Decididamente as sondagens não falam inglês. Milhões de europeus, mesmo os mais notívagos, como eu, foram dormir descansados, convencidos que a coisa tremera mas não caíra. Quando acordaram, nem queriam acreditar: afinal caíra mesmo. Depois de termos ouvido o senhor Nigel Farage dizer que perdera, mas que tinha ganho à mesma, ninguém imaginaria que o resultado pudesse ser outro que não a vitória do Bremain.
Mas foi, e o Reino (des)Unido está definitivamente fora de uma União Europeia, onde nunca esteve com grande convicção. As consequências serão muitas. A maior parte delas não as conseguimos ainda vislumbrar.
Para já, os mercados financeiros estão em pânico. As bolsas caem por todo o mundo e a libra recua para aí uns 30 anos, o que não quer dizer que fique mais nova. A Escócia, claramente pró-europeia, e que há pouco - e por pouco - decidiu não abandonar o Reino, pode agora fazê-lo para não abandonar a União, que lhe consome o scotch. A Irlanda do Norte, do mesmo lado, pode seguir-lhe o exemplo. Mas também a Finlândia e a Dinamarca, e até a França, podem seguir o exemplo dado por britânico, mas que é inglês e galês.
Não é um novo muro de Berlim que está a cair. Pode bem ser mais do que isso. Agora com uma capacidade devastadora potenciada por uma crise económica e financeira com janela aberta para uma grande recessão.
Há coisas com que se não pode brincar. Essa é que é essa!
É frequente referir-me aqui a questões de ética e deontologia na imprensa, nas televisões e na comunicação social em geral.
Como já o tenho referido nessas outras ocasiões, este é um problema que os últimos anos agravaram. Não sei se os jornais, as rádios e as televisões são hoje mais parciais porque é maior a crispação política, porque são mais visíveis as feridas abertas na sociedade portuguesa ou se, pelo contrário, o confronto e a radicalização são hoje maiores pela forma como principalmente os jornais, e as televisões os alimentam. O que eu sei é que nunca na democracia portuguesa o enviesamento, a distorção e a manipulação estiveram tão instalados na comunicação social. Que nunca foi assim tão descaradamente parcial.
O problema é claro, e está á vista de todos. E é grave. Já é grave que as televisões estejam permanentemente ocupadas por juízes em causa própria a agir como se estivessem a fazer opinião. É inaceitável que gente que decidiu e decide o rumo do país seja paga – e muito bem paga – para não fazer outra coisa que defender as agendas escondidas que servem. Mais grave ainda é que sejam jornalistas a fazê-lo a coberto de um estatuto e de uma carteira profissional.
São hoje inúmeros os exemplos de jornalistas que são mais conhecidos pela controvérsia que provocam do que propriamente pelo seu mérito profissional. Dispensam-se nomes. São muitos, e conhecidos.
Às vezes, há quem se passe. Esta semana houve quem se tivesse passado. Houve quem arrancasse um microfone suspeito de uma mão insuspeita, com uma pergunta tão estúpida quanto suspeita, e o atirasse ao fundo de um lago. E houve quem se irritasse nas redes sociais, chamando-lhes mentirosos e perguntando por que não são despedidos.
A afirmação faz sentido: são mentirosos, não têm outo nome. Já a pergunta é um pouco, se não mesmo totalmente estúpida: toda a gente sabe que é mesmo por isso e para isso que são contratados. Como despedidos?
Longe vão os tempos em que tudo se tornava irrefutável com um simples “vem no jornal”. Os tempos em que mediante a exibição de uma página de um jornal se acabava com as dúvidas. E com a discussão!
E são os jornalistas os principais culpados disto. Os outros, dos outros. Do outro lado. Como alguns reconhecem. Se calhar só porque também passaram por elas...
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