conta gotas já esgotou. Se calhar não foi só o fim de semana desportivo que me fez não reparar que, à sexta semana, já não há gota que caia... É que a coisa acabou mesmo.
Secou de vez. Longe, muito longe das anunciadas centenas de pessoas... Sem chegar a jornalistas, políticos... E com muito pouca vergonha.
O Benfica é o campeão. É tri-campeão. Conquistou o seu 35º campeonato...
Para os benfiquistas este é um dos mais festejados, se não mesmo o mais festejado de sempre. Ou, dito de outra forma, o que dá mais gozo...
Porque - e se assim não for, assim deveria ser - é o terceiro consecutivo, o tri, que marca objectivamente um ciclo. Que já não acontecia há praticamente 40 anos... Porque foi o campeonato conquistado com a maior performance de sempre: com 88 pontos, que nunca ninguém tinha atingido. Porque esta chegou a parecer uma época perdida, e o atraso para os da frente chegou a parecer irrecuperável. E porque foi um campeonato disputado como nenhum outro.
Basta lembrar que por altura da deslocação a Alvalade a maioria - se não a totalidade - dos observadores, e dos benfiquistas, achava que um empate seria um bom resultado para o Benfica. Porque - dizia-se - o calendário do Sporting era muito mais difícil, e ninguém admitia que não perdesse alguns pontos. Afinal o campeonato decidiu-se mesmo nesse jogo de Alvalade: a partir daí ambos ganharam todos os jogos. Ombro a ombro, sem que nenhum cedesse...
Completamente fora do que era previsível, e provavelmente irrepetível. Por força da enorme qualidade que Benfica e Sporting apresentaram, mas também da enorme fraqueza que o Porto apresentou. E da quebra do Braga. E da final da Taça de Portugal... Tudo isto fez com que a realidade do calendário do Sporting viesse na prática a ser bem mais fácil do que parecia. Isso e a capacidade com que o Sporting chegou a esta ponta final da época, em resultado da aposta total no único cavalo: o campeonato.
Este foi pois um campeonato raro, se não único. Com os dois primeiros e grandes adversários a discuti-lo a um nível muito supeiror ao de toda a concorrência, como a própria pontuação revela. Pena que a qualidade do futebol do Sporting não tenha tido correspondência em desportivismo. Pena que a competência técnica do treinador do Sporting, que salta à vista que continua a evoluir, esteja tão desfasada do seu carácter... Seria tudo muito mais bonito se o caracter, a educação e a elegância do treinador do Sporting estivessem mais a par da sua competência.
Pena, também, que uma página do facebook que hoje fechou não tivesse fechado mais cedo. Assim só mostra para o que (não) serviu...
Começa bem, esta jornada benfiquista de domingo. Começa com o título europeu em hóquei em patins. Depois de, ontem, ter conseguido a proeza - muito provavelmente inédita - de, no mesmo dia, conquistar o título de bi-campeão nacional (sem jogar, apenas usufruindo do empate entre o Porto e o Valongo) e o apuramento para a final da Champions, o Benfica começou esta jornada que se espera de glória, com glória europeia numa das modalidades com mais tradições em Portugal.
Depois de, ontem, ter eliminado o Barcelona, o maior colosso europeu da modalidade, o Benfica participou hoje numa rara, se não mesmo inédita, final portuguesa. Com a Oliveirense, que ontem afastara os italianos do Forte dei Marmi.
Pareceu que Benfica sentiu isso, da final portuguesa. Que seriam favas contadas... Não foram. Aquilo era uma final da Champions, e se era a Oliveirense que ali estava, era porque tinha mérito para tanto. Não era o terceiro classificado do campeonato, a 20 pontos do Benfica, era o finalista da Champions. Era, além disso, a equipa do Tó Neves... Raçuda, quezilenta, provocadora...
Só na segunda parte o Benfica se apercebeu disso. Ainda a tempo de impôr a sua real superioridade, e virar o 2-3 do intervalo para o 5-3 final. Da festa da Champions, em dia que se espera de muita festa. Mas com uma lição: as vitórias não caem de lado nenhum. Conquistam-se. Até à última gota de suor, como diz o Rui Vitória..
Pronto. Está quase tudo decidio na I Liga de futebol. Quase... Falta o decidir o que de mais importante está por decidir: o campeão. Isso fica para amanhã.
Estava há muito decidido quem ia à Champions. Ficou para o último dia a decisão sobre quem acompanharia o Braga e o sensacional Arouca na Liga Europa: o Rio Ave, à custa do Paços de Ferreira.
Teve de se esperar também pelo fim para ficar a saber quem acompanharia a Académica na descida. Há muito que parecia decidido quem seria o último, mas já há algumas semanas se ficara a perceber que a notícia da morte do Tondela era francamente exagerada. Nos últimos sete jogos, quer dizer, nas últimas sete semanas, o Tondela foi a terceira melhor equipa do campeonato: fez 17 pontos, apenas atrás de Benfica e Sporting, que fizeram o pleno.
Esta decisão cruzava-se com a da última vaga para a Liga Europa, porque já ninguém acreditava que o Tondela deixasse de ganhar o seu jogo.. Ao falhar, o Paços de Ferreira salvou o Vitória Futebol Club, o de Setúbal. A pior equipa da segunda volta. Ao garantir o seu lugar na Liga Europa, o Rio Ave empurrou o União da Madeira para fora...
A este nível a Liga Portuguesa teve dois Leicester: o Arouca, de Lito Vidigal, e o Tondela, do grande Petit. Sensacionais!
Este último - que é penúltimo - dia acabaria em choque, com a detenção de jogadores e dirigentes da II Liga. Jogadores do Oriental, ao que se diz, por viciação de resultados para fins de apostas. Que atingiriam ainda empresários, ex-jogadores e gente dos Súperdragões. E dirigentes do Leixões, por corrupção activa, e jogadores da Oliveirense, adversário de hoje, por se deixarem corromper. A cheirar a Itália...
Mal, cheiram também as nomeações do árbitros para os jogos do título, amanhã. Com aestória que arranjou, Bruno de Carvalho conseguiu arranjar dois Hugo MIguel: um para si e outro para a Luz. Em Braga, fica com o sportinguista e parceiro de negócio Hugo Miguel. E para a Luz mandou o outro Hugo Miguel... mas com o nome de Nuno Almeida.
Passos Coelho telefonou para a Comissão Europeia, a pedir-lhe que não aplique sanções ao país por défice excessivo. Maria Luís Albuquerque escreveu-lhe uma carta... Assunção Cristas não telefonou nem escreveu. Diz que o governo tudo em mãos tudo o que necessita para levar Bruxelas a declarar que o défice é inferior a 3%...
É a popular - já passou Passos em popularidade - líder centrista a fazer aquele número de circo que anunciado sob o rufar dos tambores como "mais difícil ainda": "minhas senhoras e meus senhores, meninas e meninos, e agora, pela primeira vez, nunca antes visto, Assunção Cristas, mais difícil ainda, num arrojado e inédito número, passa a ferro de uma só vez Passos e Albuquerque..."
Na minha crónica de hoje na Cister FM, que a seguir repoduzo, retomo o TTIP.
"... Trata-se de um acordo de comércio livre, que anda a ser negociado entre a União Europeia e os Estados Unidos há perto de três anos e que visa criar a maior zona de comércio livre deste lado do mundo, a que chamamos Ocidente. Com inequívocos benefícios de centenas de milhares de milhões de euros para as economias da União Europeia, dos Estados Unidos da América, e até para o resto do mundo, dizem os seus defensores.
Nada disso, diz quem se lhe opõe: este acordo tem apenas por objecto eliminar o papel do Estado, seja na prestação de serviços públicos básicos, seja na regulação. Tem por objectivo maximizar as trocas entre a União Europeia e os Estados Unidos e reduzir tudo o que lhes possa constituir obstáculo.
Curiosamente, se procurarmos na Wikipedia, a primeira frase que encontramos para definir este acordo é esta: “O tratado visa impedir a interferência dos Estados entre os países aderentes…” Sabendo da tendência simplificadora de todas as enciclopédias, não deixa de ser curioso que esta que agora temos tão à mão, à simples distância de um clique, comece exactamente por aí: o traço de maior identidade do TTIP é justamente o da eliminação do Estado como obstáculo aos negócios.
Não menos curioso será reparar como, para os seus defensores, todos ganham. E muito. E tanto… “Quando a esmola é grande, o pobre desconfia” – diz-se por cá…
O secretismo que tem envolvido as negociações do acordo é outro dos pontos de clivagem entre quem o defende e quem o denuncia. Dizem os seus defensores que é raro – praticamente impossível – haver transparência na discussão de acordos de comércio. Pelo contrário, o padrão é o sigilo. Torna-se complicado garantir os interesses específicos das partes quando todas as posições são do conhecimento público.
É verdade que sim. E é por isso que política é uma coisa, e negócios são outra. O mal está quando os negócios querem tomar conta da política, introduzindo-lhe as suas regras. O segredo poderá continuar a ser a alma do negócio, mas a da política é a transparência. Não dá para conciliar!
Negócios em áreas como a alimentação, o ambiente, a saúde, a privacidade na internet, e a regulação financeira, por exemplo, são mais que negócios: são o nosso modo de vida. E o nosso modo de vida é política. Nada é mais política do que a forma que escolhemos para viver colectivamente…
Por isso o tema está em discussão em toda a Europa. Por isso mais de três milhões de alemães subscreveram uma petição para que o Acordo não seja assinado. Por isso, depois de, na semana passada, o Green Peace ter divulgado umas dezenas de páginas secretas do Acordo, o próprio governo francês ameaçou suspender a sua participação nas negociações.
Importa discutir se o acordo favorece as grandes empresas americanas e europeias, estrangula e sufoca as pequenas, se lança no desemprego mais de 600 mil europeus, ou se vai generalizadamente empobrecer a população europeia. Mas importa ainda mais discutir se não vai acabar com o maior património do Ocidente: a democracia. A forma de governação democrática que é a essência do modo de vida ocidental.
Em Portugal a discussão vai curta. E atrasada, como sempre".